Outro tesourinho…
Mês: abril 2018
Batata Literária – Porrada!
Sou um Pit-Boy!
Quero dar porrada!
Muita porrada!
Nos fracotes!
Nos viados!
Nos caras do outro time!
Nas domésticas do ponto de ônibus!
Nos índios e mendigos!
Saio com uma galera aí!
Junto com eles, sou muito corajoso!
Mas, se estou sozinho
Meto meu rabinho entre as pernas
Gostamos de pegar umas meninas
Às vezes, elas ficam com a gente
Noutras vezes, ficam também
Porque, se não querem ficar, a gente mete a porrada!
Mas eu quase não fico com mulher
Elas são um bicho muito esquisito!
Na verdade, nunca vi uma buceta ao vivo!
Só vejo nas minhas punhetas
Dizem que elas abrem as pernas se a gente for carinhoso
Uma vez, tentei ser carinhoso
Aí, a mina me sacaneou
E, como sempre, desci a porrada
A menina foi embora
Falou que ia falar tudo para uma tal de Maria da Penha
Ah, nem liguei!
Saí com meus amigos
Queria dar mais porrada
Mas veio a PM
A mina dentro da patrulhinha
É, dessa vez quem entrou na porrada fui eu!
Batata Movies – Soldados do Araguaia. Revirando Um Passado Negro.
Um importante documentário está em nossas telonas. “Soldados do Araguaia” fala, antes de denunciar as atrocidades cometidas pelos militares contra os guerrilheiros do Araguaia, na primeira metade da década de 70, das atrocidades cometidas pelos militares contra os soldados do próprio exército, que foram convocados para a caça aos guerrilheiros.
O diretor Belisário França (o mesmo diretor de “Menino 23”) fez um ótimo trabalho de reconstituição com imagens de arquivo ilustrando todos os horrores dos depoimentos dos soldados, que foram submetidos a torturas sem qualquer motivo, sob a alegação de que eles deveriam ser preparados para uma guerra. Alguns desses soldados, segundo seus próprios depoimentos, perderam os testículos nessas torturas, assim como eram obrigados a beber lama ou a ficarem empapuçados de açúcar e nus na floresta, sendo picados por formigas, marimbondos e todos os tipos de insetos que eram atraídos pelo açúcar.
Esses militares também testemunharam os horrores cometidos contra os guerrilheiros, onde puderam ver sacos cheios de cabeças e mãos, além do fato de que prisioneiros vivos eram supostamente enviados para Brasília por helicópteros e, ao invés disso, teriam sido lançados vivos a cachoeiras, já que o helicóptero voltava de viagem apenas cerca de meia hora depois.
Após o fim da operação, muitos desses soldados simplesmente foram dispensados e tiveram ordens estritas de nada dizer sobre tudo aquilo. Alguns não aguentaram os tormentos psicológicos e se mataram. Outros, como podemos ver nas entrevistas desse documentário, permanecem seriamente abalados depois de mais de quarenta anos do ocorrido.
Definitivamente, é um documentário assustador, mostrando a que ponto a humanidade pode chegar em todas as suas atrocidades. Tais ações do exército em nada se parecem diferentes das ações cometidas pelo mesmo exército para reprimir revoltas no interior do Brasil na virada do século passado, como as vistas em Canudos ou no Contestado, onde a população pobre foi completamente dizimada. A Guerrilha do Araguaia foi somente um pequeno exemplo de que tais práticas ainda podem ser cometidas em dias mais próximos de nosso presente. Quando vemos “Soldados do Araguaia”, parece que reviramos uma grande quantidade de sujeira debaixo do tapete, sujeira essa escondida pela anistia de 1979. De qualquer forma, esse é um filme onde o cinema cumpre sua função social de denúncia, além de ser um importante instrumento de reflexão sobre quais rumos queremos para o nosso país, tão entupido de ódio e intolerância nos dias de hoje. Esse é um programa obrigatório para todos nós, seja de qual espectro político for.
Batata Arts – Tesouros da Batata (55)
Mais um tesouro…
Batata Literária – Fundo do Mar
Glub, Glub, Glub!
Lá vêm os peixinhos!
Eles passam, todos rapidinhos!
Zás! E lá vai o cardume!
Desço cada vez mais
O azul vai se tornando mais escuro
A luz do Sol diminui
O que será que encontrarei lá embaixo?
Que mundo estranho!
Mortal para os navegadores de antanho!
Paraíso de antigos monstros marinhos
Hoje, campo de pesquisa dos biólogos
Ih! Olha lá! Um polvo!
