Batata Movies – Elis. Arrasando Corações.

Cartaz do Filme
Cartaz do Filme

Eu até hoje me lembro do dia em que Elis Regina nos deixou. Isso porque, um pouco antes de seu falecimento, houve um programa sobre a mulher na TV e havia muitos depoimentos de uma mulher séria e de cabelo curto, que falava de várias coisas. Confesso que não me recordo mais do que ela dizia, mas aquilo foi altamente impactante. Sua morte foi algo mais violento ainda. Todos falavam dela. Seu velório teve muitas pessoas. Havia um programa de TV na Globo na época chamado TV Mulher e me recordo de Marília Gabriela, a então apresentadora do programa, chorando copiosamente. Foi a primeira vez que eu vi alguém chorar a morte de outra pessoa ao vivo na TV. Marília Gabriela, que participou do mesmo programa em que a mulher séria falava. Todos esses eventos acabaram sendo um choque. E, mesmo tendo acontecido lá no início da longínqua década de 80, ainda ficam bem vivos na alma.

Andréa Horta. Trabalho notável
Andréia Horta. Trabalho notável

Por isso mesmo que, quando eu vi o trailer do filme “Elis” no cinema, dirigido por Hugo Prata, fiquei instantaneamente interessado por aquela película. Por que aquela mulher tão séria e de olhar decidido tinha sucumbido tão jovem? Essa película esclareceria as minhas dúvidas. E lá fui eu para o Estação Net Rio 3 assisti-la.

E quais são as impressões do filme? Ele conta a história maravilhosamente bem. Tem uma narrativa simples, clara e objetiva, que prende a nossa atenção do primeiro ao último minuto. Nem percebemos o tempo passar no transcorrer da película. Toda a trajetória de Elis Regina está ali, desde a sua chegada ao Rio de Janeiro vinda do Sul, passando pelos bares da bossa nova, onde conhece Miele e Ronaldo Bôscoli, a relação conturbada entre este último e a cantora, que acabou rendendo um filho, a carreira em São Paulo, os problemas gerados pela ditadura militar, as indecisões com os rumos da carreira, a queda no vício do álcool e das drogas.

Júlio Andrade no papel de
Júlio Andrade no papel de Lennie Dale

Agora, o que mais chamou a atenção na película? Definitivamente a atriz que interpreta Elis, Andréia Horta. Caramba, o que era aquilo? A mulher simplesmente arrebentou! Nós não vimos um bom trabalho de caracterização de uma personagem. Nós vimos a ressurreição de um mito. Horta conseguiu ser simplesmente perfeita. A gente acreditava que via Elis Regina viva, bem diante de nossos olhos. Ela conseguiu reproduzir a cantora em tudo: nos trejeitos, na forma de falar, nos sorrisos, nas performances musicais. Mais ao final da película (me desculpem o “spoiler”), a cantora dá uma entrevista para uma rádio e eu pude rever em todas as suas matizes aquela mesma mulher séria do programa de TV que eu vi quando era criança, de tão perfeita que a coisa foi. Chega a ser assustador o resultado, a eficiência do trabalho dessa grande atriz que é Andréia Horta, a grande atração do filme. O problema é que ela foi tão bem, mas tão bem, que ofuscou todo o resto do elenco. A mulher colocou todo mundo no bolso. Os atores do elenco que mais se destacaram foram um irreconhecível Júlio Andrade, no papel do homossexual Lennie Dale, Zé Carlos Machado, que interpretou Romeu, o pai de Elis, e Caco Ciocler, que interpretou César Camargo Mariano, numa ótima atuação.

Lúcio Mauro Filho, no papel de Miele
Lúcio Mauro Filho, no papel de Miele

Dessa forma, “Elis” é um ótimo trabalho dirigido por Hugo Prata, que conseguiu revelar uma ótima atriz, Andréia Horta, contou a trajetória da famosa cantora de uma forma bem didática e conseguiu reproduzir todo o impacto de sua morte, tal como ocorrido na época. Um filme que merece muito a olhadinha do público.

Batata Movies – Animais Fantásticos E Onde Eles Habitam. Um Bruxo Ecologicamente Correto.

Cartaz do Filme
Cartaz do Filme

Um filme muito louco nas telonas. “Animais Fantásticos e Onde Eles Habitam”, escrito por J. K. Rowling, seria uma espécie de “prequel” do Harry Potter, digamos, uns setenta anos antes da história do bruxinho que era bom. Como eu sei muito pouco de Harry Potter, peço paciência aos fãs mais inflamados se eu cometer alguma gafe. De qualquer forma, me arrisco a escrever algumas linhas sobre esse filme porque achei-o uma boa película, ao contrário de algumas críticas que tenho ouvido por aí.

