Batata Antiqualhas – Jornada Nas Estrelas. Radiografando Um Longa. A Ira De Khan (Parte 1)

                 Cartaz do Filme

O segundo longa-metragem da tripulação da série clássica trouxe novos e curiosos elementos para a saga de “Jornada nas Estrelas”. Mas, inicialmente, vamos falar como se deu a produção desse filme. Harve Bennett, responsável por escrever a história do longa, viu toda a série clássica em películas de 16 mm num intervalo de três meses. O que lhe chamou mais a atenção foi o episódio “Semente do Espaço”, onde a tripulação da Enterprise encontra uma antiga nave da Terra, de nome Botany Bay.

                     Harve Bennett com Nimoy

O que sucede em seguida? Nessa nave, encontram-se, em estado criogênico, seres humanos produzidos por engenharia genética na segunda metade do século XX, que são uma espécie de “super-homens”, altamente fortes e inteligentes, que passaram a dominar o mundo e entraram em guerra (as guerras eugênicas). Alguns deles, liderados por Khan, fugiram e se colocaram em estado criogênico, sendo descobertos pela Enterprise em pleno século XXIII. Inicialmente, Khan irá se mostrar um cordial hóspede, mas com o tempo, ele tentará dominar a Enterprise. Obviamente, a tripulação não permitirá que isso aconteça, mas também não acabará com o inimigo, que será enviado para o planeta Ceti Alfa 5 para viver num mundo selvagem que será ideal para sua sede de conquista de Khan. E assim, se plantou a semente do espaço, com um inimigo que não foi derrotado de todo pela Enterprise. Ao fim, Kirk e Spock especulam sobre qual seria o resultado daquela semente plantada. Assim, Harve Bennett teve a ideia de desenvolver essa história no segundo longa. Leonard Nimoy, nosso Spock, foi chamado mais uma vez para fazer o filme e novamente ele negou, havendo especulações de que ele fazia esse charme todo para obter uma vantagem financeira a mais.

                  Khan em “Semente do Espaço”

Foi passado a ele que Spock morreria no filme, dando um desfecho glorioso para o personagem, o que chamou sua atenção. Mas inicialmente ele não gostou do roteiro, pois Spock morreria no início do filme. Coube a Nicholas Meyer, o diretor, reescrever todo o roteiro em doze dias, para espanto de todos, pois além de fazer isso em tempo recorde (segundo William Shatner, o capitão Kirk, ninguém reescreve um roteiro em doze dias), a história ficou boa. Mas, à medida que as filmagens caminhavam para seu desfecho, havia um ar de arrependimento com relação à morte de Spock, principalmente pelo fato de que se extinguiria uma franquia que dava tão certo financeiramente. A exibição para o público teste foi um desastre, pois o filme terminava com o corpo de Spock sendo lançado no espaço, o que provocou um tom fúnebre na plateia, uma noção arrasadora de que “Jornada nas Estrelas” havia chegado ao fim. Decidiu-se, então, dar um novo desfecho (a contragosto de Meyer) em que houvesse mais esperança de uma continuação. Foi pedido a Nimoy que, na cena de sua morte, ele colocasse um gancho que poderia levar a uma sequência. Foi aí que Nimoy inventou o elo mental com o Dr. McCoy inconsciente, falando a palavra “Lembre-se”. Essa cena era vaga o suficiente para se criar qualquer argumento que justificasse um novo filme. Outros elementos interessantes surgiram ao final, como um Kirk mais esperançoso no futuro (seu desânimo com a passagem do tempo e a velhice foi notório ao longo da trama) e a frase de Spock citada por Kirk: “Sempre existem possibilidades”. O epíteto “Espaço, a fronteira final”, etc., narrado por Spock ao fim do filme, nos dá a certeza de que haverá uma continuação e, apesar de ter sido “cafona” (nas palavras do próprio Harve Bennett), tinha que ser daquele jeito, onde até a crítica especializada da época acabou concordando que era a coisa certa a fazer.

