Batata Séries – Jornada Nas Estrelas Voyager (Temporada 6, Episódio 15) – Tsunkatse. Telecatch Espacial.

Vamos lutar???

O décimo-quinto episódio da sexta temporada de “Jornada nas Estrelas Voyager” é o que se pode chamar de “Telecatch Espacial”. E por que isso? Houve aqui uma combinação de se misturar ficção científica com filme de porrada. E a coisa funcionou? Um pouco, mas mais pelo lado de Jornada nas Estrelas e as mensagens que a série sempre tenta passar para o espectador. No mais, a coisa não ficou muito boa não. Só para lembrar, esse foi o episódio que contou com a participação de Dwayne “The Rock” Johnson, que até é um bom ator (já falei dele aqui em outras ocasiões na Batata Movies), mas que aqui ele só serviu para mostrar mesmo seus músculos e descer o cacete na Sete de Nove (ainda mais em quem???).

Uma iluminação tacanha…

Bom, vamos ao plot. A tripulação da Voyager está de férias (não entendi muito isso para uma nave que está muito longe da Terra e precisando desesperadamente aproveitar o seu tempo para chegar logo ao seu planeta de origem e não ficar o resto da vida viajando; enfim, todo mundo merece um descanso, né?). Assim, a tripulação aproveita como pode. Janeway viaja com a Delta Flyer para um planeta próximo. Tuvok e Sete de Nove vão estudar uma nebulosa. E outra parte da tripulação (leia-se Chakotay, Kim, Paris, Torres e Neelix) vão curtir em outro planeta as lutas de Tsunkatse, onde alienígenas se agridem com mecanismos em seus corpos que, se atingidos, provocam muita dor. Tudo seria muito divertido se Sete de Nove e Tuvok não fossem sequestrados pelo organizador das lutas, Penk (interpretado por Jeffrey Combs, um dos atores mais multimída de Jornada nas Estrelas, trabalhando em Deep Space Nine como o vorta Weyoun e o ferengi Brunt, além de interpretar o andoriano Shran). Como Tuvok ficou ferido no ataque, Sete de Nove precisa entrar na arena para lutar. E aí ocorrerá o fatídico confronto entre a borg e “The Rock”.

Participação de “The Rock” no episódio…

Além da pancadaria, que foi bem parelha mas terminou com a vitória do brutamontes, houve uns poucos diálogos onde um ameaçava o outro, e Dwayne Johnson entrou com seu estilo sereno de interpretação de sempre, algo nada demais, mas eficiente. Como os borgs são muito odiados no quadrante, a luta onde Sete de Nove apanhava deu muita audiência. Imagine se ela morresse o que ia acontecer? Enquanto espera a próxima luta, Sete de Nove tem seus ferimentos cuidados por um hirogen (interpretado por J. G. Hertzler, o General Martok de Deep Space Nine, a voz estava realmente muito familiar), que também irá treiná-la na arte do Tsunkatse, ensinando toda uma pedagogia de caçador que precisa matar sua presa sem dó nem piedade.

Um hirogen como treinador de Sete de Nove…

Qual não é a surpresa de Sete, quando ela vê que o seu próximo adversário é o próprio hirogen, que a treinou para matá-lo, pois ele já está encarcerado há 19 anos e não aguenta mais de saudades do filho? Aí a borg terá que lidar com o dilema de matar ou não seu misto de treinador e amigo. Entretanto, a cavalaria chega. Na primeira luta de Sete de Nove, Chakotay, Neelix, Kim e Paris assistiram a luta e viram a borg na arena. Chakotay deu ordens para Torres (que estava no comando na ponte da Voyager) para teletransportar Sete, mas na verdade Sete não estava na arena e sim uma imagem holográfica dela lutando com The Rock. Os dois lutadores estavam em outra arena numa nave altamente fortificada, cujas imagens holográficas dos lutadores foram rastreados pela Voyager que vai ao seu encalço. Uma pequena batalha de naves se dá e a Voyager, por ser inferior em poder de ataque e defesa, vai sofrendo uma série de avarias. Mas a nave precisa ficar nas imediações da sua adversária gigante, pois ela não consegue travar em Sete e Tuvok, já que há uma proteção que a impede de fazer isso. É nessa hora que chega Janeway com a Delta Flyer e Chakotay pede que ela destrua a antena de transmissão da nave maior. Isso provoca o desaparecimento da luta na arena com o público e a audiência também cai. Desesperado, Penk passa a força da nave para os outros transmissores, o que faz cair a proteção contra o teletransporte. Sete e o hirogen são teletransportados para a Voyager (Tuvok já havia sido transportado antes, pois a Voyager tinha destruído o gerador de escudos da parte menos protegida da nave, onde ele estava). O hirogen agradece o resgate e diz que vai procurar seu filho. O episódio termina com Tuvok e Sete de Nove conversando, onde a borg está muito incomodada por ter passado por maus sentimentos (ódio, remorso, etc.) em virtude das lutas que teve que travar na arena e ela temia ter se afastado de sua humanidade. Tuvok disse que, pelo contrário, se ela tinha preocupações com aqueles sentimentos, aí sim ela se aproximava ainda mais de sua humanidade.

