Aproveitando a onda da estreia de Venom nos cinemas daqui a algum tempo, a Panini faz um ótimo lançamento da revista do (anti) herói, “Venom, De Volta Ao Lar”, reeditando os números 1 a 6 da história de Mike Costa e arte de Gerardo Sandoval, Juanan Ramirez e Iban Coello. Pode-se dizer que tanto o roteirista quanto os responsáveis pela arte estão de parabéns, pois temos em mãos uma história muito instigante e bem finalizada em suas imagens, onde vemos um Venom muito mais sinistro do que o habitual.
A história começa com um pequeno prólogo que traz informações sobre o personagem que já devem ser manjadas para alguns, mas nunca é demais repetir: Peter Parker, sem perceber, se funde a um simbionte alienígena, pensando que que experimentava um novo uniforme. Mas ele percebe que fica com um comportamento agressivo com o novo traje e o rejeita. O alienígena da espécie klyntar então se sente abandonado e traído num mundo estranho e desconhecido. Entretanto, a criatura, quando estava fundida com Peter Parker, teve acesso ao seu código genético e adquiriu todos os poderes do Homem Aranha, dando esses poderes (escalar paredes, gerar teias organicamente, etc.) a futuros hospedeiros. Além disso, a própria espécie klyntar tem seus poderes, tais como a invisibilidade e o transmorfismo. O simbionte teve vários hospedeiros, alguns virtuosos, outros nem tanto. Aqui, o hospedeiro é Lee Price, um sujeito, digamos, pouco virtuoso, que é contratado para trabalhar para uma organização criminosa liderada pela Gata Negra. O relacionamento entre os dois será um tanto turbulento, mas não menos turbulento que o relacionamento entre Lee e o simbionte. Este último, por incrível que possa parecer, não quer mais sair matando pessoas por aí a torto e direito, ao contrário de seu amigo hospedeiro, que é um assassino sádico. Assim, vemos a curiosa situação do simbionte e seu hospedeiro em constante conflito, onde o primeiro tenta evitar que o segundo se transforme em Venom. Porém, o envolvimento de Lee com a Gata Negra e o mundo do crime faz com que ele constantemente passe por situações muito escabrosas, onde sua vida está ameaçada e assim o simbionte e seu hospedeiro serão obrigados a fazer a fusão, muito a contragosto por parte do simbionte, diga-se de passagem. Realmente, é algo que chama muito a atenção o alienígena em si se recusar a matar. Concebido originalmente como a coisa maligna que despeja ódio e agressividade em seus hospedeiros, parece que a fusão com seres humanos fez mal ao simbionte e ele constatou que são sim os humanos muito mais odiosos e agressivos do que se imaginava, usando de forma totalmente amoral os poderes do alienígena. Os mais puristas podem até torcer o nariz para esse “simbionte bonzinho”, mas creio que levantar tal bandeira já é algo altamente válido, pois atenta para a discussão do verdadeiro sentido do que é ser humano. Somos realmente uma “obra de arte” ou somos de uma má índole capaz de provocar inveja em seres menos desenvolvidos que nós (se eles tivessem essa capacidade de sentir inveja)? Agora, uma coisa chegava a ser muito engraçada na revista: volta e meia, víamos uma miniatura da cabeça de Venom sussurrando no ouvido de Lee, funcionando como uma verdadeira espécie de consciência do hospedeiro protagonista.
Assim, “Venom, De Volta Ao Lar” é um bom lançamento da Panini para os fãs desse sinistro e obscuro herói. E é apenas o primeiro número. Confesso que as minhas expectativas para os próximos números são de que a gente possa conhecer melhor o Universo de hospedeiros da espécie alienígena klyntar, além de ver mais histórias com Eddie Brock, o hospedeiro original (após Peter Parker, obviamente). E que continuemos tendo bons roteiros e traços artísticos dignos desse personagem aterrorizante. Serve como uma ótima prévia para o filme, valendo a atenção do fã de quadrinhos mais exigente.
A Turma da Mônica Jovem segue rendendo bons frutos. No número 20 da Segunda Temporada, temos a história “Sabotagem”, que mais uma vez vai discutir todo o ódio que circula por aí em nossa sociedade contemporânea. Mais uma história cujas alegorias nos fazem um convite à reflexão.
