Batata Séries – Jornada Nas Estrelas Voyager (Temporada 6, Episódio 5), Alice. Uma Nave Muito Ciumenta.

Uma nave…

Dando sequência às nossas análises de episódios da sexta temporada de “Jornada nas Estrelas Voyager”, falemos hoje de “Alice” (o quinto episódio). Temos aqui uma situação de um personagem que “pira na batatatinha”, mais especificamente, Tom Paris, vítima da obsessão por um de seus hobbies, que é ajeitar máquinas, desde carros antigos até naves auxiliares.

Uma femme fatale…

Qual é o enredo do episódio? A Voyager encontra uma espécie de ferro velho gigante, onde seu dono, um alienígena, gosta de trocar peças e relíquias históricas com seus visitantes. A Voyager faz negócio com o dono do ferro velho e Paris fica impressionado com uma espécie de nave auxiliar. Depois de muito insistir com Chakotay, Paris convence o Primeiro Oficial a “comprar” a navezinha, que precisa de muitos reparos. O que Paris vai descobrir é que a tal navezinha tem uma interface neural que mantém seu cérebro em contato com o computador da nave, e essa interface começa a controlar o alferes, tornando-o obsessivo em reparar a nave que ele carinhosamente a chama de “Alice”.

Usando roupas estranhas…

O problema é que a nave faz uma mulher chamada Alice aparecer na imaginação de Paris, que fica totalmente encantado e submisso a ela. Quando B’Elanna descobre que a navezinha controla seu namorado, ela tenta dissuadi-lo disso, mas quase morre sufocada dentro da nave, que cortou o suporte de vida. A nave ainda vai sequestrar Paris e ir para uma espécie de fonte de partículas que a nave chama de casa, mas que a destruirá. Impossibilitada de atirar na nave, a Voyager irá resgatar Paris através de B’Elanna, onde ela usará um link neural da Voyager para se comunicar com Paris e retirá-lo da navezinha ciumenta com o teletransporte.

Surtando o mocinho…

Será que esse episódio traz para o espectador alguma lição de moral? Se trouxer, provavelmente será aquela que alerta para que não deixemos as coisas que a gente gosta tomarem completamente conta de nossas vidas. A Alice é uma espécie de alegoria das nossas obsessões quando praticamos nossos hobbies e de como isso pode meio que descompassar nossas vidas, a ponto de transformar e fragilizar a gente. De qualquer forma, é curiosa a forma como Paris fica totalmente submisso a uma de suas manias.

Você vai fazer o que eu mandar, varão…

E de como essa mania foi representada por uma mulher muito bonita, como se a figura feminina fosse uma espécie de pomo da discórdia. Ou seja, por mais avançada, revolucionária e inclusiva que “Jornada nas Estrelas” seja, ainda assim vemos a reprodução de certos preconceitos. A coisa da mulher como elemento traiçoeiro que desvia a atenção do homem de forma negativa se remete aos tempos da Inquisição (mulheres bonitas eram condenadas à fogueira sob a alegação de enfeitiçarem os homens), ou talvez até mais para trás (se nos lembrarmos de Eva ou Dalila, por exemplo, na tradição monoteísta revelada). Outra coisa que incomoda um pouco é todo o ciúme pelo “varão” Paris por parte de B’Elanna e Alice. Eu me pergunto se no século 24 o ciúme ainda vai fazer parte dos relacionamentos humanos, ainda mais com tanta gente “ficando” por aí.

B’Elanna salva (?) seu amado…

Assim, “Alice” é um episódio de “Jornada nas Estrelas Voyager” que parece alertar para a obsessão humana, sendo uma coisa que pode descalibrar completamente corações e mentes. Apesar desse interessante alerta, o episódio meio que peca por colocar a mulher como uma figura um tanto nociva, bem ao estilo bíblico, além de trabalhar a picuinha do ciúme, ainda usando o fator explosivo B’Elanna.

Batata Séries – Jornada Nas Estrelas Voyager (Temporada 6, Episódio 6). Charadas. Tuvokinho Paz E Amor.

Um Tuvok diferente…

O sexto episódio da sexta temporada de “Jornada nas Estrelas Voyager”, “Charadas” (“Riddles”), é um daqueles episódios de personagem. Ou melhor, de personagens. E aqui são duas figuras muito antagônicas, cujo relacionamento inusitado pode dar caldo para boas histórias. Isso mesmo, caro leitor trekker, acho que você já adivinhou: Neelix e Tuvok. Visto de forma um pouco torta por alguns, Neelix é o sujeito mais boa praça da nave (e, talvez, o mais esculachado por isso por conta da incompreensão humana). Ele é uma pessoa sempre aberta a ajudar ao próximo e a se envolver com os problemas dos outros. Por que será, então, que ele é visto com tanto pouco caso já que, talvez, ele seja o personagem que mais represente os ideais da Federação em termos de tolerância, diversidade e respeito? Por causa de ser, também, uma espécie de alivio cômico que alguns podem considerar inoportuno? Deixo a questão em aberto e ficaria estimulado a discuti-las com vocês.

