Batata Movies – Assassin’s Creed. Credo!

Cartaz do Filme

Quando você vê um grande blockbuster inspirado num livro ou num jogo de videogame do qual você não sabe nada, sua visão obviamente vai ser diferente de quem é fissurado naquele livro ou jogo de videogame. Foi mais ou menos o que aconteceu comigo ao assistir “Assassin’s Creed”. Confesso que o trailer não me atraiu muito e talvez eu nem fosse ver a película se não houvesse um detalhe todo especial: eu simplesmente adorei o elenco. Michael Fassbender contracenando com a fofíssima Marion Cotillard e Jeremy Irons. E, ainda por cima com uma participação toda especial de Charlotte Rampling que eu descobri ao longo da exibição do filme, com Brendan Gleeson de brinde. Realmente, somente atores de quem gosto muito. Esse fator, mais a curiosidade do que se trata essa trama, que é baseada em História da Idade Moderna, com direito a templários, Inquisição e Reconquista da Península Ibérica, me deram esperanças de que eu fosse ver esse filme com bons olhos. Infelizmente, me enganei. Talvez, se eu tivesse algum contato com o game, teria uma opinião diferente. Talvez…

Cal Lynch será ligado a…

Bom, no que consiste a história para os neófitos em Assassin’s Creed? No ano de 1492, os muçulmanos haviam sido praticamente todos expulsos da Península Ibérica pelos cristãos. A Igreja Católica é uma organização dominada pelos templários, que acham que o livre arbítrio é a causa de todas as mazelas da humanidade. Ou seja, os católicos agora querem agora dominar mais do que nunca os corações e mentes das pessoas. Para isso, eles querem dominar a maçã do éden, uma espécie de dispositivo que é fonte de toda a discórdia humana. Mas o grupo de assassinos, que defendia o último sultão ainda presente na Espanha, vai evitar que os templários fiquem com a tal maçã em seu domínio. Um dos assassinos, Aguilar (interpretado por Fassbender), vai deixar uma linhagem cujo seu descendente, Cal Lynch, será condenado à morte por homicídio. Mas ele será falsamente executado e inserido num programa que busca procurar uma solução para a violência humana. Esse programa é dirigido por Sofia (interpretada por Cotillard), na empresa do pai, Rikkin (interpretado por Irons) e consiste em procurar memórias genéticas em Lynch, onde uma máquina irá reproduzir nele tudo o que aconteceu com Aguilar. Mas, na verdade, tanto Rikkin quanto Sofia são templários do século 20, que ainda querem acabar com o livre arbítrio da sociedade, acreditando que isso é a cura para a violência humana. Vai caber a Lynch lutar contra isso.

… Aguilar!!!

Devo confessar que o enredo é até bom, mas a forma como ele foi apresentado no filme não ficou muito boa. Em primeiro lugar, sabemos que esse é um típico filme de porrada, bomba e tiro regado a muitos CGIs. Até aí, tudo bem. Mas o problema é que a fotografia da película (ou pelo menos da cópia que eu vi) ficou um tanto escura, o que comprometeu um pouco a materialidade visual da coisa. Os assassinos eram caras muito ágeis que pulavam prédios, saltavam em telhados, andavam em cima de cordas e muito pouco podia ser visto naquelas imagens mal iluminadas. Isso já faz com que o filme não fique com uma cara muito simpática, pois sua principal atração está praticamente às escuras. Outra coisa foi a forma como a trama foi apresentada. A narrativa foi meio enrolada e confesso que me perdi um pouco. O desfecho também foi um grande problema, pois apesar de ter acontecido algo de grande efeito, ainda assim ficou um jeitão enorme de anticlímax, do tipo “Ué, já acabou?”. Um gancho para continuação, talvez? Sei não, mas do jeito que ficou, eu não veria a segunda parte desse filme.

Sofia e Rikkin . Templários…

Assim, “Assassin’s Creed” acabou não sendo uma boa experiência para uma pessoa que não conhece o jogo, como eu. Embora o enredo do filme seja bem interessante, ainda assim ele poderia ter sido melhor apresentado. E, de preferência, com uma fotografia mais clara para a gente curtir melhor as cenas de ação e efeitos especiais. Uma pena. de qualquer forma, não deixe de ver o trailer abaixo.

Batata Movies – Passageiros. Ficção Científica E Drama Amoroso Como Panos De Fundo.

