Chegamos ao décimo-primeiro episódio de “Jornada nas Estrelas, Discovery”. “O Lobo Interior” dá continuidade à saga do Universo Espelho, nessa temporada altamente fragmentada em micro-arcos. Esse episódio tem uma característica peculiar logo em seu início: o teaser (aquela parte do episódio antes da vinheta de abertura) tem 14 minutos, o mais longo até agora nessa série e, talvez, em toda a franquia. Esse teaser foi marcado inicialmente por Stamets abraçado a Culber, falando de florestas e árvores, mais uma de suas charadas que serão elucidadas posteriormente. Ainda, tivemos uma Burnham toda reflexiva ponderando se ela vai aguentar todo aquele cotidiano do espelho sem mudar a si mesma. Apesar da boa vontade da reflexão, confesso que achei essa parte muito enfadonha. E, ainda, apareceu algo altamente inquietante: um Saru como escravo particular de Burnham. Ora bolas, se estamos no Universo Espelho, será que os kelpianos não deveriam ser extremamente agressivos como predadores e Saru teria uma posição até mais alta na Shenzhou, em virtude de sua selvageria? Ou, quem sabe, Saru tivesse até um posto de capitão em outra nave? Se a Tilly era a capitã da Discovery, por que não Saru? Foi estranho, e até pegou mal, Saru ser ainda mais submisso no Universo Espelho. Outro detalhe foi a condenação à morte de três tripulantes, sendo teletransportados para o espaço, onde morriam congelados. Sem a gente querer se lembrar dos detalhes científicos da coisa, mas já lembrando, se uma pessoa está no espaço sideral sem qualquer proteção, ela não congela, mas sim explode. Como vivemos na superfície da Terra, com muito ar em cima da gente, e sob a pressão de uma atmosfera, nosso corpo tem que contrabalançar essa pressão de uma atmosfera. Se ele fica no espaço sem pressão atmosférica nenhuma sobre seu corpo, a pressão que está dentro de nosso corpo tende a expandir o organismo até explodi-lo. Ou seja, não dá nem tempo para congelar. Mas como nas séries de ficção científica, o fogo e o som se propagam pelo espaço mesmo…
Um problema surge aqui. Os dados da Defiant não poderiam ter sido transmitidos à Discovery sem serem interceptados pela Shenzhou. Burnham terá que enviar o disco físico com os dados para a Discovery. E a forma como ela conseguiu isso foi legal, como ainda veremos aqui.
Um outro detalhe digno de nota foi a tentativa empreendida por Tilly de salvar Stamets de seu estado letárgico. A cadete acreditava que era a mais qualificada para tratar de Stamets, que estava morrendo, e empreendeu um tratamento à base de esporos que acabou matando o engenheiro. Coisas de Tilly. Entretanto, a atividade cerebral de Stamets ligada à rede micelial voltou e ele se viu numa floresta (o que ele dizia no início do episódio), onde encontra a sua versão do Universo Espelho, perguntando se ele estava pronto para o trabalho. Mais mistério por aí.
Mas a história principal do episódio está na descoberta da base rebelde. Burnham foi incumbida de destruir a base. Entretanto, ela desce com Tyler para fazer contato com o “Lobo de Fogo”, o líder dos rebeldes, que na verdade, é Voq, o que deixa Tyler, digamos, um pouco descontrolado. Burnham consegue convencer os rebeldes de que quer ajudá-los, depois que um Sarek de cavanhaque faz um elo mental com a moça e descobre que ela tem boas intenções, mas Tyler bagunça todo o coreto, atacando um Voq que lidera uma rebelião multirracial contra a Terra, ao invés de garantir a sobrevivência da cultura klingon. Depois desse momento tenso, o certo seria Voq e os revoltosos retalharem Burnham e Tyler, certo? Mas não foi isso que aconteceu, e Voq ainda continuou a acreditar em Burnham depois que Sarek reiterou as boas intenções da terrestre. Cá para nós, a coisa realmente ficou muito Mandrake aqui. De qualquer forma, ficou acordado entre Burnham e Voq que os rebeldes teriam uma hora para evacuar a base. Em troca, Burnham tinha que mostrar uma prova de que a sua missão foi bem sucedida. Ela recebeu uma base de dados que mostrava a localização das bases rebeldes que seria logo inutilizada. Nessa parte da base rebelde, houve mais uma parte um tanto chata, onde Burnham ficou filosofando com Voq como ele aceitava a diversidade dos revoltosos e ainda mantinha o orgulho da própria cultura klingon. Esse diálogo lembra um pouco, e de longe, a mesma conversa que Kirk teve com o Spock do Universo Espelho, onde o capitão tentava estimular o vulcano a se revoltar contra o Império Terrestre. Mas não caiu muito bem nesse contexto (só serviu mesmo para fazer Tyler surtar). Creio que tal conversa se encaixaria melhor numa situação futura. Na verdade, Burnham tenta fazer uma aliança com os rebeldes, liderados por um klingon, para ver se ela consegue um tratado de paz com os klingons em seu Universo. Só que essa ideia precisa ser melhor gerida nos próximos episódios e não jogada aqui de qualquer jeito.