Ele faz deliciosas sobremesas…

Mas, do que se trata essa boa história? Neelix e Tuvok estão em missão diplomática (tentam fazer acordos entre duas raças alienígenas) na Delta Flyer. O cozinheiro tenta brincar de charadas com o vulcano que, muito a contragosto, participa. Mas Tuvok detecta uma anomalia no interior da nave que se revela um alienígena infiltrado e camuflado que o ataca e lhe provoca danos na sua atividade cerebral. O vulcano então fica com amnésia, não sabendo quem é e com uma alta instabilidade emocional e insegurança. Ele registrou no tricorder uma frequência que era a da camuflagem do intruso, mas o aparelho foi destruído. Essa frequência será fundamental para tirar a camuflagem dessa espécie e um trunfo para o sucesso da missão diplomática, sendo imperativo que Tuvok a recorde. O problema é que o vulcano está ainda em confusão mental e será essa a oportunidade que Neelix terá para se aproximar de seu colega, que se revelará uma figura extremamente doce e afável. Mas Neelix sabe que o mais justo para Tuvok será recuperar sua mente, conhecimento e personalidade anteriores. Será um processo um tanto doloroso em que Neelix será um apoio fundamental para o vulcano desamparado e inseguro.

Procurando uma frequência…

Bom, dá para perceber que a querela alienígena do episódio é apenas um apoio para a história principal, que é o relacionamento de Tuvok com Neelix nesse momento de fragilidade do vulcano. Essa trama é muito interessante no sentido de que, volta e meia vemos situações como essa ocorrendo por aí. Uma pessoa que trata a outra com arrogância e até uma certa empáfia, que, de repente, por essas maldades que a vida faz, fica doente e impossibilitada, totalmente dependente da pessoa que foi sistematicamente maltratada. E a vítima desse relacionamento, ao invés de ser crua e vingativa, lança mão de continuar a tratar quem a tratou mal com afeto e ternura, não demonstrando qualquer rancor, ato extremamente nobre e até difícil de se fazer, algo que ainda dá esperança para o que é ser humano. Na minha modesta opinião, esse episódio engrandece demais o personagem Neelix aos olhos dos seus críticos mais duros e mostra o que é o propósito de Jornada nas Estrelas, que é uma visão positiva do ser humano e do ato de humanidade. Só é curioso que um alienígena tenha tido essa postura com outro, não havendo nenhum humano no meio. De qualquer forma, é um episódio que abre muito espaço para a reflexão e que nos obriga a fazer uma autoavaliação de como nós procedemos para com as pessoas que estão a nossa volta. Só essa contribuição já faz o episódio ser muito especial e nos ajuda a melhorar como indivíduos.

Ela está no bolo!!!

O mais curioso foi ver que, mesmo que Tuvok tenha voltado a ser o que era antes, ele ainda dá um sinal a Neelix de que a forma como foi tratado pelo colega não está esquecida, e aquele vulcano doce e inseguro, que fazia sobremesas muito gostosas, ainda está lá dentro do monumento à lógica que é esse personagem amado por muitos, mas também questionado por outros.

Um relacionamento muito fofo…

Dessa forma, “Charadas” é mais um episódio da sexta temporada de “Jornada nas Estrelas Voyager” que merece a atenção dos trekkers de plantão, por ser meio que um tapa na cara de nossa arrogância para com o próximo. Veja e procure se entender com a pessoa que você não dá muita bola, que acha chata, etc. A gente sempre tem um Neelix à nossa volta que não damos muita ideia, e não sabemos o que estamos perdendo.

Batata Séries – Jornada Nas Estrelas Voyager, Temporada 6, Episódio 4, Tinker, Tenor, Doctor, Spy. Um Holograma Em Devaneios.

 

La Donna é Mobile

O quarto episódio da sexta temporada de “Jornada nas Estrelas Voyager” é mais um daqueles que tem o Doutor como protagonista principal. Também pudera, pois creio que o Doutor é, talvez, o personagem mais amado dessa série, e um dos mais amados de toda a franquia. A gente sente isso fazendo a análise dos episódios aqui, onde ele aparece recorrentemente como personagem principal dos episódios.