Cartaz do Filme

A nova queridinha da América, Jennifer Lawrence, está de volta em uma ficção científica um tanto híbrida com um drama amoroso. “Passageiros”, também estrelado por Chris Pratt (de “Guardiões da Galáxia”), é um filme que trabalha um tema um tanto batido em ficção científica: o das hibernações em viagens espaciais que duram muitos anos. Só que procurou-se dar um molho especial à história, abordando-a por um outro viés que mais se aproxima de uma questão moral.

Jim e Aurora. Viagem que é pano de fundo para uma questão moral

A viagem em questão dura cerca de 120 anos e é realizada pela espaçonave Avalon para um planeta colônia chamado Homestead II, pertencente a uma empresa privada. Cerca de cinco mil pessoas viajam em hibernação, quando a nave atravessa uma nuvem de asteroides, colidindo com um bem grande, o que vai provocar um defeitinho na nave que, inicialmente, apenas desligará uma das câmaras de hibernação e vai despertar seu ocupante, Jim Preston (interpretado por Pratt), que acordou noventa anos antes de a nave chegar a seu destino, ou seja, ele foi condenado a passar o resto de sua vida sozinho pela nave, embora tivesse uma única companhia, o robô Arthur (interpretado por Michael Sheen, que nada tem a ver com Martin ou Charlie Sheen). Nem é preciso dizer que Jim pirou na batatinha. Depois de cerca de um ano, ele reparou numa moça em hibernação e se sentiu atraído por ela. Ao checar seus dados no sistema, ele descobriu que ela se chamava Aurora Lane (interpretada por Lawrence) e era escritora. Quanto mais Jim conhecia a vida e a personalidade de Aurora, mais ele se apaixonava por ela. Até que ele tomou a decisão de tirá-la da hibernação para iniciar um relacionamento amoroso com a moça, algo de sérias implicações morais. A partir daí, vemos uma linda história de amor que pode sofrer uma terrível reviravolta, mas chega de “spoilers”.

Amor e ódio

Pois é, ficou a impressão de que a ficção científica aqui foi o pano de fundo para uma história de amor que, por sua vez, serviu como pano de fundo para discutir uma questão de ordem ética. A ficção científica até retorna com mais força ao fim do filme, mas para novamente servir de escada à historinha de amor que podia ser um pouco menos trivial. Mas como é Hollywood e não é cinema europeu, sobretudo o francês, que é mais realista e menos sonhador, somos obrigados a engolir obviedades, o que é uma pena.

Uma coisa que foi meio inquietante foi a variação de sentimentos da personagem Aurora. Eu sei que o cinema é a arte do ilusório, que na tela grande o amor vence todas as adversidades (quando na vida real é justamente o contrário), mas o comportamento de Aurora me pareceu pouco digno para algo tão imperdoável. E foram dadas chances de redenção para toda a complexidade da questão que foram simplesmente descartadas, o que foi uma pena, pois seria um desfecho pelo menos mais honroso para os personagens. Esse era o tipo do filme que se tornaria muito mais interessante se o  “happy end” fosse abolido e seria algo totalmente compreensível, dado o contexto da trama.

Andy Garcia. Aparição meteórica

Além das aparições de Lawrence e Pratt como protagonistas, tivemos uma rápida, mas muito boa presença de Laurence Fishburne como Gus Mancuso, um membro da tripulação que também é retirado da hibernação, e uma meteórica aparição de Andy Garcia bem ao final do filme. Sempre acho muito lamentável essas aparições muito rápidas de atores consagrados. Fica uma impressão muito amarga de decadência para com artistas de que gostamos muito.

Dessa forma, “Passageiros” é um filme que, acima de tudo, trabalha mais uma questão moral, mas todo esse discurso foi jogado no lixo em prol de um final feliz hollywoodiano. A ficção científica e o drama amoroso? Apenas panos de fundo. Uma pena. Mais uma impressão de boa ideia que foi desperdiçada.

Batata Movies – La La Land: Cantando Estações. Os Musicais Agradecem.

