Batata Literária – O Desprezo (Série Obscura).

Todos para mim são insignificantes.
Pessoas com pensamentos irritantes.
Criaturas sem maneiras
que só falam baboseiras.
Não reconheço virtudes em outrem.
Só em mim e em mais ninguém.
Não, não é falta de humildade!
É o reconhecimento nos outros de total incapacidade.
Mas minha perversidade tem outra faceta:
quando quero atingir a quem me corteja,
passo a ignorar totalmente a vítima.
Nunca mais ela tem a minha estima.
Eu rio com o seu desespero.
Me delicio com o seu destempero.
E, quando a graça passa,
me esqueço de tudo de foma devassa.
Já me reconheceram?
Isso mesmo! Sou o desprezo!
O pior jeito de tratar aqueles que comigo se meteram,
como para alguém que fica surpreso
de se deparar com um ser indesejável
e, por isso, toma uma atitude odiável
que é a de machucar, de ser o algoz
de seu alvo, de jeito tão atroz!
Depois que passo pela vida de uma pessoa,
pouco sobra, ela deixa de ser boa.
O inferno se instaura
com o simples objetivo de corroer a aura.
É assim que você acaba com o seu inimigo.
Primeiro finge ser amigo,
depois, para você, ele nem existe,
acabando com ele, deixando-o todo triste.

Batata Literária – O Medo (Série Obscura)

Oh, Deus, eu tenho medo!
Muito medo!
Sinto o perigo me espreitando!
A adrenalina me desesperando!
Não é um sentimento fugaz,
jamais tenho paz!
O pavor faz parte da minha vida
e  a insegurança por mim é sentida.
Por que todo esse terror?
Não sei, é a minha dor!
Às vezes, acho que vejo demais.
Mas logo volto aos meus sentimentos banais.
Minha coragem está estagnada.
Minha impetuosidade desligada.
A sensação mais forte
é o frio na espinha sem sorte.
Já pensei em lutar contra isso
mas rapidamente desisto sem aviso.
Pois sinto que esse medo faz parte de mim
e tirá-lo agora não dá mais assim.
Na verdade, ele é meu parceiro inseparável.
Viver sem esse calafrio é algo refutável.
Aliás, como poderei sem esse estado justificar
o papel de vítima que quero aparentar?
Por isso, abraço o pavor.
Ele é o meu guia, o meu mentor.
Nada mais me importa
se meu coração não palpita nem emborca.
Isso já está no meu sangue.
Não é um sentimento estanque.
Portanto, só há uma grande verdade:
sou um tremendo de um covarde!

Batata Literária – A Ingratidão (Série Obscura)

Nota do autor: Farei uma pequena série de poesias conhecida como “obscura”, que abordará alguns defeitos humanos. Serão quatro poesias. Não tenho uma intenção inicial de ampliar essa série, embora ninguém sabe o que nos reserva o amanhã. A primeira poesia vai falar de um dos piores defeitos humanos, a ingratidão…
Eu gosto de tudo dos meus amigos ganhar
para nada em troca dar.
Sou mesquinha, egoísta e insensível.
A ternura eu acho algo risível.
A afeição é uma dama horrível.
O carinho é coisa de bobinho.
O companheirismo eu vejo com cinismo.
Minha virtude é só pensar em minha atitude.
Alguns vão me condenar.
Mas eu não estou nem aí para quem quer me criticar.
Faço pouco daqueles que pensam em mim.
Que idiotas! Penso eu, como quem manipula um arlequim.
Minha intenção é eu me aproveitar das pessoas.
Tirar mais delas quanto mais forem tolas.
Porque o mundo é dos espertos
e não de quem comete atos incertos.
Qual é a minha estratégia?
Fingir-me de boazinha e te conquistar, para a tua miséria.
Então, tu cais como um patinho.
Me presenteias com todo o seu carinho.
Finalmente, quando estou farta de ti,
te descarto como algo que nunca vi.
Sem qualquer peso na minha alma,
a ruindade é o meu amálgama.
Esse é o meu estilo de vida.
Não me importo com a mente sofrida.
Só penso em mim mesmo.
Escolho minhas vítimas a esmo.
Para não parecer que tenho alvos escolhidos.
Você sabe, dissimulada eu sou para cobrir indícios.
Dos imbecis, tudo tirarei
e com remorso jamais ficarei.

