Já passou da hora da Batata Espacial apresentar um conto de minha personagem, a Fada Safada. Ela é uma espécie de construção inspirada em vários personagens: Sininho, do Peter Pan, Jeannie (a Gênio do Major Nelson, lembram?) e qualquer coisa que tenha um quê mais cômico. Ela apareceu numa poesia que escrevi e cheguei a publicar alguns contos dela no Kindle (amazon.com.br). Os contos sempre são em forma de diálogo com seu amo, onde eles têm uma relação, digamos, platônica. A Fada Safada nada tem de safada no estilo da baixaria, muito pelo contrário. A safadeza dela está em colocar seu amo em maus lençóis na sua compulsiva aventura de espalhar o amor pelo mundo. Daí a mocinha de asas de lavadeira, que lança bombas de amor (“ela faz parte do movimento pink block “As Sininhos Comportadas”) e que precisa comer pilhas alcalinas para recompor suas energias (de preferência as pilhas do coelhinho cor de rosa). A Fada Safada está em qualquer lugar onde haja conflito, desde uma briga de casais no apartamento ao lado até a questão árabe-israelense no Oriente Médio e atua com firmeza contra o ódio no coração das pessoas, sempre com um quê infantil. Fiquem agora, com mais uma aventura da Fada Safada.
– Amo!
– Que foi, fada?
– Precisamos fazer outra viagem…
– Ai, meu Deus, de novo??? Por que???
– Tem um homem bobo lá em cima espalhando muito ódio entre as pessoas.
– Como assim?
– Ele manda naquele lugar onde muita gente é rica, e não deixa mais ninguém de lugares mais pobres entrar.
– Hummm, como ele é?
– Ele é laranja…
– Mas fada, a passagem para lá é muito cara… e como vamos entrar, se ele não deixa ninguém entrar lá?
– Ihhh, amozinho, você já se esqueceu da função zim?
– Eu tinha medo que você dissesse isso…
– Por que?
– Aquela que levou a gente para Israel e me deixou com náuseas?
– Isso!!!
– Ai, você não vai usar aquilo de novo, né?
– Ahhh, é rapidinho, você nem vai sentir nada…
– Não, fada, não faz isso não!!!
– Confia em mim, amoznho!!!
– Não, não, não!!!
– ZIIIIIIMMMMMMMMMMM!!!!!
* * *
– Ai, ui, ai…
– Tá melhor, amozinho???
– Putz, você fez de novo…
– Sorry.
– E novamente, eu estou todo zonzo e enjoado
– Acho que calibrei mal a velocidade. Foi mal…
– Onde nós estamos?
– No deserto, perto daquele muro feio…
– Ai, cacete, na fronteira? Mas aqui é perigoso.
– Deixa comigo…
– Que cheiro é esse? Gleid Sachê de lavanda de novo?
– Você sabe que eu pego sempre um pouquinho lá no banheiro para fazer o escudo antiódio.
– Assim vou ter que comprar duas latas nas compras do mês.
– Ihhh, você reclama muito! Você sabe que eu só uso um pouquinho em cada missão minha.
– O problema é que você tem feito muitas missões…
– O que eu posso fazer se todo mundo nesse planeta tá pirado?
– Ok, ok. O que vamos fazer agora?
– Tá vendo aquele homem feio de chapéu lá?
– Sim, ele está conduzindo um monte de pessos… cacete! Ele é um coiote!!! Vamos embora daqui!!!
– Não, não, amozinho! Ele tá de conluio com aqueles feios lá
– P-p-polícia de fronteira???? Mas e o homem laranja???
– Esse é numa segunda etapa. Agora, surgiu essa missão mais importante. Aquele tal de coiote vai ganhar dinheiro dos dois lados. Das pessoas e dos feios da polícia de fronteira.
– E o que você vai fazer???
– Adivinha????
– A bomba de amor??? Vai todo mundo desmaiar!!!
– Ai, amozinho, você tá reclamando muito. Toma aqui o capacete magnético!!!
– Como você conseguiu guardar um capacete desse tamanho nesse decotinho???
– Ah, amozinho, sou cheia de surpresas. Você sabe!!!
– É disso que eu tenho medo.
– Vamos lá! Atacar!!!!
* * *
-Stop! In the name of love!!!!
– Que carajo és esso? Una chiquita…
– What a fuck???
PLOFT!
* * *
– Tá falando inglês agora, é?
– Of course, my dearest!!!
– Bom, e agora, o que a gente faz? Tem mais de cinquenta pessoas desmaiadas…
– Eu trouxe o perfume das onze horas para acordar o povo…
– Daquela flor coloridinha que não tem cheiro?
– Isso mesmo. Vou usar para acordá-los.