Pintando o mar com o seu espesso nanquim
Seus tentáculos são véus, pode se dizer assim
Causando profunda impressão em mim
Mas, o que realmente me aterroriza
É o grande tubarão que desliza
Na imensidão de salmoura
O bichão parece estar à toa
Mas ele é um predador perfeito
Caçando sangue alheio
Desde tempos pré-históricos
Época dos dinossauros heroicos
Chego, finalmente, lá embaixo
A pressão da água é descomunal
E não há qualquer luz, afinal
Um breu total
Mas, eis que surgem luzes
Tais como vaga-lumes
São seres marinhos de luz própria
A natureza tem estranhos costumes
Batata Séries – Jornada nas Estrelas, A Série Clássica. Um Gosto de Armageddon. Guerra Limpa.
A seção Batata Séries está de volta e hoje vamos falar do vigésimo-terceiro episódio da primeira temporada da série clássica de Jornada nas Estrelas. “Um Gosto de Armageddon” fala de leis e dos horrores da guerra, novamente abordando (de forma velada) a questão da quebra da Primeiras o Embaixador Fox insiste em ir ao planeta para estabelecer relações diplomáticas. Como o Embaixador tem mais autoridade que o capitão nessa situação, a Enterprise se dirige ao planeta e estabelece órbita padrão. Ao entrar em contato com os habitantes, o capitão fica sabendo que Eminiar VII está em guerra com o planeta vizinho Vendikar, mas não se presencia qualquer sinal de guerra. Tudo está no lugar, não há destruição e mortes. Aos poucos, Kirk e seus comandados descobrem que esta é uma guerra limpa, onde ataques simulados provocam uma espécie de destruição virtual onde mortos são contabilizados. Quem morre nesses ataques simulados precisa se apresentar voluntariamente às câmaras de desintegração. Durante a estadia do capitão no planeta, há um ataque bem onde ele está e a própria Enterprise foi destruída. Kirk agora terá que convencer os habitantes do planeta Eminiar VII a se desfazer dessa visão peculiar de guerra usando meios, digamos, pouco ortodoxos para isso (se é que há alguma ortodoxia para tal ação).
Esse é um típico episódio de quebra da Primeira Diretriz, como foi dito acima. Curiosamente, ela nem é citada em todo o desenrolar do episódio. Sua única lembrança é o questionamento de Kirk (justamente ele, acusado de violar a Primeira Diretriz seguidas vezes) contra as ordens do Embaixador Fox de se aproximar de Eminiar VII mesmo com uma mensagem do planeta proibindo estritamente essa aproximação. No mais, quando a Enterprise é posta em perigo, até Kirk chuta a Primeira Diretriz para escanteio, usando a típica “diplomacia de cowboy”, que Spock mencionará décadas mais tarde no episódio “Unification” de Nova Geração. E aí, tome aquelas brigas tacanhas que a gente vê na série clássica, e que não eram exclusividade dela na década de 60 (eu assistia a “Viagem Ao Fundo Do Mar” quando era criança e a gente via uma coisa parecida por lá). De qualquer forma, elas sempre são muito bem vindas por serem extremamente divertidas.
Uma coisa que chama muito a atenção é a definição de guerra com a qual o episódio trabalha, onde ela é vista como uma coisa selvagem, bárbara e destrutiva, não podendo durar muito tempo, e obrigando as partes em conflito a estabelecer negociações. Com a visão de “Guerra Limpa” de Eminiar VII, o conflito passou a se arrastar por 500 anos, mas não houve destruição da civilização e da cultura, desde que a cota de mortos fosse cumprida. Caso não houvesse essa autoimolação, o acordo seria violado e os horrores da guerra voltariam. Assim, Kirk, num risco calculado, toma a posição do “bárbaro” (ao seu melhor estilo de chutar o pau da barraca) e faz de tudo para que os dois planetas mergulhem numa guerra de verdade. Ele acredita que, em tal situação, as partes em litígio preferirão discutir a paz. Mas será que isso mesmo vai acontecer? Assim, a grande moral da história é “não deixe para amanhã o que você pode fazer hoje” ou, em algo mais próximo à nossa cultura, “vamos parar de empurrar os problemas com a barriga”.