Newt, um bruxo ecologicamente correto
Newt, um bruxo ecologicamente correto

Do que se trata a história? Vemos aqui um estudante da famosa escola de Hogwarts, Newt Scamander (interpretado por Eddie Redmanyne), chegando à Nova York da década de 20 com uma intrigante mala. Em seu interior, há uma série de bichinhos inusitados, pois eles têm propriedades mágicas. Mas eles são proibidos por uma espécie de Associação de Bruxos da América, por serem considerados uma grande ameaça. Entretanto, nosso Newt, com uma baita consciência ecológica para com animaizinhos mágicos, quer provar a todos que esses bichos não são tão perigosos assim e que eles, se compreendidos, podem até fazer o bem. Bom, pelo estrago que os bichinhos fazem na cidade de Nova York, já que alguns deles fogem da malinha e circulam pela cidade (Osama Bin Laden bateria muitas palmas), e pela natureza um tanto desastrada de Newt, percebemos que a tarefa de nosso protagonista será algo um tanto difícil. Para isso, ele contará com a ajuda de alguns amigos: Kowalski (interpretado por Dan Fogler), Tina (interpretada por Katherine Waterston) e Queenie (interpretada por Alison Sudol). Só que Newt e seus amigos terão que enfrentar a perversidade de Graves (interpretado por Colin Farrell).

Colin Farrell como Graves. Devia ter aparecido mais
Colin Farrell como Graves. Devia ter aparecido mais

É um filme que prima por uma boa história, que prima muito pelo humor numa dose satisfatória em alguns momentos, o que fez com que o filme não ficasse escorado apenas nos efeitos especiais. Nesse último quesito, entretanto, os bichinhos virtuais podem ser muito fofinhos em algumas sequências, o que desperta suspiros das menininhas nerds e fãs de bruxaria de plantão. A película tem também um bom elenco. Redmayne e Fogler fizeram uma boa dupla e interagiram bem com os animaizinhos virtuais. É de se lamentar, por outro lado, a pouca presença de Colin Farrell na película. Em se tratando de ser o vilão, ele precisava aparecer mais. Um destaque ficou para a atriz Alison Sudol, que interpretou a altamente empática Queenie, uma bruxinha que tinha o poder de ler mentes, ofuscando até Tina, o suposto par romântico de Newt.

Tina e Queenie
Queenie e Tina

Outro ator digno de destaque foi Ezra Miller, que interpretou o atormentado Credence, alvo das manipulações e maldades do vilão Graves. A atuação do jovem ator foi muito convincente e deu um bom conteúdo dramático à trama. O filme ainda conta com a presença de medalhões como John Voight e uma participação muito rápida de Johnny Deep, mais expressiva que a de Farrell.

Assim, “Animais Fantásticos e Onde Eles Habitam” pode ser considerado um bom spin-off de “Harry Potter” e não vai decepcionar os fãs das histórias de J. K Rowling. É um filme fofinho, cativante, que conta uma boa história e tem um bom elenco afiado, com alguns atores já consagrados, outros menos conhecidos mas que deram muito bem conta do recado, com interpretações à altura. Um filme que vale a pena uma conferida, pois consegue ser simultaneamente engraçadinho e cativante.

Batata Antiqualhas – Furyo, Em Nome Da Honra. Multiculturalismo Em Campo De Prisioneiros.

Cartaz do Filme
Cartaz do Filme

Falemos sobre os filmes de Nagisa Oshima, um diretor japonês que ficou muito conhecido aqui em meados da década de 70, 80, com a película erótica “Império dos Sentidos”. Hoje vamos analisar a ótima película “Furyo, em Nome da Honra” (“Merry Christmas, Mr. Lawrence”), realizada em 1983. Vemos uma crítica ácida de Oshima à sociedade japonesa, tomando como pano de fundo a Segunda Guerra Mundial. A história conta a rotina de prisioneiros ingleses num campo de trabalhos forçados japonês na Ilha de Java em pleno ano de 1942.

Celliers. Postura desafiadora
Celliers. Postura desafiadora

Um dos prisioneiros, o coronel John Lawrence (interpretado por Tom Conti), é um admirador da cultura japonesa e mantém relações, digamos, cordiais, com seus detentores, sendo uma espécie de intérprete entre os japoneses e os prisioneiros. Ele é chamado pelos japoneses para tomar conhecimento de uma relação homossexual entre um soldado japonês e um soldado holandês. O soldado japonês deverá cometer harakiri (suicídio através de uma espada enfiada dentro do ventre) para não viver na vergonha. O quartel é comandado pelo capitão Yonoi (interpretado por Ryuichi Sakamoto) com mão de ferro. Mas o comportamento do capitão sofrerá drásticas alterações quando chega um novo prisioneiro, o major inglês Jack Celliers (interpretado por ninguém mais, ninguém menos que David Bowie). Yonoi se sentirá fortemente atraído por esse oficial inglês que também tem tendências homossexuais. Mas Celliers é altamente insolente e atrevido, lançando mão de uma postura muito desafiadora contra os japoneses, o que vai lhe render muitas punições. E Celliers sabe dos interesses de Yonoi para com ele, o que vai provocar situações um tanto inusitadas no decorrer da história.

