Batata Literária – O Guerreiro

Eu sou o guerreiro.
Luto por minha pátria.
Tudo o que importa é a minha terra,
minha cultura e meu povo.
O inimigo quer nos destruir.
Mas não vou deixar.
Quero destruir! Quero matar!
Aqueles que nos querem um fim dar.
Vou de cabeça erguida
ao campo de batalha.
Com um ímpeto de combate,
olhando nos olhos do inimigo,
para dar-lhe medo.
Mas também estou com medo.
Entretanto, não posso arrefecer!
O inimigo é que tem que me temer!
A batalha começa!
Mato um, dois, três, dez, mil!
Com minha metralhadora!
Não deixo um em pé!
Mas, de repente,
sinto falta de minha mãe,
de meu pai, de meus irmãos,
de minha amada…
Súbito, sinto uma pancada.
Caio ao chão.
Estou mortalmente ferido.
Não me resta muito tempo.
Olho para o céu negro.
Nunca mais verei minha mãe, meu pai, meus irmãos!
E minha amada não terá mais o casamento que queria comigo.
Ela se casará com outro homem e me esquecerá.
Esse é o preço de se defender a pátria…
Minha amada pátria!!!!!
guerreiro

Batata Books – Lordes Dos Sith. Uma História Emocionante E Muito Sinistra.

Capa do Livro
Capa do Livro

A Editora Aleph, dentro de sua proposta de publicar muitas histórias de “Guerra nas Estrelas”, nos traz uma nova obra, considerada parte do novo cânone. Escrita por Paul S. Kemp, “Lordes dos Sith” pode ser considerada uma história muito instigante, com lances sensacionais de ação, mas também extremamente sinistra, com nossos Darths Sidious e Vader tocando um terror como poucas vezes visto em outras histórias. É um livro que vai agradar muito aos fãs.

A história aqui se concentra em torno do movimento Ryloth Livre, um pequeno grupo de resistência do planeta Ryloth, berço da espécie Twi’lek. Estamos entre os Episódios III e IV e o Império ainda consolida seu poder pela Galáxia. Mas pequenos focos de resistência já surgem contra a arbitrariedade sith e os rebeldes de Ryloth tomam as atitudes mais ousadas. Liderados por Cham Syndulla, pai de Hera Syndulla da série “Rebels”, e por Isval, os rebeldes tinham, a princípio, o plano de libertar Ryloth das garras do Império, mas não derrubar todo o Império em si. A ideia era dar alguma autonomia a seu planeta natal para ter uma maior margem de negociação com o Império, já que era muito difícil derrotá-lo. Como a revolta dos Twi’leks estava provocando estragos, o Imperador decidiu pessoalmente ir com Vader a bordo do destroier estelar Imperial “Perigo” para Ryloth. Essa era a oportunidade para os rebeldes enfraquecerem de vez o Império, destruindo a “Perigo” e matando, de uma vez, o Imperador e Vader.

Cham Syndulla
Cham Syndulla

A história merece dois destaques muito especiais. Em primeiro lugar, o plano dos rebeldes para atacar a “Perigo”, que foi feito com muita engenhosidade e com várias alusões a coisas que vemos nos filmes, constituindo-se num ótimo “fan service”. Esse é o trecho mais instigante e marcante do livro e, por si só, já valem os reais investidos nele. A gente lê toda a coisa num fôlego só, e fica louco por mais. Em segundo lugar, o Imperador aproveita essa viagem a Ryloth e todos os acontecimentos que, segundo Sidious, sempre foram previstos por ele, para submeter Vader a vários testes. Devemos nos lembrar que os eventos do Epísódio III ainda estão muito recentes e que os medos e angústias de Anakin Skywalker ainda permeiam a mente do Lorde Sombrio. As situações adversas impostas pelo Movimento Ryloth Livre aos dois será uma boa oportunidade para colocar a lealdade de Vader à prova e inseri-lo ainda mais na filosofia Sith, sobretudo a “Regra de Dois”. E aí, podíamos ver toda a maldade pura de Sidious, colocando Vader nas situações mais escabrosas, sempre com aquele risinho sádico.

Isval
Isval

Essa é uma história também muito violenta, como poucas vezes vemos em “Guerra nas Estrelas”. Só para dar um pequeno “spoiler” muito rápido, posso dizer que, antes da página 40, Vader já havia matado mais de trinta pessoas de uma vez. Aliás, esse livro descreve como poucos o poder de Vader imerso no lado sombrio da Força. Ele consegue proezas sobre-humanas, como correr a velocidades incríveis ou destruir exércitos e grupos de animais selvagens inteiros (a longa sequência da perseguição dos insetóides lyleks é altamente angustiante), dando uma sensação de que Vader e Sidious são totalmente indestrutíveis. E o livro também nos dá uma chance de ouro de testemunhar o Imperador usando todo o seu poder não somente com os raios, mas também com suas técnicas de sabre de luz. E, como ele não quer que as pessoas presenciem isso, para manter sua identidade sith não revelada, já dá para adivinhar o que acontece com elas.