Cartaz do Filme

E já estreou em nossas telonas o grande vencedor do Globo de Ouro este ano. “La La Land: Cantando Estações”, escrito e dirigido por Damien Chazelle (o mesmo que escreveu e dirigiu o fantástico “Whiplash”) ganhou sete prêmios: melhor filme (musical ou comédia); melhor ator (musical ou comédia), para Ryan Gosling; melhor atriz (musical ou comédia), para Emma Stone; melhor diretor para Damien Chazelle; melhor roteiro, também para Damien Chazelle; melhor canção; e melhor trilha sonora. “La La Land: Cantando Estações” ganhou todas as sete categorias que disputou no Globo de Ouro e deve vir forte no Oscar. Mas, o que esse filme tem de tão bom? Em primeiro lugar, trata-se de um musical, um gênero que raramente dá as suas caras no cinema hoje em dia. Só isso já faz aumentar a atenção e interesse pelo filme. E, como foi feito esse musical? Pudemos presenciar aqui uma grande homenagem aos antigos musicais da RKO e da Metro, com toda uma estética altamente retrô e que homenageava os grandes filmes da Hollywood de outrora. Isso foi um deleite para qualquer cinéfilo de plantão, constituindo-se numa espécie de um rosário formado por “Easter Eggs”. Para todos os lados, havia sempre um cartaz de filme antigo ou fotos de divas da Hollywood antiga. Mas esse ambiente saudosista era mesclado com nossos dias atuais, o que deu um efeito interessante.

Mia e Sebastian. Um casal muito dançante

Assim, podíamos ver um número musical com tremenda cara de “Cantando na Chuva” sendo interrompido por um toque de celular, por exemplo. Ou carrões antigos andando na rua junto com os carros de hoje em dia, promovendo uma verdadeira mesclagem entre tradição e modernidade. Tal mistura também é vista na narrativa do filme. Sabemos que os antigos musicais surgiram mais como uma espécie de distração para o grande público se esquecer das mazelas da crise econômica iniciada em 1929. O que mais importava nesses filmes eram os imponentes números musicais. As histórias desses filmes eram muito simplórias e até bem bobinhas, apenas um pretexto para podermos presenciar figuras eternamente amadas como Fred Astaire, Gene Kelly, Frank Sinatra, Cyd Charisse, Donald O’Connor, Ginger Rogers ou Debbie Reynolds cantarolando e dançando. Em “La La Land”, a película começou com a mesma cara desses musicais antigos: uma moça, Mia (interpretada por Stone), tentando a carreira de atriz em Los Angeles, e um rapaz, Sebastian (interpretado por Gosling), amante do jazz e que quer abrir sua casa de shows para apenas tocar jazz antigo e tradicional, para não deixar essa arte morrer. Os dois se conhecem num desentendimento e gradativamente se apaixonam. E os muitos números musicais ocorrendo enquanto o casal se tornava mais íntimo. Mas, a partir da segunda metade do filme, houve um foco maior na história dos dois, e curiosamente, os números musicais desapareceram, dando origem a um drama convencional, mais antenado com o cinema dos dias atuais. Ou seja, o toque de magia e fantasia dos musicais desaparece numa certa parte do filme, e o choque de realidade nos atinge em cheio, para uma volta maior do lúdico mais ao final da película. Alguns podem achar isso uma descontinuidade no roteiro do filme. Mas eu prefiro acreditar que tivemos um roteiro excepcional aqui, mostrando que o debate entre a tradição e a modernidade não se dava apenas no campo estético, mas também no campo narrativo.

Lindos números musicais

E os atores que fizeram os protagonistas? Ryan Gosling deve estar elevando as mãos aos céus até agora. Depois de aparecer bem em alguns filmes, o ator decidiu dirigir um filme e a crítica foi impiedosa com ele, colocando-o em baixa. Podemos dizer que “La La Land” o ajudou a dar uma monumental volta por cima. Entretanto, mesmo ganhando o prêmio de melhor ator no Globo de Ouro, sua boa presença era meio que ofuscada por Emma Stone, essa sim muito bem no filme. Ela cantava bem mais que Gosling, por exemplo. E foi bem melhor na parte mais dramática da película, quando os números musicais desapareceram. Gosling, por sua vez, ficou mais com aquela cara meio abatida de quem parece que acabou de tomar um fora. Mais melancolia e menos expressividade. Já Stone parecia estar com os nervos à flor da pele nos momentos dramáticos mais intensos. Agora, vamos combinar: no número de sapateado, os dois eram bem ruinzinhos. Deu para sentir que fizeram uma coreografia bem simplória para os dois não se enrolarem muito. De qualquer forma, valeu pelo esforço. E não dá para se exigir dos dois um padrão Fred & Ginger.

