E finalmente estreou “Aquaman”. Os rumores que estavam por aí diziam que o filme é muito bom, sendo uma grande película para um personagem secundário. E aí a gente se pergunta: Aquaman é mesmo um personagem secundário? Pela forma que ele foi apresentado na “Liga da Justiça”, meio que um pau d’água (me desculpem o trocadilho infame), parecia secundário mesmo. Mas o presente filme resgata o herói que deve agora ser visto com outros olhos nas próximas películas do casamento Warner-DC. Nada como um bom filme solo para recuperar a autoestima.
Como é o plot (vou lançar mão de alguns spoilers aqui, atenção por favor)? Tudo começa num farol, onde o faroleiro Tom Curry (interpretado pelo “Jango Fett” Temuera Morrison) encontra nas rochas a Rainha de Atlântida, Atlanna (interpretada por Nicole Kidman). Depois de Atlanna destruir a casa e comer o peixe do aquário, Tom se apaixona perdidamente (também pudera, é a Nicole Kidman) e eles têm um filho, Arthur. Mas ela precisa retornar a Atlântida, já que o povo dessa civilização a procurava insistentemente, pois ela era acusada de traição (não vou explicar aqui, veja o filme) e a rainha vai embora, deixando Tom e Arthur desolados.
Os anos se passam e Arthur se torna aquela figura cabeluda, barbuda, musculosa e um tanto troglodita que, na nossa cabeça parece mais o Rei Netuno que o Aquaman (embora Netuno não seja troglodita assim) que, volta e meia, faz uns lances em prol dos fracos e oprimidos, como salvar um submarino russo (não tão fraco assim) de uns piratas com quê terrorista. Depois de uma noitada no bar,uma bela ruiva vestida de verde chamada Mera (interpretada por Amber Heard), alerta Arthur para a ambição de seu meio irmão Rei Orm (interpretado por Patrick Wilson, muito mais parecido com o Aquaman que nós conhecemos dos quadrinhos e dos desenhos dos Superamigos). Revoltado com os povos da superfície, que enchem o mar de lixo e poluentes, Orm vai empreender uma guerra, fazendo alianças forçadas com os outros reinos do mar. O único que pode impedir isso é Arthur,que também tem sangue real, mas que é um homem da superfície. E aí são as porradas, bombas e tiros de sempre.
A primeira pergunta é aquela questão desesperadora: o filme da DC é bom? Chegou aos pés da Marvel? Vou me inclinar a dizer aqui que esse foi o melhor filme da DC feito até agora. Melhor que o da Mulher Maravilha? Eu creio que sim, pois o da Mulher Maravilha, apesar do bom roteiro, teve alguns problemas, como usar um personagem histórico real (o General Ludendorff) de forma estereotipada como vilão (embora isso não seja tão grave) e pelo fato de a história, em sua primeira metade, ter sido um tanto arrastada (esse sim um problema maior).
O que segurava o filme era realmente Gal Gadot e toda a celebração em volta do empoderamento feminino que a película gerou. “Aquaman”, por sua vez, teve uma história mais instigante e efeitos especiais mais bem realizados (as más línguas diriam que se colocou o colorido da Marvel e tirou-se o obscuro da DC, mas creio que isso é implicância pura e simples). Foi muito legal se levantar a questão da poluição do mar no filme. Eu já revelei aqui a minha atração pelos blockbusters feitos exclusivamente para entretenimento onde aparecem algumas questões contemporâneas mais ligadas ao nosso mundo real que merecem reflexão. Já tínhamos visto isso em “O Último Jedi”,com as denúncias dos senhores da guerra. Agora, a poluição do mar e a matança das baleias denunciadas em “Aquaman” colocam aquela pulga atrás da orelha do espectador que fica falando em nossos ouvidos que o Rei Orm, o grande vilão,tem lá a sua razão em promover a guerra que tanto quer. Outra virtude do filme foi a variedade de locações (mesmo que algumas em CGI), o que enriqueceram a história. As sequências no Saara e na Sicília foram muito boas e ajudaram, junto com a ação, a dar um viés mais humorístico para a história (nova influência da Marvel? Sem maldade, por favor).
E os atores? Essa foi uma grande virtude da película. Se tivemos a boa presença da já citada Nicole Kidman, que não foi apenas uma coadjuvante de luxo e teve um papel importante na história, temos também Willem Dafoe na pele de Vulko, que treinou Arthur nos ofícios das profundezas, mas que também é conselheiro de Orm, o que coloca seu personagem numa tremenda saia justa. Amber Heard não foi somente uma cara bonitinha e fez uma personagem que, embora não fosse muito com a cara do protagonista, sabia que precisava ajudá-lo em nome de um bem maior. Além disso, as piadas entre os dois convenciam, o que mostra que rolou uma boa química entre os personagens. Já o Aquaman propriamente dito a princípio incomoda, pois o Aquaman que está na nossa cabeça é um sujeito muito mais zen, louro de olhos azuis, de calça verde, cueca preta (por cima da calça, é claro!) e camisa laranja que fala com os peixinhos. E aí aparece no filme aquela figura com tatuagens de povos da Oceania e que gosta de encher a cara nas biroscas, olhos de sith, sendo meio troglodita, meio burro… muito uga buga para a minha cabeça.Um Aquaman totalmente novo e reconstruído. Acho que até pela candura do mar, o Aquaman mais tradicional seria mais adequado, tendo mais a cara de seu irmão Orm, que parece fisicamente muito mais parecido com o Aquaman que estamos acostumados. Mas, já que é para inovar, a gente tem que dar o braço a torcer para Jason Momoa, que faz um excelente trabalho. Creio que ele deve ter ficado um tanto preocupado em ter a responsabilidade de apresentar um Aquaman totalmente repaginado. Mas ele não deixou a peteca cair e deu muito carisma ao personagem, que poderia facilmente cair no estereótipo.
Uma última coisa. O desfecho não foi tão óbvio e deu uma boa margem para continuação do filme solo. É muito bom ver tal opção de desfecho do que ver o lugar comum dos filmes de mocinho e de bandido, onde o antagonismo é excessivamente aflorado, só para dar uma dica do que estou falando sem lançar mão de spoilers.
Dessa forma, podemos sim dizer que “Aquaman” foi um grande filme, motivado por um bom roteiro, por uma boa interpretação dos atores e por uma boa produção, tirando o herói de qualquer posição periférica em “Ligas da Justiça” futuras. A Warner e a DC parece que finalmente estão acertando a mão e oferecem produtos com cada vez mais qualidade. Vamos aguardar as próximas películas.