A história começa com a visita, na escola da Turma, da Professora Floyd, que representa a Corporação Hermes, uma empresa de tecnologia. A tal Floyd oferece aos alunos uma estadia num acampamento de férias onde ocorrerá um torneio, com os alunos da escola sendo divididos em equipes. O prêmio para o grupo vencedor é uma viagem até a sede da corporação, que fica na Grécia. As equipes são mandadas para chalés isolados e o único contato com tecnologia que recebem é um celular simplório que envia mensagens da organização do concurso. As equipes percebem que não há comida no chalé e recebem a mensagem de que há comida mais ao norte. Uma equipe consegue chegar primeiro e pega comida, deixando comida para as outras equipes. Mas quando elas chegam, as provisões estão destruídas. Isso será somente o início de uma série de acontecimentos que irão colocar as equipes umas contra as outras, num ódio abertamente manipulado.
A revista lança uma discussão interessante. E se todo esse ódio que vemos nas redes sociais pudesse ser manipulado e, juntamente com isso, a opinião pública? Parece que é mais ou menos isso que vemos no dia-a-dia. Determinadas notícias são implantadas na internet todos os dias. Até que ponto são verídicas? Até que ponto são falsas? Com qual intenção essas notícias são implantadas? Por quem?
É claro que a revista dá uma solução onde as forças do bem sempre vão ganhar. Mas tal reflexão levanta uma questão altamente desconfortável: quem ganhará essa contenda no mundo real? E aí não temos respostas para isso, pois parece que todo esse processo de manipulação do ódio está se desenvolvendo bem debaixo dos nossos narizes e não sabemos quem são os responsáveis por isso. E as pessoas continuam caindo nisso de gaiato seguidamente. Tudo isso somente indica que tempos muito sombrios podem vir por aí se as pessoas continuarem a se contaminar com esse ódio todo. E aí, a única esperança de se deter isso é botando a boca no trombone, denunciando a pulmões abertos, abrindo os olhos de todos. O ódio não pode ser usado por interesses escusos. O ódio precisa ser neutralizado em favor da compreensão e do respeito a outras opiniões. Pois o ódio é um veneno maligno que te mata de dentro para fora. E, se a internet, aparentemente é um instrumento de liberdade (cada um lê, publica e fala o que quer), pode ser que ela tenha seus grilhões quando manipula pessoas que nem percebem que são manipuladas. A internet é uma ferramenta nova que pode tanto servir para o bem quanto servir para o mal. Isso depende muito do uso que é feito dela.
Assim, “Sabotagem” é mais uma boa história da Turma da Mônica Jovem. Mais uma história que, de forma fictícia, denuncia situações de cunho bem real, prestando um grande serviço à tolerância e à boa vontade. Vale muito a pena você ler a revista, pois eu não me aprofundei tanto na discussão para não dar mais spoilers.
Mais uma boa história da Turma da Mônica Jovem na área. “Influenciadora Digital” (número 16, segunda temporada) segue a linha que os roteiristas estabeleceram de trabalhar temas bem atuais, sendo que desta vez, ele tem tudo a ver com a mídia da qual lançamos mão aqui: a internet e o surgimento das celebridades instantâneas, sobretudo aquelas que aparecem no Youtube. Lembrando sempre que usaremos os spoilers aqui para analisar a trama da revista mais a fundo.
A história começa com Mônica e seus amigos disputando uma corridinha numa pista de kart. Depois da brincadeira, enquanto eles conversam, um kart desgovernado bate na barreira de proteção de pneus, o que lança um pneu na direção de uma menininha. Mônica dá uma daqueles seus voos espetaculares e salva a garotinha sendo, mais uma vez, a heroína do dia. O problema é que alguém da plateia (nuca vi plateia em pista de kart indoor, enfim…) filmou todo o ocorrido e colocou na internet. O vídeo acabou viralizando e Mônica se torna, da noite para o dia, uma celebridade virtual, recebendo equipes de TV e de rádio para entrevistá-la. Entretanto, uma visita inesperada chama mais a atenção: um empresário especialista em estrelas em ascensão, que propõe à Mônica um contrato de influenciadora digital, onde ele terá um canal na internet e um blog para falar sobre as coisas que ela pensa e faz para influenciar as pessoas, algo que lhe atrairá contratos publicitários, sendo esse o emprego do futuro. Mônica e sua família aceitam o contrato. Mas logo começariam os problemas. Por cuidar de sua carreira, Mônica fica muito ocupada e não vê mais seus amigos. Ainda, seu empresário busca incrementar a “vida chata” da Mônica, onde nada de espetacular acontece, e começa a criar um monte de mentiras, como viagens ao exterior que nunca aconteceram, além dela ser obrigada a usar roupas que não quer ou falar coisas completamente sem sentido. Cansada de se esconder da turma por conta das tamanhas mentiras, Mônica pede a seu empresário para parar com tudo isso, mas existe uma pesada multa contratual. Agora Mônica terá que pedir ajuda de seus amigos para sair de tamanha enrascada.