Ryan Gosling e Emma Stone colhendo os louros da vitória no Globo de Ouro

Assim, se você é fã da Hollywood antiga, mais precisamente da fase dos grandes musicais, “La La Land: Cantando Estações” é simplesmente um programa imperdível e o filme pelo qual você irá torcer no Oscar esse ano. Alguns números musicais são claras homenagens a números que já foram vistos em filmes como “Cantando na Chuva” ou “Sinfonia de Paris”, levando os mais sensíveis às lágrimas (como foi meu caso). Mas também é um filme que faz um divertido jogo entre tradição e modernidade, seja do ponto de vista estético, seja do ponto de vista narrativo. É um filme para se ver, ter e guardar.

Batata Movies – O Apartamento. Teatro E Trauma.

Cartaz do Filme

O cineasta iraniano Asghar Farhadi, que ganhou o Oscar de Melhor Filme estrangeiro com o ótimo “A Separação”, está de volta. Ele dirige e assina o roteiro do não menos ótimo “O Apartamento”, um filme que mexe com o público até o íntimo de sua alma. Um daqueles filmes do que o cinema iraniano tem de melhor, e que é muito mal compreendido por algumas pessoas que estão por aí. Ah, e antes que eu me esqueça, “O Apartamento” ganhou os seguintes prêmios: melhor ator, para Shahab Hosseini e melhor roteiro, para Asghar Farhadi, tudo isso em Cannes em 2016. E foi indicado ao Globo de Ouro deste ano para melhor filme estrangeiro, além de ter sido nomeado para a Palma de Ouro em Cannes ano passado.

Emad, um pacato professor…

A história fala de um casal, Emad (interpretado por Shahab Hosseini) e Rana (interpretada por Taraneh Alidoosti), que precisa fazer uma mudança às pressas de seu apartamento depois que uma obra ao lado do prédio provoca rachaduras que podem fazer o edifício desabar (!). O casal pertence a um grupo de teatro e um de seus amigos providencia um apartamento para Emad e Rana. A antiga inquilina, porém, tinha deixado suas coisas trancadas num quarto do apartamento, e foi decidido arrombar o quarto, deixando as coisas da moça no terraço, o que a deixou muito revoltada. Mas esse era apenas o menor dos problemas, pois a antiga inquilina recebia homens no apartamento e Rana acabou sendo atacada por um deles, depois de ter aberto a portaria do prédio pelo interfone, por pensar que era seu marido. Emad, um pacato professor e ator de teatro, vai então começar uma investigação por conta própria para descobrir quem foi que atacou sua esposa, com o agravante de que Rana ficou traumatizada e não quer ficar mais sozinha, e ainda com todo o peso da visão de mundo da sociedade islâmica, que não conseguia entender como Rana deixou um homem desconhecido entrar em sua casa.

Rana, uma mulher que sofre um forte trauma

Farhadi conseguiu escrever mais um roteiro brilhante e, dessa vez, até relativizando a alta religiosidade do Irã, já que havia algumas críticas veladas aos paradigmas e convenções impostos pela religiosidade, mas também o pensamento religioso não foi criticado de todo, pois Rana implorou a Emad que ele não tomasse certa atitude e percebemos como estava implícito ali que essa atitude ia claramente contra uma convicção religiosa. Havia pouca discussão em questões religiosas (“A Separação” teve um conteúdo maior nisso), mas elas apareciam, sobretudo, nas entrelinhas.

A tragédia de Rana implodia paulatinamente seu casamento. E isso mesmo num casal aparentemente esclarecido, que desempenhava um ofício transgressor como o teatro, o que mostra como o peso de certas tradições pode deixar qualquer um vulnerável ao conservadorismo, por mais progressistas que sejam suas mentes. Esse é um outro exemplo de como o discurso tradicionalista estava no filme, embora ele não aparecesse explicitamente.

A parte progressista da história ficou na encenação do teatro. Mostrar todo esse meio de manifestação artística é algo que eu não me lembro de ter visto no cinema iraniano, onde uma das atrizes aparecia muito bem maquiada e elegantemente vestida, com uma boca vermelhíssima de batom e um vestido igualmente vermelho. Ah, sim, e um chapéu estrategicamente colocado na cabeça para não despertar escândalos de uma cabeça nua. É de se notar que, em contrapartida, a maquiagem colocada em Rana para a peça, ao contrário de embelezá-la, a envelhecia, como se o diretor quisesse dizer que a maquiagem no teatro não é algo para se despudorar as mulheres, mas apenas um recurso para construir uma personagem.