Um treinamento baseado na retórica da caça e da presa

Cá para nós, o que salvou esse episódio foi a conversa final entre Tuvok e Sete de Nove. Misturar Voyager com MMA foi um negócio meio estranho. Para começar, vem o velho dilema: será que as mentes evoluídas do século 24 irão apreciar lutas sangrentas em arenas, como as pessoas do século 20? Esse é um primeiro passo. A coisa só começou a ser questionada quando a tripulação da Voyager viu Sete de Nove na arena. Neelix se pergunta como aquela espécie alienígena se divertia com dois seres vivos se machucando, ao que Chakotay retrucava dizendo que se Sete de Nove não estivesse passando por aquela situação, eles mesmo estariam ali na arena aos berros de “Tsunkatse”. Ou seja, pimenta nos olhos dos outros é refresco. Mas até no século 24??? Pegou mal. Outra coisa que não ficou legal foi o subaproveitamento de Dwayne Johnson. Ele simplesmente entrou para fazer o brutamontes que batia na Sete de Nove. Seria muito mais interessante se ele tomasse mais parte no episódio, até ajudando o hirogen a treinar Sete de Nove e também sendo salvo depois pela Voyager. O relacionamento entre Sete, o Hirogen e Johnson poderia ser mais trabalhado e renderia melhores frutos no aspecto narrativo para esse episódio um tanto pobre, se fixando em sua maioria do tempo apenas na retórica da caça que mata a presa e o passado do hirogen. E que arena era aquela, hein? Com uma iluminação tosca de boate de terceira categoria… confesso que coloquei um saco de compras na cabeça com dois buracos para os olhos de tanta vergonha. Pegou mal, também. Bom, pelo menos o desfecho foi solene, com os personagens mais solenes da nave. E teve um arremedo de batalha espacial também, o que sempre é bem vindo numa série de ficção científica com naves espaciais.

Muita diversão com a presença do “The Rock” nos bastidores…

Assim, “Tsunkatse” pode ser considerado um episódio mediano de “Jornada nas Estrelas Voyager”, onde alguns equívocos foram cometidos mas que, pelo menos teve um desfecho digno. E, para o “The Rock”, quem sabe não pinta uma melhor participação em “The Orville”? Vamos torcer…

Batata Séries – Jornada Nas Estrelas Voyager (Temporada 6, Episódio 14). Monumento. Lembrando O Que Todos Querem Esquecer.

Uma viagem estranha…

Mais um bom episódio da sexta temporada de “Jornada nas Estrelas Voyager”. “Monumento” é mais um episódio que tem uma abordagem histórica, uma das especialidades de “Jornada nas Estrelas”. Ainda, é um episódio que assinala a importância da preservação da memória, até em situações extremas.

Visões perturbadoras…

O plot é o seguinte. Paris, Chakotay, Kim e Neelix voltam de uma missão na Delta Flyer que pesquisava alguns planetas depois de vários dias afastados da Voyager. Os quatro tripulantes começam a ter comportamentos estranhos. Paris se lembra de uma batalha que aparentemente travou. Chakotay tem pesadelos. Kim e Neelix, alucinações. Todos eles ficam em pânico e desespero. O Doutor, que tinha pedido que os quatro fizessem um exame médico assim que chegaram da missão (como pede o protocolo), os examina e, à medida que os quatro vão conversando entre si, eles se recordam do que pode ter acontecido: estavam num planeta, ajudando militares locais a evacuar um grupo de civis e alguns deles resistem, o que provoca um massacre de 82 pessoas. A partir daí, fica a grande dúvida: os tripulantes da Voyager realmente participaram do massacre? Ou foi alguma espécie de implante de memória? Foi preciso investigar. Assim, a Voyager repassou os planetas pesquisados pela Delta Flyer. Ao chegar ao segundo planeta, Janeway balbucia seu nome – Tarakis – e também tem recordações de ver os militares pulverizando os corpos dos civis para apagar as provas do massacre e desmaia. Quando acorda na enfermaria, ela recebe a notícia do Doutor de que outros membros da tripulação também têm os mesmos sintomas de alucinações e pânico.

… começam a pôr em risco os tripulantes da nave…

Um grupo avançado desce à superfície do planeta e não vê qualquer sinal de guerra, exceto pelo fato de que encontraram restos mortais de alguns civis, mas que estavam mortos há cerca de 300 anos. Assim, Paris, Kim, Neelix e Chakotay, assim como Janeway, não poderiam ter tomado parte no massacre. Foi encontrado, também, uma espécie de monumento que emitia pulsos neurogênicos que tinham o objetivo de relembrar a batalha para quem passava pelas proximidades do planeta. As informações da batalha estavam fragmentadas nas mentes dos tripulantes, pois as células de energia do monumento estavam danificadas. Tuvok e Chakotay logo sugerem a desativação do monumento, pelo perigo que ele representava. Mas Neelix lembra que aquele monumento foi uma forma de se preservar a memória do massacre para que ele jamais acontecesse novamente. Janeway concorda com Neelix e ordena que as células de energia sejam substituídas por novas e uma boia de alerta seja colocada nas proximidades do planeta para que as naves que cheguem ali perto saibam que há problemas na região. Assim, o monumento continua a sua missão de preservar a memória.