Lawrence,o amante da cultura japonesa
Lawrence,o amante da cultura japonesa

O grande atrativo desse filme, apesar do papel protagonista de David Bowie, recai no personagem John Lawrence, que funciona como uma espécie de ponte entre as culturas japonesa e inglesa. Por causa desse fato, ele é incompreendido tanto do lado dos ingleses quanto do lado dos japoneses. A questão dos motivos que levam ao culto suicida do harakiri é apresentada e relativizada. Mas, ao mesmo tempo, existe uma crítica à cultura japonesa no que tange à devoção excessiva ao Imperador e aos antigos deuses dessa cultura, e isso pareceu uma incursão agressiva de Oshima contra os hábitos ancestrais japoneses. Embora o personagem de Lawrence seja de grande relevância para a história, em alguns momentos a coisa pareceu uma forçada de barra, pois, mesmo com seu bom relacionamento entre os japoneses, ele tomava umas bambuzadas. E, depois, ele criticava abertamente algumas atitudes dos japoneses, até com uma dose de sarcasmo, e não tomava nem uma pauladinha. De qualquer forma, essa visão multiculturalista num local tão improvável disso acontecer quanto um campo de trabalhos forçados japonês na Segunda Guerra Mundial foi altamente válida, mesmo que a cultura japonesa tenha sido vista com relativa vilania.

Yonoi, um sádico capitão
Yonoi, um sádico capitão

Igualmente válido foi abordar a questão do homossexualismo no campo de prisioneiros. Se o capitão Yonoi, num primeiro momento, ordena que seu subordinado homossexual cometa Harakiri para não viver na vergonha, o próprio capitão também tinha atitudes homossexuais escondidas, sendo um alvo fácil para as investidas de Celliers, outro homossexual. E aí, o preconceito contra a cultura japonesa ficou meio que latente, já que Celliers era visto pelos japoneses como uma alma maligna que enfeitiçava seu valoroso capitão, tal como uma cultura “primitiva” que endeusa homens.

Beijo em Yonoi. Tilt geral...
Beijo em Yonoi. Tilt geral…

E o que falar da atuação de David Bowie? Plana? Caricata? Talvez… Foi hilária a  sequência em que ele literalmente comia flores para desafiar as ordens de Yonoi, que colocou todos os prisioneiros ingleses em 48 horas de jejum. Seu olhar desafiador para o capitão japonês despertou mais risos do que espanto. Mas o momento em que talvez Bowie precisasse ser mais intenso foi justamente a hora em que sua interpretação ficou mais contida, que foi a cena dos dois beijos que ele deu nas bochechas de Yonoi, perante todos os prisioneiros ingleses e soldados japoneses, onde estes últimos encararam Celliers como um mau espírito que envenenava Yonoi. O beijo de Celliers em Yonoi provocou uma espécie de “tilt” em todo mundo e, talvez aqui, Bowie pudesse ter sido um pouco mais dramático. Mesmo assim, a presença de Bowie não deixa de ser uma curiosidade e atrai mais atenção do público para a película. E não devemos ser muito exigentes com o astro do rock, que não está inserido em sua verdadeira área quando atua para o cinema e tem a coragem (ou cara de pau?) suficiente para encarar tal empreitada…

Eating flowers!!!!
Eating flowers!!!!

Assim, “Furyo, Em Nome da Honra”, é mais um filme altamente recomendável de Nagisa Oshima, pois nos traz a presença de David Bowie em seu elenco e, principalmente, busca fazer uma discussão multiculturalista entre as culturas japonesa e ocidental, ainda que caia, muito provavelmente de forma proposital, em alguns preconceitos contra elementos culturais japoneses. E aí, o dedo de Oshima está bem presente. Não deixe de ver o trailer abaixo.

Batata Antiqualhas – Fome de Viver. Terror Com Requinte.

Por Carlos Lohse

Cartaz do Filme
Cartaz do Filme

Imagine um filme de terror com Catherine Deneuve, David Bowie e Susan Sarandon. Pois é, isso aconteceu lá no início dos anos 80 (mais especificamente 1983) onde as atrizes estavam fulgurantes e muito joviais. Um contraste com o ambiente sombrio e pesado apresentado na trama. “Fome de Viver”, de Tony Scott, é uma estranha e estimulante combinação. Vamos analisá-la aqui.

