Batata Literária – Golfinhos na Baía de Guanabara

Ei, José?
O que foi, Renê?
Olha o pneu!
Ufa, desviei, obrigado!
Caramba, José!
O que é agora, Renê?
São as garrafas pet!
Desviando, upa, upa, ops! Acertei uma!

Até que a água está clarinha hoje, né Renê?
Ô, José, está ótima!
Visibilidade de vinte centímetros à frente!
Pois é! Tem dias que só dando nossos saltinhos para enxergar!
Olha lá, Renê! A barca!
Ops, ops! Cuidado com a marola!
Lá vem ela, Renê!
TCHÁÁÁÁÁÁ!!!!!

Ai, José, que chatice!
Por que você resmunga tanto, Renê?
Estou cansado de nadar nessa baía suja!
Você ainda não se acostumou?
E dá para acostumar, José?
É, Renê, realmente é muito difícil…
Por que nossos parentes da terra firme são tão porcalhões?
Sabe-se lá, Renê… sabe-se lá.

Acho que só a gente ainda nada por aqui, José…
Todos os outros já desistiram, Renê…
E pensar que na época dos nossos tataravós, tudo isso aqui era muito frequentado
Já pensou como devia ser, Renê?
Ah, José, não dá nem para imaginar…
Será que limpam tudo até as Olimpíadas?
E você acredita em milagre, José?
Esquece o que eu falei, Renê… vamos nadar…

 

Batata Literária – Obra Numa Manhã De Domingo

Estou no oitavo sono…
Tudo calmo… calmo…
De repente… um barulho ensurdecedor!!!
Ah, maldito caminhão!!!!
Caminhão de cimento!!!!
Motor a mil!!!
Fim do sossego…
Começo da falta de respeito…

Vou ao guarda-roupa
Abro as portas
Procuro, procuro, procuro
Xiii, não está lá…
Ah, já sei!!!!
Está na sala!
Atrás do sofá!!!
Deixa eu ir pegar…

Ah, aqui está você!
Sua danadinha!
Que bom que te limpei ontem!
Vamos lá embaixo, minha queridinha…
É hora de tocar o terror
Descendo pelo elevador
Oi, dona Maricota, tudo bem?
Qualquer dia vamos conversar se foi minha cachorrinha que latiu ou não…

Já na calçada!
Aqui está uma posição muito boa.
Preparar, apontar…
KABUM!!!!!!!
Ah, que alegria!
Caminhão em chamas!!!!
O silêncio está de volta!!!
Agora posso voltar a dormir!!!

O que seria de mim sem a minha bazuquinha????

 

Batata Literária – No Bar…

Hoje cheguei cedo…
Onze e meia…
Sento na mesa de sempre…
Um dry martini, Joe…
Nada de vinho…
A noite, hoje, é especial…
“The Boys From South” vão tocar…
Faz tempo que eles não aparecem por aqui…

Ah, lá estão os caras!
Big Boy no baixo!
O latino tem só um metro e meio!
Usa o banquinho para tocar o instrumento
que tem quase o dobro de seu tamanho!
Os dedos são calejados
pelas grossas cordas…
O homem nem sente mais dor…

Na batera, está o Sugar…
Mais negro que a noite…
Cheio de ritmo!!!
Parece que ele tem cinco braços
e seis pés…
Nunca vi outro igual!
O monstro de percussão geme com ele
e come na sua mão!

Na guitarra, tá o Angel Snow…
Branquinho como a neve!
Lá de New Orleans!!!
Sons celestiais nas cordas!
Uma carinha de bom moço,
por causa de seus cachinhos louros.
As menininhas suspiram
e ele lança beijos inocentes…

Finalmente, nos vocais,
Daddy Voice!
O homem é poderoso!
Cabelos vermelhos como o fogo!
E a voz mais inflamada do Mississipi!
Vai do agudo ao grave
em fração de segundo!
E ainda é a elegância em pessoa!

Eles tocam de tudo!
De “Night and Day”
a “Old Man River”,
passando por “Cheek to Cheek”.
Outro dia, tocaram “Continental”!
Os homens sabem tudo!
Sua sincronia é divina!
Deuses musicais!

Eles são os “The Boys From South”…

Batata Literária – Guerra dos Mundos

Olha lá no céu!
Lá vêm os petralhas!
Preparar baterias… fogo!!!
Acertei um vermelho!!!
Ele cai flamejante do firmamento!!!
Vai se chocar no chão!!!
BUM!!!
Menos um barbudinho corrupto!!!

Atenção, companheiros!!!
Baterias antiaéreas coxinhas às 13 horas!!!
Disparar míssil!!!! Fogo!!!!
CABUM!!!!
Alvo atingido!!!!
Ricaços em chamas!!!
Dondocas aos berros!!!
Voou champanhe e caviar para todo o lado!!!

O que tá acontecendo, pai???
Sei lá, filho, acho que é essa tal de política…
E por que eles estão tão nervosos, pai?
Ihh, filho, acho que é por causa de um cara chamado impiximan…
Quem é ele?
Não sei, filho. Olha, pega aquele papelão ali e aquelas latinhas lá…
Tá bom, pai, Quanto a gente já juntou hoje?
Uns cinco reais…

Saudações, minha gente trabalhadora!
Ihh, quem é esse, pai?
Sei lá…
Eu sou o futuro, meus queridos!
Eu sou a alternativa a toda essa briga aí!
Eu vou acabar com a sua fome!
Eu vou te dar emprego!
Eu vou te dar casa, comida e roupa lavada!