Voltando ao planeta do massacre…

Esse episódio é a alegoria perfeita de uma frase do Historiador Peter Burke: “O Historiador é odiado pois ele lembra de tudo aquilo que todos fazem questão de esquecer”. Ou seja, os momentos negros do passado ás vezes são varridos para debaixo do tapete pelas gerações atuais. E, ao acontecer isso, os mesmos erros do passado acabam sendo repetidos. Estamos coalhados de exemplos disso por aí, infelizmente. O episódio mostra isso de forma nítida com os ataques de pânico e desespero da tripulação ao vivenciar o massacre em suas mentes. Ver essas alucinações como algo perigoso e nocivo são um forte argumento na direção de se desativar o monumento, ou seja, apagar a memória, pois não se consegue conviver com o peso da culpa. Mas aí, Neelix (sempre o cara sacaneado da série) e Janeway alertam para a importância da preservação da memória e, não somente deixam o monumento ativado, como ainda o consertam, renovando suas células de energia. Não se pode varrer a sujeira para debaixo do tapete, é necessário encarar a dor. Ou como dizia James T. Kirk em “Jornada nas Estrelas V”: “Eu preciso de minhas dores, elas fazem parte de mim”.

O monumento. Alegoria da necessidade da preservação da memória…

Dessa forma, “Monumento” é um grande episódio da sexta temporada de “Jornada nas Estrelas Voyager”. Um episódio que alerta para a necessidade da preservação da memória, por mais dolorosa que ela seja para nós. Ela serve para tirarmos lições com as dores e não repetir os erros trágicos do passado. Esse merece ser revisitado

Batata Séries – Jornada Nas Estrelas Voyager (Temporada 6, Episódio 13). Virtuoso. A Arte Em Seus Tempos De Reprodutibilidade Técnica.

Doutor novamente centro das atenções…

Continuando nossas análises de episódios da sexta temporada de “Jornada nas Estrelas Voyager”, falemos hoje de “Virtuoso”, o décimo-terceiro episódio. Esse é um episódio mediano (o menos visto da sexta temporada) e aborda mais uma vez o nosso Doutor e sua infinita vontade de cantar.

Interessados na cantoria

A Voyager encontra a espécie Qomar, que extremamente avançada e arrogante. Um incidente entre as naves da Federação e a alienígena provocou alguns feridos qomarianos sem gravidade. Eles são atendidos pelo Doutor e reclamam muito disso, pois ele se trata de um holograma. Mas, quando o Doutor começa a cantarolar, ficam intrigados, pois nunca haviam escutado música. Logo, logo, os qomarianos passam a nutrir todo um interesse especial pelo Doutor, o que infla seu ego enormemente. A espécie alienígena, inclusive, convida a Voyager para visitar o seu planeta e organiza uma transmissão para que todos possam ver o Doutor cantar, o que o transforma numa celebridade extremamente convencida, para o desespero da tripulação da Voyager.

Exibindo os dotes de cantor…

Ele é convidado para permanecer no planeta depois que a Voyager for embora, mas ele reluta num primeiro momento, aceitando o convite posteriormente, se esquecendo de seus amigos na Voyager, o que despertou fortes mágoas, principalmente de Sete de Nove. Ao voltar ao planeta, entretanto, o Doutor descobriu que uma cópia holográfica dele muito mais eficiente na cantoria foi desenvolvida e, assim, o problema estava resolvido, ele poderia ir com a Voyager. Inconformado com a carreira meteórica, o Doutor falou que a música não é somente uma série de critérios técnicos protocolares que deveriam ser seguidos, mas que também era emoção, algo que os qotarianos desconheciam totalmente.

Logo o Doutor se torna uma celebridade…

Com o rabo entre as pernas, o Doutor retorna à Voyager e pede sua reintegração, não sem antes ouvir uma bronca de Janeway. O Doutor diz que vai tirar suas funções de cantor de seu software mas Janeway se nega, dizendo para retomar a vida e os seus deveres normalmente. Na enfermaria, o Doutor recebe a visita de Sete de Nove, pronto para ouvir um sermão, quando a borg na verdade lê uma carta de fã endereçada a ele e escrita por ela, justamente a borg que não entendia o porquê de toda a idolatria ao indivíduo dos qotarianos.

Cantando num palco somente para ele…

Apesar de ser meia-bomba, o episódio tem algumas virtudes. A primeira é a gente rir um pouquinho com a marra do Doutor. Ele sempre fez suas apresentações de música para uma plateia pouco entusiasmada. Quando ele finalmente encontra um público e a idolatria entre os qotarianos, ele fica convencido de vez, o que é muito engraçado. Mas o episódio também faz o alerta de que você não pode subir num salto alto ou num pedestal de arrogância, até porque a fama é muito efêmera, como pudemos atestar no episódio. Ainda, o próprio povo qotariano tinha ficado maravilhado foi com as possibilidades matemáticas da execução da música do Doutor e não com a emoção que ela podia transmitir. Logo, para os alienígenas, é só reproduzir um holograma do Doutor mais aprimorado para resolver suas necessidades. Isso lembra muito o texto de Walter Benjamin “O Obra de Arte na Época de sua Reprodutibilidade Técnica”, onde, no capitalismo, ao se reproduzir em larga escala num livro ou numa foto uma obra de arte como uma pintura, ela perde o seu significado de obra prima, onde o sentimento e a emoção do autor se diluem, pois ela não é mais única. O Doutor acaba sentindo um pouco isso na pele, não somente pela fama efêmera, mas por se deparar com “um substituto” mais tecnicamente eficiente.

