Batata Movies – Marguerite E Julien. Um Amor Incestuoso.

Cartaz do Filme

Um filme curioso e polêmico que passou somente lá no Cine Joia, de Copacabana. “Marguerite e Julien”, da diretora Valérie Donzelli,  trata de uma história real que já aconteceu há muito tempo (na virada do século XVI para o XVII), mas que desperta uma polêmica e tanto até os dias atuais: o amor incestuoso entre dois irmãos. Um filme que é feito com muita delicadeza para justamente não ser tão agressivo aos moralistas mais sensíveis.

Irmãozinhos muito ligados desde a infância

Vemos aqui a história dos dois irmãos, Marguerite (interpretada por Anaïs Demoustier) e Julien (interpretado por Jérémie Elkaïm). Desde cedo, os dois irmãozinhos eram muito ligados. A coisa na infância era altamente idílica, com brincadeiras infantis e trocas de carinhos, sem muitas maldades. Mas, ao entrar na escola, o casalzinho de irmãos foi notado pelo professor (e padre), alertando o pai de que os irmãos deveriam ser separados, o que de fato aconteceu, com Julian sendo mandado para outra escola, ficando vários anos longe dos pais e da irmã. Mas Julian retornaria, já rapaz feito e reencontraria Marguerite já moça e prometida. Não é preciso nem dizer o que acontece daí para a frente, com os dois querendo engatar um namoro e desafiando todas as rígidas convenções sociais da época, que consideravam o incesto um crime passível de ser punido com a morte.

Mais tarde, formarão um casal desafiador

O grande barato desse filme é que, apesar de ser uma história que já se passou há séculos, vemos toda uma estética propositalmente anacrônica. Assim, uma hora parece que os irmãozinhos estão no século XIX, outra hora no século XX, quando Marguerite é presa e levada por um helicóptero, e assim vai. Nós nunca sabemos em que época exata a real história aconteceu a não ser no fim do filme, quando um intertítulo nos diz como foi o desfecho do verdadeiro casal. O filme também tem uma curiosidade interessante. Em dois momentos, é preparada toda uma cena em que os protagonistas ficam totalmente estáticos e a câmara passa por eles em “travelling”, tal como se fizéssemos um passeio em 3D numa pintura ou algo do tipo. Depois dessa pequena “viagem”, os personagens ganham vida e se movimentam, dando sequência à narrativa.

Apesar de ser um drama e falar de um tema muito polêmico, o ritmo do filme flui muito bem, pois a impressão que nos dava era a de que víamos um grande filme de romance e  aventura, onde o herói apaixonado salva a mocinha das garras de homens maus que querem desposá-la. Ainda, deve ser mencionado que esse roteiro foi originalmente escrito para François Truffaut rodá-lo lá na década de 70. Coube à diretora Valérie Donzelli e ao ator Jérémie Elkaïm adaptá-lo para os dias atuais, colocando os já citados elementos anacrônicos. Em tempo: Truffaut não o filmou já que ele estava envolvido em muitos projetos.

Em Cannes (2015): Jeremie Elkaim, a diretora Valerie Donzelli e Anais Demoustier

Assim, “Marguerite e Julien” é um daqueles filmes que trata de um tema altamente polêmico, mas consegue colocar um frescor de aventura de capa e espada para dar uma aliviada na barra. A colocação de uma estética fora de época e o uso de tomadas onde os atores apareciam totalmente estáticos trazem um elemento de novidade, apesar desses estratagemas já terem sido utilizados no passado. Como não vemos essas coisas todos os dias por aí, a revisitação é válida. Pena que só passou no Joia e não esteve disponível em outras salas, o que mostra a carência de salas em nossa cidade.

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