Essa é uma história um pouco diferente do que a gente vê nas histórias da Turma da Mônica Jovem pois, pela primeira vez, vemos a Mônica correndo risco de vida, não por conta de algum elemento fantasioso, como um monstro do espaço, mas sim, por um empresário inescrupuloso, uma coisa que poderia muito bem acontecer na vida real. A posição da história é muito clara em criticar pesadamente essas famas efêmeras da internet e de como elas são produzidas de forma extremamente má intencionada por pessoas que visam ao lucro usando a idiotização das pessoas. E, ao colocar o empresário como capaz de tudo para conseguir seu lucro, até ceifar a vida das pessoas, os roteiristas mostram a sua investida pesada contra esse mundo oculto. Assim, podemos dizer que esse número impõe um certo “choque de realidade” em seus leitores. Esse choque seria colocado aqui de forma perfeita, não fosse o seu desfecho, onde um acidente forjado pelo empresário poderia provocar a morte da Mônica, mas Cebolinha e Cascão tentaram impedir lutando com o empresário (de forma bem violenta, por sinal, outro elemento jamais visto dessa forma nas revistas). O problema aqui é que os seguranças do shopping e a polícia acreditaram muito fácil na culpa do empresário, alegando terem visto tudo o que aconteceu. Só que eles não sabiam da prévia falta de escrúpulos do empresário e acreditaram muito em dois adolescentes que agrediam um homem mais velho de terno. Todos nós sabemos como as aparências contam em nosso país na hora de se julgar as pessoas. E seria muito mais provável na vida real que Cebola e Cascão fossem encaminhados para a delegacia e o empresário saísse completamente impune. Mas, até talvez para a história caber somente nesse número da revista, deu-se a velha e clássica solução de que a justiça é cumprida com eficiência, com o vilão sendo preso e os mocinhos elucidando o caso, tal como acontecia nas revistinhas mais antigas lá das décadas de 70 e 80. Talvez os roteiristas pudessem ser mais ousados e continuarem essa história em volumes próximos, desenvolvendo o tema da impunidade, com a Mônica e a Magali lutando para tirar Cebola e Cascão de uma Fundação Casa (instituição para menores infratores em São Paulo para quem não pegou a referência) da vida e depois indo atrás do empresário. É claro que haveria o happy end, mas não sem antes a Turma da Mônica Jovem suar para lutar contra nossas injustiças tupiniquins. Seria muito mais atual.
De qualquer forma, essa história foi mais um passo no bom desenvolvimento que a gente vê na Turma da Mônica Jovem em tratar assuntos contemporâneos. Ver a Mônica, um personagem da infância de muita gente, correr risco de vida nas mãos de uma pessoa que pode muito bem existir na vida real foi um tanto chocante, fora a violência e agressividade que permeiam a história, algo nunca exposto de forma tão crua no Universo dos personagens de Maurício de Sousa. Daí a importância do nobre leitor dar atenção ao número 16 da segunda temporada da Turma da Mônica Jovem.
E estreou o tão esperado “Vingadores, Guerra Infinita”, com novamente a Marvel produzindo um grande filme, embora eu confesse que o filme me incomodou, talvez pela pegada altamente sombria da película. Antes de mais nada, vou logo dizendo que esse texto está repleto de spoilers. Não é a toa que estou o publicando com pouco mais de uma semana de exibição. De qualquer forma, se você ainda não viu o filme, é melhor voltar aqui quando já tiver assistido à película.
Vamos lá. Bom, a sinopse todo mundo já conhece. O vilão Thanos precisa das seis joias do infinito para se tornar a criatura mais poderosa de todo o Universo e fazer todos de gato e sapato com um mero estalar de dedos. É claro que, para enfrentar um vilão extremamente poderoso, tivemos a presença de praticamente todos os heróis da Marvel, com a (sentida) ausência do Homem Formiga. Infelizmente, todos os heróis não lutaram exatamente juntos, numa batalha totalmente épica, mas sim em núcleos isolados, embora eles não tenham necessariamente deixados de ser épicos. Uma coisa deve ser dita aqui: houve várias situações paralelas, em locais (e planetas) diferentes, o que exigiu uma certa atenção do espectador. Mas como o filme teve a grande virtude (como todos os filmes da Marvel) de prender constantemente a atenção do espectador, a coisa se fez de forma relativamente tranquila. Ainda, o filme, apesar do clima pesado, manteve a pegada de humor, sobretudo nas situações em que personagens de dois núcleos diferentes interagiam, como quando vimos Groot e o Capitão América se conhecendo. O não abandono do humor nessa situação extrema não comprometeu o filme, ao contrário do que poderia parecer. Nos poucos momentos em que o humor desandou um pouco foi nas participações dos personagens dos Guardiões da Galáxia, onde tivemos diálogos bem bobinhos, a ponto de deixarem um Stark e um Strange da vida completamente estupefatos, mas que também contaminava as falas engraçadas desses personagens. Tudo bem, a pegada dos Guardiões da Galáxia é outra, mais bobinha e engraçadinha mesmo.