Os terríveis lyleks
Os terríveis lyleks

Assim, o livro “Lordes dos Sith” é uma obra obrigatória para quem ama o Universo de “Guerra nas Estrelas”, pois foi escrita com uma engenhosidade fora do comum, tanto nas estratégias rebeldes como nas maldades e poderes sobre-humanos dos sith. É o tipo de livro que consegue, simultaneamente, nos dar uma leitura instigante e angustiante. Um livro que consegue despertar sentimentos tão díspares só pode ser muito bom. E ele realmente o é. Tanto que, na minha iniciação como leitor dos romances de “Guerra nas Estrelas”, sejam eles Cânone ou Universo Expandido, já coloco Paul S. Kemp como um nome digno de estar ao lado de Timothy Zahn e James Luceno. Definitivamente, uma leitura que vale muito a pena

O Imperador e Vader passarão por uma grande provação
O Imperador e Vader passarão por uma grande provação

Batata Literária – O Fugitivo

Por Carlos Lohse

Lamentamos informar, mas não conseguimos a foto do fugitivo. Ele foi mais rápido que nós…
Eu sou o fugitivo.
Vivo fugindo.
Fujo de meus temores,
fujo de minhas angústias,
fujo de meus pavores,
fujo de meus desesperos,
fujo de minhas ânsias.
Minha covardia é pequena.
Fujo, também, de minhas responsabilidades,
fujo de meus riscos,
fujo de minhas paixões,
fujo de minhas tentativas,
fujo de minhas esperanças,
fujo daquilo que eu poderia ser
mas que jamais serei.
Minha covardia cresce.
Essa é a vida do homem em fuga.
O medo o congela,
o medo não o impele a ir adiante,
o medo o desgraça.
O único impulso que o medo dá
é o impulso que leva o homem a fugir
para cada vez mais longe, mais distante.
Minha covardia é grande.
Por isso, fujo. Apenas fujo.
Corro até ao infinito,
até a muito longe de todos
por medo e por vergonha.
Fujo, fujo e fujo.
Minha alma está em frangalhos.
Sou totalmente dominado pelo medo.
Minha covardia é infinita.

Batata Antiqualhas – Furyo, Em Nome Da Honra. Multiculturalismo Em Campo De Prisioneiros.

Cartaz do Filme
Cartaz do Filme

Falemos sobre os filmes de Nagisa Oshima, um diretor japonês que ficou muito conhecido aqui em meados da década de 70, 80, com a película erótica “Império dos Sentidos”. Hoje vamos analisar a ótima película “Furyo, em Nome da Honra” (“Merry Christmas, Mr. Lawrence”), realizada em 1983. Vemos uma crítica ácida de Oshima à sociedade japonesa, tomando como pano de fundo a Segunda Guerra Mundial. A história conta a rotina de prisioneiros ingleses num campo de trabalhos forçados japonês na Ilha de Java em pleno ano de 1942.

Celliers. Postura desafiadora
Celliers. Postura desafiadora

Um dos prisioneiros, o coronel John Lawrence (interpretado por Tom Conti), é um admirador da cultura japonesa e mantém relações, digamos, cordiais, com seus detentores, sendo uma espécie de intérprete entre os japoneses e os prisioneiros. Ele é chamado pelos japoneses para tomar conhecimento de uma relação homossexual entre um soldado japonês e um soldado holandês. O soldado japonês deverá cometer harakiri (suicídio através de uma espada enfiada dentro do ventre) para não viver na vergonha. O quartel é comandado pelo capitão Yonoi (interpretado por Ryuichi Sakamoto) com mão de ferro. Mas o comportamento do capitão sofrerá drásticas alterações quando chega um novo prisioneiro, o major inglês Jack Celliers (interpretado por ninguém mais, ninguém menos que David Bowie). Yonoi se sentirá fortemente atraído por esse oficial inglês que também tem tendências homossexuais. Mas Celliers é altamente insolente e atrevido, lançando mão de uma postura muito desafiadora contra os japoneses, o que vai lhe render muitas punições. E Celliers sabe dos interesses de Yonoi para com ele, o que vai provocar situações um tanto inusitadas no decorrer da história.