Devaneios…

Mas, qual é a história que envolve nosso Doutor dessa vez? Vemos aqui o holograma tendo uma série de devaneios, onde geralmente ele tem uma posição central, sendo celebrado por seus colegas pelos seus grandes atos, além de ser cobiçado pelas mulheres da nave, quero dizer, todas elas. Em suma, o Doutor se achava o gostosão em seus devaneios. Ele, inclusive, pediu a capitã para ser uma espécie de capitão holográfico de emergência caso Janeway ficasse incapacitada e a linha de comando não pudesse suprir sua ausência. Mas Janeway  rechaçou essa possibilidade, deixando o Doutor magoado. O grande problema é que um alienígena sondava os pensamentos do holograma e pensou que aquilo tudo fazia parte da realidade.

Um alienígena redondinho…

Essa espécie alienígena costumava abordar as naves e pilhá-las. O alienígena passou ao seu superior a aparente posição central do Doutor e eles organizaram um ataque à Voyager. Mas depois o alienígena percebeu que captava apenas os devaneios do holograma e, para não perder o emprego, entra em contato com o médico para que os dois resolvam aquela situação juntos. Será nessa hora que o Doutor terá que assumir a ponte da Voyager, obviamente sob a orientação de Janeway, que fala com ele através de uma espécie de ponto eletrônico.

Pintando a Sete…

Dá para perceber que esse episódio vai seguir uma linha mais de comédia em alguns momentos. Um holograma que “realiza” grandes atos, com a capitã, Sete de Nove e até B’Elanna dando em cima dele, só para a gente começar a falar das partes engraçadas. Mais hilário ainda é quando o Doutor conclui que seus devaneios são alguma falha em sua programação e, para consertar isso, tais devaneios devem ser levados à público, causando um constrangimento geral (já imaginou, caro leitor, se seus pensamentos mais íntimos sobre determinadas coisas ou pessoas fossem levados a público? Dá para sentir o constrangimento doendo por dentro). Por outro lado, ao se revelar abertamente para todos, algumas pessoas, como Janeway, passaram a entender o Doutor melhor, o que não foi, por exemplo, o caso de B’Elanna, por motivos óbvios. Mas o mais hilário aqui foi o momento em que o Doutor teve que assumir a ponte da Voyager na encenação para os alienígenas. Se em seus devaneios o médico era astuto, perspicaz, corajoso e cheio de virtudes, ao assumir a ponte na vida real, ele “tremeu na base” e tomou uma série de atitudes destemperadas, com sempre Janeway falando “menos, menos” no seu ponto eletrônico. De qualquer forma, ele resolveu a situação batendo o pé fortemente contra os alienígenas, numa atitude altamente arriscada que deu certo sendo, finalmente, heroico como em seus devaneios (e até celebrado por isso!).

Um Doutor Capitão…

Assim, se “Tinker, Tenor, Doctor, Spy” é um episódio que foge à ficção científica, ainda assim é um episódio altamente recomendável de se assistir, pois ele se adequa a outro elemento que é caro a “Jornada nas Estrelas”, que é a comédia, mesmo que nem sempre se perceba muito isso, principalmente nas séries pós TOS. A ideia de se brincar com devaneios fantasiosos foi muito bem vinda. Vale a pena dar uma conferida.

Batata Séries – Jornada Nas Estrelas Voyager (Temporada 6, Episódio 2), Instinto de Sobrevivência. Dilema Resolvido Na Valorização Do Indivíduo.

 

Um impasse…

E chegamos à sexta temporada de “Jornada nas Estrelas Voyager”, com o curioso episódio “Instinto de Sobrevivência”, onde mais um dilema moral é abordado. É impressionante perceber como os episódios do fim da quinta temporada e início da sexta rezavam por essa cartilha. De qualquer forma, apesar da repetitividade do assunto, o campo de atuação do debate variava, como podemos ver nesse episódio.

Três borgs desligados da coletividade, mas interligados entre si…

A história começa com um flashback de uma cápsula borg caindo num planeta. Dentre os quatro borgs sobreviventes, está Sete de Nove. Eles se desligaram da coletividade, mas ainda mantiveram o link entre eles. O problema é que os zangões começam a ter lembranças de suas vidas pregressas e mostram desejos de sair da coletividade, e Sete de Nove resiste a isso sempre repreendendo-os, seja pela ordem direta, seja pela coerção física.