Uma coisa que chamou demais a atenção foi a motivação de Thanos em acumular tanto poder com as joias do infinito. Sua argumentação se baseava na premissa de que o Universo é finito e seus recursos também. Logo, o aumento das populações dos planetas provocaria um colapso que somente poderia ser solucionado com a execução de metade dessas populações. E ele se vangloriava de levar essa tarefa a cabo, uma tarefa que ninguém mais tinha coragem de fazer. Impossível não fazer uma comparação direta com Thomas Malthus, um economista britânico que viveu entre os séculos XVIII e XIX, e sua famosa teoria que dizia que a população pobre crescia em progressão geométrica e a produção de alimentos crescia em progressão aritmética. Logo, a única forma de resolver esse problema de escassez seria através de um controle populacional onde, obviamente, os pobres pagariam o pato.
O governo não deveria dar qualquer assistência aos pobres, pois assim eles morrem e a proporção entre pessoas e comida se equilibra novamente (pode-se dizer que, quem critica hoje programas como o Bolsa Família ou reclama que o dinheiro dos impostos arrecadados são para sustentar “vagabundos” tem uma visão considerada neomalthusiana). Só que Thanos, a uma certa passagem do filme, falava que, ao sacrificar as metades das populações dos planetas, faria isso sem privilegiar ricos ou pobres. Seria Malthus ainda pior do que Thanos? Eu não queria estar por perto se Malthus tivesse as seis joias do infinito em sua manopla.
Falando ainda em Thanos, a atuação de Josh Brolin, mesmo com toda aquela capa meio virtual, foi de uma força tremenda, não somente pelas porradas que ele dava, mas também por acreditar piamente que sua visão genocida era totalmente necessária para salvar o Universo. E, ainda, ele, volta e meia apresentava uma visão respeitosa para com seus oponentes, sobretudo Tony Stark e Wanda, sobretudo no episódio da morte de Visão (chamou muito a atenção o afago que ele faz na cabeça de Wanda antes de conquistar a última joia). Agora, foi algo arrebatador a sua relação com Gamora, num misto de amor e ódio, que culminou com o sofrimento (sincero) de sacrificar sua filha para obter a joia da alma. Essa humanização de um vilão ultrapoderoso e imbatível foi um dos grandes momentos do filme.
Na parte dos heróis, algumas coisas também chamaram a atenção. O traje do Homem Aranha, por exemplo, estava com aquelas pernas mecânicas implantadas por Stark. O diálogo de Thor e Rogers, falando de barbas e penteados, foi engraçado. Confesso que gostaria de uma participação maior de Steve Rogers no filme. De qualquer forma, foi bom vê-lo em Wakanda (na minha modesta opinião, o que a Marvel tem de melhor nos filmes solo são os três filmes do Capitão América e o Pantera Negra). Agora, uma coisa ficou muito clara aqui. Cada filme de herói da Marvel, mesmo que tenha pontos em comum com os outros, tem uma pegada própria. Isso ficou muito claro quando os personagens interagiam ou havia mudanças de um núcleo para outro, como se a gente tivesse uma espécie de mosaico de tudo o que vimos da Marvel nos últimos anos. Nesse ponto, o filme ficou bem construído, pois essas diferenças de cada personagem poderiam não ter dado muito certo se não fossem bem trabalhadas.
