Batata Antiqualhas – Spock e Leonard. Dualidade que se Completa (Parte 3)

            Gary Lockwood em Jornada nas Estrelas…

Em 1961, Nimoy trabalhou como ator convidado num seriado para a tv chamado “O Tenente”, com Gary Lockwood, que participou do segundo episódio piloto de “Jornada nas Estrelas” (“Onde Nenhum Homem Jamais Esteve”), onde ele interpretava o tenente-comandante Gary Mitchell, que havia sido tomado por uma estranha força alienígena e tinha que usar duras e desconfortáveis lentes de contato prateadas. Lockwood também ficou famoso por interpretar o personagem Frank Poole em “2001, Uma Odisseia no Espaço”, que é o tripulante da “Discovery” expelido para o espaço pelo computador HAL-9000.

                       … e em 2001

O diretor do episódio de “O Tenente” em que Nimoy trabalhava era Marc Daniels, da Desilu, estúdio de propriedade de Lucille Ball, a famosa humorista do programa de tv “I Love Lucy”, onde episódios “Jornada nas Estrelas” seriam gravados no futuro. Nesse episódio de “O Tenente”, Nimoy também contracenou com Majel Barrett, futura esposa de Gene Roddenberry, o criador de “Jornada nas Estrelas”. Roddenberry era o produtor de “O Tenente” e convidou Nimoy a tomar parte no primeiro episódio piloto de “Jornada nas Estrelas”. Ele interpretaria o personagem Spock, já todo delineado por Roddenberry: meio humano, meio alienígena, com emoções reprimidas (exprimir as emoções não era de bom tom na cultura alienígena de Spock), cabelo diferente, orelhas pontudas e cor da pele avermelhada (!!!). O personagem em conflito poderia parecer ridículo num primeiro momento, mas Roddenberry levava o personagem muito a sério. As primeiras orelhas ficaram muito ruins pela falta de tempo e de dinheiro e causavam muito constrangimento a Nimoy. Mas Fred Phillips, o maquiador, conseguiu confeccionar um par de orelhas decente com a ajuda de um amigo maquiador da MGM. A cor vermelha da pele foi descartada, pois ficaria muito escura nas filmagens em preto e branco. Ao invés disso, um tom verde-amarelado de pele foi usado. Nimoy tinha que chegar ao estúdio às 6h30min para começar o processo de maquiagem, que ia até às 7h15min. Uma atriz irlandesa, Maura McGivney, foi a primeira a dizer que as orelhas de Spock eram atraentes. Logo, Nimoy ficaria conhecido pelas orelhas, mas houve um medo de que os mais religiosos achassem o personagem muito “satânico”. O episódio piloto “A Jaula” mostrava um Spock muito emotivo, que sorri, se preocupa e tem explosões de emoção, principalmente numa passagem em que uma equipe se teletransporta à superfície de um planeta dominado por uma raça alienígena que interfere no sistema e teletransporta só as mulheres. Spock dá um salto e grita: “As mulheres!”.

Segundo episódio piloto. Roddenberry bancou o vulcano

Uma curiosidade. Roddenberry queria que Spock falasse um inglês mais britânico, como se o alienígena tivesse aprendido a língua ouvindo clássicos ingleses. Mas a ideia foi descartada por Nimoy, que não se sentiu à vontade com o sotaque. O primeiro piloto fracassou, muito em virtude do vulcano e da primeira oficial da nave (Majel Barrett), ou seja, de uma mulher assumir um posto de comando (reza a lenda de que as próprias mulheres comentavam na época “quem ela pensa que é?” ao presenciarem Barrett interpretando um papel que deveria ser reservado a um homem). Foi dada uma nova chance de um novo episódio piloto, mas sem os dois personagens problemáticos. Roddenberry bancou a presença de Spock no segundo piloto e se casou com Barrett, até porque, segundo o próprio Roddenberry, “não dava para fazer o contrário”, ou seja, manter Barrett na série e se casar com o vulcano. O produtor de “Jornada nas Estrelas” alegava que o personagem alienígena era fundamental para a série.