Sete de Nove diciplina sua matriz…

Anos depois, a Voyager está numa estação markoniana recebendo várias espécies alienígenas para uma espécie de intercâmbio cultural. Um alienígena apresenta a Sete de Nove antigos implantes borgs que lhe pertenciam, o que a deixa interessada. Logo descobriremos que esse alienígena é um daqueles borgs que faziam parte da matriz de Sete de Nove e os demais também estão presentes. Eles têm ainda a capacidade de ler os pensamentos uns dos outros, pois ainda estão ligados mentalmente como ficaram depois de se separar da coletividade. Eles desejam sair desse link e terem as suas vidas como indivíduos. Como Sete de Nove foi a única borg a sair da coletividade e se tornar indivíduo e estava ligada a esse pequeno grupo de borgs, eles acreditavam que ela tinha as respostas para também os retirarem do link. Depois de várias análises do Doutor com relação à situação dos borgs, só havia duas opções: ou eles permaneceriam ligados para o resto da vida, ou os implantes que ainda estavam em seus corpos seriam retirados e eles viveriam como indivíduos, mas por apenas um mês. A decisão ficara a cargo de Sete de Nove, pois os borgs estavam inconscientes depois de Sete de Nove ter sido ligada com eles para se descobrir o que havia acontecido no passado, pois nenhum dos borgs, nem Sete de Nove, lembravam mais. Ao descobrir que Sete de Nove tinha neutralizado a individualidade latente deles e os recolocado na coletividade, os borgs surtaram contra ela e saíram do ar, depois de controlados pelo Doutor. Sete de Nove, depois de um debate com o Doutor, que defendia um resto de vida com os três telepaticamente ligados, decidiu por dar apenas um mês de vida com a individualidade de todos os três intacta.

Agora, esses três ex-borgs querem sua individualidade…

Como dito acima, mais um episódio de dilema moral. Dar aos borgs o que eles queriam (a individualidade) mas somente por um mês de vida, ou um resto de vida onde os três ficariam permanentemente ligados e sofreriam o tormento de escutarem o pensamento uns dos outros? Num primeiro momento, parece óbvio que um mês de vida como indivíduos parece a solução mais lógica. Entretanto, a vida deles não seria mais tão longeva assim. Se da decisão de Sete de Nove foi mais “humanitária” prevenindo seus colegas borgs de um sofrimento por anos e anos, também parece aqui que o individualismo prevalece sobre o coletivismo. É notável perceber como o individualismo permanece como um valor sagrado e inabalável na cultura capitalista ocidental, em detrimento de um pensamento coletivo, geralmente atribuído à manipulações de Estado ou de alguma instituição, como acontecia na Idade Média, quando a Igreja anulava o indivíduo e colocava a todos de forma coletiva na condição de meros pecadores que deviam obedecer aos preceitos da Igreja. A própria série atribui a coletividade a uma espécie – alienígena – os borgs – que é extremamente agressiva. Entretanto, o pensamento coletivo nem sempre pode ser visto como algo negativo, pois ele pode também ser usado pelos indivíduos para lutar contra instituições opressoras. Agora, a questão do episódio sempre recai no individualismo e colocando o coletivo sempre como algo ruim. Sete de Nove, em função do ideal do individualismo, e por uma questão humanitária, desvincula a mente dos borgs mas, ao mesmo tempo, abrevia em muito, a vida deles. Assim, temos o paradoxo de, em nome do individualismo, se tomar uma atitude que destrói o próprio indivíduo. Ou seja, o paradoxo está todo voltado para a ideologia individualista, ao passo que o coletivismo é taxado de forma inquestionável como algo ruim desde o seu início. Será que no século XXIV esses dois polos ainda terão pesos tão diferentes em nossos sistemas de valores? Fica a questão.

Qual será a decisão de Sete de Nove dessa vez???

Dessa forma, “Instinto de Sobrevivência” é mais um episódio de “Jornada nas Estrelas Voyager” que traz o fã à reflexão, embora valorize em demasia um elemento da cultura capitalista ocidental, o individualismo. Vale pela experiência de botar os neurônios para funcionar.

 

 

Batata Séries – Jornada Nas Estrelas Voyager (Temporada 5, Episódio 26), Equinox. Obsessões, Ódios E Erros De Avaliação.

 

Um capitão com sérios desvios éticos…

O último episódio da quinta temporada de “Jornada nas Estrelas Voyager” nos revela mais uma interessante discussão ética e como a obsessão e a revolta podem levar a atitudes destemperadas. “Equinox” é um episódio duplo que começa no fim da  quinta temporada e termina no início da sexta.

