Mais um tesouro, nesse início de setembro…
Mês: setembro 2018
Batata Movies – Berenice Procura. Thriller de Enrustidos E Assumidos.
Um curioso filme brasileiro em nossas telonas. “Berenice Procura” é uma experiência razoável de nosso cinema pelo gênero do suspense, lançando mão do ambiente do “submundo” de Copacabana, onde temos as casas de shows de transformistas. Um homicídio irá acontecer. E o mistério será desvelado aos poucos com resultados surpreendentes (ou talvez nem tanto) ao final. Vamos precisar usar alguns spoilers aqui.
Temos aqui a história da tal Berenice (interpretada por uma jovial Claudia Abreu), uma motorista de táxi que circula pelas ruas de Copacabana. Ela tem um casamento turbulento com o jornalista Domingos (interpretado por Eduardo Moscovis) e tem um filho chamado Thiago (interpretado por Caio Manhente), que se envolve com a transformista Isabelle (interpretada por Valentina Sampaio). Um belo dia, Valentina aparece morta na praia. Enquanto o pai faz reportagens sensacionalistas na TV sobre o caso e o filho sofre intensamente com a perda de seu melhor amigo e amor, a mãe começa uma investigação por conta própria para descobrir o assassino, já que ela muito se compadece do sofrimento do filho.
Esse é um filme tem uma história instigante,fazendo um thriller bem adaptado à nossa realidade, contendo elementos como a homofobia, a exploração sexual dos transformistas, cuja “cafetina” é interpretada por Vera Holtz, e a mídia televisiva sensacionalista que transforma crimes em espetáculos, embora a investigação de Berenice não tenha ocupado a maior parte da exibição do filme. Ou seja, a trama de suspense foi pouco elaborada e de rápida solução, Entretanto, a história foi carregada de elementos que prendem a atenção do público e o roteiro consegue funcionar muito bem.
O filme também presta um grande serviço ao denunciar a situação de preconceito que os homossexuais sofrem, assim como a situação de violência ao qual eles estão submetidos, lembrando que eles são pessoas com aspirações, desejos, qualidades, defeitos e angústias como qualquer uma. A questão da crise conjugal e de relacionamento no seio das famílias também é discutida, onde as pessoas vivem distanciadas e pouco se conhecem dentro da própria casa.
Esse é também um filme de atores. Cláudia Abreu, a protagonista, consegue convencer muito bem como a taxista que trabalha no seu dia-a-dia, assim como a esposa que sofre no casamento e com o distanciamento de seu filho. Eduardo Moscovis teve um papel mais fácil, fazendo o antagonista cheio de defeitos e nenhuma virtude de uma forma bem eficiente, mas ele surpreende mais ao final (infelizmente, não posso entrar em detalhes). Vera Holtz também foi odiosa toda a vida como a cafetina da Casa de Transformistas, também pegando um papel relativamente fácil. Já Caio Manhente e Valentina Sampaio foram relativamente bem, embora não tenham tido tempo suficiente para mostrar mais do talento deles. Obviamente, o filme se sustentou mais nos atores conhecidos. Quem chamou a atenção foi Emílio Dantas, no papel de Russo, o irmão de Isabelle e que teve bons momentos com Vera Holtz, onde seus personagens tinham uma relação extremamente tensa. O ator demonstrou muita firmeza e carisma em sua atuação.
Assim, “Berenice Procura” é um interessante filme brasileiro que busca enveredar pelo suspense, mas recai também num dom drama psicológico. Esse é um filme que se pauta na atuação de atores consagrados. Um filme que serve como um bom entretenimento. Vale a pena dar uma conferida.
Batata Séries – Jornada Nas Estrelas Voyager (Temporada 5, Episódio 25), Warhead. Uma Bomba Nervosa.
Chegamos ao episódio 25 da quinta temporada de “Jornada nas Estrelas Voyager”. “Warhead” é um daqueles episódios onde uma inteligência artificial sensciente precisa superar os limites de sua programação para evitar uma grande tragédia. E aí, todo um debate é empreendido nesse sentido, tornando este episódio uma verdadeira guerra de argumentações.
Mas, no que consiste a história? Harry Kim tem o privilégio de controlar a ponte nas “madrugadas” dos turnos. Numa dessas madrugadas, ele recebe um pedido de socorro de um planeta próximo. Ao chegar ao planeta,a Voyager não detecta sinais de vida. Kim então acorda Chakotay e sugere que um grupo avançado desça lá. Chakotay concorda e diz que o próprio Kim poderia liderar esse grupo. O alferes desce com o Doutor e mais um tripulante, quando encontram um dispositivo eletrônico sensciente, que consegue se comunicar com o doutor. Eles transportam o dispositivo para a nave. Examinando-o mais a fundo, a tripulação da Voyager descobre que ele é uma arma de destruição em massa e tenta desativá-lo.