Até o “pagliaci”…

Dessa forma, se “Virtuoso” não é um dos melhores episódios de Jornada nas Estrelas Voyager, ainda assim ele é digno de atenção, pois mostra o perigo da arrogância perante a fama (o sucesso não pode subir à sua cabeça), como também faz uma menção um tanto velada a Walter Benjamin e seu texto sobre a alteração do sentido da arte em tempos de sua reprodução. Vale a pena assistir ao episódio e a leitura do texto.

Batata Séries – Jornada Nas Estrelas Voyager (Temporada 6, Episódio 12), Num Piscar De Olhos. Uma Civilização Em Alguns Minutos.

Uma sociedade pré-histórica…

O décimo-segundo episódio da sexta temporada de “Jornada nas Estrelas Voyager” é o que podemos dizer que se trata de uma pequena obra-prima e talvez esteja no rol dos melhores de toda a franquia. “Num Piscar de Olhos” consegue unir aqui, de forma bem magistral, dois elementos das histórias de “Jornada nas Estrelas” que se completam muito bem: a Ciência Astronômica e Física (e a junção delas, a astrofísica) com o Processo Histórico. Já foram mencionados aqui outros episódios onde esse feliz casamento entre esses dois campos do conhecimento rendeu bons frutos. Mas, ao que parece, em “Num Piscar de Olhos”, tivemos o melhor resultado disso.

A Voyager se aproxima de um estranho planeta….

A história começa mostrando a Voyager se aproximando de um estranho planeta, com formato e características físicas muito peculiares. Quando se aproxima para analisá-lo, a Voyager é atraída por um gradiente gravimétrico e fica presa numa região do espaço. Análises mostram que o planeta tem um campo de táquions (táquions seriam partículas – teóricas para nós – que poderiam ter uma velocidade até maior do que a da luz), que provocariam um campo subespacial no planeta. Ao chegar às proximidades desse planeta, a Voyager interferiu no campo e criou um terceiro pólo, ficando presa nele. Com os motores de dobra incapacitados, eles precisam encontrar uma forma de sair de lá.

O tempo avança…

Ainda, a presença da nave causa abalos sísmicos no planeta. E o tempo, por causa do campo de táquions, atua de forma diferente no planeta e na nave: para cada um segundo na nave, passa-se quase um dia no planeta. Assim, enquanto a Voyager procura sair da armadilha que entrou, simultaneamente toda uma civilização se desenvolve no planeta, tendo em sua mitologia uma “estrela” que provoca terremotos desde a pré-história do planeta até o momento em que a civilização chega à tecnologia da reação matéria-antimatéria controlada e tenta bombardear a Voyager, que é a causa das atividades sísmicas.

Uma missão para estudar a estrela que provoca terremotos…

Esse é um episódio que traz muitos elementos interessantes. Em primeiro lugar, a tripulação da Voyager não é a única protagonista do episódio. A civilização do planeta também tem a sua importância e podemos reconhecer em sua História vários estágios de nossa própria civilização: uma pré-história altamente tribal, com a Voyager vista como uma divindade; uma mescla medieval-renascentista, com os primeiros questionamentos científicos surgindo; uma sociedade mais contemporânea, mas ainda sem tecnologia de propulsão espacial, que busca o contato com a Voyager por rádio; uma cápsula espacial finalmente em contato com a Voyager; e o bombardeio de armas de tecnologia matéria-antimatéria (é claro que esse último estágio não é ligado à nossa História, mas sim ao Universo Ficcional de “Jornada nas Estrelas”). A questão da Primeira Diretriz também é levantada: vale a pena a Voyager fazer contato com uma civilização pré-dobra, ainda mais quando a sua simples presença já provocou alterações profundas nos mitos, crenças e culturas daquela sociedade, além dos abalos sísmicos? De qualquer forma, enquanto os nobres oficiais sêniores debatiam, a própria civilização se incumbia de fazer esse contato.

Astronautas sentindo a violenta passagem do tempo…

Se a parte histórica enriquece em muito o episódio com todos esses elementos, a parte física e científica nada deixa a desejar. O mais marcante foi a interação entre a faixa temporal da nave (de acordo com a da galáxia) e a faixa temporal do planeta, seja nos três anos que o Doutor passou na superfície do planeta (enquanto que na Voyager se passaram apenas poucos minutos), seja na frequência altíssima das transmissões que a Voyager recebia da superfície do planeta (lembrando-se que a frequência é inversamente proporcional ao tempo), seja nos dois astronautas do planeta andando na Voyager e vendo toda a sua tripulação paradinha, ao mesmo tempo em que os astronautas envelheciam rapidamente. Uma interessante aula de Física com direito a sistemas de referência.

