Batata Literária – Poesia de Rodoviária

Por Carlos Lohse

As pessoas vêm, as pessoas vão.
As pessoas vêm, as pessoas vão.
Quantos sonhos,
quantas desilusões,
quantas mágoas e frustrações.
Quantas esperanças,
quantas sabedorias,
passam à minha frente, numa torrente de emoções.
Quantas histórias de vida!
Bons exemplos e maus exemplos
fechados dentro de cada ser.
Para onde vão?
De onde vêm?
À trabalho, diversão?
Para sempre ou pendularmente?
Tudo isso me dá aflição.
É, a vida é assim,
milhares de pessoas aqui passam todos os dias,
todas juntas mas, ao mesmo tempo,
todas separadas.
Por mais estranho que isso possa parecer,
quanto mais gente há,
mais indiferente o ser fica
mais egoísta o humano se torna.
Por isso que eles apenas caminham,
compenetrados, fechados em si mesmos,
pensando em suas vidas, em seus problemas,
sem olhar para o próximo ao lado.
E eu, que daqui a pouco
também entrarei nessa torrente
tiro, numa rima pobre, apenas uma conclusão:
as pessoas vêm, as pessoas vão.
rodoviaria

Batata News – Saiu o trailer de Valerian

Mas, quem é Valerian? Se você lia o Globinho décadas atrás, sabe de quem estou falando. Todo domingo ele encabeçava o suplemento de quadrinhos de O Globo, sob a alcunha de “Valerian, o Agente Espaço-Temporal”. O lançamento do filme “Valerian e a Cidade dos Mil Planetas” está previsto para julho do ano que vem. E, se você não sabe nada de Valerian, pelo menos fica a dica de que a direção fica a cabo do porra louca Luc Besson. Vejam o trailer do filme!!!

Batata Movies – De Palma. A Trajetória de Um Incompreendido.

Por Carlos Lohse

Cartaz do Filme
Cartaz do Filme

Pois é, o Festival do Rio 2016 acabou, mas ainda houve a rebarba da “Última Chance”. Esse ano, um dos cinemas onde pudemos ter um gostinho extra do Festival após o seu término foi o Roxy, de Copacabana. E lá tivemos a oportunidade de se assistir o excelente documentário “De Palma”, sobre o conhecido diretor de cinema norte-americano. Esse filme, dirigido por Noel Baumbach (de “Francis Ha”) e Jake Paltrow, tem uma estrutura muito simples. Vemos o próprio Brian De Palma narrando toda a sua trajetória desde a infância, passando por sua família, pelas primeiras experiências cinematográficas, chegando até ao estrelato de diretor consagrado, mas muito contestado e, por que não, um pouco maldito.

Brian De Palma. Revisando seu passado
Brian De Palma. Revisando seu passado

O documentário é uma joia para os amantes do cinema em geral, pois Brian De Palma é de uma geração de cineastas que engloba Coppola, Spielberg, Lucas, Scorsese e por aí vai. Ainda, o início da carreira cinematográfica do diretor coincide com o início da carreira cinematográfica de Robert de Niro. É exibido no filme trechos dos primeiros filmes em que eles trabalham juntos, tornando-se uma grande curiosidade dessa película. Mas há muito mais. Ele fala de detalhes da produção e curiosidades de filmes como “Carrie, a Estranha”, “Scarface”, “Vestida para Matar”, “Dublê de Corpo”, “Os Intocáveis”, “O Pagamento Final”, “Pecados de Guerra”, “Missão Impossível”, etc., sendo essa a parte mais deliciosa do filme. É falado também da repulsa, por parte do público e da crítica, a seus filmes, que tinham às vezes um conteúdo muito violento e chocavam muito. Reclamava-se muito de cenas onde mulheres eram vítimas de uma violência extrema ou então de conteúdos altamente eróticos, coisas que sacudiam na cadeira os tradicionais WASPs americanos.

Uma turma da pesada...
Uma turma da pesada…

Sua veia iconoclasta e desafiadora não tinha limites e De Palma chegou a fazer teste com uma atriz pornô para um filme que falava de uma prostituta, o que deixava indignados os executivos dos grandes estúdios. Foi ainda lembrado no documentário que Brian De Palma fez parte de uma geração de diretores que experimentou um breve momento de autonomia e liberdade com relação aos grandes estúdios, o que acabou levando à produção de grandes filmes. Só que logo os estúdios retomaram o controle da situação e impuseram sua vontade novamente, para a decepção do diretor, que muito reclama da interferência dos grandes estúdios em seus filmes, em virtude de seu viés altamente polêmico.