Morte de Spock. Grande desfecho e                     arrependimento

No próximo artigo, vamos destrinchar as principais qualidades desse filme para o universo de “Jornada nas Estrelas”. Até lá!

Batata Antiqualhas – Jornada nas Estrelas, O Filme (Parte 1)

            Cartaz do Filme: a velha tripulação de volta.

“Jornada nas Estrelas, o Filme”. O primeiro longa da série que havia feito muito sucesso na segunda metade da década de 1960 e suas reprises na década de 1970, foi dirigido pelo consagrado diretor Robert Wise, responsável por obras como “O Dia em que a Terra Parou”, “Noviça Rebelde” e “O Dirigível Hindenburg”. Nome à altura da tão esperada ressurreição da franquia, após o fracasso de se tentar levar a série “Jornada nas Estrelas, Fase II” ao ar nas tvs. Reza a lenda que o sucesso de “Guerra nas Estrelas” levou a Paramount a optar por fazer um longa.

                  Antigos rostos, alguns novos. Figurino a desejar…

Dos seis longas-metragens da tripulação da série clássica, esse talvez tenha sido o mais cerebral e artístico de todos. Para relembrarmos seu enredo, uma imensa nuvem desconhecida, que consome tudo à sua frente, vai em direção a Terra.

Uma maquete de três metros de comprimento para ser melhor filmada, com a câmera fazendo um travelling ao longo de sua carcaça.

O agora almirante James Tiberius Kirk mexe seus pauzinhos para retomar o controle da Enterprise, que passou por dezoito meses de reforma. Para isso, ele terá que rebaixar Decker (interpretado por Stephen Collins), o atual capitão da Enterprise, a primeiro oficial e oficial de ciências, o que provoca conflitos entre os dois.

                       Ilia e Decker: envolvimento amoroso.

Enquanto isso, em Vulcano, Spock atinge o Kolinahr, o expurgo total de suas emoções e o alcance à lógica total, mas ao receber a honraria, ele a recusa, pois sentiu uma poderosíssima consciência totalmente lógica em busca de perguntas. Ele se unirá à tripulação da Enterprise, que irá em direção à misteriosa nuvem e desvendar seus segredos.

Persis Khambatta raspando a cabeça para interpretar Ilia. Choro com a perda dos longos cabelos negros.

Mas, o que é essa nuvem? Nela existe uma grande nave espacial, comandada por V’Ger, uma máquina que busca respostas para sua existência. V’Ger busca seu criador e quer transformar as unidades carbono que infestam a Enterprise e a Terra (os humanos) em meros bancos de dados, por serem consideradas mais uma praga do que formas de vida.

                                        Ilia na Fase II.

Kirk e seus comandados descobrirão que V’Ger é na verdade a Voyager 6, uma sonda enviada pela NASA ao espaço mais de trezentos anos antes, que tinha a missão de coletar dados e enviá-los à Terra (ao seu criador). Por coletar uma quantidade enorme de informações e acumular conhecimentos, a Voyager 6 acabou desenvolvendo consciência. Mas a nave entrou num buraco negro, saindo do outro lado da galáxia, caindo num planeta de máquinas vivas que construiu a nave gigante para que a intrépida Voyager cumprisse sua missão.

                    David Galtreaux como o vulcano Xon em Fase II.

E ela retornou a Terra em busca de uma integração (física, inclusive) com seu criador. Como não recebia respostas de seu criador, já que o sinal era antigo demais e não entendido por seus criadores terrestres, a Voyager resolve acabar com todas as unidades carbono que infestam o planeta, entendidas por ela como a causa da obstrução do encontro da nave com seu criador. Nossa tripulação então tentará fazer esse contato.