Finalmente o contato entre a Voyager e o nativo do planeta…

Assim, “Num Piscar de Olhos” é um grande episódio da sexta temporada de “Jornada nas Estrelas Voyager”, pois alia magistralmente História e Ciência, usando uma civilização planetária como o espelho de nossa própria, além de usar a lógica da Física para explorar alguns temas presentes no enredo. Vale a pena dar uma conferida.

Batata Séries – Jornada Nas Estrelas Voyager (Temporada 6, Episódio 10), Pathfinder. Uma Nova Esperança.

Um outsider atormentado…

Hoje vamos falar do décimo episódio da sexta temporada de “Jornada nas Estrelas Voyager”, “Pathfinder”. Esse é um episódio muito especial, pois faz uma espécie de crossover com “Jornada nas Estrelas A Nova Geração”. E se caracteriza, também, pelo contato que a Voyager faz com a Frota Estelar, depois de seis anos de viagem, com um promissor vislumbre de contatos futuros.

Mas, como o episódio se desenrola. Reginald Barclay (isso mesmo, o tenente da Nova Geração extremamente inseguro, de imaginação muito fértil e viciado em holodeck), recebe Deanna Troi em sua casa na Terra. Ele diz para a conselheira que ferrou a sua carreira, pois foi dispensado de seus serviços em virtude da sua obsessão por trazer a Voyager de volta para casa. Ele acredita que, com um feixe de partículas ele pode criar um micro buraco de minhoca que possibilitará a comunicação com a Voyager. O problema é que nem seu superior nem ninguém, inclusive o pai de Tom Paris, o almirante Paris, colocam muita fé nele, em virtude de seu passado de vícios em holodecks e de um comportamento marcado pela instabilidade emocional. Mesmo assim, Barclay força a barra e invade seu instituto de pesquisas todas as noites para usar o holodeck, simulando uma vida com a tripulação da Voyager e buscando a solução para o problema de comunicação. Esse foi um dos motivos pelos quais acabou sendo desligado de sua função. Barclay confidencia a Troi que, desde que saiu da Enterprise, ele leva uma vida solitária e acabou usando os hologramas da Voyager como sua nova família, o que o tornou obcecado em salvar a tripulação real.

Uma antiga amiga…

Mesmo proibido de trabalhar em seu centro de pesquisa, Barclay vai lá e o invade à madrugada para tentar estabelecer contato com a Voyager. Confirmando suas previsões, ele consegue gerar o micro buraco de minhoca, mas é surpreendido por seu superior e seguranças enquanto tenta contato. Para fugir, ele entra no local onde mais se sente protegido: isso mesmo, o holodeck simulando o ambiente da Voyager. Lá, ele continua tentando o contato com a Voyager verdadeira, mesmo fugindo do seu superior e dos seguranças. Só que seu superior consegue colocar o núcleo de dobra da Voyager holográfica em rompimento iminente e, para não destruir sua simulação, Barclay precisa encerrar o programa. Fora do holodeck, o almirante Paris aparece e diz que a tentativa de Barclay pode surtir efeito, mas o tenente diz que já tentou e fracassou. É nessa hora que chega a transmissão da Voyager e, depois de alguns ajustes, eles conseguem se comunicar com a nave por um breve momento, já que o micro buraco de minhoca está se fechando. Mas houve tempo suficiente para uma troca de figurinhas: a Voyager passou dados navegacionais, relatórios da tripulação e diários da Voyager, enquanto que a equipe da Terra enviou dados de uma nova tecnologia de hiper subespaço, que vai ajudar a Voyager a se comunicar com a Terra. O almirante Paris tem a oportunidade de conversar com Janeway, o que provoca comoção em Tom. O episódio termina com Barclay conversando com Deanna sobre seus projetos futuros de vida e com a tripulação da Voyager fazendo um brinde para o tal de Barclay, concretizando o sonho dele ter uma nova família.

Mais um bom episódio. Esse crossover foi muito legal, onde Troi e Barclay, num relacionamento de amigo para amigo, psicólogo para paciente, veio muito bem a calhar. Confesso que gosto muito do personagem Barclay e me identifico com ele numa certa fase de minha vida. Muitas pessoas devem também se identificar. Sua insegurança e medo de encarar a realidade tornam-lo o perfeito outsider. Para sobreviver, ele usa o que tem de melhor para encarar o mundo exterior, que é a sua imaginação. E aí, por estar fora do paradigma de impessoalidade, produção e eficiência do sistema (eu me pergunto se no século 24 esse paradigma continuará a existir), ele é marginalizado por seus demais pares. De qualquer forma, Barclay é uma espécie de modelo para muitas pessoas, pois ele mostra como um outsider pode usar de seus próprios meios para viver no mundo, mesmo que haja muitos percalços nisso. Sua obsessão um tanto doentia pode também ser vista pelo lado bom de uma perseverança muito forte, sendo muito seguro de si nesse ponto. Por isso que eu, particularmente, achei que foi uma boa escolha o uso desse personagem, mais visto como um alívio cômico, na tarefa de estabelecer o contato com a Voyager, um ponto chave para a série. Ah, e não podemos também nos esquecer que o ator que interpreta Barclay, Dwight Schultz, era o loucão Murdock do Esquadrão Classe A lá da longínqua década de 80, que passava no SBT. Confesso que fiquei em choque quando descobri isso. Se não me dissessem, jamais perceberia.