Lawrence,o amante da cultura japonesa
Lawrence,o amante da cultura japonesa

O grande atrativo desse filme, apesar do papel protagonista de David Bowie, recai no personagem John Lawrence, que funciona como uma espécie de ponte entre as culturas japonesa e inglesa. Por causa desse fato, ele é incompreendido tanto do lado dos ingleses quanto do lado dos japoneses. A questão dos motivos que levam ao culto suicida do harakiri é apresentada e relativizada. Mas, ao mesmo tempo, existe uma crítica à cultura japonesa no que tange à devoção excessiva ao Imperador e aos antigos deuses dessa cultura, e isso pareceu uma incursão agressiva de Oshima contra os hábitos ancestrais japoneses. Embora o personagem de Lawrence seja de grande relevância para a história, em alguns momentos a coisa pareceu uma forçada de barra, pois, mesmo com seu bom relacionamento entre os japoneses, ele tomava umas bambuzadas. E, depois, ele criticava abertamente algumas atitudes dos japoneses, até com uma dose de sarcasmo, e não tomava nem uma pauladinha. De qualquer forma, essa visão multiculturalista num local tão improvável disso acontecer quanto um campo de trabalhos forçados japonês na Segunda Guerra Mundial foi altamente válida, mesmo que a cultura japonesa tenha sido vista com relativa vilania.

Yonoi, um sádico capitão
Yonoi, um sádico capitão

Igualmente válido foi abordar a questão do homossexualismo no campo de prisioneiros. Se o capitão Yonoi, num primeiro momento, ordena que seu subordinado homossexual cometa Harakiri para não viver na vergonha, o próprio capitão também tinha atitudes homossexuais escondidas, sendo um alvo fácil para as investidas de Celliers, outro homossexual. E aí, o preconceito contra a cultura japonesa ficou meio que latente, já que Celliers era visto pelos japoneses como uma alma maligna que enfeitiçava seu valoroso capitão, tal como uma cultura “primitiva” que endeusa homens.

Beijo em Yonoi. Tilt geral...
Beijo em Yonoi. Tilt geral…

E o que falar da atuação de David Bowie? Plana? Caricata? Talvez… Foi hilária a  sequência em que ele literalmente comia flores para desafiar as ordens de Yonoi, que colocou todos os prisioneiros ingleses em 48 horas de jejum. Seu olhar desafiador para o capitão japonês despertou mais risos do que espanto. Mas o momento em que talvez Bowie precisasse ser mais intenso foi justamente a hora em que sua interpretação ficou mais contida, que foi a cena dos dois beijos que ele deu nas bochechas de Yonoi, perante todos os prisioneiros ingleses e soldados japoneses, onde estes últimos encararam Celliers como um mau espírito que envenenava Yonoi. O beijo de Celliers em Yonoi provocou uma espécie de “tilt” em todo mundo e, talvez aqui, Bowie pudesse ter sido um pouco mais dramático. Mesmo assim, a presença de Bowie não deixa de ser uma curiosidade e atrai mais atenção do público para a película. E não devemos ser muito exigentes com o astro do rock, que não está inserido em sua verdadeira área quando atua para o cinema e tem a coragem (ou cara de pau?) suficiente para encarar tal empreitada…

Eating flowers!!!!
Eating flowers!!!!

Assim, “Furyo, Em Nome da Honra”, é mais um filme altamente recomendável de Nagisa Oshima, pois nos traz a presença de David Bowie em seu elenco e, principalmente, busca fazer uma discussão multiculturalista entre as culturas japonesa e ocidental, ainda que caia, muito provavelmente de forma proposital, em alguns preconceitos contra elementos culturais japoneses. E aí, o dedo de Oshima está bem presente. Não deixe de ver o trailer abaixo.

Batata Arts – Natureza Viva

Por Carlos Lohse

Mais uma nova seção. Batata Arts vai falar de um pouquinho de artes plásticas. Você conhece a natureza morta? Sim, aqueles quadros famosos que mostram uma mesa com um cesto de frutas? Pois é. A Batata Espacial orgulhosamente apresenta uma natureza viva! Parafraseando um programa da “Armação Ilimitada”, lá da década de 80, “Yes, nós somos bananas!”. Mas também maçãs, uvas e limões!!!

natviv2

Batata Antiqualhas – Fome de Viver. Terror Com Requinte.

Por Carlos Lohse

Cartaz do Filme
Cartaz do Filme

Imagine um filme de terror com Catherine Deneuve, David Bowie e Susan Sarandon. Pois é, isso aconteceu lá no início dos anos 80 (mais especificamente 1983) onde as atrizes estavam fulgurantes e muito joviais. Um contraste com o ambiente sombrio e pesado apresentado na trama. “Fome de Viver”, de Tony Scott, é uma estranha e estimulante combinação. Vamos analisá-la aqui.