E o desfecho? Bom, pode-se dizer que a opção pelo vilão ter vencido a guerra e os mocinhos terem perdido foi muito boa, pois se chutou o “happy end” para escanteio. De fato, essa solução engrandece o filme, mas aqui surgiu um pequeno problema. Se tem reclamado por aí que as mortes têm sido desvalorizadas, pois hoje se matam heróis e eles são ressuscitados num piscar de olhos. E, agora, mais do que nunca, se lançará mão desse expediente, pois morreram muitos heróis. E a Marvel não quer perder dinheiro com a franquia, obviamente. Mas ficou uma pulga atrás da orelha: será que todos voltarão à vida, ou alguns realmente foram de forma definitiva? Essa dúvida (e angústia) somente aumentava à medida que víamos os heróis virarem cinzas. Devo confessar que, quando disse que o filme me incomodou, o foi principalmente pela parte dolorosa de ver muitos heróis morrendo (eu sou adepto daquela opinião, meio antiquada para os padrões de hoje, eu sei, de que o herói não deve morrer). Isso deu uma agonia e uma cara de tacho ao fim da exibição, com um Thanos sorridente vendo o pôr-do-sol depois de ter vencido sua guerra.
Ficou aquela sensação de “já acabou?”. E, dessa vez, até os créditos finais nos meteram uma rasteira, sem cenas por toda a sua extensão, somente com uma aparição de Nick Fury (que também desmanchou) mandando uma mensagem para a… Capitã Marvel (!). Confesso que não conhecia essa super-heroína, mas o que se tem falado por aí é que ela tem muito poder. Outro detalhe interessante está nos heróis que sobreviveram. Bruce Banner, que não se transformou em Hulk por todo o filme, deve voltar com força total como o monstro verde no próximo filme (pelo menos assim espero!), assim como Stark e Rogers terão que fazer as pazes de qualquer jeito. Quanto a trazer os mortos para a vida, Thanos já até deu a dica: é só usar a joia do tempo (o problema vai ser tirar a manopla da mão dele, embora os heróis tenham quase conseguido nesse filme). E seria muito legal ver o Thor descer o cacete (ou o machado) no Thanos (ele quase conseguiu aqui).
Assim, “Vingadores, Guerra Infinita”, é mais um filmaço da Marvel, muito sombrio, pois os heróis encontraram um inimigo muito poderoso, e a derrota foi avassaladora. Haverá uma volta por cima total? Ou algumas marcas permanecerão? Confesso que não li os quadrinhos para saber como tudo se processou, se bem que nem sempre o cinema toma o mesmo rumo das histórias dos quadrinhos, alterando-as ao seu bel prazer. Até Thanos retornar (como foi prometido no final derradeiro do filme) esse incômodo vai ficar coçando o fundo de nossas mentes. Aquelas cinzas até agora estão provocando uma sensação desconfortável. Mas esse filme é um programa para lá de obrigatório.
Os roteiristas da Turma da Mônica Jovem mostram estar mais uma vez antenados com questões de seu tempo e lançam a história “O Portal das Trevas”, em duas partes (edições 14 e 15 da segunda temporada, lembrando que depois do número 100, foi iniciada uma nova coleção; então há uma espécie de duas temporadas da revista). Aqui, a velha temática da luta entre o bem e o mal é explorada, mas que toca, de uma forma um tanto sutil, um problema muito presente em nossos dias: a querela de todo o ódio virtual/real que viaja pelas nuvens da internet. Esse problema contemporâneo está lá, bem escondido nas entrelinhas.
Do que se trata a história? Cascão tem uma briga com Cebola, que fica doente após assistir a um filme de terror na escola. Todos que assistem ao filme têm o mesmo fim e Cascão decide investigar o que está acontecendo, com a ajuda de Xaveco, Denise e Jeremias. Tomado por uma mágoa profunda, Cascão precisa lidar com seus sentimentos e se livrar de sua raiva contida. Nesse percurso, ele conhecerá Brilhante, uma entidade benigna que o ajudará a lutar contra espectros do mal que adentram o nosso mundo através do filme, mas também de equipamentos eletrônicos, assim como suga os personagens da Turma para o lado do mal. Lutando contra inimigos malignos altamente poderosos, Cascão luta contra o tempo para salvar seus amigos. Mas o pior inimigo pode estar mais próximo do que se imagina.