No próximo artigo, vamos ver como o personagem vulcano foi se estruturando com os episódios de “Jornada nas Estrelas”. Até lá!

                       Spock fazendo suas orelhas

Batata Literária – E agora, mané? (Desculpa, Drummond)

E agora, mané?

Acabou o café

Você não tem mais fé

Você só anda a pé

Tomou esporro do Pelé

Não pode mais falar “quequié?”

Foi roubado pela Zezé

E agora, mané?

 

Tá feia a coisa, hein meu filho?

Até para a pipoca falta milho

Tua mulher te expulsou do ninho

E agora você vive sozinho

Tu é um cara cheio de trejeito

Assim, tua vida não dá jeito

Com a cabeça, você não dá nem meneio

E até bêbado te dá vareio

 

Mesmo quando em teu caminho há pedra

Dele você não arreda

Aí, vem a topada

E mete a cara no chão, porque não tem almofada

Qual é a tua, mermão?

Você diz que é Tião

E tem Epaminondas na certidão!

Deixa de ser trouxão!

 

Termino essas linhas

Pedindo proteção divina

Pois, ao falar de tua sina

Profanei o oráculo sentado em praia matutina

Na boca, tenho o gosto do podre ovo

Não sei por que me envolvi nesse jabaculé

E aí, eu te pergunto de novo

E agora, seu mané?

Batata Movies – Borg Vs. McEnroe. Tênis Como Vida.

                                  Cartaz do Filme

E finalmente estreou o tão esperado “Borg Vs. McEnroe”, um filme baseado na história real de dois tenistas que foram ícones em seu ofício: Björn Borg, que venceu Wimbledon várias vezes, e John McEnroe, um tenista tão talentoso quanto explosivo. Não cheguei a ver Borg jogar, mas me lembro bem de McEnroe, principalmente de seus chiliques com o juiz e com a torcida, que o vaiava efusivamente enquanto ele dava raivosas raquetadas em tudo o que via.

             Borg, um homem atormentado

A história do filme se centrou na final de Wimbledon em 1980, quando os dois tenistas se enfrentaram pela primeira vez. Borg tentava, nada mais, nada menos que o seu quinto título consecutivo em Wimbledon, enquanto que McEnroe aparecia como uma revelação. Com relação à partida em si, o grande barato foi assistir à sua reconstituição sem saber do desenrolar do jogo e de seu resultado, o que foi o meu caso. Um tie-break arrasador, onde os dois jogaram ponto a ponto, foi a grande atração da coisa, e confesso que fiquei muito feliz com quem ganhou, embora eu obviamente não vá contar aqui.

              McEnroe, nitroglicerina pura!!!

Mas o filme é muito mais do que a partida final. Ao traçar a carreira e vida pessoal dos dois tenistas, vemos um filme que fala muito mais da condição humana e dos limites do ser humano do que de qualquer outra coisa. Focando mais na vida de Borg (o que eu achei um problema, pois McEnroe merecia igual atenção), pudemos atestar como o sueco, visto como extremamente frio (seu apelido na época era “Ice Borg”), na verdade era uma torrente de emoção paroxista altamente reprimida pelo seu técnico (interpretado pelo ótimo Stellan Skarsgard). Já McEnroe é uma espécie de menino prodígio, muito inteligente em matemática, que desde cedo dava mostras de um temperamento forte, mas que só aflorou na idade adulta, quando era tenista. Pela forma como esses personagens foram apresentados em suas aspirações (e, principalmente, angústias), o espectador fica com uma empatia imediata em relação a eles. E os atores ajudaram muito nessa empatia. Shia Labeouf, com seu temperamento explosivo e errático, pareceu a escolha certa para o personagem de McEnroe, mesmo não se parecendo muito com ele. Na verdade, até a sua imagem de McEnroe no cartaz do filme parece soar como uma piada; você olha para aquilo e pensa: “Tudo a ver”. Brincadeiras à parte, Labeouf esteve muito bem no papel e, ao contrário do que o leitor pode pensar, não me refiro às explosões emocionais propriamente ditas, mas sim ao arrependimento que tais explosões emocionais provocavam. Impossível não se identificar com o personagem. Já Borg foi interpretado por Sverrir Gudnanson, este sim a cara do tenista real. Aqui víamos o misto de uma mente extremamente metódica com uma insegurança arrebatadora, que beirava ao pânico e ao desespero, mente essa fortemente reprimida, algo que nos angustiava muito. O cara não se soltava, mesmo estando profundamente angustiado, e isso provocava um tal impacto no espectador que o fazia também se identificar com o personagem. Assim os dois tenistas expressavam em sua total intensidade dois aspectos do humano, algo extremamente sedutor e cativante, que ultrapassava as fronteiras do tênis e se ampliava para o domínio da vida.