Obsessão em salvar uma tripulação…

Assim, “Pathfinfder” é um grande episódio de “Jornada nas Estrelas Voyager”, pelo crossover com “Nova Geração” e pelo bom uso do personagem Barclay num ponto chave da série, valorizando o outsider que é visto como contraproducente e como alívio cômico, onde seus aparentes defeitos acabam se revelando virtudes. Vale muito a pena revisitar esse episódio.

Batata Séries – Jornada Nas Estrelas Voyager (Temporada 6, Episódio 8). Um Pequeno Passo. Sacrifícios Pela Memória.

A Ares IV em órbita de Marte em 2032…

Dando sequência às nossas análises de episódios da sexta temporada de “Jornada nas Estrelas Voyager”, vamos hoje falar do oitavo episódio, “Um Pequeno Passo”. Podemos dizer que se trata de outro caso de interação entre uma boa história de ficção científica e uma valorização da História e da Memória, o que, na minha modesta opinião, são dois ingredientes que levam a um bom roteiro, mostrando que “Voyager” produziu bons episódios nas temporadas mais próximas do fim, e é um prazer muito grande assisti-los.

O astronauta John Kelly. Luta para deixar informações da missão para a posteridade…

Mas, no que consiste a história? A Voyager encontra uma anomalia espacial, uma elipse de grávitons, uma espécie de corpo massivo que deixa o subespaço e viaja temporariamente no espaço conhecido, voltando novamente para o subespaço. Essa elipse de grávitons é semelhante a que provocou o desaparecimento da nave Ares IV e de seu astronauta John Kelly numa missão tripulada a Marte em 2032 (foi a primeira vez que os humanos tiveram um contato com uma anomalia espacial). Assim, a tripulação da Voyager decide estudar a anomalia e até enviar a Delta Flyer para lá, para espanto de Sete de Nove, que vê um grande perigo nessa missão aparentemente desnecessária. Chakotay e Paris, deslumbrados com a chance de encontrar a antiga nave de 2032, se voluntariam e Janeway sugere à contrariada Sete de Nove fazer parte da missão. Enquanto estão no núcleo da elipse, que é calmo como o olho de um furacão, os tripulantes da Delta Flyer encontram a Ares IV. Mas um asteroide de matéria escura vai de encontro à elipse e a nave precisa sair às pressas de lá. Chakotay, desrespeitando todas as recomendações, tenta levar a Ares IV com o raio trator, mas a Delta Flyer não consegue escapar a tempo da colisão do asteroide, impossibilitando a nave auxiliar e ainda sofrendo uma descarga de plasma, o que deixa Sete de Nove irritadíssima. Para piorar a situação, a elipse voltará ao subespaço em poucas horas.

Uma elipse de grávitons…

A solução será usar a Ares IV e seu conversor de energia para tirá-los de lá. Sete de Nove é designada por Chakotay para pegar o conversor de energia de Ares IV e tentar coletar o máximo possível de registros da nave. Ainda muito contrariada, Sete de Nove vai para a Ares IV e encontra o cadáver mumificado de John Kelly, assim como seus últimos registros, onde o astronauta fazia de tudo para deixar o máximo de informação possível sobre sua experiência, algo que comoveu, e muito, Sete de Nove. Assim, a borg coleta os dados do astronauta morto e pede que Paris teletransporte ela e o corpo de Kelly. O episódio termina com uma cerimônia de lançamento do corpo de Kelly ao espaço (como fizeram com Spock em “Jornada nas Estrelas II, A Ira de Khan”) e com Sete de Nove dizendo lindas palavras em homenagem ao astronauta morto, compreendendo finalmente todo o sentido humano da exploração espacial e de como os predecessores e pioneiros dessa exploração são importantes para as gerações futuras.

Delta Flyer tenta, sem sucesso, rebocar a Ares IV…

Bonita história, não? Essa foi de arrepiar. A ideia da elipse gravimétrica que trafega pelo subespaço (um dispositivo da ficção científica) foi interessante para ligar corações e mentes do passado do século 21 e do presente do século 24 e fazer a ponte histórica e afetiva em torno da ideologia da exploração espacial como virtude humana. Mesmo que perseguir uma distorção gravimétrica seja algo extremamente perigoso, vale o risco de se realizar os esforços de recuperação da memória e do passado. Obviamente, o impulso emocional se faz mais presente que o impulso racional aqui, pois você corre atrás de uma anomalia e da antiga nave mais por uma questão afetiva que lógica, embora também haja lógica nesse processo, que é o de se ter acesso a fontes históricas que ajudem a reconstituir o passado factual.

Sete de Nove “conhece” John Kelly e o verdadeiro sentido da exploração espacial…

O único problema aqui foi a incompreensão de Sete de Nove, que faz parte de uma espécie que assimila culturas mas não as vivencia, tratando-as apenas como bancos de dados. Daí a sua revolta profunda com o comportamento obcecado de Chakotay (nunca vi a Sete de Nove com tanta raiva) que, convenhamos, também extrapolou. Mas o grande momento desse episódio foi, com certeza, a presença de Sete de Nove na Ares IV, testemunhando todos os esforços de John Kelly para coletar o máximo de informações possíveis, com o objetivo de deixá-las à posteridade. Ali, Sete de Nove sentiu na pele o que era ser humano, pois ela via não somente a preservação da memória como o dom humano lógico pela busca do conhecimento, mas também da memória como elemento afetivo, onde o astronauta, por exemplo, coletava os dados com a foto de sua esposa e sua filha sempre por perto. Ligando essas peças, no campo da lógica da pesquisa científica e no campo da afetividade da memória, Sete de Nove entende (ou volta a entender), em seu íntimo o que é ser humano.

