Batata Mangá – Inspector. A Vida Controlada Pelo Sistema (Operacional).

Capa do Mangá

A Editora Panini (Selo Planet Mangá) nos traz outro lançamento de mangás japoneses. “Inspector – Akane Tsunemori” lança mão de uma importante questão: até onde nossas vidas, num futuro não tão distante, serão reguladas e controladas pela máquina? Quais são os prós e contras de tal situação? Isso seria uma utopia ou uma distopia? As páginas desse mangá adulto (ele é inadequado para menores de 18 anos) irão buscar uma reflexão sobre esse assunto. Sem nos esquecermos de que esse mangá cumpre um “caminho inverso” e é baseado no anime “Psycho Pass”. Geralmente, vemos animes baseados em mangás, justamente o oposto. Ah, sim, a autoria (arte) do mangá é de Hikaru Miyoshi.

Akane no anime…

No que consiste a história? A Akane Tsunemori em questão é uma mocinha que é um prodígio de inteligência numa sociedade de um futuro relativamente próximo a nós. Esse mundo é todo controlado por um sistema operacional de nome Sybil, que deu um diagnóstico para Akane de aptidão para cumprir várias funções públicas altamente qualificadas. Geralmente, o Sybil seleciona pouquíssimos ou somente um ofício para cada pessoa, praticamente determinando a carreira e a vida profissional do indivíduo. Mas Akane podia escolher várias carreiras, o que lhe perturba muito. Curiosamente, a moça escolheu o ofício de inspetora da Agência de Segurança Pública, pois apenas ela poderia cumprir aquele emprego e, dentro de uma visão altamente altruísta, ela deixou suas outras aptidões possíveis para outras pessoas. E aí, seguindo um trecho da Constituição do Japão (“Faz o que deve ser feito aquele que é capaz de fazê-lo”), Akane começa seu ofício de Inspetora. E o que ela tem que fazer? Comandar e controlar os chamados executores, pessoas que têm um alto coeficiente criminal no seu chamado “psycho pass”; tal coeficiente, medido por números e cores que podem ser fortes e turvas, indica a propensão psicológica que as pessoas têm para cometer crimes futuros (nesse ponto, lembramos muito da parceria entre Tom Cruise e Steven Spielberg em “Minority Report”). E quem mede tal coeficiente? Isso mesmo, caro leitor, o Sybil! E o que os executores fazem, liderados pelo inspetor? Caçar e neutralizar os “criminosos latentes”, ou seja, pessoas de alto coeficiente criminal com uma pistola chamada “dominator”, totalmente controlada por computador, dando poderes para o inspetor sobre os executores. O problema é que se o tal coeficiente é muito alto, o criminoso latente é considerado irrecuperável e a dominator deixa de ficar ajustada para atordoar e é reajustada para matar. Para piorar, quem está relativamente próximo do criminoso latente, também tem o seu coeficiente criminal aumentado. Nesse trabalho, volta e meia há situações não previstas pelo sistema, formando bugs que colocam todos em situações de extremo perigo.

… e nos quadrinhos…

Essa, por incrível que pareça, é uma história altamente atual, pois o sistema operacional Sybil conseguiu reduzir altamente a criminalidade e os homicídios mas, em contrapartida, faz isso limitando a liberdade do indivíduo enormemente (tal como acontece nos dias de hoje, onde a liberdade é preterida em nome da segurança em várias situações), a começar por “selecionar” estatisticamente a vida profissional dos indivíduos e chegando ao ponto de usar a estatística para privar as pessoas de sua liberdade (a questão do tal criminoso latente), perturbando as pessoas ao invés de recuperá-las. Hoje em dia, temos outros mecanismos de seleção, como por exemplo, a seletividade social, que fornece um sistema educacional de baixa qualidade àqueles que possuem menor renda, sem falar dos rótulos que associam pobres a bandidos. Ainda, a questão da contaminação de outras pessoas pelo coeficiente criminal dos criminosos latentes parece muito uma alegoria de como o comportamento violento de nossas sociedades atuais gera ainda mais violência, como se a violência fosse um mal que se espalha e contamina tudo que vê pela frente tal como uma praga. Há, também, uma insinuação de que o Sybil, ao controlar as vidas das pessoas, tira também a vontade própria e a força de iniciativa do indivíduo, transformando-o numa mera engrenagem funcional de todo o sistema. Akane será a personagem que irá questionar as decisões do Sybil e se colocará em pé de igualdade com seus subordinados, para o espanto geral de todos, humanizando as relações. Ainda, ela terá um estranho relacionamento com um de seus executores, Kougami, que tem um passado nebuloso.

Kougami

A história também traz uma boa trama policial, relacionando os casos de crime que vão aparecendo ao longo da história. Isso exige uma atenção maior do leitor, sobretudo a partir do segundo volume do mangá. Uma coisa é certa: um grande vilão surgirá por aí.

Assim, “Inspector – Akane Tsunemori” vem com a promessa de uma instigante história, onde questões muito atuais como a limitação ou ampliação de nossas vidas pela informática e o combate à violência em troca da privação da liberdade são discutidas. Nossa protagonista questiona o sistema e busca humanizá-lo da melhor forma possível. Mas isso é somente o começo de uma história que merece ser muito bem acompanhada.

Os personagens do mangá…
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