Skarsgard. Muito bem como técnico de Borg.

Pode-se dizer aqui que esse filme lembra muito “Rush”, onde vimos a disputa entre James Hunt e Nikki Lauda pelo título mundial de Fórmula 1 de 1976. Mas, se em “Rush”, a pegada foi um pouco mais voltada para a ação, mesmo que a vida pessoal dos dois pilotos tenha sido enfocada, em “Borg Vs. McEnroe”, a coisa ficou mais no lado psicológico dos personagens, gerando uma história mais tensa, mas não menos apaixonante.

                                                                    Grande caracterização!!!

Assim, “Borg Vs. McEnroe” é um programam imperdível. Um filme para os amantes do tênis, pois a sequência da partida final foi muito bem construída. Mas um filmaço também para os cinéfilos e o público em geral, pela forte abordagem psicológica das histórias de vida dos dois tenistas. Vale muito a pena dar uma conferida.

Batata News – Josephine Baker, a Vênus Negra

 

                                                                                 Cartaz da Peça

O Cineteatro Maison de France apresenta a peça “Josephine Baker, A Vênus Negra”. Estrelada pela versátil Aline Deluna e com o acompanhamento dos músicos Dany Roland (Bateria e Percussão), Christiano Sauer (Contrabaixo, Violão e Guitarra) e Jonathan Ferr (piano e escoleta), que também se revelaram versáteis atores,  e com direção de Otávio Muller e texto de Walter Daguerre.

                                                             Deluna, uma grande atriz!!!

Esse notável musical conseguiu traçar de forma muito eficiente a não menos notável trajetória dessa artista nascida nos Estados Unidos, mas que acabou se radicando na França em virtude do racismo latente do primeiro país e de uma maior receptividade do segundo.

Deluna começa a peça vindo do fundo da plateia para o palco, com o pano caído. Ela dá a boa noite, se senta no palco e começa a conversar com a plateia. Inicialmente, fala dela mesma, de como conheceu Josephine Baker e de sua identificação imediata com a artista. Pouco a pouco, ela sai de sua vida e entra na infância de Baker nos Estados Unidos, narrando detalhes de sua vida em terceira pessoa. É de chocar o trecho de sua infância, em que foi tratada com violência e assédio sexual quando era faxineira nas casas dos brancos americanos. E muito mais chocante foi saber que todo o seu bairro foi destruído e assassinado por brancos racistas. Pouco a pouco, foi entrando na carreira musical, embora fosse mais chamada para trabalhar como camareira, até que consegue seu primeiro palco e número musical. Sua forma simultaneamente sensual e cômica, dançando propositalmente de forma desengonçada, chamou a atenção de um empresário que a levou à Paris, onde ela se espantou com o tratamento totalmente diferente de seu país de origem. A partir daí, a peça toma ares de musical onde Deluna destila todo o seu talento, seminua em muitos números, tal como era Baker. Foi muito legal também ver os músicos na peça. Eles, além de tocarem seus instrumentos com maestria, interagiam com a atriz, fazendo papéis de pessoas que passaram pela vida de Baker: empresários e amantes, além de alguns maridos de seus cinco casamentos. Lances da vida de Baker eram contados alternados pelos números musicais, o que ajudou a peça a fluir com naturalidade, não saturando o público de informações. A plateia também participou de forma ativa, quando o elenco descia à ela e trazia pessoas para subirem ao palco, onde até um trenzinho foi feito durante o número musical. Outro trecho marcante da peça foi a ligação de Baker com o Brasil. A artista veio ao Rio de Janeiro várias vezes, se encantou com um menininho muito talentoso que mais tarde contracenaria com ela em alguns shows no Brasil, sendo esse menininho o futuro multimídia Grande Otelo. Conheceu Le Corbusier (teve até um affair com ele), arquiteto francês que teria um papel fundamental na modernização do Rio de Janeiro, e ficou hospedada na casa de Tarsila do Amaral e Oswald de Andrade. Só para arrematar, ficou maravilhada com o show dos Dzi Croquettes e inclusive pediu ao dono da casa de shows em que atuava que contratasse o grupo brasileiro como atração efetiva depois que ela saísse de lá e abandonasse a vida artística.