O diretor Asghard Farhadi (centro) rodeado por Shahab Hosseini e Taraneh Alidoosti. Mais um filme iraniano de muito sucesso!!!

Infelizmente, os “spoilers” não me deixam falar mais do filme, mas sua melhor parte está em seu desfecho, que nos dá margem para uma grande reflexão sobre a condição humana. Só uma dica rápida: essa reflexão nos coloca a questão de até onde abrimos ou não mão das convenções sociais a que estamos impostos em prol de um comportamento mais humano e solidário, sendo essa questão muito difícil de ter uma resposta única ou fácil.

Assim, “O Apartamento” é mais um filme imperdível do cinema iraniano e de Asghar Farhadi. Um filme que ainda critica o conservadorismo da religiosidade muçulmana mas que também sabe reconhecer virtudes nessa religiosidade. E um filme que fala, acima de tudo, do que estamos dispostos a ceder para sermos mais humanos. Não deixem de ver essa excelente película. E não deixe de ver o trailer abaixo.

Batata Movies – Eu, Daniel Blake. Uma Previdência Imprevidente.

Cartaz do Filme

E chegou o dia da estreia do grande vencedor da Palma de Ouro no Festival de Cannes de 2016. “Eu, Daniel Blake”, de Ken Loach, foi exibido no Festival do Rio ano passado, mas a procura pelo filme foi muito grande e não consegui assistir naquela época. Como a película foi laureada pelo grande prêmio do cinema na França, eu tinha certeza de que ela estrearia cedo ou tarde em circuito comercial por aqui. E foi o que aconteceu. Me despenquei para o Net Rio 5, assim que o filme entrou em circuito. E as expectativas sobre esse grande filme se confirmaram. É uma grande obra-prima que analisa muito bem a covardia pelas quais as pessoas passam quando elas dependem de serviço de Previdência Social. E isso porque estamos falando da Inglaterra.

Daniel Blake. Lutando por seus direitos

A história é sobre o Daniel Blake em questão (interpretado magistralmente por David Jones), um carpinteiro que sofre um ataque cardíaco e é impedido de trabalhar pela médica. Na hora de receber uma espécie de salário que vai cobrir seus meses de inatividade, a inspeção médica o declara apto para o trabalho e lhe corta o benefício. Blake, então, vai ter que recorrer a outra ajuda da Previdência Social inglesa, mas esbarra numa burocracia irritante, bem daquelas ao estilo que a gente conhece aqui no Brasil quando precisa resolver problemas semelhantes, e sua vida se torna uma via-crucis para tentar resolver esses problemas. No meio disso tudo, ele conhece Katie (interpretada pela fofíssima Hayley Squires), uma jovem mãe solteira, com um casal de filhos e que passa também por imensas dificuldades financeiras e problemas com a Previdência Social inglesa. Blake e Katie vão iniciar uma grande amizade para enfrentarem todas as dificuldades por que passam juntos e, ainda por cima, lutarem por seus direitos.

União comovente com Katie

Esse filme de Loach nos dá uma ideia de como é a situação dos menos favorecidos num país de Primeiro Mundo como a Inglaterra. Sentimos como existe toda uma burocracia que desmotiva as pessoas a lutarem por seus direitos. E isso num país onde foi desenvolvida a ideia de que o Estado nasce de um acordo entre os indivíduos e que a função dele é proteger os direitos e a vida das pessoas. Ou seja, a ética capitalista mais uma vez mostra aqui as suas garras, onde as pessoas precisam competir umas com as outras por trabalho em virtude da carência de empregos, assim como elas são maltratadas por instituições governamentais por não estarem na parcela produtiva da população. Loach consegue ser bem incisivo nessa crítica e nos faz sofrer com aqueles personagens, pois a identificação entre o público e eles é muito rápida. Quem já não ficou escutando aquela maldita musiquinha do autoatendimento pelo telefone, esperando ser atendido? Ou quem não já saiu por aí distribuindo seus currículos de porta em porta, somente ouvindo nãos? E, em casos mais extremos, já não ouvimos casos de quem precisa furtar coisas do supermercado para sobreviver à falta de grana ou até de ter que fazer coisas piores? Isso sem falar dos jovens mais safos que vendem produtos contrabandeados para se livrar da humilhação de um emprego que cobra muito trabalho e paga muito mal? Só não podemos nos esquecer de que tudo isso que é mostrado no filme não é apenas mérito de Loach. Também devemos bater palmas para roteirista Paul Laverty pela ótima forma com que ele conseguiu espelhar todas as situações dos menos favorecidos para simplesmente sobreviver.