Um elegante casal
Um elegante casal

A história nos conta a vida de um casal, John Blaylock (interpretado por Bowie) e Miriam Blaylock (interpretada por Deneuve), que aparentemente gosta de noitadas, arrumando outro casal nas danceterias da vida, para a prática de swing. Mas o que parecia uma noite de prazer termina com o assassinato das vítimas atraídas, com direito a muito sangue e consumo dele. Com o tempo, descobrimos que este casal tem uma espécie de vida imortal e que precisa se alimentar com o sangue das pessoas. A imortalidade aparece evidente no lar dos dois, com uma mobília recheada de móveis e objetos antiquíssimos e originais. Inclusive o pingente do colar de Miriam é um símbolo egípcio original da imortalidade, usado justamente como arma para ceifar as vidas de suas vítimas. Miriam, na verdade, é a que detém a imortalidade. Ao escolher seus amantes, ela, vampirescamente, dá uma mordidinha no corpo do eleito (ou eleita) e contamina o sangue da pessoa com o seu, criando um vínculo e lhe prometendo vida eterna.

Sangue e homossexualismo
Sangue e homossexualismo

Mas essa vida é obtida às custas de um envelhecimento muito rápido e o moribundo, totalmente deformado pela velhice, não morre. Nesse momento, Miriam descarta seu amante e o coloca num caixão, depositando o pobre infame vivo num sótão onde há outros caixões com outros antigos casos amorosos na mesma condição, num verdadeiro museu de amantes esquecidos. Isso aconteceu com John, mas antes ele procurou a doutora Sarah Roberts (interpretada por Susan Sarandon), que realizava pesquisas médicas para reduzir os efeitos de uma estranha doença que provocava rápido envelhecimento (por sinal, a mesma doença que acometia John). Por intermédio de John, Sarah conhece Miriam, que a escolhe como próxima amante. A partir daí, cria-se todo um ambiente de tensão no ar, onde veremos ou não se Miriam consegue atingir suas mórbidas intenções.

Maquiagem rudimentar para hoje
Maquiagem rudimentar para hoje

O filme tem detalhes muito interessantes. Um início numa danceteria algo gótica, algo dark, prenunciando o clima sombrio da trama. Logo após, vemos a casa do casal, num ambiente leve, aristocrático e agradável, cheia de antiguidades, espelhando a longevidade dos personagens. Cenas de amor muito suaves e tocantes, contrastando com assassinatos muito violentos e sanguinários, inclusive um infanticídio. Contraste esse realçado na cena de amor entre Miriam e Sarah, onde o homossexualismo é colocado de forma leve e não contundente (pudera, estamos em 1983, o que já deve ter sido muito desafiador para a época!), com cenas muito delicadas, contrabalançadas por uma violência, ainda que leve, de mordidas em braços que arrancam sangue. Aliás, Miriam e Sarah são o que de melhor tem o filme. Duas belezas angelicais que simbolizam o diabólico e o racional. Deneuve já apresentando os traços da idade, mas lindíssima e poderosíssima, ainda mais quando soltava seus longos cabelos louros. Sarandon com uma beleza de menina, embora aquele penteado curto não ajudasse muito. A gente se delicia muito com a beleza e delicadeza daquelas duas. Mulher e cinema são, decididamente, duas artes que se combinam e se completam.

Museu de amantes esquecidos
Museu de amantes esquecidos

E o Bowie? Bom, dentro de seu aspecto multimídia, ele também buscou uma carreira cinematográfica, interpretando papéis também em filmes como “Labirinto” e “Basquiat”. Quanto à “Fome de Viver”, não sei, pode ser que eu esteja de implicância, mas suas falas me pareceram planas e áridas, desprovidas de emoção como um deserto sem vento e dunas. É aquela velha piada: como ator, Bowie é um ótimo cantor. Um último comentário deve ser feito quanto à maquiagem dos moribundos. O que achávamos um barato na década de 80 hoje parece algo muito artificial e pesado. Ao presenciarmos os cadáveres vivos e deformados, é impossível não nos lembrarmos de “Thriller”, de Michael Jackson, de “A Hora do Espanto” e coisas mais obscuras como “A Volta dos Mortos Vivos”. Uma pena, pois o que, ao meu ver, até ficou um bom filme de arte, acabou se contaminando um pouco com as características de um blockbuster de circuitão por causa da maquiagem. Mas, paciência, eram as limitações da época.

Bowie. Mais cantor do que ator
Bowie. Mais cantor do que ator

Por essas razões, “Fome de Viver” é um filme muito interessante, que estimula nossa curiosidade e aguça nossos sentidos, seja pelas situações de terror, seja pela delicadeza e beleza das atrizes. E não deixem de ver o trailer abaixo.

Batata Movies – De Palma. A Trajetória de Um Incompreendido.