                           E sua ponta no longa…

Essa história foi escrita para ser utilizada em “Jornada nas Estrelas, Fase II”, e enredo semelhante já havia sido utilizado no episódio “Nômade”. O longa quase teve um desfalque grave, pois Leonard Nimoy não queria participar do filme, mas depois de muitos apelos desesperados, ele aceitou. Em contrapartida, a bela Persis Khambatta, que havia interpretado a personagem Ilia na Fase II, participa do filme, assim como o ator David Gautreaux faz uma ponta como comandante da estação Epsilon 9, que foi sugada pela nuvem. Gautreaux seria o novo vulcano da Fase II, Xon, pois Nimoy não se incorporou ao cast da nova série. Xon seria totalmente vulcano e recém-saído da Academia de Ciências de Vulcano, sendo mais um fator para ressaltar o lamento pelo fracasso da Fase II.

                                  Enterprise e a misteriosa nuvem.

Após esse pequeno inventário de informações sobre o primeiro longa de “Jornada nas Estrelas”, eu falarei, no próximo artigo, quais são as principais virtudes desse memorável filme. Até lá!

Batata Comics – Cidade À Beira Da Eternidade. O Roteiro Original.

 

Capa da Edição em Inglês

A Editora Mythos Books traz uma verdadeira joia para os fãs de “Jornada nas Estrelas”. Todo mundo conhece a história do episódio da série clássica “Cidade à Beira da Eternidade”, onde Kirk e Spock voltam ao passado da Terra para resgatar o Dr. McCoy que, acidentalmente injetou um remédio em si e pirou na batatinha. Ele foi para o teletransporte e desceu à superfície de um planeta onde estava o “Guardião do Tempo”, uma espécie de passagem temporal, indo para a década de 30, em plenos dias da “Grande Depressão”. Ao chegarem ao passado, Kirk e Spock conhecem Edith Keller, uma irmã pacifista que cuida das pessoas mais necessitadas e tem uma mente muito à frente de seu tempo. Kirk instantaneamente se apaixona por ela, mas Spock descobre, através de uma versão rudimentar de um tricorder que ele construiu, que Edith vai morrer e que se ela viver, assumirá uma postura pacifista que vai atrasar a entrada dos Estados Unidos na Segunda Guerra e que permitirá aos nazistas desenvolverem sua bomba atômica. Assim, Kirk sabe que vai perdê-la e sofre muito com isso. Essa é uma das melhores histórias da série clássica, que ganhou os prêmios Hugo e Nebula de ficção científica.

Um trecho q não faz parte da hístória veiculada na TV

Mas… você sabia que a história que foi veiculada no episódio não era a original, escrita por Harlan Ellison? Ela sofreu mudanças, segundo os produtores, porque o roteiro original não teria condições de ser filmado à época, algo com que Ellison discordou veementemente. E agora, a Mythos Books traz essa versão original do roteiro em quadrinhos, numa edição bem acabada e luxuosa em capa dura, que tem um precinho salgado, é verdade, mas vale muito a pena ter, principalmente se você ama “Jornada nas Estrelas” ou simplesmente ama quadrinhos. Na versão original, quem viaja para o passado é um tripulante camisa vermelha típico (aquele tripulante desconhecido que sempre morria nos episódios da série clássica na tv). Seu nome era Beckwith e ele era uma espécie de traficante de alucinógenos alienígenas dentro da Enterprise. Quando é descoberto, foge da nave e atravessa o portal do guardião do tempo. Imediatamente, o presente da Enterprise é alterado e a nave deixa de existir, entrando uma nave cheia de mercenários em seu lugar. Kirk, ao voltar com o grupo avançado para a nave, percebe que houve uma alteração e consegue se trancar na sala de teletransporte com sua tripulação. Ele volta ao planeta para atravessar o guardião do tempo com Spock, enquanto a ordenança Rand (que recebeu um papel mais destacado nessa história) fica com os demais tripulantes da Enterprise na sala de transporte, segurando a porta para os mercenários não entrarem. A partir daí, a história toma rumos parecidos com os do episódio veiculado na tv, mas com algumas pequenas alterações que não vou contar aqui (chega de spoilers!).