Pelo menos, a identidade secreta de Tyler (um Voq transformado) foi revelada aqui para Burnham. E isso porque Tyler ainda falou a ela que tinha um elo com L’Rell e que assassinou Culber. Para coroar toda a decepção de Burnham, Tyler ainda tenta matá-la, sendo salva por Saru no último momento. É claro que Tyler foi condenado à morte no teletransporte para o espaço (colocado didaticamente no início do episódio) e Burnham aproveita a situação para colocar o disco com as informações da Defiant no bolso da roupa de Tyler, depois de lhe dar um soco, pois Tyler, depois de transportado para o espaço, foi interceptado pela Discovery e transportado para lá.
O episódio termina com uma nave do Império chegando antes da evacuação dos rebeldes e destruindo toda a superfície do planeta. Quem comandava essa nave? Isso mesmo, a Imperatriz… Georgiou!!! Algo que já era esperado, pois a versão dublada da série mencionava uma imperatriz e não um imperador. De qualquer forma, isso deu um sabor especial ao final do episódio, tornando-o relativamente bom e sendo o seu principal ponto positivo. Revelar Tyler como Voq transformado foi também algo bom, pois fechou-se algo que já estava sendo germinado há vários episódios. Resta ver o que Voq e L’Rell vao fazer ainda na série.
O arco inaugurado com os rebeldes pode ainda dar um bom caldo, pois eles não devem ter morrido e devem estar mortos de raiva da Burnham (pelo menos é o que eu espero). Agora, a grande expectativa vai ser o encontro entre Burnham e Georgiou, sobre os olhares atentos de Lorca que, segundo as redes sociais, parece ser cada vez mais originário do Universo Espelho. Assim, se Discovery não é uma série padrão Jornada nas Estrelas, principalmente em termos de cânone, ainda assim está conseguindo produzir uma história um tanto instigante em seu arco final, com curiosas expectativas à vista. A se lamentar nesse episódio, o monólogo de Burnham ao início do episódio e seu diálogo com Voq um tanto fora de contexto. Esperemos, como sempre, quais os rumos a série tomará no próximo episódio.
https://www.youtube.com/watch?v=RBL3WWVX4Hk
Na verdade, nosso corpo não explode no espaço, como muitos ainda acreditam. A diferença de pressão é muito pequena, temos pressão de uma atmosfera na superfície da terra, e “pressão” de zero atmosfera no espaço. Ou seja a diferença é de apenas uma unidade, coisa que nosso corpo aguenta com facilidade, se não implodir íamos ao mergulhar a dez metros de profundidade no mar. Enfim a série acertou na morte, morreriam os congelados no espaço.
Bom, ainda fica a pergunta: por que a roupa dos astronautas é toda pressurizada? Não seria mais barato pressurizar somente a região da cabeça e proteger o resto do corpo contra o frio e o calor intenso então?
É uma boa pergunta, que deve ter uma resposta bem técnica. Fica a sugestão de uma pesquisa minuciosa para um artigo explicativo aqui pelo senhor potato. Já sobre a morte no espaço deixo o link de um artigo bem simplesinho falando sobre isso. https://www.tecmundo.com.br/ciencia/15409-qual-seria-a-sensacao-de-morrer-no-vacuo-do-espaco-.htm