Tramoias com a sua tripulação que resultam em motim…

A história começa com uma nave da Federação em frangalhos, a Equinox, no Quadrante Delta e atacada por uma espécie alienígena que parece o Geleia dos Caçafantasmas. A Voyager detecta o pedido de socorro da Equinox e vai em seu auxílio. As duas naves combinam seus escudos para evitar o araque alienígena, mas paulatinamente as criaturas conseguem enfraquecer os escudos. Janeway conhece o capitão da Equinox, Rudy Ranson, que diz a ela que sua nave também foi vítima, assim como a Voyager, do zelador, sendo arremessada para o Quadrante Delta. O capitão alega que fez melhorias no sistema de dobra que encurtaram a viagem. Mal sabe Janeway que tais melhorias foram feitas usando os alienígenas como uma espécie de gerador de energia, provocando a morte de milhares deles. Não é à toa que os alienígenas perseguem a Equinox impiedosamente. É claro que o ambiente entre os tripulantes da Voyager e da Equinox não será mais o mesmo e, sabendo que, podendo dar mais um salto que levará a Equinox para a Terra em poucas semanas, usando os corpos dos alienígenas como combustível, o capitão Ranson rouba o gerador de escudos da Voyager além de sequestrar Sete de Nove, deixando a nave da capitã Janeway à mercê dos alienígenas.

Alienígenas assustadores que são vítimas…

Na Equinox, Sete de Nove consegue criptografar o acesso ao motor de dobra da Equinox e detém a mortandade dos alienígenas. Ranson exige que Sete de Nove dê os códigos de acesso. O Doutor, que também está na nave, tem as subrotinas éticas retiradas e ele começa a tentar extrair a informação de Sete de Nove à força, nem que isso custe a vida dela. Depois de deter os alienígenas, Janeway lança uma caçada contra a Equinox, onde ela não esconde a sua raiva e desejo de vingança, atravessando a linha ética várias vezes, sendo alertada por Chakotay. Como consequência, Janeway tira Chakotay de seu posto. Por outro lado, Ranson se arrepende de seus procedimentos e retorna à Voyager. É nesse momento que parte da tripulação da Equinox se amotina contra seu capitão. Ranson consegue se isolar e transporta parte de sua tripulação, Sete de Nove e o Doutor, enquanto a Equinox é atacada pelos alienígenas e mata os amotinados. Com a Equinox a um passo da explosão, Ranson a afasta da Voyager e se sacrifica junto com a sua nave.

Uma capitã enfurecida…

O episódio tem elementos interessantes. Em primeiro lugar, a discussão ética de se sacrificar vidas para salvar outras. Ranson tenta justificar o injustificável, dizendo que precisou ceifar vidas dos alienígenas, pois a Equinox sofrera muitos ataques no Quadrante Delta e estava em condições subumanas, tornando-se imperativo seu retorno para a Terra no menor espaço de tempo possível. Mas Janeway ficou firme em condenar o genocídio. Quanto a isso, parece que não há muita discussão. O que dá mais pano para a manga foi a inversão das atitudes dos dois capitães. Enquanto Ranson reavalia seus erros e volta atrás, levando a Equinox de volta à Voyager para se entregar, Janeway fica tão revoltada com a atitude e a fuga de Ranson que passa a agir obsessivamente, extrapolando a sua autoridade e tomando atitudes impensadas. Ou seja, Janeway, na sua ânsia de punir a Equinox pela falta de ética, acaba também chutando a ética para escanteio, chegando a fazer tortura psicológica num dos tripulantes da Equinox. Tal alerta fica aqui: mesmo as supostas mentes “evoluídas” do século XXIV podem mergulhar na barbárie quando provocadas, sendo a violência um veneno que te ataca de dentro para fora e tem consequências devastadoras.

Punição a quem viola a ética da Federação…

Assim, “Equinox” é um grande episódio de Voyager que mostra a inversão ética de dois capitães que têm o mesmo problema: fazer uma viagem de volta que dura décadas. Ranson violou a ética cometendo genocídio e Janeway violou a ética em seu abuso de autoridade. Um motivado pela inconsequência, outra motivada pelo ódio. Mais um episódio que levanta uma boa reflexão.

Batata Séries – Jornada Nas Estrelas Voyager (Temporada 5, Episódio 25), Warhead. Uma Bomba Nervosa.

O Doutor e um dispositivo…

Chegamos ao episódio 25 da quinta temporada de “Jornada nas Estrelas Voyager”. “Warhead” é um daqueles episódios onde uma inteligência artificial sensciente precisa superar os limites de sua programação para evitar uma grande tragédia. E aí, todo um debate é empreendido nesse sentido, tornando este episódio uma verdadeira guerra de argumentações.

Buscando sinais de vida…

Mas, no que consiste a história? Harry Kim tem o privilégio de controlar a ponte nas “madrugadas” dos turnos. Numa dessas madrugadas, ele recebe um pedido de socorro de um planeta próximo. Ao chegar ao planeta,a Voyager não detecta sinais de vida. Kim então acorda Chakotay e sugere que um grupo avançado desça lá. Chakotay concorda e diz que o próprio Kim poderia liderar esse grupo. O alferes desce com o Doutor e mais um tripulante, quando encontram um dispositivo eletrônico sensciente, que consegue se comunicar com o doutor. Eles transportam o dispositivo para a nave. Examinando-o mais a fundo, a tripulação da Voyager descobre que ele é uma arma de destruição em massa e tenta desativá-lo.