A história é carregada de expressões de cunho místico, com uma retórica bem enigmática. Mas os instrumentos eletrônicos estão sempre ali desempenhando uma função importante na trama, pois eles tornam possíveis as comunicações com as forças do bem, mas também com as forças do mal. Quando os personagens da Turma da Mônica estão no mundo amaldiçoado, a coisa se torna muito angustiante, pois os personagens estão, numa hora, lutando contra as forças do mal e, noutra hora, possuídos por elas, se voltando contra seus próprios companheiros. E isso pode acontecer a qualquer momento, com qualquer um, numa alegoria de como o ódio pode envenenar qualquer pessoa de uma hora para a outra, e o contato com esse ódio liberado se faz sempre pelos aparelhos eletrônicos, sendo uma TV passando um filme de terror, ou um celular conectado à internet. O jeito aterrorizante como essa história foi construída, onde os personagens da Turma da Mônica são implacavelmente perseguidos por entidades monstruosas e malignas, das quais não se parece ter escapatória, com os próprios personagens se transformando nessas entidades malignas, incomoda e choca muito, provocando um impacto emocional que nenhum outro número da Turma da Mônica Jovem tinha provocado. E foi, provavelmente, o produto cultural que tratou da forma mais contundente possível essa questão da intolerância nas redes sociais, constituindo-se num pontaço para a equipe de roteiristas de Maurício de Sousa, que trouxe muitos elementos para a reflexão. Até onde nos tornamos monstros se usamos essa ferramenta magnífica que é a internet para disseminar ódio e intolerância? E até onde podemos usar essa mesma ferramenta de forma benéfica, disseminando compreensão, cortesia e tolerância? Você prefere fugir dos espectros do mal ou se deixar tomar por eles? Essa é a questão que “O Portal das Trevas” levanta para nós.
Assim, esse mangá dedicado ao público infanto-juvenil se torna uma leitura novamente cada vez mais adulta. Uma história que, cá para nós, é útil até para educadores trabalharem com seus alunos a questão da tolerância. Uma revista que aborda um tema contemporâneo e altamente problemático e que merece muito a nossa atenção. Não deixe de conferir.
A Editora Panini (Planet Mangá) fez um interessante lançamento para quem gosta de mangás de Sci Fi. “Pluto”, escrito por Naoki Urasawa, é livremente inspirado em “O Maior Robô da Terra” da série “Astroboy” de Osamu Tezuka, e é uma história sobre robôs. Já conhecemos bom a literatura de robôs de Isaac Asimov aqui no Ocidente. E agora, um mangá volta a abordar esse Universo, com uma pegada, digamos, mais policial.
É uma época no futuro onde robôs e humanos coexistem. Haverá toda uma série de assassinatos cujas vítimas serão robôs ou humanos simpatizantes de direitos de robôs. A primeira vítima é Mont Blanc, uma espécie de herói local da Suíça. A segunda vítima é Bernard Lanke, membro da Sociedade Protetora dos Direitos dos Robôs. Em seus corpos, chifres são improvisados em suas cabeças pelo assassino. Quem conduzirá as investigações dos homicídios será Gesicht, um inspetor da Europol, que também é um robô, sendo um dos mais desenvolvidos do planeta. Logo, mais robôs com grande potencial são assassinados e Gesicht percebe que ele também está entre as potenciais vítimas. Ao fim do primeiro número, ele encontra Atom, um jovem garoto robô que era o personagem principal da saga de Tezuka.
Com o primeiro volume dessa história lançado, a impressão que se dá é a de que teremos um grande mangá pela frente. O único problema, inerente a todos os mangás aqui no Brasil, e extremamente grave, é a continuidade da disponibilização dessa série nas bancas e livrarias, já que a entrega dos volumes é altamente instável. A gente pode esperar meses por aqui por um novo número. E quando ele chega às nossas mãos, já nos esquecemos da história do volume anterior há muito tempo, o que faz com que a leitura de um mangá se torne por aqui um grande exercício de paciência. Mas, após esse pequeno desabafo, voltemos a “Pluto”. Existe uma coisa que chama a atenção logo de cara: a história não se passa no Japão e sim na Europa, onde Gesicht se encontra em solo alemão. Ainda, vemos algumas insinuações de Asimov na história, como em leis onde robôs não devem ferir seres humanos (tal como nas Três Leis da Robótica de Asimov) e situações onde robôs são amados como heróis, como no caso de Mont Blanc, aqui já contrastando com a visão de preconceito total que os humanos tinham com os robôs nas histórias de Asimov. Ainda assim, os assassinatos em série de robôs voltam a aproximar a história do Universo Asimoviano, sobretudo quando nos lembramos de seu romance policial “Caça aos Robôs”. É curioso também perceber nesse primeiro número, a presença de um robô que foi enclausurado por ter matado uma pessoa, robô esse que recebe a visita de Gesicht para tentar algum avanço nas investigações. Outro detalhe intrigante é uma tal de 39ª Guerra na Ásia Central, onde ela apenas é citada, mas não foi bem explicada ainda. Espera-se que vejamos isso nos próximos números. No mais, há também outro elemento: o de como alguns robôs procuram ter uma vida, digamos, mais humana. Gesicht, por exemplo, tenta planejar uma viagem com sua esposa, também robô, para se curar de uma suposta fadiga provocada pelo excesso de trabalho, assim como temos um casal de robôs que adota crianças, dada a sua impossibilidade de terem filhos.