Os músicos da peça com Deluna e Cédric, o responsável pelo teatro Maison de France (de azul)

Outros detalhes da vida de Baker foram enfocados: sua revolta com os americanos ao, já consagrada na Europa, fazer um show nos Estados Unidos e ser tratada com desrespeito pela crítica em virtude do racismo; sua participação como espiã na Segunda Guerra Mundial, onde a emissão de documentos falsos por ela salvou muitas vidas; o problema no útero que quase a matou e a impediu de ter filhos; e a sua famosa “tribo arco-íris”, onde adotou muitas crianças de várias origens diferentes para provar que a diversidade pode perfeitamente viver em harmonia.

Um vídeo com Baker no saguão

Outro detalhe interessante foi o repertório musical da peça. Além das músicas mais antigas cantadas por Baker, buscou-se músicas mais recentes e ouvimos de Madonna a até funk, passando pelas músicas cantadas por Carmen Miranda, promovendo uma ida e volta entre passado e presente na narrativa. Essa ida e volta também aconteceu de uma forma muito feliz na peça ao se comparar o conservadorismo e radicalismo da época de Baker com o conservadorismo e radicalismo autoritário dos dias de hoje, um ponto da peça que fez refletir muito.

Esse humilde articulista com o músico Jonathan Ferr

Após o final do espetáculo, o público teve ainda a oportunidade de trocar algumas ideias e tirar fotos com o elenco no saguão do teatro, ou admirar um vídeo com vários momentos da própria Josephine Baker, algo que ajudava a confirmar o grande trabalho de Deluna na peça.

Esse humilde articulista com a sensacional Aline Deluna

Assim, “Josephine Baker, A Vênus Negra” é uma grande peça de nosso teatro em cartaz no Maison de France até 17 de dezembro. Um excelente musical com atores talentosíssimos, uma ótima reconstituição de uma instigante história de vida, um aguçado senso crítico sobre os dias de hoje e uma simpática interação entre palco e plateia. Espetáculo imperdível!!!

Josephine Baker, tudo de bom!!!

Festival do Rio 2017 – As Entrevistas de Putin. Descortinando um Líder.

                         A entrevista do século!!!

Vamos ainda falar dos filmes que pudemos ver no Festival do Rio 2017. Na última chance do Festival do Rio 2017, tive a oportunidade de ver aquela película que, na minha modesta opinião, foi uma das grandes atrações do evento. “As Entrevistas de Putin”. Dirigido por, ninguém mais, ninguém menos que Oliver Stone, é um filme notável em todos os sentidos. Organizado em quatro programas de cerca de uma hora, a exibição desta grande película, tanto em extensão quanto em magnificência, constituiu-se numa verdadeira maratona da qual você sai muito feliz, pois te dá a certeza de que você participou do Festival esse ano. Foram mais de uma dúzia de entrevistas, concedidas no período de dois anos (de 2015 a 2017)  e Stone teve carta branca para fazer qualquer pergunta (embora isso nem sempre significasse que Putin respondesse, pois alguns temas eram realmente de natureza altamente confidencial). O resultado foi um panorama de um dos líderes mais importantes do mundo, de postura muito controversa aos olhos do Ocidente, mas que se mostrou de forma muito límpida e clara em alguns pontos, não sem ser um pouco turvo em outros.