O episódio tem uma tiradas inesquecíveis, como as de Spock. Primeiro, o Vulcano, dentro da prisão, usa sua sonda mental para sugestionar à distância o guarda do lado de fora. Mais uma vez vemos Nimoy com seu gestual lento e calculado, usando magnificamente a ponta dos dedos contra a porta e a parede, de uma forma muito suave. Num segundo momento, ele fala para um guarda do planeta que há uma criatura artrópode em seu ombro. Quando o coitado olha para seu corpo, Spock mete a sua mãozona com contornos de aranha no ombro do guarda, provocando o desmaio. Há, ainda, um terceiro momento, onde Spock dizia que entendia as atitudes de Eminiar VII e Vendikar, mas que não concordava com isso (ou seja, entender nem sempre significa concordar). O diálogo do final do episódio, onde havia a reflexão de tudo o que havia acontecido, foi genial. Ao Spock ficar impressionado com o risco que Kirk assumiu, ele disse ao seu capitão: “O senhor quase me fez acreditar em sorte”, ao que Kirk retrucou “E o senhor quase me fez acreditar em milagres”, reconhecendo a contribuição de Spock na crise, mas também não perdendo a oportunidade de dar uma zoadinha em seu lógico Primeiro Oficial.
Outro detalhe curioso foi a figura do Embaixador Fox. Tomado na maioria do episódio como uma espécie de idiota que não conseguia enxergar as artimanhas dos habitantes de Eminiar VII, sendo um peixe fora d’água em situações de guerra e de crise extrema, o Embaixador se revelou extremamente útil ao fim do episódio, quando ofereceu seus serviços para estabelecer relações diplomáticas e de paz entre os planetas litigantes. Ou seja, o episódio acabou tendo uma diplomacia de cowboy, ma non troppo.
Assim, “Um Gosto de Armageddon” é um típico episódio de Jornada nas Estrelas, a Série Clássica. Uma inteligente reflexão, acima de tudo, chutes na Primeira Diretriz, Kirk sendo Kirk (mas também Kirk sendo hippie ao defender a paz), lutas tacanhas e Spock tocando o horror com seus dedos longilíneos e delgados, tudo isso regado a uma boa dose de humor muito inteligente. Como amo essa série!
Batata Movies – Jogador Número 1. Easter Eggs Em Tempos de Páscoa.
Estreou, no último dia 29 de março, “Jogador Número 1”, dirigido por Steven Spielberg. Baseado na obra de Ernst Kline, esse filme somente poderia estrear numa quinta-feira santa, pois ele é um Easter Egg por excelência, é o grande filme das referências de todos os tempos, um prato cheio para a cultura nerd, pop e geek.
Mas, no que consiste a história do filme? Estamos no ano de 2045, onde as pessoas mais pobres vivem em favelas construídas com trailers e andaimes amontoados. Tudo é distópico, feio e sujo. Mas há uma luz no fim do túnel: o grande programa de realidade virtual Oasis, uma espécie de videogame onde as pessoas se relacionam com outras através de seus avatares. Wade Watts (interpretado por Tye Sheridan) é uma dessas pessoas, tendo uma vida simultaneamente idílica e desafiadora naquele ambiente virtual. Mas, um belo dia, é anunciada a morte do criador do Oasis, James Halliday (interpretado por Mark Rylance), o grande responsável por esse mundo irreal em que todos se escondem de suas vidinhas reais miseráveis. Mas Halliday deixa uma pequena mensagem gravada, onde desafia todas as pessoas a procurarem três chaves escondidas no Oasis, que abrirão uma espécie de portal que dará todo o controle desse mundo virtual (e muita riqueza) ao vencedor. Todos começam a procura ensandecida pelas chaves, inclusive a poderosa empresa IOI, liderada por Sorrento (interpretado pelo “Diretor Krennic” Ben Mendelsohn). Assim, Wade e seus amigos reais/virtuais irão lutar contra Sorrento e toda a sua ganância pelo controle do Oasis.
Eu disse que o filme é uma espécie de Easter Egg por excelência, já que a película está apinhada de elementos da cultura pop, nerd e geek. Podemos ver, por exemplo, o De Lorean de “De Volta Para o Futuro”, o batmóvel da série “Batman” da década de 60 com o Adam West, a motocicleta do Kaneda de “Akira”, o King Kong como obstáculo intransponível numa corrida cheia de automóveis, e muitas outras referências, inclusive musicais, das décadas de 70 e 80, como “1984”, de Van Halen, ou músicas do Blondie e de Cindy Lauper. Só isso já faz o filme ser um deleite para qualquer marmanjo pré-cinquentão. No mais, parece que temos um imenso videogame rodando um jogo inspirado em RPG, onde algumas questões como o fato de ser melhor você não conhecer pessoalmente o dono do avatar com o qual você interage, são discutidas. O filme também não deixa de ter o seu quê de ação e diversão juvenil, com situações hilárias provocadas pela interação entre o mundo real e virtual.