– Não entendi nada, mas faz aí o que você tem que fazer.
– Ok, baby…
– Cê tá muito besta…
* * *
– Ai, amozinho, que bom que eles já conseguiram fugir daqui e foram para a casa de parentes que já estão há mais tempo nesse país!!!
– Será que eles gostaram da função zim?
– Meu periscópio mágico mostrou que eles ficaram com alguns enjoos, mas vão ficar bem…
– Você tem certeza?
– Claro, amozinho. Eles comem carne seca com pimenta no café da manhã. Relaxa…
– E os policiais e os coiotes?
– Já estão ali acordados, chorando de arrependimento por maltratar as pessoas.
– Eles vão ficar bem?
– Agora sim. Eles estavam mal era antes…
– E agora? O que vamos fazer?
– Adivinha???
– Oh, não…
– ZIIIIMMMMMMMMMMMMM!!!!
* * *
– Ai, ui, ai…
– Tudo bem, amozinho?
– Essa droga desse capacete não me protegeu.
– Ah, esqueci de trocar
– E onde ele está?
– Tá na outra metade do meu decote.
– Caramba, não vou nem perguntar
– E nem deve, amozinho. Mulheres têm segredos só seus…
– Tá. Onde estamos agora? Um lugar cheio de grama
– Nosso alvo tá lá naquela casa grande e sem graça.
– Mas é a Casa Branca!!!
– Pois é, né? Não podia ser rosa?
– Isso é em outro país, fadinha…
– Bom, vamos lá. Temos uma missão a cumprir.
* * *
– Olha lá! O Homem Laranja!
– Vamos fazer logo isso, fadinha. O efeito do Gleid Sachê tá acabando…
* * *
-Let´s terminate all fucking immigrants and construct an America only for White people!!! Hey, what´s that? A little fucking bitch????
PLOFT! PLOFT! PLOFT!
* * *
– Ugh, agora eu estava sem capacete nenhum…
– Já acordou, amozinho?
– Sim… é aí?
– Todos esses bobos aqui na coletiva de imprensa estavam desmaiados e já estão acordando.
– Olha só! Eles estão comentando que é uma covardia atacar imigrantes. E que vão escrever em seus jornais textos a favor da imigração.
– Assim, a minha bomba vai se propagar mais rápido…
– E o Homem Laranja?
-Tá ali, ó, chorando ajoelhado em frente a empregada que serve o cafezinho, que é do país do lado. Ele disse que vai dar a ela um cargo no governo.
– E ela vai ter competência para isso?
– Sim, amozinho, ela é formada em Relações Internacionais.
– Ai, que preconceito meu…
– Pois é, amozinho, parece que a bomba não faz mais tanto efeito em você…
– Será que eu estou desenvolvendo resistência à bomba?
– Eu vou tirar essa sua resistência quando a gente chegar em casa…
– Sério? E o que você vai fazer???
– Surpresaaaaaaaa!
* * *
– Amozinho, estou meio fraca.
– Você quer uma pilha?
– Duas. Mas aqui não tem a do coelhinho cor de rosa, né?
– Não, você sabe que não.
– É que essas pilhas importadas têm gosto de enlatado. Ah, vai duas dessas então
– Vou pegar da câmara de um fotógrafo
– Vai lá. Ele não vai reclamar. Ainda tá sob o efeito da bomba. Olha só como ele chora de arrependimento.
– Mas isso não é roubo, fadinha?
– Ele é da FOX, que já espalhou muito ódio por aí. Acho que não vai fazer mal. Qualquer coisa, pago a multa na Organização das Fadas Unidas.
– Tem isso também?
– Ahhh, tem muita coisa que você nem imagina.
– É nessas horas que eu tenho medo de você.
– Ahhh, amozinho, vai pegar pilha lá para sua fadinha, vai…
* * *
– Hummm!!! Chomp, chomp, chomp!!!
– Tá gostoso?
– Chomp, muito, chomp!
– Já dá para a gente voltar para casa agora?
– Sim, vamos lá. Bota o capacete anti zim!
– Colocado!
– ZIIIMMMMMMMMMMM!
* * *
– Amozinho?
– O que foi?
– Por que as pessoas estão escutando esses malucos todos no mundo?
– Ah, é porque há muito ódio por aí espalhado.
– Não sei seu vou aguentar combater todo esse ódio.
– Acho que você está precisando de umas férias.
– E você me levaria para viajar?
– Claro! Para onde você quer ir?
– Deixa eu ver aqui no mapa… hum, adorei esse aqui: Mianmar!!!
– Mas não é lá que tem uma ditadura que já vigora há décadas?
– Ah, amozinho, a gente espalha amor por lá rapidinho, depois pega uma praia…
– Fadinha!!!!
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