Sete de Nove no funeral de John Kelly. Linda homenagem…

Dessa forma, “Um Pequeno Passo” é um grande episódio da sexta temporada de “Jornada nas Estrelas Voyager”, sobretudo porque se analisa o humano tanto do ponto de vista racional quanto do afetivo, não sendo visto isso como algo mutuamente excludente ou dicotômico, mas sim como duas coisas que se complementam. Vale a pena revisitar.

 

Batata Séries – Jornada Nas Estrelas Voyager (Temporada 6, Episódio 9) The Voyager Conspiracy. Uma Sete De Nove Boladona.

Uma conspiração de araque…

Continuando nossas análises da sexta temporada de “Jornada nas Estrelas Voyager”, vamos ao nono episódio, “The Voyager Conspiracy”. Esse é um episódio que tem Sete de Nove como personagem principal e suas limitações dão a tônica da coisa. A zangona borg decidiu aumentar a capacidade de armazenamento de dados que a Voyager a pode fornecer através do seu casulo de regeneração. O problema é que a moça absorve informação demais e não consegue processá-la sem tirar algumas conclusões que mais parecem bugs do que qualquer outra coisa.

Uma borg acumulando muitos dados…

Senão vejamos: Sete de Nove, num momento, acredita que Janeway lançou deliberadamente a Voyager para o interior do Quadrante Delta. Noutro momento, ela acredita que foi Chakotay, encabeçando uma conspiração Maqui, que lançou a Voyager para o interior do Quadrante Delta. Esses dois bugs já são mais do que suficientes para deixar a situação propícia para lançar a capitã contra seu primeiro oficial. Ainda, a tripulação da Voyager encontra um alienígena que criou um dispositivo, uma espécie de catapulta espacial, onde uma nave pode ser lançada a uma velocidade incrível e poupar anos de viagem. A Voyager ajuda o alienígena a consertar a catapulta, que se encontra defeituosa, e, em troca, receberá o direito de usá-la para abreviar um pouco mais a sua viagem. O problema é que Sete de Nove em seus devaneios e bugs, enfia a catapulta nas suas fantasias de conspirações, tornando-se uma ameaça para esse empreendimento.

Uma borg surtada…

O leitor pode até perguntar: como é que se conserta um bug na mente de um drone borg com excesso de informação em sua cachola? Muito simples: com bastante amor, é claro!!! E aí, Janeway entra em campo para convencer Sete de Nove de que tudo que ela concluía era uma série de delírios por não ter capacidade de processar toda a informação que absorvia. Isso foi feito apelando-se para o relacionamento afetuoso entre as duas e aí a borg sai de seu estado paranoico por um atalho regado à emoção. Uma coisa bonitinha de se ver, mas completamente ilógica, diriam Tuvok e Spock. De qualquer forma, acaba funcionando.

Uma catapulta espacial…

Só é pena que o episódio tenha ficado um pouco maçante, pois ele se voltou muito para os delírios de Sete de Nove e as supostas deduções lógicas usadas para justificar esses delírios. Foi necessário um esforço de atenção do espectador que logo pareceu infrutífero, já que ficava comprovado que Sete de Nove havia pirado na batatinha e aquela interessante teoria da conspiração envolvendo Janeway havia ido pela culatra. Confesso que fiquei um pouco chateado (para não dizer puto mesmo), de ter queimado minha pestana acompanhando a teoria da conspiração da borg para absolutamente nada. E ainda o episódio terminando com uma apologia piegas ao amor. De qualquer forma, os episódios de Jornada nas Estrelas não podem ser de excelência o tempo todo.

Procurando chifre em cabeça de cavalo…

Assim, podemos dizer que “The Voyager Conspiracy” é um episódio mediano de “Jornada nas Estrelas Voyager” onde, lamentavelmente, boas tramas conspiratórias que dariam muito caldo para a série acabam se revelando devaneios na mente de uma borg incauta que quer absorver mais informação do que pode conseguir. Uma pena.

Batata Séries – Jornada Nas Estrelas Voyager (Temporada 6, Episódio 7), Dentes De Dragão. Quem É Quem?

Um corredor subespacial…

Dando sequência às análises dos episódios da sexta temporada de “Jornada nas Estrelas Voyager”, vamos falar hoje de “Dentes de Dragão”, o sétimo episódio. Temos aqui um bom exemplo de mesclagem de história de ficção científica com análise histórica, onde espécies alienígenas sempre estão no meio, obviamente.