Dirigindo Al Pacino em "Scarface"
Dirigindo Al Pacino em “Scarface”

Outro ponto interessante dessa película é que De Palma, ao falar sobre seus filmes, falava também das influências de outros diretores e outros gêneros cinematográficos, como Hitchcock ou a Nouvelle Vague, sobretudo Godard. E aí, a montagem do documentário é primorosa, pois imagens de seus filmes são comparadas com imagens de suas influências, como no caso de “Os Intocáveis”, onde a sequência do tiroteio na escadaria da estação de trem é comparada com a sequência da escadaria de Odessa de “Encouraçado Potemkim”, de Sergei Eisenstein, influência direta e confessa do diretor em suas próprias palavras.

Carrie, de dar medo!!!
Carrie, de dar medo!!!

Assim, o documentário “De Palma” só confirma que o Festival do Rio deste ano conseguiu manter a sua tradição de trazer ao público excelentes documentários sobre os mais variados temas. E a coisa torna-se mais atraente ainda quando o documentário fala justamente do grande amor de provavelmente boa parte do público do Festival, que é o cinema. Um programa imperdível. Torçamos para que esse documentário seja lançado comercialmente por aqui. E não deixe de ver o trailer abaixo.

Batata Books – Portal do Tempo. Quando Spock Tem Um Filho!

Por Carlos Lohse

Capa do Livro
Capa do Livro

A Editora Aleph fez um importante relançamento para os fãs de “Jornada nas Estrelas”. “Portal do Tempo”, de Ann C. Crispin, é simplesmente uma obra magnífica que consegue captar todo o ambiente da consagrada série clássica. Fã de “Jornada nas Estrelas” desde muito cedo, Crispin começou a rascunhar suas primeiras aventuras da Enterprise no papel aos 17 anos, no já longínquo ano de 1967. Mas foi em 1978, depois de rever o episódio “Todos os Nossos Ontens”, da terceira temporada da série clássica, que a escritora teve a ideia para escrever seu livro de ficção científica inaugural. A história de “Todos os Nossos Ontens” fala da volta de Spock e McCoy ao passado de um planeta chamado Sarpeidon, cinco mil anos atrás, o que vai levar Spock ao seu estado primitivo, onde ele age de forma completamente passional, come carne e se apaixona pela lindíssima Zarabeth. Crispin imaginou uma continuação para essa história, onde Spock teria gerado um filho em Zarabeth. Ao analisar dados arqueológicos de Sarpeidon, Spock descobre uma figura rupestre em formato vulcano, o que o impulsiona a voltar ao passado através do Guardião da Eternidade, uma espécie de portal consciente que permite as pessoas fazerem viagens pelo tempo. O filho de Spock, Zar, é encontrado, mas ele não recebe uma resposta afetiva de seu pai que, a princípio, age de forma extremamente fria. A alegação de Spock para buscar Zar é a de que a família é uma instituição muito importante em Vulcano, o que magoa muito o jovem rapaz. Assim, o livro mostra a odisseia de Zar para se adaptar à sua nova realidade a bordo da Enterprise, onde ele precisa conciliar sua forte carga de estudos ao aprofundamento de seus novos relacionamentos humanos. Mas haveria uma invasão romulana que ameaçaria o Guardião da Eternidade, adicionando mais um elemento interessante à trama. Isso sem falar que Zar possui misteriosos poderes. Mas, sem mais “spoilers”.

Spock e Zarabeth, um caso de amor
Spock e Zarabeth, um caso de amor

Crispin conseguiu fazer um livro delicioso de se ler (em 1983, o livro entrou para a lista do “The New York Times” das publicações mais vendidas). Seu êxito foi em resgatar todo o espírito da série clássica, com as características dos personagens protagonistas preservadas, embora tenhamos presenciado um McCoy muito menos rabugento e bem mais amável, tornando-se uma espécie de pai postiço de Zar, e um Spock muito mais vulcano do que humano com o filho, embora as doses de humanidade do personagem tenham sido usadas na quantidade certa e nas horas certas. O humor, um elemento recorrentemente usado na série, foi também muito usado, sobretudo nos diálogos entre os personagens que, diga-se de passagem, foram muito bem escritos. Os conflitos com os romulanos e uma violência em padrões um pouco maiores que os vistos nos episódios da série clássica, chamaram muito a atenção e apimentaram a coisa. Enfim, parecia que, ao ler as páginas do livro, estávamos assistindo a um genuíno episódio da série clássica. A autora fez também uma espécie de “fan service” (isso em 1978, imaginem!) fazendo alusões a vários personagens e situações expostas em episódios da série clássica, devidamente sinalizados nesta edição do livro em notas de pé de página. Aliás, essa foi a intenção da Aleph: que o livro não fosse apenas acessível para os velhos “trekkers”, mas também para pessoas que não conheçam muito bem o Universo de “Jornada nas Estrelas”. Para se ter uma ideia, há uma apresentação dos personagens principais e suas características mais marcantes, assim como ao fim do livro há uma espécie de miniglossário com alguns verbetes que ajudam o novo fã de “Jornada nas Estrelas” a compreender um pouco melhor tudo o que acontece nessa franquia que se tornou cinquentenária esse ano.