O dispositivo percebe isso e se apossa do corpo do Doutor, ameaçando destruir a nave e fazendo B’Elanna e Kim como reféns. Ainda, ele precisa cumprir sua programação, que é destruir um planeta inimigo da civilização que o criou. Os tripulantes da Voyager tentam dissuadir o dispositivo disso mas, de forma bem agressiva e ameaçadora, ele diz que tem que cumprir a sua programação e destruir a qualquer custo o planeta. Mas os tripulantes tinham conseguido analisar os circuitos de memória e viram que a espécie que havia criado o dispositivo já havia cessado as hostilidades contra o planeta alvo. A espécie (Druoda) enviou mensagens para todos os dispositivos-bomba, mas cerca de trinta deles não receberam a mensagem e ainda rumavam contra o planeta.
O próprio dispositivo que estava na Voyager tinha sido propositalmente desviado pelos Druodas para colidir com o planeta em que ele estava. Depois de muito argumentar com o dispositivo, ele finalmente se convence de que não há mais uma guerra em curso, mas ainda há o problema dos demais dispositivos que vão ao planeta alvo com a intenção de destruí-lo. O dispositivo, então, se sacrifica, voltando para seu mecanismo original e sendo colocado no meio dos demais dispositivos, se destruindo e a todos os demais.
O que mais chama a atenção nesse episódio? O apelo da tripulação em convencer uma inteligência artificial em ir além do que está estrito em sua programação e tomar decisões por conta própria para parar a guerra. É curioso notar que, por se tratar de uma arma de destruição em massa, o dispositivo era agressivo, quando podia ser desprovido de qualquer sentimento (como era o Data de TNG nas primeiras temporadas). Ficou um pouco forçado a gente ver o Doutor naquela beligerância toda. Outro detalhe que chama a atenção aqui foi a tentativa, por parte de Kim, de dissuadir o dispositivo a atacar, tentando usar argumentos totalmente racionais, sabiamente rebatidos pelo dispositivo. Kim também clamava pelo fato do dispositivo ser sensciente e ter o poder de tomar decisões por conta própria.
Assim, “Warhead” é um episódio mediano de “Jornada nas Estrelas Voyager” que apresenta a questão das inteligências artificiais desenvolverem consciência e começarem a superar a sua programação. Tudo isso regado a debates bem racionais. Não é um grande episódio mas merece ser lembrado e revisitado.
Batata Literária – Debate Floral.
Oi, Margarida!
Por que você está triste?
Ah, Rosa!
Não tem Sol para me banhar!
Aproveite o orvalho, Margarida!
Olha só como eu fico bonita!
Ah, Rosa!
Você é grande e vermelha!
As gotículas lhe caem bem como ornamentos!
Não é o meu caso!
Sou muito pequena e delicada!
Essas aguinhas me pesam…
Fico logo toda desmilinguida…
Mas veja a Hortênsia, Margarida!
Ela tem flores miudinhas
E segura a água com destreza!
Só que elas atuam em grupo, né, Rosa?
Eu sou sozinha!
Não aguento todo esse rojão!
E você pensa que eu aguento, Margarida?
Epa, você estava escutando a gente, Hortênsia?
Estava sim
Vocês é que pensam que eu carrego toda essa água na moleza
Minha forma de globo
Me faz carregar muito mais água
E aí, eu desabo logo, logo
Ah, mas vocês reclamam muito!
Por que, Rosa?
Quero ver se vocês passassem a dureza
Que a minha prima passa lá no deserto
Sem água praticamente o ano inteiro
Aquele Sol de rachar
Nem sei como ela aguenta
Ah, mas ela é muito casca grossa, né, Rosa?
Ah, mas mesmo assim
As pétalas delas são até mais duras
Parecem aqueles salgadinhos de batata frita
Sem falar que ela é muito rude
Mal educaaaada!
Tudo por causa daquele maldito Sol
Ih! Olha lá, Margarida e Hortênsia!
O que foi???
Seus traumas com água acabaram!
Por que?
Aí vem o vento!!!
Ufa, pelo menos vou me livrar desse peso na coluna
Ai, que droga!
Vou ficar toda descabelada!
Se segura aí, gente, lá vem ele!!!
Ponham o cinto de segurança?
Mas qual?
Aquele capim ali, ó!!!
VUUOOOOSHHHHHH!!!!!!!!!
Batata Movies – 50 São Os Novos 30. Uma Gatona De Meia Idade.
Um filme francês passou em nossas telonas. “50 São Os Novos 30”, de Valérie Lemercier, é uma película que nada mais é do que uma comédia despretensiosa de amor na meia idade. Um filme que, pura e simplesmente, tem o objetivo de entretenimento e nada mais.