Uma boa presença no elenco foi a de Simon Pegg, onde ele interpretou Ogden Morrow, um antigo amigo de Halliday com quem acabou tendo alguns problemas de relacionamento. Aliás, esse é um detalhe bastante interessante do filme, pois para resolver o enigma das três chaves, Wade tinha que estudar detalhes da vida pessoal de Halliday, onde a vida do criador do Oasis ocupava uma parte central do RPG eletrônico, numa mostra do real invadindo o virtual (geralmente vemos o oposto).
Assim, “Jogador Número 1” é mais um divertido filme de Spielberg, que busca fazer projeções para o futuro. Só não sei dizer ainda se essas projeções são utópicas ou distópicas, pois há argumentos suficientes no filme para validar as duas hipóteses. De qualquer forma, o filme é um bom entretenimento e vale a pena dar uma conferida.
Batata Mangá – Pluto. Matando Robôs.
A Editora Panini (Planet Mangá) fez um interessante lançamento para quem gosta de mangás de Sci Fi. “Pluto”, escrito por Naoki Urasawa, é livremente inspirado em “O Maior Robô da Terra” da série “Astroboy” de Osamu Tezuka, e é uma história sobre robôs. Já conhecemos bom a literatura de robôs de Isaac Asimov aqui no Ocidente. E agora, um mangá volta a abordar esse Universo, com uma pegada, digamos, mais policial.
É uma época no futuro onde robôs e humanos coexistem. Haverá toda uma série de assassinatos cujas vítimas serão robôs ou humanos simpatizantes de direitos de robôs. A primeira vítima é Mont Blanc, uma espécie de herói local da Suíça. A segunda vítima é Bernard Lanke, membro da Sociedade Protetora dos Direitos dos Robôs. Em seus corpos, chifres são improvisados em suas cabeças pelo assassino. Quem conduzirá as investigações dos homicídios será Gesicht, um inspetor da Europol, que também é um robô, sendo um dos mais desenvolvidos do planeta. Logo, mais robôs com grande potencial são assassinados e Gesicht percebe que ele também está entre as potenciais vítimas. Ao fim do primeiro número, ele encontra Atom, um jovem garoto robô que era o personagem principal da saga de Tezuka.
Com o primeiro volume dessa história lançado, a impressão que se dá é a de que teremos um grande mangá pela frente. O único problema, inerente a todos os mangás aqui no Brasil, e extremamente grave, é a continuidade da disponibilização dessa série nas bancas e livrarias, já que a entrega dos volumes é altamente instável. A gente pode esperar meses por aqui por um novo número. E quando ele chega às nossas mãos, já nos esquecemos da história do volume anterior há muito tempo, o que faz com que a leitura de um mangá se torne por aqui um grande exercício de paciência. Mas, após esse pequeno desabafo, voltemos a “Pluto”. Existe uma coisa que chama a atenção logo de cara: a história não se passa no Japão e sim na Europa, onde Gesicht se encontra em solo alemão. Ainda, vemos algumas insinuações de Asimov na história, como em leis onde robôs não devem ferir seres humanos (tal como nas Três Leis da Robótica de Asimov) e situações onde robôs são amados como heróis, como no caso de Mont Blanc, aqui já contrastando com a visão de preconceito total que os humanos tinham com os robôs nas histórias de Asimov. Ainda assim, os assassinatos em série de robôs voltam a aproximar a história do Universo Asimoviano, sobretudo quando nos lembramos de seu romance policial “Caça aos Robôs”. É curioso também perceber nesse primeiro número, a presença de um robô que foi enclausurado por ter matado uma pessoa, robô esse que recebe a visita de Gesicht para tentar algum avanço nas investigações. Outro detalhe intrigante é uma tal de 39ª Guerra na Ásia Central, onde ela apenas é citada, mas não foi bem explicada ainda. Espera-se que vejamos isso nos próximos números. No mais, há também outro elemento: o de como alguns robôs procuram ter uma vida, digamos, mais humana. Gesicht, por exemplo, tenta planejar uma viagem com sua esposa, também robô, para se curar de uma suposta fadiga provocada pelo excesso de trabalho, assim como temos um casal de robôs que adota crianças, dada a sua impossibilidade de terem filhos.
Assim, “Pluto” é um instigante mangá que vale a pena a atenção do leitor, pois ele combina romance policial com ficção científica, tudo isso com um tempero de Tezuka, pois Atom, o conhecido Astroboy, foi incluído na trama bem ao final do mangá. Lamento pelos spoilers, mas acho que eles foram um bom cartão de visitas para chamar a atenção para os volumes vindouros. Que eles não demorem muito para chegar às nossas mãos.