Por Carlos Lohse

Cartaz do Filme
Cartaz do Filme

Pois é, o Festival do Rio 2016 acabou, mas ainda houve a rebarba da “Última Chance”. Esse ano, um dos cinemas onde pudemos ter um gostinho extra do Festival após o seu término foi o Roxy, de Copacabana. E lá tivemos a oportunidade de se assistir o excelente documentário “De Palma”, sobre o conhecido diretor de cinema norte-americano. Esse filme, dirigido por Noel Baumbach (de “Francis Ha”) e Jake Paltrow, tem uma estrutura muito simples. Vemos o próprio Brian De Palma narrando toda a sua trajetória desde a infância, passando por sua família, pelas primeiras experiências cinematográficas, chegando até ao estrelato de diretor consagrado, mas muito contestado e, por que não, um pouco maldito.

Brian De Palma. Revisando seu passado
Brian De Palma. Revisando seu passado

O documentário é uma joia para os amantes do cinema em geral, pois Brian De Palma é de uma geração de cineastas que engloba Coppola, Spielberg, Lucas, Scorsese e por aí vai. Ainda, o início da carreira cinematográfica do diretor coincide com o início da carreira cinematográfica de Robert de Niro. É exibido no filme trechos dos primeiros filmes em que eles trabalham juntos, tornando-se uma grande curiosidade dessa película. Mas há muito mais. Ele fala de detalhes da produção e curiosidades de filmes como “Carrie, a Estranha”, “Scarface”, “Vestida para Matar”, “Dublê de Corpo”, “Os Intocáveis”, “O Pagamento Final”, “Pecados de Guerra”, “Missão Impossível”, etc., sendo essa a parte mais deliciosa do filme. É falado também da repulsa, por parte do público e da crítica, a seus filmes, que tinham às vezes um conteúdo muito violento e chocavam muito. Reclamava-se muito de cenas onde mulheres eram vítimas de uma violência extrema ou então de conteúdos altamente eróticos, coisas que sacudiam na cadeira os tradicionais WASPs americanos.

Uma turma da pesada...
Uma turma da pesada…

Sua veia iconoclasta e desafiadora não tinha limites e De Palma chegou a fazer teste com uma atriz pornô para um filme que falava de uma prostituta, o que deixava indignados os executivos dos grandes estúdios. Foi ainda lembrado no documentário que Brian De Palma fez parte de uma geração de diretores que experimentou um breve momento de autonomia e liberdade com relação aos grandes estúdios, o que acabou levando à produção de grandes filmes. Só que logo os estúdios retomaram o controle da situação e impuseram sua vontade novamente, para a decepção do diretor, que muito reclama da interferência dos grandes estúdios em seus filmes, em virtude de seu viés altamente polêmico.

Dirigindo Al Pacino em "Scarface"
Dirigindo Al Pacino em “Scarface”

Outro ponto interessante dessa película é que De Palma, ao falar sobre seus filmes, falava também das influências de outros diretores e outros gêneros cinematográficos, como Hitchcock ou a Nouvelle Vague, sobretudo Godard. E aí, a montagem do documentário é primorosa, pois imagens de seus filmes são comparadas com imagens de suas influências, como no caso de “Os Intocáveis”, onde a sequência do tiroteio na escadaria da estação de trem é comparada com a sequência da escadaria de Odessa de “Encouraçado Potemkim”, de Sergei Eisenstein, influência direta e confessa do diretor em suas próprias palavras.

Carrie, de dar medo!!!
Carrie, de dar medo!!!

Assim, o documentário “De Palma” só confirma que o Festival do Rio deste ano conseguiu manter a sua tradição de trazer ao público excelentes documentários sobre os mais variados temas. E a coisa torna-se mais atraente ainda quando o documentário fala justamente do grande amor de provavelmente boa parte do público do Festival, que é o cinema. Um programa imperdível. Torçamos para que esse documentário seja lançado comercialmente por aqui. E não deixe de ver o trailer abaixo.

Batata Antiqualhas – Falcões Da Noite. Visões Do Terrorismo De Décadas Atrás.

Cartaz do Filme
Cartaz do Filme

Imagine um filme com Sylvester Stallone, Rutger Hauer, Billy Dee Williams (nosso Lando Calrissian), Lindsay Wagner (a lendária Mulher Biônica da década de 1970) e Persis Khambatta (a Ilia de “Jornada nas Estrelas, o Filme”). Pois é, caro leitor, isso aconteceu! Mais especificamente, no longínquo ano de 1981, no filme “Falcões da Noite” (“Nighthawks”), um delicioso thriller de ação policial. Vamos recordar aqui essa interessante história.