Um dispositivo perdido…

O dispositivo percebe isso e se apossa do corpo do Doutor, ameaçando destruir a nave e fazendo B’Elanna e Kim como reféns. Ainda, ele precisa cumprir sua programação, que é destruir um planeta inimigo da civilização que o criou. Os tripulantes da Voyager tentam dissuadir o dispositivo disso mas, de forma bem agressiva e ameaçadora, ele diz que tem que cumprir a sua programação e destruir a qualquer custo o planeta. Mas os tripulantes tinham conseguido analisar os circuitos de memória e viram que a espécie que havia criado o dispositivo já havia cessado as hostilidades contra o planeta alvo. A espécie (Druoda) enviou mensagens para todos os dispositivos-bomba, mas cerca de trinta deles não receberam a mensagem e ainda rumavam contra o planeta.

Doutor procura acalmar a máquina…

O próprio dispositivo que estava na Voyager tinha sido propositalmente desviado pelos Druodas para colidir com o planeta em que ele estava. Depois de muito argumentar com o dispositivo, ele finalmente se convence de que não há mais uma guerra em curso, mas ainda há o problema dos demais dispositivos que vão ao planeta alvo com a intenção de destruí-lo. O dispositivo, então, se sacrifica, voltando para seu mecanismo original e sendo colocado no meio dos demais dispositivos, se destruindo e a todos os demais.

Kim e B’Elanna: reféns da tecnologia sensciente…

O que mais chama a atenção nesse episódio? O apelo da tripulação em convencer uma inteligência artificial em ir além do que está estrito em sua programação e tomar decisões por conta própria para parar a guerra. É curioso notar que, por se tratar de uma arma de destruição em massa, o dispositivo era agressivo, quando podia ser desprovido de qualquer sentimento (como era o Data de TNG nas primeiras temporadas). Ficou um pouco forçado a gente ver o Doutor naquela beligerância toda. Outro detalhe que chama a atenção aqui foi a tentativa, por parte de Kim, de dissuadir o dispositivo a atacar, tentando usar argumentos totalmente racionais, sabiamente rebatidos pelo dispositivo. Kim também clamava pelo fato do dispositivo ser sensciente e ter o poder de tomar decisões por conta própria.

Sete de Nove: problemas com a máquina…

Assim, “Warhead” é um episódio mediano de “Jornada nas Estrelas Voyager” que apresenta a questão das inteligências artificiais desenvolverem consciência e começarem a superar a sua programação. Tudo isso regado a debates bem racionais. Não é um grande episódio mas merece ser lembrado e revisitado.

Batata Séries – Jornada Nas Estrelas Voyager (Temporada 5, Episódio 23), 11:59. Tradição, Modernidade e Mito.

Uma antepassada de Janeway…

Continuando a fazer análises dos episódios de “Jornada nas Estrelas Voyager”, vamos falar hoje de mais um episódio da quinta temporada, “11:59”. Temos aqui uma história contada, em boa parte, em flashback. Uma história que aborda mais uma vez a questão da tradição e modernidade, trazendo a reboque a importância do mito para nosso imaginário.

O episódio começa com Janeway e Neelix conversando. No meio da conversa, Neelix pergunta dados sobre a Muralha da China. Janeway, por não conhecer muito os detalhes, desconversa um pouco, mas o cozinheiro alienígena insiste no papo e diz todos os detalhes da Grande Muralha terrestre. Janeway fica impressionada e Neelix diz que está fazendo uma espécie de competição com Paris sobre conhecimento de coisas da Terra. Janeway, então, pergunta a ele se conhece o “Portal do Milênio”, uma espécie de construção que foi feita na virada do século XX para o XXI e que serviu de inspiração para a construção das primeiras colônias em Marte. Como agora é Neelix que desconhece o assunto, Janeway aproveita o gancho e diz que uma de suas antepassadas esteve envolvida no projeto da construção do Portal, sendo uma grande personagem de sua família. O episódio então alterna-se num flashback, onde vemos o que aconteceu com a antepassada de Janeway, Shannon O’Donnel (interpretada, obviamente, pela própria Kate Mulgrew), enquanto que vemos, com pouco sucesso, Janeway tentando recuperar informações de sua nobre antepassada.