A história começa com a decepção de Marie-Francine (interpretada por Valérie Lemercier), uma cientista cinquentona especialista em células-tronco, ao saber que seu marido a trocou por uma instrutora de tênis bem mais nova. Marie sai de casa e fica morando em um quartinho até descobrir que será mandada embora de seu emprego, o que a obriga a viver na casa dos pais, que a tratam como uma criança. Como não consegue emprego, ela começa a trabalhar numa lojinha de cigarros eletrônicos, onde vai conhecer Miguel (interpretado por Patrick Timsit), um cozinheiro português que trabalha no restaurante ao lado. A simpatia cativante de Miguel irá conquistar Marie paulatinamente. Mas esse amor será marcado por muitos desencontros e confusões que alimentam essa comédia romântica.
Realmente, não há muito o que dizer sobre esse filme. Não que ele seja ruim. O filme presta bem ao que se propõe fazer, que é provocar algumas risadas na plateia. Mas não passa muito mais do que isso. Pode-se falar, ainda, das boas atuações de Valérie Lemercier e Patrick Timsit, o casal protagonista, que esbanjou simpatia e teve uma excelente química. O mais curioso é que Lemercier interpretou também a irmã gêmea de Marie-Francine, Marie-Noelle, que era bem mais elegante e geniosa, o que ajudou a arrancar mais algumas risadas.
Já Timsit fez um português super bem humorado e de bem com a vida, sendo altamente cativante. Aproveitando o gancho lusitano do filme, a trilha sonora é bem exótica, com fados em português e francês (!) além de uma música latina bem quente, com direito a uma versão em francês de “No balancê”.
Ou seja, a parte musical é que acaba sendo a coisa mais original de um filme que segue aquela receitinha de bolo básica das comédias românticas: um começo de relacionamento regado a piadas, uma série de desencontros e mal-entendidos que geram mais situações cômicas e tensas, e o desfecho com uma cara de happy end, onde se resolve todos os problemas que aparecem ao longo da película, embora, no caso desse filme, os possíveis mal-entendidos que poderiam abalar o relacionamento do casal até se resolvem muito rápido, dando pouco espaço para o desenvolvimento de mais intrigas e situações inusitadas. Ou seja, uma história simples e rápida, de fácil digestão, para ser consumida num piscar de olhos.
Assim, “50 São Os Novos 30” é o tipo do filme que você vê apenas para distrair sua cabeça e nada mais. Um puro entretenimento para você passar uma tarde animada e ficar com a cabeça levinha, levinha. De vez em quando, até é bom.
Batata Mangá – Coin Laundry Lady. Curso Intensivo De Surrealismo E Bizarrice.
Mais um mangá de volume único nas bancas. “Coin Laundry Lady”, escrito e com arte de Hiro Kiyohara, é um tratado mangá de surrealismo e bizarrice à toda prova que, cá para nós, não foi lá grande coisa, de tão esquisito que ficou. O enredo é bastante simples: dois universitários vão a uma lavanderia para dar um trato em suas roupas e são surpreendidos por uma moça que vive na máquina de secar, que é totalmente louquinha de pedra.
O problema é que não temos uma história coesa do início ao fim, mas uma narrativa para lá de fragmentada, onde os protagonistas passam pelas mais loucas e inusitadas situações. Ainda, para apimentar um pouco mais a situação, o nosso mangaká também faz os famosos mangás hentai, aqueles com certo conteúdo erótico, e ele abusa de alguns fetiches por aqui como masoquismo e voyeurismo. Só que a coisa é tão bobinha que não alcança o pretenso resultado esperado de chocar (pelo menos não aos olhos de nossa cultura). O grande problema é que, por ser tão fragmentada, a narrativa até se torna confusa em alguns momentos, sem falar que é altamente bizarra e surreal.
Assim, a leitura não engrena e é altamente enfadonha. A gente até entende um pouco por que o mangá adquiriu tais contornos tão pouco ortodoxos quando vemos o depoimento de Kiyohara mais ao final, onde ele mesmo assume um quê um pouco infantil e solitário, além de assumir que a moça da máquina de secar é um alter ego seu (ambos têm hemorroidas, argh!).
Dessa forma, “Coin Laundry Lady” infelizmente não foi uma boa experiência. Se o autor tivesse, pelo menos, feito uma história com mais coesão, talvez a coisa ficasse um pouco mais aceitável. Mas do jeito extremamente fragmentado como ficou, até com uma rápida historinha totalmente diferente do contexto mais ao final, ficou um pouco difícil de acompanhar. Até porque, quando a gente compra um mangá, geralmente espera uma história que seja contada ao longo de toda a revista, que tem cerca de duzentas páginas geralmente, e não algo todo picotado. Uma pena.