A bela Edith Keller

É uma experiência muito legal você ver a mesma história contada de forma diferente, tal como quando vemos um filme com o “corte do diretor”, mas um corte que realmente altere o produto final, como foi visto em “Superman II”, o estrelado por Christopher Reeve.  Embora haja algumas incongruências, como, por exemplo, por que a tripulação da Enterprise também não foi alterada quando Beckwith atravessou o portal ou por que Rand teve que ficar com os tripulantes na sala de transporte segurando as portas que os mercenários queriam derrubar e não foi para a superfície do planeta com Kirk e Spock (talvez o único motivo para isso fosse forçar Kirk e Spock lutarem contra o tempo enquanto estavam no passado da Terra), temos aqui uma ótima história, bem ao espírito dos episódios da série clássica, com a vantagem de que, com os quadrinhos, pode-se deixar a imaginação fluir ainda mais, com o produto final chegando bem próximo da imaginação do autor. Por isso, não podemos deixar de mencionar a adaptação para os quadrinhos do roteiro original por Scott e David Tipton e também a arte de J. K. Woodward. Inclusive, temos ao final dos quadrinhos uma exibição de todo o processo de produção da revista e um texto falando das inúmeras referências ao autor da história e outras que aparecem ao longo dos quadrinhos, que são uma verdadeira obra de arte.

Assim, a versão em quadrinhos do roteiro original de “Cidade À Beira Da Eternidade”, é uma leitura obrigatória para qualquer fã que se diga trekker e uma peça de coleção valiosa para quem gosta de quadrinhos. Não deixem de comprar, pois vale a pena o dinheiro investido nela.

Uma arte e tanto!!!

Batata Comics – Jornada Nas Estrelas, Nos Domínios Da Escuridão. Um Roteiro Melhor Que “Sem Fronteiras”.

Capa dos Quadrinhos

A editora Mythos Books lançou uma edição em quadrinhos, capa dura, do que poderia ser considerada a sequência do filme “Jornada nas Estrelas, Além da Escuridão”. E aliás, essa sequência filmada, e com as devidas edições, seria muito melhor do que o filme “Jornada nas Estrelas, Sem Fronteiras”. Ambientada com o novo elenco dos longas de “Jornada nas Estrelas” da fase J. J. Abrams, “Nos Domínios da Escuridão” tem a feliz ideia de ainda aproveitar a Seção 31, a Divisão de Operações Secretas da Frota Estelar, que somente consegue enxergar segurança para a Federação se colocar seus dois inimigos – os klingons e os romulanos – em pé de guerra. O problema é que a tripulação da Enterprise se vê no meio desse turbilhão, mesmo que esteja em sua missão de cinco anos para explorar novos mundos. É uma senhora história de muita ação e trama política que daria um excelente filme, muito melhor do (na minha modesta opinião) fiasco que foi “Sem Fronteiras”.
Mas, no que consiste a história? Enquanto a Seção 31 organiza uma aliança secreta com os romulanos para que os alienígenas se voltem contra o Império Klingon em troca de tecnologia de armamentos da Federação, Spock sofre o Pon Farr e precisa ir a Vulcano para se acasalar. Mas nesta realidade alternativa Vulcano foi destruído e Spock não conseguiu aguentar a forte pressão emocional, tornando-se extremamente agressivo, assim como outros de sua espécie. Para salvar Spock da loucura e fúria certas, Kirk e sua tripulação precisarão encontrar uma cura para O Pon Farr. Essa história serviria como um ótimo enredo paralelo para um longa e seria uma referência e tanto à série clássica. Há uma segunda história envolvendo a espécie gorn, também proveniente da série clássica, mas ela poderia ser descartada por não ter muito a ver com a trama principal (embora a história de Spock e seu Pon Farr também não esteja muito ligada à trama principal, ainda assim seria interessante usá-la, pois foi colocada a questão de como ficaria o ritual agora que Vulcano não existe mais). A parte final dos quadrinhos seria o esqueleto principal da história, pois desenvolve mais a aliança entre a Seção 31 e os romulanos, o ataque dessa aliança ao Império Klingon e o que a destemida tripulação da Enterprise vai fazer para evitar um conflito de proporções galácticas.