O’Donnel: entre a tradição e a modernidade…

Esse episódio tem questões muito curiosas. Em primeiro lugar, o trabalho de resgate da memória, mais ou menos o que um historiador passa quando busca as fontes históricas. A coisa sempre é muito fragmentada e às vezes, montar esse quebra-cabeça com as peças faltando não é muito fácil, com as peças aparecendo somente muito posteriormente. É por isso mesmo que esse é um dos motivos pelos quais a História é constantemente reescrita. E o resultado nem sempre é o que queremos achar. No caso da antepassada da capitã, ficou atestado, depois das pesquisas, que sua participação no Portal do Milênio não foi tão decisiva assim, o que provocou uma decepção em Janeway. Ou seja, citando o historiador Peter Burke, os historiadores são odiados pois eles lembram o que queremos esquecer.

Mas o filme também tem outras questões. Na história de O’Donnel, ela conhece, numa cidade no interior de Indiana, onde o Portal será construído, Henry Janeway (acho que vocês já perceberam que eles irão se casar e ter filhos), o dono de uma livraria tradicional que não quer arredar o pé de seu lugar, enquanto que todo o resto da cidade “de bom grado”, vende suas propriedades para a empresa do Portal, que ofereceu um valor 20% acima do mercado. Henry fica rotulado como turrão e o projeto fica com o risco de ser feito em outro lugar. Nosso simpático livreiro também é um adepto da tradição, preferindo ficar trancado com seus livros e nem sequer usar um computador, enquanto O’Donnel é adepta da modernidade, sendo uma engenheira aeroespacial demitida e na pior. O’Donnel convencerá Janeway a se desfazer de sua livraria em função do progresso (e de interesses econômicos da empresa também). Como prêmio, ela terá uma participação modesta no Projeto do Portal do Milênio.

O que incomoda aqui? Jornada nas Estrelas sempre foi uma série que estimulou o progresso científico sem abandonar a leitura, muito exaltada na série. Mas nesse episódio, ela ficou vista como algo arcaico, que atrapalhava os passos do ser humano em direção ao futuro. Mesmo a solução conciliadora de Janeway abrir uma livraria no Portal não soou muito convincente. E mais: esse é um episódio que valoriza os grandes feitos dos antepassados, ou seja, a memória e as tradições. E aí, essa mesma tradição é  rechaçada em função da modernidade do Portal, que destrói a antiga cidade decadente. Fica uma coisa levemente paradoxal a meu ver. Ou seja, num primeiro momento, a tradição é elencada como virtuosa no episódio, mas num segundo momento, é a modernidade que é laureada como algo positivo.

Foto da tripulação: preservação da memória e suas tradições…

Agora, a grande virtude do episódio é a questão do mito, uma história que é compartilhada por um grupo ou povo, tida como real para aquele grupo, mesmo que ela não tenha ocorrido. Vemos muito isso no nosso folclore. É só a gente ver aquele redemoinho de vento na rua que a gente já fala logo que é o Saci-Pererê, por mais ilógico que isso seja. Mas está em nosso imaginário e sistema de valores. No caso da capitã Janeway, Shannon O’Donnel estava em seu imaginário mítico. E foi para ela uma decepção descobrir que sua antepassada não teve uma participação tão marcante na construção do Portal. Mas como os próprios tripulantes da Voyager disseram, chancelados, inclusive, por Tuvok, não importa quem foi ou não O’Donnel, mas sim a função que sua imagem idealizada cumpriu no imaginário da capitã: ela ingressou na Frota Estelar por causa da sua antepassada. Janeway até retruca dizendo que, com isso, jogou toda a tripulação para o quadrante Delta, mas a tripulação argumenta que isso fez com que todos se conhecessem bem melhor. O episódio não poderia terminar melhor, com o Doutor fazendo uma foto da tripulação e sua capitã com sua holocâmera, ao mesmo tempo que podíamos ver uma foto de O’Donnel envelhecida com sua família, numa exaltação à preservação da memória e das tradições, qualquer que seja a época, o que dá muita magnificência a esse episódio, que tem que ser apresentado aos roteiristas de Discovery para compreenderem o que é a essência de Jornada nas Estrelas.

Cabe também dizer que o próprio título do episódio, “11:59”, que cita a virada do milênio, do ano 2000 para o ano 2001, estava no imaginário das pessoas na época, já que o episódio foi produzido em 1999 e temas como o novo milênio colocado de forma equivocada na virada de 1999 para 2000 e o bug do milênio eram assuntos muito em voga na época (parece que foi ontem, mas lá se vão quase vinte anos). Assim, o próprio episódio já está datado, como vemos muito na série clássica, por exemplo.