Mas, como é que você se chama, moço?
Tá vendo aqueles caras brigando lá?
Tô.
Eu tenho as partes boas dos dois.
O nacionalismo dos coxinhas
E o socialismo dos petralhas
É por isso que eu me chamo:
NACIONAL SOCIALISMO!!!!

Batata Literária – O Andarilho

Todo dia eu caminho.
Caminho, caminho…
Vendo o mundo passar por meus olhos…
Desde a menina pobre na porta de casa,
até o rei em seu trono de ouro
Esse mundo é tão cheio de nuances,
justiças e injustiças,
que nada me impressiona mais…

Certo dia, passava eu à beira do rio,
Havia um coração enterrado em sua margem,
‘Deve estar seco’, pensei eu,
Será que um dia foi cheio de vida?
Ou sempre foi daquele jeito, distante e frio?
Ah, nada mais importa!!!!
Seu tempo já passou,
e ninguém pensa mais nele…

Meus pés doem…
Meus sapatos já estão furados…
Não tenho mais forças…
E desmorono só de pensar
que ainda nem cheguei a metade de minha jornada
Ela é praticamente infinita…
Mas, quanto é metade do infinito?
Oh, céus, devo estar delirando…

Por que o andarilho anda?
Por que minha jornada é infinita?
Porque ando pela mais rara das coisas
Prometi não parar de andar
Todo dia caminhando
Incessantemente…
Ininterruptamente…
Enquanto não houver a paz mundial…

E você? Quer me ajudar a parar de andar???
Estou exausto…

Batata Literária – As Conchinhas

Eu estava na praia
de areia branca infinita.
Além dos ovos de arraia,
tinha o azul do mar, de candura bonita.
Outros detalhes interessantes
nesta vasta marina
são as conchinhas, fulgurantes
cujas superfícies o branco ilumina.
É impressionante o universo de cores
que as conchinhas abrigam.
Todos os tons e matizes elas possuem sem pudores.
Grande variedade elas indicam.
Eu prefiro as negras,
pois do branco elas destoam.
Mas há as amarelas, transparentes, lilases e vermelhas
e o som do mar nelas ressoam.
Esses pedaços de calcário
refletem a vida no meu imaginário.
Pois abrigam seres vivos
e, agora, lentamente viram pó.
As muitas cores mostram a diversidade e seus mitos.
Espelhos de um passado que pode dar dó.
Finalmente, na minha inconsequente comparação,
assim como os humanos, vejo as conchinhas fitando as vagas em contemplação.
Todos esses pensamentos me vêm à mente
enquanto caminho à beira do oceano.
O vento úmido e salgado corta a minha fronte impiedosamente
com a agressividade do antigo Cirano.
Já as conchinhas permanecem sobre a areia
enquanto o horizonte o Sol permeia.
Logo, virá a noite e suas vias estreladas,
conchinhas no firmamento entronadas.
O autor e suas conchinhas

Batata Literária – Espírito de Ano Novo

Mais um ano começa!
Será que ele vai me pregar mais uma peça?
Ou dessa vez ficarei feliz à beça?
Só espero sair da inércia
e cumprir as famosas resoluções!
Cuidar da saúde, emagrecer, enriquecer são minhas intenções.
As mesmas dos anos passados
e, por mim, esquecidas sem abalos.
Confesso que, às vezes tenho medo
do que está por vir.
Será que a morte virá cedo?
Será que da tristeza não poderei fugir?
O futuro incerto
é um tormento, decerto.
Sinto que, para não agonizar,
tenho que fazer o tempo parar.
Mas os tempos vindouros
também podem trazer louros:
o carinho dos amigos,
a distância dos inimigos,
a brisa das mudanças,
que traz novas esperanças.
A realização das almas,
para a intelectualidade, muitas palmas.
Após tantas relfexões
tiro algumas conclusões.
Não é o futuro que nos define.
Não é o destino que nos restringe.
Nossos próprios atos
é que devem ser sensatos
para as mudanças buscar
e dos fantasmas do passado escapar.

Batata Literária – Numa Churrascaria da Zona Sul

Copacabana, vinte horas.
Estou na churrascaria.
Espero minha amada sem demora
voltar de seu emprego na galeria.
No restaurante, um mar de pessoas inconstantes.
Alguns falam a língua pátria.
Outros idiomas de terras distantes,
turistas até das terras ádrias.
Muito estranhos, esses estrangeiros!
Negros americanos, rindo cheios de trejeitos.
Nórdicos gordos e de bochechas vermelhas.
Francesas formosas e faceiras,
mas obsoletas perto da beleza das brasileiras,
que também povoam o local,
desfilando sua graça natural,
perfumando o ambiente com o seu floral.
E os funcionários?
Ah, esses trabalham de dar pena,
pois recebem baixos salários
e ainda labutam até muito depois da novena.
Desfilam carnes saborosas
mas têm vidas nada suntuosas.
Definitivamente, o sotaque não é de Trieste.
São eles quase todos do Nordeste.
Pois é.
É interessante como a injustiça do mundo
se expressa cheia de fé
nesse sítio profundo.
Uns muito comem e pouco pagam.
Outros muito trabalham e pouco recebem.
Os ricos têm luxos que se destacam
e os pobres, uma vida em que quase perecem.