Batata Literária – Metrópolis

Nota do autor: esse filme foi o começo de meu interesse por toda a arte desse mundo. Ele provocou uma guinada completa em minha vida, onde eu descobri novas experiências e pessoas. Devo minha vida a ele, que ficou bem mais interessante após eu conhecê-lo. As linhas desta poesia são apenas uma pequena retribuição a tudo que esse filme me deu…

 

O ano era dois mil e vinte e seis.
O melhor e o pior dos tempos do escritor inglês
conviviam de uma vez
numa gigantesca cidade em sua altivez.
Metrópolis! Símbolo da engenhosidade e inteligência humanas!
Sessenta milhões de pessoas abrigava em suas entranhas.
Mas nem tudo eram flores nesse templo do capitalismo,
com uma horda de pobres morando no fundo do abismo.

Lá, uma pequena líder dos trabalhadores
pregava o amor entre explorados e seus empregadores.
O filho do grande patrão por ela se apaixonou
e um submundo encontrou,
descobrindo a miséria com indignação.
Logo, começou a lutar contra tal maldição.
Mas um antigo cientista bruxo
criou uma mulher mecânica para satisfazer seu luxo.
Entretanto, o patrão ordenou ao inventor
que, à máquina fosse dada num estupor
a forma da líder operária
para o grande chefe manipular os subordinados de forma ordinária.
Mas a robô saiu de seu controle infame
e pregou o ódio e a revolta como uma pusilânime.
Os operários destruíram as máquinas da maldade
sem saber que, com isso, inundavam sua própria cidade.

Mas a sagrada líder e o filho do patrão
salvaram os filhos dos trabalhadores da inundação.
Confundida com o robô maligno,
a líder quase foi queimada num fogo indigno.
Destino dado ao ser mecânico malogrado
enquanto que, da catedral, caía o cientista tresloucado.
Ao final, o filho do grande patrão
une capital e trabalho com um aperto de mão.

Batata Literária – A Balada da Pequena Notável (à Carmen Miranda)

Ela veio de Portugal pequenininha
para no Rio de Janeiro levar uma vida simplezinha.
Mas na adolescência houve um despertar
que foi o seu enorme desejo por cantar.
Participou de concursos de música
e os ganhou, de forma única.
Até que foi parar nos rádios e gravadoras,
marchinhas de carnaval, cantando-as todas.
Logo, tornou-se uma cantora muito famosa.
No Cassino da Urca, um americano apresentou-se de forma melindrosa.
Ele queria levá-la para a Broadway, nos “States”.
Ela aceitou só se seus músicos fossem junto com seus enfeites.
Fez muito sucesso na América e ajudou a consolidar uma aliança
entre o Brasil e os Estados Unidos na política da boa vizinhança.
Assim, uma artista de cinema ela se tornou
e a divulgar a imagem do Brasil auxiliou.
Mas, quando a paz desperta,
esqueceram dela de forma aberta.
Casou-se com um empresário sem perceber
que muitos shows teria que fazer.
Para aguentar o ritmo, teria que se medicar
com estimulantes que a sua saúde iriam prejudicar.
A vida de muito trabalho e a violência do marido
renderam uma crise de pânico e a volta ao solo querido.
Entretanto, ela estava desolada com a imprensa pátria
e volta para a América e a sua vida pária.
Após um show na televisão
um ataque cardíaco acabou com a sua vida e imolação.
Seu corpo foi chorado por seus patrícios
que não sabiam de seus suplícios.
Hoje ela é lembrada como uma figura sem igual,
verdadeira lenda da mitologia nacional.

Batata Books – Bowie. Mais Pessoal, Menos Profissional.

 

Um cantor muito amado por todos

 

Hoje a seção Batata Books vai falar de “Bowie”, uma biografia escrita por Wendy Leigh. Dessa vez, vamos fazer uma coisa um pouco diferente. Segue agora um vídeo com minhas impressões do livro e, logo depois, a resenha escrita para fornecer a vocês informações adicionais.

E, agora, o texto…

A editora Best Seller lançou a biografia de David Bowie. Escrita por Wendy Leigh, podemos ver aqui a trajetória completa do cantor, desde os seus dias de infância até a sua morte, no início do ano passado. É uma biografia onde podemos conhecer o lado mais pessoal e humano do cantor, em detrimento de sua carreira profissional, que foi pouco explorada.