Assim, vale muito a pena você, trekker de plantão, revisitar o episódio “11:59”, o vigésimo-terceiro da quinta temporada de Voyager. Um episódio que faz jogos com a tradição, a modernidade e o mito. E, como sempre em boas produções de Jornada nas Estrelas, convidando o espectador a uma boa reflexão.

Batata Séries – Jornada Nas Estrelas Voyager (Temporada 5, Episódio 24), Relatividade. Zoando Geral Com A Linha Temporal.

 

Uma borg procurando uma bomba…

Mais um curioso episódio de “Jornada nas Estrelas Voyager”. “Relatividade” é mais um daqueles episódios que usam a temática da viagem no tempo. Alguns fãs de ficção científica já se sentem saturados com tal assunto. Entretanto, outros fãs acham que a viagem no tempo ainda dá bastante caldo. Confesso que eu me enquadro nessa segunda categoria. Mas a grande verdade é que aqui já se faz alguma troça com essa saturação de episódios de viagem no tempo.

Viajando para um passado desconhecido…

No que consiste a história? O episódio começa com o dia em que Janeway começa o seu primeiro dia de comando na Voyager. Entre os tripulantes, temos Sete de Nove escondida. Por que isso acontece? A borg foi contatada pela nave Relatividade, do século XXIX, que tem a missão de evitar a explosão da Voyager no século XXIV, provocada por uma bomba instalada na nave. O problema é que os tripulantes da Relatividade não conseguem precisar quando e onde a bomba foi instalada. Os sensores visuais de Sete de Nove ajudarão nisso, assim ela foi chamada para evitar a explosão. O problema é que nem tudo sai como o planejado e Sete de Nove é obrigada a fazer vários saltos temporais, sendo que pode morrer depois do quarto salto. A coisa piora quando Janeway descobre uma Sete de Nove fora de fase e, principalmente, quando se descobre o verdadeiro culpado de ter implantado a bomba: ao invés dos suspeitos kazons, fora o próprio capitão da nave Relatividade, Braxton, pois no futuro posterior a convocação de Sete de Nove pela Relatividade, a carreira de Braxton sofrerá uma tremenda reviravolta que o colocará no ostracismo e ele colocará a culpa em Janeway, pois a Voyager se intrometeu na linha temporal várias vezes e era Braxton que resolvia os paradoxos temporais provocados pela Voyager. Numa dessas situações, ele ficou confinado vários anos na cultura bárbara do século XX. Assim, o Braxton do futuro “pirou na batatinha” e provocou todo esse problema que bagunçou a linha temporal de vez, já que os sucessivos saltos levaram a uma série de paradoxos. Chega uma hora em que o pessoal da Relatividade pede para Janeway dar alguns saltos para resolver os paradoxos, mas a coisa está tão enrolada (e eu também não irei reproduzir aqui), que a própria Janeway pede que não se explique mais nada e diga objetivamente o que tem que se fazer para consertar os paradoxos, levando um episódio relativamente sério ao tom de galhofa. Ainda sobrou um “pito” para a Janeway do Primeiro Oficial da Relatividade ao final. Ele disse que, apesar da loucura de Braxton, ele tinha razão em uma coisa: a Voyager realmente bagunça muito a linha temporal… então, capitã, dá uma paradinha nisso, tá legal? Ah, e não podemos nos esquecer da Primeira Diretriz Temporal: não conte a ninguém o que você viu em suas viagens no tempo… aí me lembrei do segundo filme do Homem Aranha do Tobey Maguire, quando, no trem, os garotinhos devolvem a máscara para Peter Parker e dizem: ” não vamos contar a ninguém”. Ou seja, do jeito como ficou, essa Primeira Diretriz Temporal ficou meio bobinha…

Um capitão do futuro que pira na batatinha… bem adequado para aparecer por aqui…

Bom, apesar das piadinhas com paradoxos temporais mais ao final, uma coisa a gente tem que mencionar: o episódio tem um plot twist interessante, que é a culpabilidade do capitão Braxton, e essa reviravolta acontece justamente por causa dos paradoxos temporais. Ou seja, já começamos o episódio dentro de um paradoxo temporal e não percebemos. Outra curiosidade é que a quantidade de saltos é tão grande e confusa que temos às vezes mais de uma Sete de Nove numa mesma época, o que faz a gente se recordar de “De Volta Para o Futuro 2”, que também brincava, com muito mais humor, com os paradoxos.

Eu sou você amanhã… ou ontem??? Ah, sei lá!!!

Assim, “Relatividade” é mais um bom episódio de “Jornada nas Estrelas Voyager” sobre viagens no tempo, embora esse aqui faça piadas com a saturação provocada pelo excesso de uso de tal temática. Não deixa de ser uma pequena curiosidade a ser mencionada aqui.