Um Spock enlouquecido

Essa é uma história muito instigante que cairia como uma luva para um filme. Além de fazer referência à série clássica, vemos aqui também referências a coisas que apareceram nos longas anteriores. Por exemplo, a matéria vermelha que destruiu Vulcano está nas mãos dos romulanos, os klingons conseguiram a tecnologia da nave romulana de Nero, do primeiro filme, e implantaram-na nas aves de rapina, a Seção 31 não desapareceu com a morte do Almirante Marcus, etc. Assim, trata-se de uma história muito mais criativa que trabalha com elementos do Universo que os dois primeiros longas já criaram, e não é algo totalmente destacado dos outros filmes como foi “Jornada nas Estrelas, Sem Fronteiras”, declaradamente o filme mais fraco da Enterprise da era pós J. J. Abrams. Só é de se lamentar que essa história tenha dado mais espaço a personagens novos e menos espaço a personagens já consagrados. Vemos muito pouco McCoy, Scott, Chekov e Uhura, por exemplo. Mas isso poderia ser compensado reescrevendo o roteiro para o longa e fazendo uma substituição simples dos personagens novos pelos mais antigos.
Assim, “Jornada nas Estrelas, Nos Domínios da Escuridão”, é uma outra aposta certa da Mythos Books para conquistar o trekker de plantão (a primeira é o lançamento em quadrinhos do roteiro original de “Cidade à Beira da Eternidade”), pois dá uma história instigante e digna para a nova versão de “Jornada nas Estrelas”, que será vista pelos fãs com outros olhos. Uma obra que vale o dinheiro investido.

Personagens originais, como Uhura, apareceram pouco

Batata Antiqualhas – Jiraiya, O Incrível Ninja (Parte 2)

Espada Olímpica!!!

Vamos hoje continuar a falar de um dos mais populares seriados japoneses da década de 1980, “Jiraiya, O Incrível Ninja”.

Outro elemento muito atraente em “Jiraiya” era o seu grande humor, o que acontecia também nas outras séries. Key e Manabu zoavam Toha o tempo todo, e Toha também não ficava atrás. Existe um episódio onde a família está em treinamento e, durante um intervalo, Toha conversa com Tetsuzan. Manabu vem por trás de Toha e dá uma paulada na cabeça dele, que estava desprevenido. Toha bota Manabu para correr e Tetsuzan só fala, desanimado: “assim não dá para continuar”. Os efeitos especiais eram também às vezes, um tanto toscos, que fariam Georges Meliès esconder o rosto de vergonha. Mas nos matavam de tanto rir. A fauna do Império dos Ninjas, com guerreiros de todas as matizes e cores, abusando do metálico, eram igualmente hilárias.

Os amigos do Jiraiya!!!

Tinha um defeito na série. Ela era um tanto violenta. Além de Jiraiya pulverizar seus inimigos com a poderosa espada olímpica, uma espada ninja que ficava laser somente nas mãos do protagonista (originalmente conhecida como Jikô Shinku Ken), muitos dos capangas de Dokusai, os ninjas corvinhos que voavam e tudo, sofriam às vezes mortes violentas, tomando estreladas, flechadas, ou despedaçados em grandes explosões. Me lembro de um episódio em que Tetsuzan, desarmado, sofre um ataque de espada de um dos corvinhos e o mata, tomando a espada do coitado, dando-lhe uma chave de braço e cortando a nuca do bichinho com a própria espada dele. Meio pesado para uma série infanto-juvenil na minha modestíssima opinião.