Janeway e sua tripulação terão que enfrentar uma guerra…

A Voyager encontra-se num corredor subespacial, onde caiu por acidente. Uma espécie alienígena hostil, os Turei, alegando serem os proprietários do corredor, exigem que a Voyager saia de lá. Janeway pede a sua ajuda e os Turei “quebram um galho” de uma forma, digamos, um pouco ríspida. Como se deslocaram duzentos anos-luz em apenas alguns minutos, Janeway pergunta aos Turei se eles não poderiam autorizar a passagem pelo corredor novamente. Negando categoricamente, os Turei ainda exigiram que a Voyager baixasse os escudos para os alienígenas abordarem a nave e apagarem dos bancos de dados a presença da Voyager no corredor. Janeway nega e os Turei atacam a nave com violência, provocando a queda rápida de seus escudos. A Voyager, então, se esconde na superfície de um planeta com doses letais de radiação, que a oculta dos sensores Turei temporariamente. Janeway e sua tripulação descobrirão ruínas de cidades e sinais de vida numa área subterrânea protegida da radiação. Lá, encontrarão, adormecidos, sobreviventes da espécie Vaadwaur. Sete de Nove, por impulso, abre a câmara de estase onde está um dos alienígenas, descumprindo o protocolo para essa situação. Esse alienígena acorda de um sono de praticamente novecentos anos e se chama Gedrin. Ele explica que o corredor subespacial foi descoberto por seu povo e que os Vaadwaur sofreram ataques de outras espécies alienígenas para assumir o controle do corredor. Daí a radiação do planeta. Neelix, por sua vez, diz que a palavra Vaadwaur faz parte de sua língua natal, significando “tolo”. O talaxiano faz uma pesquisa mais detalhada da origem da palavra e descobre, junto com Sete de Nove e seus dados borgs, que os Vaadwaur eram uma espécie muito agressiva e usava o corredor para atacar outros planetas. Precisando escapar de seu planeta natal em virtude da radiação e cercados pelos Turei, os outros Vaaldwaur planejam um ataque contra a própria Voyager para usá-la em sua jornada por um novo planeta natal. Janeway, então, convence os Turei a fazer uma aliança contra os Vaadwaur, uma ameaça em comum muito maior, dando aos Turei o controle de um satélite Vaadwaur que os ajuda a acertar as naves inimigas. Sob fogo cruzado, a Voyager dá no pé e fica com o gosto amargo de que ainda vai encontrar os Vaadwaur um dia. Sete de Nove se mostra arrependida por todo o salseiro que provocou ao acordar o Vaadwaur e Janeway, com o olhar complacente de mãezona, fala para a borg que muito provavelmente teria feito o mesmo.

Gedrin, um Vaadwaur “bonzinho”…

Como foi dito acima, tivemos uma boa história de ficção científica nesse episódio, onde elementos como câmaras de estase, planetas em inverno nuclear e corredores subespaciais (ah, o subespaço para explicar sempre o inexplicável!) foram utilizados. Depois de alguns episódios de aprofundamento da construção de personagem como temos visto nas últimas análises, uma ficção científica mais “de raiz” cai muito bem. Ainda mais quando temos um background histórico para refletir em cima. “Jornada nas Estrelas” sempre se deu muito bem com temas voltados para a História e a Astronomia. Aqui, o elemento histórico se fez presente na análise da cultura antiga talaxiana e na análise de dados dos borgs para desvelar o mistério sobre os Vaadewaur, cujos sobreviventes praticamente eram “fósseis vivos” de novecentos anos. Só é de se lamentar que os Vaadwaur tenham sido tratados de forma tão maniqueísta, passando de vítimas indefesas para uma espécie agressiva num piscar de olhos. Sabemos que em História nem sempre é muito frutífero analisar os fatos e as culturas em termos de “mocinhos e bandidos”. Pelo menos, a forma como os Turei foram encarados no episódio (ríspidos, até hostis, mas abertos a negociação) foi algo mais palatável e interessante. De qualquer forma, estamos falando aqui de histórias escritas para se mexer com o emocional das pessoas, com o objetivo de entretenimento. E aí, a fórmula mocinho X bandido acaba se tornando uma ferramenta necessária, mesmo que já muito batida.

Os “dentes de dragão”…

E o que o título do episódio (“Dentes de Dragão”) têm a ver com tudo isso?Mais uma vez, o elemento histórico se faz presente. Os Vaadwaur tinham uma frota de naves de guerra, que faz Chakotay cantar com antecedência a pedra da agressividade daquela espécie. Ele se refere ao mito grego dos dentes de dragão, onde Cadmo, fundador da Cidade de Tebas, precisou matar um dragão a pedradas para pegar água. Atena, a deusa da sabedoria, orientou Cadmo a semear os dentes, que deram origem a guerreiros armados e de aspecto ameaçador. Nada como uma interessante lenda da Grécia Antiga para dar um elemento poético a uma história de “Jornada nas Estrelas”. São nessas horas que vemos que essa série não é qualquer coisa.

Dessa forma, “Dentes de Dragão” é um bom episódio de “Jornada nas Estrelas Voyager” para ser revisitado, pois traz uma ficção científica interessante e elementos mais voltados à análise histórica. Tema relacionado à personagem? Somente o arrependimento de uma Sete de Nove que sempre foi cheia de muita marra. Mas mamãe Janeway estava a postos para salvar esse pequeno dilema.

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