Assim, “Pluto” é um instigante mangá que vale a pena a atenção do leitor, pois ele combina romance policial com ficção científica, tudo isso com um tempero de Tezuka, pois Atom, o conhecido Astroboy, foi incluído na trama bem ao final do mangá. Lamento pelos spoilers, mas acho que eles foram um bom cartão de visitas para chamar a atenção para os volumes vindouros. Que eles não demorem muito para chegar às nossas mãos.
Um dos aspectos dos quadrinhos da “Turma da Mônica Jovem” é o uso, em alguns gibis, de uma temática mais voltada para a ficção científica. Os roteiristas de Maurício de Sousa já nos deram várias mostras disso. E uma característica da ficção científica chama a atenção aqui: as histórias com robôs. Presentes em edições como a 32 e a 73 da primeira temporada da “Turma da Mônica Jovem”, os androides retornam agora na edição 11 da segunda temporada, em mais uma história recheada de implicações filosóficas que estimulam a reflexão dos leitores.
Tudo começa num jogo de videogame online onde Cebola e seus amigos são derrotados, por Nick, o Geek. Ainda enfurecido com a derrota, Cebola recebe a bolada de uma estranha esfera que entra à toda pela janela de sua casa. Cebola descobre que a tal bola é um robô sensciente que tem uma programação bem específica: aprimorar nosso protagonista. O problema é que o robô é muito objetivo e insensível em suas análises, o que incomoda um pouco Cebola e seus amigos. Cebola irá inicialmente usar o robô para aprimorá-lo nas suas habilidades de gamer. Mas a unidade androide percebe que, para melhorar os humanos, ela precisa melhorar a si própria, e pede a Franja que faça um corpo para ela. Entretanto, uma questão fica no ar: de onde veio esse robô? Qual é a verdadeira intenção de sua programação? Paremos por aqui com os spoilers.
Histórias de robôs sempre levantam questões muito interessantes e aqui não é diferente. Em primeiríssimo lugar, a questão do aprimoramento. É algo razoável que um robô consiga se desenvolver com sua experiência e superar os parâmetros de sua programação ou tudo soa como uma balela sem tamanho? Renomados cientistas como Marcelo Gleiser já nos chamaram a atenção de como a questão da consciência é algo extremamente complexo. Segundo Gleiser, mesmo que o ser humano conseguisse desenvolver uma máquina que reproduzisse com fidelidade total as funções do cérebro humano, ainda assim não poderemos dizer que ela vai ter uma consciência. Assim, para se aprimorar e se superar, o robô precisa, antes de mais nada, ter consciência, o que é tecnicamente impossível. A existência de uma consciência traz também a questão do livre arbítrio. Na própria história, chega o momento em que o robô precisa fazer uma escolha, o que não significa necessariamente que seja a mesma escolha que a turma da Mônica já “elegeu” para o robô, como se ele não tivesse vontade própria. Assim, as fronteiras entre a máquina e o humano passam pela consciência, pelo aprimoramento e pelo livre arbítrio, quesitos que, por exemplo, um celular ou um laptop não têm.
É muito curioso que Maurício de Sousa, em sua coluna “Fala, Maurício” ao fim da revista, tenha mencionado a existência das Três Leis da Robótica, de Isaac Asimov, como leitura complemento para essa edição. Essas três leis são: 1) Um robô jamais deve fazer mal a um humano, ou por inação permitir que um humano sofra algum mal; 2) Um robô deve sempre obedecer a um humano, desde que isso não entre em conflito com a primeira lei; 3) um robô deve proteger a própria existência, desde que isso não entre em conflito com a primeira e segunda leis. Asimov nos deu contos e histórias deliciosas sobre robôs, onde essas três leis interagem seguidamente. Aqui tivemos algo não tão semelhante, mas que se aproximava um pouco do Universo Asimoviano, onde o robô, a priori insensível, “se arrepende” ao ser agressivo com a turma, pois uma situação específica ativou nele uma sub-rotina de combate, algo que hoje chamamos de “bug”. Tal momento da revista é o que mais se aproxima, embora de forma pouco elaborada, em virtude da proposta de maior entretenimento desse veículo midiático que são os quadrinhos da Turma da Mônica, das Três Leis da Robótica de Asimov. De qualquer forma, não deixa de ser notável que uma revista em quadrinhos mais dirigida para o público adolescente (e, por que não, adulto?) aborde questões mais reflexivas desse naipe, num momento em que as cabeças têm pensado tão pouco em nosso país.