O diretor Ken Loach (centro) rodeado por David Jones e Hayley Squires. Vencedores em Cannes!!!

Assim, “Eu, Daniel Blake”, é uma película fundamental, digna do prêmio que recebeu em Cannes ano passado. É mais um filme de denúncia, onde o cinema cumpre sua função social de gritar contra as injustiças. Mas isso não é nenhuma surpresa quando falamos de um diretor como Ken Loach, que sempre manteve olhos abertos para as questões sociais. Não deixem de assistir. Programa imperdível!!! E não deixe de ver o trailer abaixo…

Batata Literária – Charlot, O Gênio Vagabundo (à Charles Chaplin)

Ele nasceu na Inglaterra.
Teve uma infância muito difícil.
Sua mãe, louca cantora cuja carreira encerra,
obriga o jovem menino a fazer o impossível.
Logo mostrou seus dotes artísticos
para ajudar a sustentar a família.
Recebendo o auxílio dos deuses místicos,
para os Estados Unidos ele foi mostrar seu talento a cada milha.
Na América, começou a trabalhar em cinema.
Em 1914, na Keystone, fez dupla com Mabel, a pequena.
Mas ele queria o controle total da situação
e, em poucos anos, montou seu próprio estúdio, fruto de sua ambição.
Conseguiu poder e muitas amantes.
Para ele, nada mais era como antes.
Mas sua grande conquista, que o tornou conhecido no mundo
foi o seu personagem, um pobre vagabundo.
Seus filmes eram mais que comédias.
Falar da injustiça do mundo fazia parte de suas ideias.
Por isso, foi implacavelmente perseguido.
Ao viajar para a Europa, foi tratado como criminoso fugido.
Teve que viver na Suíça em exílio,
sem que ninguém fosse em seu auxílio.
Desta forma, viveu anos amargurado,
pois foi da América injustamente desterrado.
No fim de sua vida, teve autorização para aos Estados Unidos retornar.
Humilhado, ele chegou a refutar.
Mas à América ele retorna
para receber um Oscar pelo conjunto da obra.
Na cerimônia, ele foi justamente homenageado.
Tudo isso o deixou profundamente emocionado.
Era o reconhecimento de seu talento afinal
e a confirmação de um gênio mundial.

Batata Movies – Rogue One (Parte 4)

 

 

Uma estátua que troca de posição

Vamos hoje terminar nossa análise de “Rogue One”. Quais são os problemas da película? Em primeiro lugar, o pouco tempo dado a dois atores consagrados. Tem gente que acha que dar mais tempo a Whitaker ou Mikkelsen poderia muito alongar o filme. Entretanto, eu creio que se a película dispõe de tais talentos, eles devem ser aproveitados. A atuação de Mads Mikkelsen como Galen Erso foi muito boa, mas caiu no lugar comum da morte do pai da heroína, se tornando uma vítima dos vilões algozes. Quando ficou sabido que Galen Erso era pai de Jyn e que construiria a Estrela da Morte, já ficou na cara que ele morreria durante o filme. Pelo menos, a morte pelo “fogo amigo” dos X-Wings foi um ponto curioso para a história. Mas um outro desfecho para o personagem que pudesse se encaixar nos eventos de “Uma Nova Esperança” poderia tornar a coisa um pouco mais interessante. Agora, o que eu achei extremamente lamentável foi o que fizeram com o personagem de Whitaker no filme. Tudo bem que ele era um extremista que ficou todo mutilado depois de anos de batalha. Mas ele não precisava ficar com aquela voz de Yogurt de “Spaceballs” do Mel Brooks. E aquele respirador, então? Ficou muito ridículo e ruim. Sua pouca participação no filme e morte muito prematura deram uma sensação de que tanto o personagem como o ator foram muito mal aproveitados. Que se arrumasse um jeito dele fugir de Jedha com Jyn e os demais. E que ele ajudasse Jyn a criar coragem quando a Aliança Rebelde tinha desistido de enfrentar a Estrela da Morte. Isso daria uma condição mais digna ao personagem. Adoraria, por exemplo vê-lo batendo boca com Mon Mothma.