Família de Feiticeiros. Os inimigos do Jiraiya

Mas, qual era o eixo principal da história, que conduziu todos os cinquenta capítulos que tinham uma duração média de 22 a 24 minutos? Existia um grande tesouro alienígena, Pako, uma espécie de cápsula do tempo enviada há séculos por uma civilização muito mais avançada que a Terra. Ao chegar ao nosso planeta, os japoneses medievais acharam que ela era uma dádiva divina, que ficaria guardada até que um mensageiro chegasse para levá-la. Mas Pako foi soterrada por um terremoto. Lamentando a perda, o povo deixou para as futuras gerações uma tábua de barro gravada com a localização de Pako. Ao desvendar todo o mistério, o príncipe Taishi desenterrou Pako e a enterrou novamente, ordenando ao ninja Shinobi a guarda da tábua de barro. A tábua de barro ficou posteriormente sob a guarda da família Togakuri e foi passada de geração a geração, com Tetsuzan sendo o representante da 34ª geração. Metade da tábua está com Tetsuzan. A outra metade está nas mãos de Dokusai, chefe da família dos feiticeiros, um antigo companheiro de treinamento de Tetsuzan e que quer usar o tesouro para o mal. Dokusai, inclusive, matou a esposa de Tetsuzan, na luta pela tábua de barro que localiza Pako. Mas a disputa por Pako não ficará só entre os Togakuri e os feiticeiros.

Kinin Reiha, do serviço secreto japonês, a protetora de Jiraiya. Era tão magrinha que até a roupa de malha que ela usava ficava frouxa.

O Império dos Ninjas também vai querer colocar a mão no tesouro e irá em sua busca. Alguns ninjas do Império se tornarão aliados de Jiraiya, como o inglês cristão Barão Olm, que quer usar Pako para o bem, mas outros serão poderosos inimigos. O serviço secreto japonês também ajudará Jiraiya, nas figuras de Kinin Reiha, incumbida de proteger Toha, e Yannin Spiker. Há também o americano, Dr. Smith, um ocidental com um barbão que o torna a cara do Karl Marx, sendo o primeiro discípulo de Tetsuzan, e que quer aliar a arte ninja a tecnologia. Ele conserta a armadura de Jiraiya num episódio, e insere um monte de componentes tecnológicos no carro de nosso herói, transformando o automóvel no Black Storm, uma espécie de Supermáquina nipônica. Num episódio, Jiraiya ia ser derrotado por seu oponente e o Dr. Smith deu uma ajudinha com uma caneta que paralisava o inimigo, e ai, o nosso herói teve tempo para se recuperar e derrotar seu adversário. Trapaça? Espírito de equipe? Tirem suas próprias conclusões.

Os corvinhos!!!

Dessa forma, “Jiraiya, O Incrível Ninja” é uma série que nos deixa muitas saudades, talvez a melhor de todas dentre a vasta fauna de seriados japoneses da década de 1980. Um herói sem grandes poderes, que se baseia em seu treinamento, que não se “transforma”, mas sim veste sua própria armadura. Ah, e faz comida, lava e passa. E não deixe de ver abaixo a entrevista com o próprio Jiraiya no programa The Noite, do Danilo Gentili, no ano de 2014.

Batata Antiqualhas – Jiraiya, O Incrível Ninja (Parte 1)

Toha, que se transforma em Jiraiya, sem efeitos especiais, simplesmente vestindo a armadura.

Vamos hoje fazer aqui um pequeno retorno a segunda metade da década de 1980, quando a extinta TV Manchete se especializou em exibir seriados japoneses. Todos os que vivenciaram esse período estão lembrados de séries como Changeman, Jaspion, Jiban, Flashman, etc., etc. Até a Globo se rendeu ao “espírito da época”, exibindo séries como Maskman. Mas teve uma série que talvez tenha feito mais sucesso que as outras. Uma série que tinha elementos diferentes da regra geral dos seriados japoneses. Estamos falando aqui de “Jiraiya, O Incrível Ninja”.