Assim, vale mais uma vez a pena procurar nas bancas especializadas que vendem gibis mais antigos essa edição da “Turma da Mônica Jovem” (a edição chegou às bancas no mês passado), especialmente os fãs de ficção científica.
A DC lançou mais uma de suas apostas para o upgrade de suas franquias e estreou o audacioso “Liga da Justiça”, onde foram apresentados novos super-heróis (leia-se Aquaman, Ciborgue e Flash). O negócio agora será fazer filmes solo para esse povo todo. Mas, por enquanto, esse filme mostra todo o rosário de super-heróis trabalhando em conjunto.
E qual foi o resultado de tudo isso? Creio eu que “Liga da Justiça” foi um bom filme, mesmo que tenha sido um pouco arrastado em alguns momentos (o mesmo aconteceu com o filme solo da Mulher Maravilha). Talvez isso aconteça, pois a pegada da DC é a de encarar o Universo de heróis com um pouco mais de seriedade e o clima fica mais pesado (me desculpem leitores, mas a comparação com a Marvel é inevitável). Tal clima atrapalha um pouco o processo de construção dos personagens. E eram vários personagens a serem apresentados, causando uma boa quantidade de micro-histórias que o espectador era obrigado a assistir, quando o público desse filme quer uma pegada maior de ação. Entretanto, não sejamos injustos. “Liga da Justiça” traz uma história instigante e é legal ver os heróis trabalhando em equipe ou se desentendendo, como aconteceu em alguns momentos. Cá para nós, as cenas de conflito foram muito mais interessantes que as cenas de trabalho em equipe, mas não dá para contar em detalhes aqui sem ser alvejado pelos caçadores de divulgadores de spoilers.
O que podemos falar dos novos heróis? Tivemos dois casos muito bons e um mediano. Aquaman foi uma grande surpresa, sendo um personagem muito carismático. Só me causaram estranheza (e grande curiosidade) dois fatores. Em primeiro lugar, por que um Aquaman de grandes cabelos e barba negra? A minha ignorância retumbante em quadrinhos me faz ver esse Aquaman mais com um visual de Deus Netuno. Cadê o louro de olhos azuis? Em segundo lugar, seu visual um tanto rústico me pareceu gerar também um Aquaman meio vaca brava, que salva os fracos e oprimidos e depois os arremessa contra o balcão de um bar e ainda toma uma branquinha (os mais maliciosos diriam que tem tudo a ver o Aquaman ser um pau d’água). Queria saber de onde vem esse visual e toda essa crueza.
Já o nosso Flash faz o papel do pós-adolescente deslumbrado com o meio dos super-heróis, uma fórmula que é repetida por aí (não vou falar o nome da Marv…, ops!). Mesmo não sendo algo muito original, esse Flash mais engraçadinho foi muito simpático e trouxe bons momentos de humor para a película, num ambiente pouco afeito a piadas. Assim, creio que o Flash foi uma ótima contribuição.
O mesmo não se pode falar do Ciborgue. Um homem atormentado por uma experiência um tanto frustrada, coordenada pelo próprio pai, tinha tudo para ser um ótimo personagem. Mas pareceu que a coisa ficou um tanto mal desenvolvida para ele, meio travada, mesmo que a Mulher Maravilha tenha descambado mais para seu lado mãezona com relação a ele. Esperemos que Ciborgue seja mais bem aproveitado e bem desenvolvido.
Num ponto podemos dizer que a DC acertou maravilhosamente. Ela deixou um lance totalmente escondido dos trailers e divulgações. Uma coisa que ficou guardada e que se revelou uma boa surpresa e um grande trunfo. Alguns podem até achar que essa carta na manga deveria ser usada num filme próximo, mas do jeito que ficou, creio que valeu a pena usar isso já nesse filme. Quem prestar um pouco mais de atenção nessas linhas deve entender do que estou falando. Só é pena que possa ter havido um furo de roteiro aí. Mas nada que atrapalhe muito.
Assim, “Liga da Justiça” é um bom filme que está mostrando a melhora progressiva das películas da DC. Se o filme solo da Mulher Maravilha já foi bom, “Liga da Justiça” traz algo a mais e a possibilidade de novas histórias e películas. Vá e, principalmente, não implique. E não deixe de desfrutar das duas cenas pós-créditos.