             Um clima de muita cordialidade

Vários temas foram enfocados na entrevista. Falou-se de sua infância, seus pais, da vida dos tempos de União Soviética, de sua entrada na KGB, o serviço secreto russo. De uma forma muito clara, Putin analisou toda a transição do socialismo para o capitalismo em seu país e apontou os erros e acertos, em sua opinião, de líderes chave nesse processo, ou seja, Mikhail Gorbachov e Boris Yeltsin.

Fazendo as vezes de anfitrião, mostrando o Kremlin…

Com uma franqueza marcante, falou dos problemas que o capitalismo totalmente livre introjetou em seu país e quais medidas ele tomou, já como presidente, para reparar isso. Putin também mencionou a turbulenta relação entre a Rússia e a OTAN, onde o avanço da aliança militar capitalista sobre o leste europeu depois do fim da Guerra Fria foi visto por Putin como algo extremamente desnecessário e beligerante pois, afinal de contas, a Rússia era então uma aliada do Ocidente e aproximar os armamentos da OTAN do território russo exigia uma resposta desse país. Putin ainda lembrou que a crise dos mísseis de Cuba, em pleno auge da Guerra Fria, tinha sido uma resposta a uma atitude semelhante dos Estados Unidos na Turquia, numa prova de uma beligerância antiga dos Estados Unidos.

     Um dedicado intérprete, sempre a postos…

Todas essas tensões entre as duas potências antes e depois da Guerra Fria trouxeram à tona outro ponto: como foi a relação entre Putin e quatro presidentes americanos: Clinton, Bush, Obama e, agora, Trump. E Putin foi muito sincero em dizer que houve momentos tranquilos, mas também momentos de grave turbulência na sua relação com os presidentes dos Estados Unidos. Ele deixou bem claro também que qualquer atitude hostil contra a Rússia terá uma resposta à altura. O mais interessante é que ele fazia tais afirmações levantando muito pouco a voz, num tom sempre muito sereno. Aliás, tocando nesse ponto, pudemos ver Putin sempre de forma contida, expressando alguns estados emocionais. Ele ria, bufava, se irritava levemente, sempre voltando a um estado sereno quando percebia que se excedia, passando uma sensação de muita segurança.

         Falando sobre Snowden ao volante…

Foi muito taxativo sobre a questão da Ucrânia e da Crimeia, onde disse claramente que, no primeiro caso, houve uma tentativa de golpe de estado de direita, e no segundo, que houve um referendo onde o povo desejava a anexação à Rússia. Expôs argumentos convincentes sobre o posicionamento da Rússia na Guerra da Síria (luta contra o terrorismo que tanto assolou a Rússia na Guerra da Chechênia) e foi também muito seguro ao afirmar que a Rússia não interferiu nas eleições americanas que escolheram Trump para a presidência. Fugindo um pouco do escopo da política, Putin afirmou que não há perseguições a homossexuais em seu país, embora se mostrasse um pouco conservador em suas opiniões.

                             Um esportista…

Stone tentava arrancar o máximo de respostas possíveis de Putin, mas o líder era muito esperto em suas afirmações. Foi muito interessante ver o diretor americano debatendo questões como a perpetuação de Putin no poder e até exibindo para ele uma cópia de “Dr. Fantástico”, de Kubrick. Apesar das reservas de Putin em abordar temas mais espinhosos em alguns poucos momentos, uma coisa é certa: esse é o relato mais completo que temos desse enigmático presidente russo e um enorme serviço de Stone ao cinema e a uma melhor compreensão da geopolítica internacional.

                       Firmeza nas palavras

Esse é o tipo de documentário que tem que ser lançado em DVD por aqui e que a gente tem que ver, ter e guardar, não somente pela polêmica do tema, mas, principalmente, pelo grau de sinceridade e de como o discurso do presidente russo pode ser incisivo em vários momentos. Vale muito a pena a experiência de assistir a essa série de entrevistas. E, não se esqueça: vá a São Petersburgo, recomendação do próprio Putin à esposa de Stone. Imperdível!