DaSilva e Fox. Policiais casca grossa
DaSilva e Fox. Policiais casca grossa

A trama fala de dupla de policiais Deke DaSilva (interpretado por Stallone) e Fox (interpretado por Williams). A atividade deles consistia em fazer tocaias para bandidos na rua. O plano, por sinal muito exótico, era o seguinte: DaSilva se disfarçava de pessoas acima de qualquer suspeita: um senhor respeitável de terno e gravata, uma senhora (?!?!), etc., e se metia nos piores buracos de Nova York, atraindo os bandidos. Mas Fox estava à espreita e DaSilva, obviamente, preparado para a tocaia. No início do filme, em sua versão legendada, chega a ser hilário o que DaSilva fala ao bandido depois de tirar seu disfarce de uma respeitável senhora: “Vem me atacar, He-Man!!!”. Bem antenado com o zeitgeist (“espírito da época”). E assim, entre muitas armadilhas, bocas de fumo estouradas e muita, muita porrada, nossos estimados policiais vão vivendo. Infelizmente, isso traz problemas para nosso DaSilva, pois sua antiga namorada, Irene (interpretada pela “biônica” Lindsay Wagner) quer que ele saia daquela vidinha complicada. Um belo dia, os dois são recrutados para participar de uma divisão antiterrorismo, pois um terrorista internacional muito perigoso, Heymar “Wulfgar” Reinhardt (interpretado por Hauer) chega à Nova York depois de se indispor com todos os grupos terroristas e revolucionários, já que suas técnicas eram extremamente violentas. Ou seja, nosso terrorista pirou na batatinha e decidiu agir por conta própria, de forma free-lancer. Na verdade, ele tinha a ajuda da perigosa Shakka Holand (interpretada por Khambatta). No início, DaSilva e Fox não aguentavam as exaustivas aulas. E DaSilva se desentendeu com o instrutor, pois não queria abrir fogo contra o terrorista em situações em que inocentes estivessem em perigo, já que DaSilva, assim como Fox, eram veteranos de guerra do Vietnã (um embrião do Rambo?), ficando implícitos os traumas de guerra no protagonista.

Wulfgar, o terrorista maluquinho...
Wulfgar, o terrorista maluquinho…

Wulfgar tinha por hábito se envolver com moças para transformar seus apartamentos em uma espécie de base para ele. Feito isso, ele as assassinava, sempre dizendo “você vai para um lugar melhor”. Assim, temos várias cenas onde Wulfgar procurava suas presas em discotecas, onde podemos atestar os ritmos musicais da época. Em alguns momentos, parece que estamos vendo “Os Embalos de Sábado à Noite” e John Travolta aparecerá do nada para dançar. Aliás, a trilha sonora do filme, composta por Keith Emerson, é show! Uma batida instrumental cheia de tensão, com o devido espírito da época! Algo que soa muito diferente do que se ouve por aí hoje em dia.

uma terrorista fria...
Shakka, uma terrorista fria…

Rutger Hauer conseguiu fazer um grande vilão, o primeiro de sua carreira, estourando em “Blade Runner” pouco tempo depois. O mais irônico de tudo é que ele era considerado um terrorista internacional muito perigoso e as supostas técnicas dos policiais de rua de Nova York não seriam suficientes para capturá-lo. Entretanto, foi com tais técnicas ultrapassadas que DaSilva pegou Wulfgar. E adivinhem qual foi? Isso mesmo, caro leitor, DaSilva se vestiu de mulher!!!! Wulfgar foi à casa de Irene, o amor de DaSilva, para matá-la. Ele via a moça de costas com um vestido rosa e sua longa cabeleira loura. Quando ele se aproximou com a faca para dar cabo de Irene, ela se vira e vemos um Stallone barbado com peruca loura e vestido rosa apontando a arma para ele (aaaarrrrrgghhhhh!!!!). Wulfgar ficou tão traumatizado que demorou uns dois minutos para processar aquela grotesca informação em seu cérebro. Quando ele decidiu atacar, foi prontamente fuzilado por DaSilva.

DaSilva e Irene. Relação complicada
DaSilva e Irene. Relação complicada

Apesar de ser um filme de ação trivial, não podemos deixar de perceber alguns lances interessantes. Os personagens de Stallone e de Fox conseguiam ser duas vacas bravas, mas, ao mesmo tempo, ter alguma serenidade, não sendo tão caricatos. Foi legal ver Stallone numa interpretação não tão exótica assim, como o foi em muitos de seus filmes. Ou seja, sua paralisia facial ainda não era a estética dominante de sua interpretação. E ele deu conta do recado. Billy Dee Williams mostrou que não é somente Lando Calrissian, fazendo o fiel escudeiro Fox, que se indignava profundamente com o traficante da boca de fumo que lhe oferecia dinheiro, mas ao mesmo tempo era uma voz de temperança para DaSilva, ao convencê-lo a não abandonar a unidade antiterrorista. Persis Khambatta poderia ter sido mais aproveitada, mas ainda sim sua participação foi maior que a de Lindsay Wagner. Essa sim apareceu muito pouco no filme, o que é de se lamentar bastante.

aaaaaaarrrrrrggggghhhhhh!!!!!
aaaaaaarrrrrrggggghhhhhh!!!!!

