Batata Comics – Evolução Das Máquinas. Mônica E Os Robôs.

                                                    Capa da Revista

Um dos aspectos dos quadrinhos da “Turma da Mônica Jovem” é o uso, em alguns gibis, de uma temática mais voltada para a ficção científica. Os roteiristas de Maurício de Sousa já nos deram várias mostras disso. E uma característica da ficção científica chama a atenção aqui: as histórias com robôs. Presentes em edições como a 32 e a 73 da primeira temporada da “Turma da Mônica Jovem”, os androides retornam agora na edição 11 da segunda temporada, em mais uma história recheada de implicações filosóficas que estimulam a reflexão dos leitores.

Tudo começa num jogo de videogame online onde Cebola e seus amigos são derrotados, por Nick, o Geek. Ainda enfurecido com a derrota, Cebola recebe a bolada de uma estranha esfera que entra à toda pela janela de sua casa. Cebola descobre que a tal bola é um robô sensciente que tem uma programação bem específica: aprimorar nosso protagonista. O problema é que o robô é muito objetivo e insensível em suas análises, o que incomoda um pouco Cebola e seus amigos. Cebola irá inicialmente usar o robô para aprimorá-lo nas suas habilidades de gamer. Mas a unidade androide percebe que, para melhorar os humanos, ela precisa melhorar a si própria, e pede a Franja que faça um corpo para ela. Entretanto, uma questão fica no ar: de onde veio esse robô? Qual é a verdadeira intenção de sua programação? Paremos por aqui com os spoilers.

      Maurício de Sousa. Cada vez mais próximo da ficção científica…

Histórias de robôs sempre levantam questões muito interessantes e aqui não é diferente. Em primeiríssimo lugar, a questão do aprimoramento. É algo razoável que um robô consiga se desenvolver com sua experiência e superar os parâmetros de sua programação ou tudo soa como uma balela sem tamanho? Renomados cientistas como Marcelo Gleiser já nos chamaram a atenção de como a questão da consciência é algo extremamente complexo. Segundo Gleiser, mesmo que o ser humano conseguisse desenvolver uma máquina que reproduzisse com fidelidade total as funções do cérebro humano, ainda assim não poderemos dizer que ela vai ter uma consciência. Assim, para se aprimorar e se superar, o robô precisa, antes de mais nada, ter consciência, o que é tecnicamente impossível. A existência de uma consciência traz também a questão do livre arbítrio. Na própria história, chega o momento em que o robô precisa fazer uma escolha, o que não significa necessariamente que seja a mesma escolha que a turma da Mônica já “elegeu” para o robô, como se ele não tivesse vontade própria. Assim, as fronteiras entre a máquina e o humano passam pela consciência, pelo aprimoramento e pelo livre arbítrio, quesitos que, por exemplo, um celular ou um laptop não têm.

É muito curioso que Maurício de Sousa, em sua coluna “Fala, Maurício” ao fim da revista, tenha mencionado a existência das Três Leis da Robótica, de Isaac Asimov, como leitura complemento para essa edição. Essas três leis são: 1) Um robô jamais deve fazer mal a um humano, ou por inação permitir que um humano sofra algum mal; 2) Um robô deve sempre obedecer a um humano, desde que isso não entre em conflito com a primeira lei; 3) um robô deve proteger a própria existência, desde que isso não entre em conflito com a primeira e segunda leis. Asimov nos deu contos e histórias deliciosas sobre robôs, onde essas três leis interagem seguidamente. Aqui tivemos algo não tão semelhante, mas que se aproximava um pouco do Universo Asimoviano, onde o robô, a priori insensível, “se arrepende” ao ser agressivo com a turma, pois uma situação específica ativou nele uma sub-rotina de combate, algo que hoje chamamos de “bug”. Tal momento da revista é o que mais se aproxima, embora de forma pouco elaborada, em virtude da proposta de maior entretenimento desse veículo midiático que são os quadrinhos da Turma da Mônica, das Três Leis da Robótica de Asimov. De qualquer forma, não deixa de ser notável que uma revista em quadrinhos mais dirigida para o público adolescente (e, por que não, adulto?) aborde questões mais reflexivas desse naipe, num momento em que as cabeças têm pensado tão pouco em nosso país.

Assim, vale mais uma vez a pena procurar nas bancas especializadas que vendem gibis mais antigos essa edição da “Turma da Mônica Jovem” (a edição chegou às bancas no mês passado), especialmente os fãs de ficção científica.

Isaac Asimov, criador das Três Leis da Robótica.
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