 

Batata Antiqualhas – Spock e Leonard. Dualidade que se Completa (Parte 2)

                                  Um jovem Nimoy

Vamos hoje continuar a falar sobre as vidas de Leonard Nimoy e de Spock.

Após reconhecer que o título “Eu Não Sou Spock” foi altamente infeliz, o ator fala que absorveu muito do personagem vulcano em seu estilo de vida, escutando, inclusive, “vozes” de Spock em sua cabeça. O mais curioso é que o vulcano também tem muito de Nimoy, já que os dois têm um espírito (ou “katra”) “outsider”, ou seja, aquele carinha diferente que é visto de forma marginalizada por um determinado grupo. Nimoy era um judeu filho de ucranianos perseguidos pelo regime soviético e que vivia num bairro italiano de Boston. Assim, ele já se sentia “diferente” desde o início, pois seus amigos de infância seguiam uma religião diferente da dele. A experiência “outsider” continuou em suas primeiras inserções no meio artístico. Ele se recorda de, em sua infância, ter assistido num cinema de Boston a uma sessão de cinema do filme “O Corcunda de Notre Dame”, com o impecável Charles Laughton no papel de Quasímodo e Maureen O’Hara como a cigana Esmeralda. Nimoy se lembra de como ele se emocionou ao ver o sofrimento do corcunda, extremamente feio e, por isso, zombado e humilhado pelas pessoas, ao mesmo tempo em que clamava pelo amor e aceitação da cigana. Nimoy se identificou com o personagem e foi às lágrimas. O ator acredita que a semente de Spock foi plantada aí. Ele era um menino tímido, mas se sentia seguro representando, pois ele não seria culpado pelas ações e palavras, já que estas viriam de um texto que ele interpretava. E assim, nosso ator lançou-se na vida artística, onde seu primeiro papel foi o João de “João e Maria”, aos oito anos. Com dezessete anos, ele interpretou um personagem chamado Ralphie, alienado, reprimido pela mãe e em busca de identidade. Tal personagem despertou nele um sentimento de responsabilidade e amor pelo ofício de interpretar, fazendo Nimoy ficar decidido a ser ator. Mas os pais não aceitaram isso, pois eles viam a vida de uma forma muito prática, onde o trabalho duro era uma obrigação. O passado opressor de perseguições políticas e a realidade dura da depressão (lembremos que Nimoy nasceu em 26 de março de 1931) não davam margens aos pais de Nimoy para “cabeças de artista”. Sem o apoio da família, nosso ator vendeu aspiradores de pó para comprar uma passagem de trem para a Califórnia, onde vendeu sorvetes e sodas, além de ser taxista. Aqui, a aproximação com Spock é evidente, pois o vulcano também sofreu a desaprovação de seu pai Sarek, já que ele queria entrar para a Academia da Frota Estelar, quando o pai o queria na Academia de Ciências de Vulcano. Essa desaprovação paterna sofrida por Nimoy o ajudou a compor tal faceta de Spock.

Kid Monk Baroni , seu primeiro grande papel de destaque

Em 1951, com vinte anos, Nimoy teve a sua primeira grande oportunidade em Hollywood, sendo escalado para protagonista num filme intitulado “Kid Monk Baroni”, onde ele interpretava um lutador de boxe com uma deformidade de nascença no rosto (a palavra “Monk” vinha de macaco mesmo!). Mais um “outsider” na vida de Nimoy. Os pais do ator viram o filme e choraram sem parar, de tanta emoção. Tanto Quasímodo quanto Kid Monk marcaram muito Nimoy, apesar dos muitos personagens feitos por ele.

Na próxima parte desse artigo, vamos ver como Nimoy conheceu Gene Roddenberry e chegou a “Jornada nas Estrelas”. Até lá!

Quasímodo, identificação total. Lado “outsider”

 

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