Um elegante casal
Um elegante casal

A história nos conta a vida de um casal, John Blaylock (interpretado por Bowie) e Miriam Blaylock (interpretada por Deneuve), que aparentemente gosta de noitadas, arrumando outro casal nas danceterias da vida, para a prática de swing. Mas o que parecia uma noite de prazer termina com o assassinato das vítimas atraídas, com direito a muito sangue e consumo dele. Com o tempo, descobrimos que este casal tem uma espécie de vida imortal e que precisa se alimentar com o sangue das pessoas. A imortalidade aparece evidente no lar dos dois, com uma mobília recheada de móveis e objetos antiquíssimos e originais. Inclusive o pingente do colar de Miriam é um símbolo egípcio original da imortalidade, usado justamente como arma para ceifar as vidas de suas vítimas. Miriam, na verdade, é a que detém a imortalidade. Ao escolher seus amantes, ela, vampirescamente, dá uma mordidinha no corpo do eleito (ou eleita) e contamina o sangue da pessoa com o seu, criando um vínculo e lhe prometendo vida eterna.

Sangue e homossexualismo
Sangue e homossexualismo

Mas essa vida é obtida às custas de um envelhecimento muito rápido e o moribundo, totalmente deformado pela velhice, não morre. Nesse momento, Miriam descarta seu amante e o coloca num caixão, depositando o pobre infame vivo num sótão onde há outros caixões com outros antigos casos amorosos na mesma condição, num verdadeiro museu de amantes esquecidos. Isso aconteceu com John, mas antes ele procurou a doutora Sarah Roberts (interpretada por Susan Sarandon), que realizava pesquisas médicas para reduzir os efeitos de uma estranha doença que provocava rápido envelhecimento (por sinal, a mesma doença que acometia John). Por intermédio de John, Sarah conhece Miriam, que a escolhe como próxima amante. A partir daí, cria-se todo um ambiente de tensão no ar, onde veremos ou não se Miriam consegue atingir suas mórbidas intenções.

Maquiagem rudimentar para hoje
Maquiagem rudimentar para hoje

O filme tem detalhes muito interessantes. Um início numa danceteria algo gótica, algo dark, prenunciando o clima sombrio da trama. Logo após, vemos a casa do casal, num ambiente leve, aristocrático e agradável, cheia de antiguidades, espelhando a longevidade dos personagens. Cenas de amor muito suaves e tocantes, contrastando com assassinatos muito violentos e sanguinários, inclusive um infanticídio. Contraste esse realçado na cena de amor entre Miriam e Sarah, onde o homossexualismo é colocado de forma leve e não contundente (pudera, estamos em 1983, o que já deve ter sido muito desafiador para a época!), com cenas muito delicadas, contrabalançadas por uma violência, ainda que leve, de mordidas em braços que arrancam sangue. Aliás, Miriam e Sarah são o que de melhor tem o filme. Duas belezas angelicais que simbolizam o diabólico e o racional. Deneuve já apresentando os traços da idade, mas lindíssima e poderosíssima, ainda mais quando soltava seus longos cabelos louros. Sarandon com uma beleza de menina, embora aquele penteado curto não ajudasse muito. A gente se delicia muito com a beleza e delicadeza daquelas duas. Mulher e cinema são, decididamente, duas artes que se combinam e se completam.

Museu de amantes esquecidos
Museu de amantes esquecidos

E o Bowie? Bom, dentro de seu aspecto multimídia, ele também buscou uma carreira cinematográfica, interpretando papéis também em filmes como “Labirinto” e “Basquiat”. Quanto à “Fome de Viver”, não sei, pode ser que eu esteja de implicância, mas suas falas me pareceram planas e áridas, desprovidas de emoção como um deserto sem vento e dunas. É aquela velha piada: como ator, Bowie é um ótimo cantor. Um último comentário deve ser feito quanto à maquiagem dos moribundos. O que achávamos um barato na década de 80 hoje parece algo muito artificial e pesado. Ao presenciarmos os cadáveres vivos e deformados, é impossível não nos lembrarmos de “Thriller”, de Michael Jackson, de “A Hora do Espanto” e coisas mais obscuras como “A Volta dos Mortos Vivos”. Uma pena, pois o que, ao meu ver, até ficou um bom filme de arte, acabou se contaminando um pouco com as características de um blockbuster de circuitão por causa da maquiagem. Mas, paciência, eram as limitações da época.

Bowie. Mais cantor do que ator
Bowie. Mais cantor do que ator

Por essas razões, “Fome de Viver” é um filme muito interessante, que estimula nossa curiosidade e aguça nossos sentidos, seja pelas situações de terror, seja pela delicadeza e beleza das atrizes. E não deixem de ver o trailer abaixo.