Uma família ninja

Quais são os motivos de tanto sucesso de Jiraiya? Em primeiro lugar, era uma série muito vinculada à cultura japonesa, algo que não acontecia com as outras. A febre da arte ninja no Brasil havia ganhado muita força com a série americana “O Mestre”, estrelada pelo Hollywoodiano Lee Van Cleef, na Globo durante uma das férias de verão da década de 1980. Assim, uma série japonesa sobre os ninjas soaria como um grande must. Em segundo lugar, reza a lenda que, dentre os heróis nipônicos da época, Jiraiya era o único que não tinha superpoderes.

Tetsuzan Yamashi, representante da 34ª geração de Togakuri. Na vida real, é traumatologista e divulga a arte ninja. Ou seja, quebra todo mundo e depois cuida na clínica dele.

Toda a sua força vinha de seu rigoroso treinamento para ser ninja, comandado por seu pai adotivo, Tetsuzan Yamashi. Toha Yamashi (nosso Jiraiya) inicialmente reclamava muito da severidade do pai, e da forma complacente como ele tratava seus filhos biológicos, Key e Manabu. Aliás, Toha era tratado como uma espécie de empregado doméstico, sendo obrigado a fazer a comida, lavar e passar a roupa para o pai e para os irmãos. Para piorar a situação, eles não tinham um poder aquisitivo muito alto, sendo obrigados a manter a sua academia ninja num enorme condomínio, recebendo até reclamações da síndica. Toha, inclusive, vivia numa tremenda pindaíba financeira, sendo obrigado a fazer mil bicos e até a fazer aulas de aeróbica na academia, para desespero de Tetsuzan.

Key, irmã de Jiraiya, a ninja Himenin Emiha.

Essas características da série não existiam em nenhuma outra da época e muitas pessoas devem ter se identificado com essas situações cotidianas como fazer as tarefas domésticas e estar com a grana curta. Um grande barato que havia também em Jiraiya era que a série era centrada em torno de uma família. Então, se Toha se sentia discriminado pelo pai e pelos irmãos, vemos, com o desenrolar dos episódios, que o duro tratamento pela família ao nosso herói tinha o propósito de torná-lo mais forte contra seus inimigos e que, bem lá no fundo, todos o amavam profundamente. A relação entre Toha e sua irmã Key é bem tocante. Há um episódio em que Key ajuda uma menininha de um estrato social mais alto a escapar de umas “pit-girls” que faziam “bullying” contra a pobre mocinha. Key foi lá e, como boa ninja, meteu o braço em todo o mundo. A menina então, que não tinha amigas, convidou Key para ir à sua casa. Toha fica sabendo disso e passa a seguir Key pelas ruas, até que a flagra em frente a uma loja onde havia um lindo vestido na vitrine. Quando a irmã vai embora, Toha vai a vitrine e vê o alto preço do vestido. Nosso herói então começa a fazer mil contas e bicos para juntar o dinheiro para comprar o vestido e o deixa em cima da cama de Key, que fica muito emocionada com o esforço do irmão. Devemos nos lembrar que isso acontecia numa série de TV dedicada ao público infanto-juvenil, enquanto que as outras séries eram, em sua maioria, de grupos de adolescentes que lutavam contra monstros de outros planetas. Também havia nelas uma ou outra demonstração de afetuosidade. Mas em “Jiraiya” essas demonstrações ocorriam de forma diferente, eram bem mais intensas.

Manabu, o irmão, que usava um estilingue com bolinhas que soltavam fumaça na cara do inimigo…

Como o assunto é muito vasto, falaremos mais de “Jiraiya” no próximo artigo. Até lá!!! Por agora, veja a abertura de Jiraiya tal como ela passava na Manchete lá na década de 80…

Batata Books – Portal do Tempo. Quando Spock Tem Um Filho!