Outra virtude da película é atestarmos as visões de terrorismo da época, ainda muito vinculadas a movimentos revolucionários. Wulfgar se vangloriava de defender uma causa. Ele se acreditava um defensor e libertador dos oprimidos, numa visão um tanto romântica e tresloucada da coisa. Ao escutar isso, DaSilva só falava, em tom de questionamento e com sarcasmo: “Você acha, é?”, ao que Wulfgar retrucava: “Isso te fascina”. Se o policial questionava o terrorista em tom de pouco caso, até porque, na visão do policial, Wulfgar era um louco e era bom não contrariar, vemos um traço de romantismo e ideologia no terrorista, até porque, naquela época, os Estados Unidos ainda patrocinavam muitas ditaduras no mundo ocidental, sobretudo na América Latina. É inclusive citado que a América do Sul estava cheia de revolucionários. Logo, a existência de muitos grupos revolucionários no mundo ocidental era algo que fazia parte da realidade daquele tempo. Hoje em dia, os terroristas não têm rosto e vêm de mais longe, mais especificamente do Oriente Médio, não havendo nacionalidades definidas e sim grupos armados que são extremamente demonizados pela mídia. É um terrorismo mais violento, cruel e aparentemente sem romantismos, embora as ideologias ainda estejam lá escondidas. E o cinema, geralmente, auxilia no processo de demonização. Wulfgar tinha rosto, se reportava à mídia em telefones públicos próximos ao local dos atentados, ou seja, cometia erros que os terroristas de hoje jamais cometeriam. Podemos atestar, então, nas produções cinematográficas ao longo do tempo, um processo que vai de um terrorismo mais “romântico” e menos planejado no passado para um terrorismo de hoje mais frio e calculista.

Assim, “Falcões da Noite” é um interessante filme das antigas por mostrar a nós como determinados conceitos e formas de comportamento se alteram ao longo do tempo. E é um filme muito fácil de se obter em DVD. Dê uma garimpadinha por aí, que vale a pena. Por enquanto, veja a versão dublada e completa do filme abaixo

 

Batata Movies – Doutor Estranho. Medicina, Misticismo e Princípio da Incerteza.

Cartaz do Filme
Cartaz do Filme

Por Carlos Lohse

A Marvel dá mais uma de suas boas cartadas. Estreou no cinema o esperado “Doutor Estranho”, estrelado por Benedict Cumberbatch, e que tem Mads Mikkelsen fazendo o papel do vilão. Somente esses pequenos detalhes já justificam a ida ao cinema, antes de mais nada. Mas o filme tem mais, muito mais, pois ele consegue abordar temas muito interessantes. Só quero fazer uma observação aqui. Esse artigo terá “spoilers”. Espero que você já tenha visto o filme. Caso contrário, volte mais tarde.

Vemos aqui a história do Doutor Stephen Strange (interpretado por Cumberbatch), um competente neurologista com uma carreira de muito sucesso. Isso faz com que Strange tenha um comportamento extremamente arrogante, provocando a antipatia de muita gente. A única pessoa que ainda consegue aturá-lo é outra neurologista, Christine Palmer (interpretada por Rachel McAdams), colega de profissão e ex-namorada. Um belo dia, Strange, que é um cara muito bem de vida financeiramente e é cercado de bens materiais, está em seu possante carro falando ao celular sobre qual cirurgia ele fará, e acabou sofrendo um grave acidente por isso, que destrói suas hábeis mãos para cirurgias muito delicadas. Desesperado por não poder mais conseguir exercer seu ofício, ele descobre com seu fisioterapeuta um paraplégico que conseguiu voltar a andar. Ao falar com ele, este lhe indicou um endereço no Nepal. Lá, Strange conhece a anciã (interpretada por Tilda Swinton), que vai lhe revelar os segredos do misticismo e a existência do multiverso. Mas um antigo aluno da anciã, Kaecilius (interpretado por Mads Mikkelsen), quer permitir que uma entidade cósmica maligna invada a Terra sob a promessa de vida eterna. Strange, então ainda um aprendiz, vai ter que evitar que os planos de Kaecilius se concretizem para salvar o planeta.

Um neurocirurgião irado!!!
Um neurocirurgião irado!!!