Galen Erso…

Uma coisa que foi extremamente lamentável foi a ausência de Wedge Antilles no filme. Mas eu soube de fonte muito segura que o ator que faz Wedge Antilles, Denis Lawson, renegou “Guerra nas Estrelas” de sua vida, o que é uma pena, já que nos livros do Universo Expandido, o Esquadrão Rogue é um grupo de pilotos de X-wing liderados por Wedge Antilles, e sua presença seria muito querida por todos em “Rogue One”. Foi triste ver Wedge sendo apenas chamado por Bail Organa num cantinho obscuro.

…e Saw Gerrera. Poderiam aparecer mais….

O fato de se construir uma base de armazenamento de dados num planeta com muito mar e maresia também incomodou. Ficou parecendo a construção do Museu da Imagem e do Som em plena Praia de Copacabana (isso sim de doer por ser algo real). E a Estrela da Morte destruindo todo o complexo de armazenamento de dados do Império? Será que eles tinham back-up de tudo?

Um erro de continuidade também ficou claro em Jedha. A estátua do Jedi semienterrada no deserto estava com sua parte esquerda enterrada na areia quando ela aparece pela primeira vez. Depois, quando vemos uma imagem panorâmica da estátua mais do alto, ela aparece com sua parte direita enterrada na areia. Eu sei que são alguns detalhes irrelevantes, mas precisam ser mencionados. Foi dito por aí também que a posição do respirador de Saw Gerrera foi trocada de uma cena para outra.

O diretor Krennic foi um vilão que incomodou. Em primeiro lugar, o trailer mostrava uma visão mais austera do personagem, algo que foi desmentido na exibição do filme, onde ele tinha momentos de um bom cinismo com outros de afetação extrema e muito descontrole emocional que caíram muito mal e denegriram um pouco a imagem do personagem. E, perceberam como esse vilão apanhou no filme? Tomou tiro da esposa de Galen Erso no início da história, foi arremessado por uma explosão provocada por um X-Wing, foi sufocado por Vader, teve o comando da Estrela da Morte tomado por Tarkin, tomou um tiro de Andor e, finalmente, foi pulverizado pelo raio da Estrela da Morte. Sei não, mas nunca vi Vader e Palpatine passarem por tantos vexames. E para piorar, o diretor Krennic ainda tinha uma roupa que lembrava muito a do Grão Almirante Thrawn. Definitivamente não gostei muito da forma como o vilão foi tratado nesse filme. Eu acho que o personagem merecia um pouco mais de respeito. Agora, as poucas aparições de Vader também levaram a galera ao delírio. Só ficou um pouco complicada sua aparição final quando o “vento” vindo do espaço sideral esvoaçava sua capa negra. Enfim, que seja liberdade poética. O som não se propaga no espaço mesmo???

Wedge Antilles fez falta…

Após essa breve análise de “Rogue One, Uma História Guerra nas Estrelas”, podemos finalmente responder as perguntas que fizemos no início dessa série de artigos. Em primeiro lugar, “Rogue One” foi um dos melhores filmes de “Guerra nas Estrelas” já feitos, embora eu não vá me arriscar a dizer que foi o melhor (“O Império Contra Ataca” ainda povoa os corações de muitos fãs e, na minha opinião pessoal, “Uma Nova Esperança” sempre será o melhor de todos, pois foi lá que tudo começou). E “Rogue One” foi melhor que “O Despertar da Força”? Pode-se até dizer que sim, mas não podemos em hipótese alguma dar pouca importância para “O Despertar da Força” nessa retomada de “Guerra nas Estrelas”. Se este filme teve problemas, “Rogue One” também teve os seus, como todos os filmes têm problemas. Mas ficou nítida mais uma subida no degrau de amadurecimento de “Guerra nas Estrelas” com “Rogue One”. Elogios ou críticas à parte, “Rogue One” está provando ser um sucesso de bilheteria nas semanas que se sucederam à sua estreia e com certeza esse será mais um filme que ficará no coração dos fãs de “Guerra nas Estrelas”. Que venha o “Episódio VIII” ao final de 2017!!!

Diretor Krennic. Mais respeito para o vilão