Batata Movies – Gauguin, Viagem Ao Taiti. Lançando-se De Cabeça A Um Novo Mundo.

Cartaz do Filme

Um filmaço francês. “Gauguin, Viagem ao Taiti”, não podia ter um título mais explicativo e sucinto. Quem tem um conhecimento mínimo em História da Arte sabe da saga do pintor Paul Gauguin em desbravar um Novo Mundo para encontrar inspiração para suas telas, que se tornaram ícones da Arte Universal e do Impressionismo. Pela força e pelo colorido de suas pinturas, sempre me pareceu que o pintor levava uma vida idílica e paradisíaca, cercado de belas mulheres, que alternavam com ele as telas de dia e a cama de noite. Só que o filme nos mostra que não foi bem assim.

Um pintor em desespero no paraíso

Em primeiro lugar, Vincent Cassel foi escolhido para o papel principal. Não podia ter essa sido escolha mais feliz. O ator conseguiu imprimir toda uma intensidade e desespero ao personagem, que fugia da França, pois não conseguia encontrar mais nada que fosse digno de se retratar e rumou em direção à Polinésia Francesa. A despedida não foi sem dor. Em dificuldades financeiras, o artista deixou para trás mulher e filhos completamente desguarnecidos. As telas que ele enviava não eram vendidas e logo a separação veio. O pintor também passava por dificuldades financeiras no Taiti, mas mesmo assim se casou com uma moça local, Tehura (interpretada pela bela Tuheï Adams), que serviu em toda a sua beleza para inspiração de seus quadros. O problema é que a “cabeça de artista” de Gauguin não se adequava às necessidades materiais e à estrutura do capitalismo, fazend0 com que nosso protagonista passasse junto com sua amada muitas dificuldades. Problemas graves de saúde com o coração e a diabetes, mais algumas aventuras extraconjugais de Tehura somente pioraram o quadro do artista.

Tehura, uma tentação em forma de mulher…

Na verdade, esse é um filme que desperta um duplo sentimento na gente. Em primeiro lugar, ficamos maravilhados com a força criativa do artista, que conseguia produzir lindas telas e esculturas. Mas, ao mesmo tempo, nos compadecemos muito das dificuldades pelas quais nosso protagonista passava, que vivia praticamente na mendicância, andando sempre mal vestido, sempre lutando com seus problemas de saúde, sempre se revirando contra a dor do adultério.

Uma relação conflituosa…

Tanta dor e sofrimento o levaram a tomar atitudes que podemos dizer que não eram muito éticas. Mas ficou a impressão que seus dias no Taiti foram mais de provação do que de alegria, onde essa última também aparece na película, mas em pouquíssimos momentos. Digamos, é um pouco trágico demais tudo aquilo que vemos. E Cassel consegue fazer com que a gente se identifique muito com o personagem, pois compartilhamos toda a dor e angústia de Gauguin, como se ela chicoteasse nossa própria pele.

O verdadeiro Gauguin

De qualquer forma, mesmo que esse filme nos desperte alguma dor e compadecimento, ainda assim é uma excelente película, pois dá a nós uma noção de como essas obras da Arte Universal foram forjadas e à qual cota de sacrifício do artista, o que nos deixa ainda mais admirado delas e que ainda nos faz lamentar mais que o reconhecimento dessas obras só venha depois da morte daqueles que a produziram. Como se a vida de provações fosse pré-requisito para que hoje elas tenham seu valor reconhecido em tão altas cifras. E, somente para concluir, sempre é bom ver Vincent Cassel em ação, um artista que melhora mais e mais a cada dia. Vale muito a pena dar uma conferida.