Bowie e seus pais

Em todas as 287 páginas do livro, podemos perceber como a autora se debulha em elogios ao cantor, chegando a chamá-lo de deus grego em algumas passagens. Tudo bem que a escritora seja uma fã do artista, mas tal idolatria pode ser perigosa, deixando a obra tendenciosa. No livro, vemos um Bowie totalmente educado, delicado e sensível, embora haja também o cuidado de se mostrar que ele era humano e tinha os seus defeitos. Bowie, por exemplo, não media esforços em chegar aos seus objetivos e se tivesse que ter relações homossexuais com empresários para atingir o estrelato, ele o fazia. Aliás, esse é o grande mote do livro. A autora se preocupa muito mais na coleção de amantes e casos do cantor do que em sua carreira profissional, o que tornou a leitura um pouco maçante. A bissexualidade de Bowie é muito bem explorada, assim como seu amor livre e descompromissado. Foi também mencionada sua forte dependência química com a cocaína em meados dos anos 70, onde o cantor tinha sérias alucinações. Sua generosidade, inclusive, ajudou o guitarrista Slash a lidar melhor com o vicio que ele também tinha com cocaína, pois Bowie muito o aconselhou a largar a droga quando jovem (a mãe de Slash foi um dos muitos casos de Bowie).

Com Angie, sua primeira esposa. Ah, a Angie é a sentada e o Bowie está em pé com vestido e cara de tia

O livro também se preocupou em falar do relacionamento de Bowie com suas pessoas mais próximas, desde sua mãe, com quem mantinha um relacionamento muito frio, seu pai, que muito incentivou sua carreira, passando por seus empresários, sua esposa Angie, com quem teve um casamento aberto, sua melhor amiga Coco Schwab, que era uma espécie de guardiã, e seu casamento altamente estável com a modelo Iman. Pudemos ver ainda a relação conturbada de Bowie com Mick Jagger ou a forma com que o cantor foi destratado por Andy Warhol. A carreira cinematográfica de Bowie também foi contada, embora pudessem ser mostrados maiores detalhes. Só é de se lamentar que a parte musical, tão prolífica e rica, tenha sido menos explorada.

Coco Schwab, sua fiel escudeira

O livro parece ter um corte abrupto mais ao final. Ou seja, ele ficou muito focado na vida de Bowie durante a década de 70. Já as décadas de 80, 90, passaram mais rapidamente, e quando nos demos conta, já estávamos no álbum Lazarus e em sua morte, que parece que foi rapidamente acrescentada para aproveitar a enxurrada certa de vendas que a biografia teria imediatamente após sua morte, o que é uma pena, pois sentimos que essa biografia não ficou muito bem acabada. De qualquer forma, é uma oportunidade para os fãs conhecerem um pouquinho mais de Bowie e sua vida, embora eu ache que o leitor precise procurar outras fontes depois para ter um panorama mais completo desse cantor que muita saudade deixou.

Relacionamento feliz e duradouro com Iman

 

Batata Literária – She Left Home Versão Borboleta Azul

E a Batata Espacial tem sua primeira colaboradora. Minha amiga Rosilene Jorge dos Ramos, professora e poetisa, pertencente ao grupo Gambiarra Profana, apresenta sua poesia “She Left Home Versão Borboleta Azul”. Para conhecerem mais o trabalho da Gambiarra Profana, cliquem aqui. E vejam a poesia declamada pela autora no vídeo abaixo.

Batata Literária – O Barroco

Eu estou em permanente conflito.
Do ser humano, amo tudo que ele tem de mais bonito.
Era como diziam os renascentistas:
com sua inteligência, o homem faz coisas infinitas.
Ele cria a ciência e a tecnologia,
melhora o nível de vida todo o dia.
Suas conquistas são como preciosas minas
tão etéreas, praticamente divinas.
Mas também amo – e temo – a Deus.
Quero a minha salvação e a dos meus.
Os religiosos dizem que estou abaixo do Salvador,
e é aí que começa a minha dor.
As conquistas humanas são coisas de pecador.
Ao valorizar o homem, parece que de Deus perco seu amor.
E, condenado ao inferno estou!
Assim não sei mais quem sou!
Por que é heresia valorizar o humano?
Por que isso me torna tão mundano?
Não podemos ter a liberdade de criar
sem violar a premissa de a Deus adorar?
Somos maravilhosos e sensatos.
Por que ofendemos a Deus com nossos atos?
Será que a religião só valoriza a obediência
e encara a liberdade do homem com demência?
Chego a essa última estrofe arrasado.
Renuncio à grandeza do homem amargurado.
Mas Deus é mais poderoso que eu.
Por isso, minha crença no homem morreu.
Entrego minha alma à salvação
para que Deus possa tomar uma decisão.
Mas, realmente, tudo o que eu queria
era conciliar paixão e fé sem vilania.