Por Carlos Lohse

Capa do Livro
Capa do Livro

A Editora Aleph fez um importante relançamento para os fãs de “Jornada nas Estrelas”. “Portal do Tempo”, de Ann C. Crispin, é simplesmente uma obra magnífica que consegue captar todo o ambiente da consagrada série clássica. Fã de “Jornada nas Estrelas” desde muito cedo, Crispin começou a rascunhar suas primeiras aventuras da Enterprise no papel aos 17 anos, no já longínquo ano de 1967. Mas foi em 1978, depois de rever o episódio “Todos os Nossos Ontens”, da terceira temporada da série clássica, que a escritora teve a ideia para escrever seu livro de ficção científica inaugural. A história de “Todos os Nossos Ontens” fala da volta de Spock e McCoy ao passado de um planeta chamado Sarpeidon, cinco mil anos atrás, o que vai levar Spock ao seu estado primitivo, onde ele age de forma completamente passional, come carne e se apaixona pela lindíssima Zarabeth. Crispin imaginou uma continuação para essa história, onde Spock teria gerado um filho em Zarabeth. Ao analisar dados arqueológicos de Sarpeidon, Spock descobre uma figura rupestre em formato vulcano, o que o impulsiona a voltar ao passado através do Guardião da Eternidade, uma espécie de portal consciente que permite as pessoas fazerem viagens pelo tempo. O filho de Spock, Zar, é encontrado, mas ele não recebe uma resposta afetiva de seu pai que, a princípio, age de forma extremamente fria. A alegação de Spock para buscar Zar é a de que a família é uma instituição muito importante em Vulcano, o que magoa muito o jovem rapaz. Assim, o livro mostra a odisseia de Zar para se adaptar à sua nova realidade a bordo da Enterprise, onde ele precisa conciliar sua forte carga de estudos ao aprofundamento de seus novos relacionamentos humanos. Mas haveria uma invasão romulana que ameaçaria o Guardião da Eternidade, adicionando mais um elemento interessante à trama. Isso sem falar que Zar possui misteriosos poderes. Mas, sem mais “spoilers”.

Spock e Zarabeth, um caso de amor
Spock e Zarabeth, um caso de amor

Crispin conseguiu fazer um livro delicioso de se ler (em 1983, o livro entrou para a lista do “The New York Times” das publicações mais vendidas). Seu êxito foi em resgatar todo o espírito da série clássica, com as características dos personagens protagonistas preservadas, embora tenhamos presenciado um McCoy muito menos rabugento e bem mais amável, tornando-se uma espécie de pai postiço de Zar, e um Spock muito mais vulcano do que humano com o filho, embora as doses de humanidade do personagem tenham sido usadas na quantidade certa e nas horas certas. O humor, um elemento recorrentemente usado na série, foi também muito usado, sobretudo nos diálogos entre os personagens que, diga-se de passagem, foram muito bem escritos. Os conflitos com os romulanos e uma violência em padrões um pouco maiores que os vistos nos episódios da série clássica, chamaram muito a atenção e apimentaram a coisa. Enfim, parecia que, ao ler as páginas do livro, estávamos assistindo a um genuíno episódio da série clássica. A autora fez também uma espécie de “fan service” (isso em 1978, imaginem!) fazendo alusões a vários personagens e situações expostas em episódios da série clássica, devidamente sinalizados nesta edição do livro em notas de pé de página. Aliás, essa foi a intenção da Aleph: que o livro não fosse apenas acessível para os velhos “trekkers”, mas também para pessoas que não conheçam muito bem o Universo de “Jornada nas Estrelas”. Para se ter uma ideia, há uma apresentação dos personagens principais e suas características mais marcantes, assim como ao fim do livro há uma espécie de miniglossário com alguns verbetes que ajudam o novo fã de “Jornada nas Estrelas” a compreender um pouco melhor tudo o que acontece nessa franquia que se tornou cinquentenária esse ano.

Assim, “Portal do Tempo” é uma grande obra literária de “Jornada nas Estrelas” e leitura obrigatória para qualquer “trekker”, assim como uma ótima porta de entrada para os leitores que ainda não conhecem as aventuras de Kirk, Spock e McCoy. A leitura desse livro é muito divertida, prazerosa e flui muito rápido. Vale muito a pena!

A autora, A. C. Crispin
A autora, A. C. Crispin
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