Dá para perceber que o enredo é bem interessante. A coisa aparentemente cai num lugar comum da velha história do materialista fútil e arrogante que descobre a elevação espiritual no misticismo. Mas a película não fica apenas nessa boa lição. A medicina, área de atuação de Strange, e representante da ciência no filme, não fica relegada a um segundo plano e aparece recorrentemente como um recurso necessário ao longo da história, como se a sabedoria do misticismo se aliasse à sabedoria da ciência. Mas o mais incrível aqui é a ideia de que há um multiverso, ou seja, a existência de vários universos possíveis, além de portais que vão de um lugar para outro. Essas ideias são muito relacionadas à mecânica quântica e à física da relatividade geral. Os portais lembram muito a noção de buracos de minhoca, onde corpos com muita massa e muito densos (os conhecidos buracos negros) distorcem a estrutura do espaço-tempo de tal forma que poderiam provocar “atalhos” entre duas regiões do Universo. No filme, entretanto, esses buracos de minhoca seriam provocados pelo misticismo e magia dos aprendizes da anciã. Já a ideia de multiverso é associada à mecânica quântica, mais especificamente ao Princípio da Incerteza de Heisenberg. Esse princípio diz que, para conhecermos o movimento de um átomo ou outra partícula qualquer, devemos conhecer simultaneamente sua posição e velocidade. O problema é que não conseguimos essa determinação simultânea. Só podemos conhecer ou a posição ou a velocidade, nunca as duas ao mesmo tempo. E isso é uma limitação imposta pela própria natureza. Assim, para cada posição que determinamos, temos infinitas possibilidades de velocidade, e, para cada velocidade que determinamos, temos infinitas possibilidades de posição. E o que tudo isso quer dizer? Que este Universo em que vivemos é apenas um de muitos prováveis, ou seja, somos todos ondas de probabilidade. Eu poderia até entrar em questões mais complexas e polêmicas do tipo: se tudo agora é probabilidade, como fica Deus, algo altamente determinístico, num contexto desses, mas vamos parar por aqui, já que temos um filme a analisar. Então, a existência na película de um multiverso, onde há uma infinidade de universos possíveis, tem tudo a ver com o Princípio da Incerteza cunhado pelo físico atômico Werner Heisenberg. O mais legal foi ver essas associações entre a física relativística e a mecânica quântica com o misticismo. Os físicos e astrofísicos que não me ouçam, mas essas formas científicas de conhecimento sempre tiveram um quê místico aos olhos do grande público, sobretudo a mecânica quântica, um assunto muito hermético para a grande maioria das pessoas. Ver isso em “Doutor Estranho” só confirma tal hermetismo e mito que associam saberes tão diferentes (ciência e misticismo).

Kaecilius. Poder de Persuasão.
Kaecilius. Poder de Persuasão.

O que mais podemos falar do filme? Algumas coisas que já detectamos no Universo Marvel em outras ocasiões. Em primeiro lugar, a vinda de um novo herói sempre é muito bem vinda, já que um dos principais problemas dessa franquia é o excesso de filmes de herói, tornando a coisa até um certo ponto repetitiva. Tem-se, então, a necessidade de uma renovação constante, que leva ao surgimento de novos heróis nas telonas, algo que a Marvel consegue fazer bem, pois tem um celeiro praticamente inesgotável de super-heróis. Em segundo lugar, o humor novamente deu o ar de sua graça, mesmo que o personagem do Doutor Estranho tenha uma aparência um tanto soturna. Vou sempre defender esse conteúdo mais humorístico da Marvel, pois ele funciona e traz aquela coisa nova de que os filmes precisam, ressaltando sempre que fazer humor é algo extremamente difícil.

Um discípulo, uma mestre e um bibliotecário sisudo
Um discípulo, uma mestre e um bibliotecário sisudo

E os atores? Bom, eu acho que nem preciso dizer muito. Dessa vez, a Marvel caprichou muito no elenco, colocando somente cobras criadas. Cumberbatch foi muito bem como o médico arrogante que se regenera, arrancando simpatia do espectador. Mikkelsen, o atorzaço de sempre, mostrou grande poder de persuasão ao tentar convencer o Doutor Estranho à sua causa. Tilda Swinton, que já tinha ido muito bem em papéis altamente díspares nos filmes “Amantes Eternos” e “O Grande Hotel Budapeste”, prova novamente seu lado camaleônico ao fazer uma anciã que é a mestre do protagonista, e, ao mesmo tempo, desperta dúvidas em seus discípulos à respeito de sua integridade moral. E temos Chiwetel Ejiofor, aquele ator de nome complicadíssimo que protagonizou “12 Anos de Escravidão”, e que aqui interpreta Mordo, o principal discípulo, o mais cheio de dúvidas em relação à sua mestre, com uma interpretação contida e sóbria, até em seus maiores momentos de decepção.

Comprem o Gibi!!!!
Comprem o Gibi!!!!

Assim, “Doutor Estranho” é mais um tiro certo da Marvel, que conseguiu mostrar o seu poder de renovação, além de repetir o que vem dando certo, que é o humor. Um filme laureado por um excelente elenco, que dá credibilidade aos personagens. Uma película que usa o misticismo como mote principal, sem esquecer a importância da ciência. E, como em todos os filmes da Marvel, com pós-créditos. Dois, para ser mais exato. Não saia da sala até a última letrinha e além. Você não vai se arrepender. Programa imperdível! E não deixe de ver o trailer abaixo.