Dando continuidade às nossas análises de filmes do Festival do Rio 2018, falemos hoje do bom documentário brasileiro “Carvana”, sobre o ícone Hugo Carvana. Embora eu não tenha assistido esse filme durante o Festival, ele lá esteve e considerei a pré-estreia que assisti uma espécie de “Última Chance” do Festival. Exibida no Odeon, a pré-estreia de “Carvana” contou com muitas personalidades, dentre elas Othon Bastos, Betty Faria e Antônio Pedro. Os familiares de Carvana e a diretora Lulu Corrêa também se faziam presentes. Todos receberam bigodes postiços (uma marca registrada do ator homenageado) e os usaram durante a exibição. A sala de espera tinha cerveja e sacanagem (um salgadinho com presunto, queijo, tomate, azeitona, etc., espetados em palitos de dente). A equipe de produção esteve à frente da plateia antes da exibição do filme e Lulu Corrêa fez um pequeno discurso comemorando a ocasião. Uma homenagem para lá de justa.
E o documentário em si? Ele trouxe a fala de Carvana em várias etapas de sua vida, onde a gente podia ver o ator dialogando com ele mesmo ao longo do tempo. Pudemos ver Carvana no começo, fazendo pontas em chanchadas, depois sua participação no Cinema Novo (e suas ligações marcantes com Glauber Rocha), as participações na TV (lembram de Valdomiro Pena e “Plantão de Polícia”?) e, principalmente, sua prolífica produção cinematográfica, onde ele criou todo um estilo próprio de se contar histórias, sem querer inovar mas com muito humor, com falas totalmente descoladas e situações non sense que assaltavam o fio narrativo da história que era contada. É claro que seu grande sucesso (na opinião deste humilde articulista), “Bar Esperança”, também estava lá (esse merece uma resenha por aqui).
São preciosas as cenas de making of de suas produções cinematográficas mais recentes, onde Carvana se pronuncia para a equipe de filmagem, trazendo suas impressões sobre a vida, a arte a que se propõe fazer, a importância dos amigos (para Carvana, todo o trabalho era uma oportunidade para rever as pessoas e estreitar os laços de amizade). Mas Carvana também atenta para momentos difíceis, como os calotes que toma ao produzir filmes.
Uma vez, ele ficou num beco sem saída, com 67 credores batendo à sua porta ao mesmo tempo! Ou então, nos períodos mais complicados da Ditadura Militar, onde o exílio o obrigava a viver longe de seu país, algo de que ele sentia muita falta, sem qualquer previsão de quando (e se) poderia retornar.
É um documentário feito com extremo carinho e se mostra de forma muito otimista. Principalmente porque há uma preocupação de se dar voz ao próprio Carvana, o melhor narrador de si mesmo e de sua vida. E como o homem era um otimista e amante da vida, fica muito fácil o documentário enveredar por esse quê mais otimista.
Dessa forma, “Carvana” é um documentário fundamental para quem gosta de cinema e quer ter uma boa noção da História Cultural recente do país, onde essa figura ímpar que foi Hugo Carvana teve uma participação bem prolífica. Um programa imperdível.