Assim, “Portal do Tempo” é uma grande obra literária de “Jornada nas Estrelas” e leitura obrigatória para qualquer “trekker”, assim como uma ótima porta de entrada para os leitores que ainda não conhecem as aventuras de Kirk, Spock e McCoy. A leitura desse livro é muito divertida, prazerosa e flui muito rápido. Vale muito a pena!

A autora, A. C. Crispin
A autora, A. C. Crispin

Batata Literária – Mário (à Mário Peixoto)

Era um menino muito franzino,

muito recluso, muito fechado.

Muito ligado à avó,

que, na adolescência foi estudar na Inglaterra.

Lá, teve contato íntimo com o cinema.

Se apaixonou pelos filmes alemães.

Mas sofria muito com a frieza do povo inglês

e, por isso, teve como amigos filhos do Império japonês.

De volta ao Brasil,

tinha como amigos estudiosos do cinema

que fundaram um periódico

cuja função era estudar o cinema teoricamente.

Ele via tudo à distância,

mas buscava um enredo para um scenario

do fundo de sua alma

onde a teoria vinha apenas como um apoio.

Logo escreveu o scenario.

Entregou-o para um diretor de cinema

e para outro.

Qual foi a conclusão dos dois?

O próprio menino franzino deveria dirigi-lo.

O scenario era complicado demais.

E todos aqueles que militavam pelo cinema

logo começaram a ajudá-lo.

De todo esse esforço

saiu um filme único, maravilhoso.

Um filme que explorava

a limitação da condição humana

perante o Universo.

Onde toda a angústia do ser

era exposta de forma fria e crua,

uma reflexão de até onde nós podemos ir em nossas vidas.

Mário Peixoto, um dos grandes cineastas brasileiros, que escreveu um roteiro e dirigiu aos 16 anos.
Mário Peixoto, um dos grandes cineastas brasileiros, que escreveu um roteiro aos 16 anos, e dirigiu “Limite”, considerado por muitos especialistas o maior filme brasileiro de todos os tempos.

Batata Jukebox – The Cult

 The Cult
The Cult

Vamos começar mais uma seção inédita da Batata Espacial. Batata Jukebox vai falar de grupos musicais irados de hoje e do passado. Vamos começar com a banda The Cult. Formada em 1984, em Yorkshire, Inglaterra, essa banda de hard rock foi composta de ex-integrantes das bandas Southern Death Cult, Theatre of Hate e, posteriormente, Death Cult.

No fim dos anos 70, um jovem chamado Ian Astbury decidiu criar uma banda. Este foi o início do Southern Death Cult, um grupo de rock gótico pós-punk. A música do grupo não combinava totalmente com o seu estilo, uma vez que Astbury era muito influenciado pela música e visuais dos anos 60.

Em 1983, com o fim do Southern Death Cult, Ian Astbury junta-se a Billy Duffy (guitarra, ex-Theatre of Hate), Jamie Stewart (baixo, ex-Ritual) e Ray Mondo (bateria), e a banda passa a se chamar Death Cult.

Em julho de 1983, a banda lançou Death Cult, com quatro canções. Em setembro do mesmo ano, Ray deixa a banda para dar lugar a Nigel Preston, (ex-Sex Gang Children). Com o novo baterista, o Death Cult lança em outubro de 1983 o single God Zoo.

Em uma sexta-feira, (13 de Janeiro de 1984), antes de fazerem um programa de TV, Ian decide que a banda passaria a se chamar The Cult, retirando, assim, a conotação “gótica” da banda.

A seguir, assinam um longo contrato com o selo Beggars Banquet. Depois, a banda procede a uma turnê europeia antes do lançamento de Dreamtime em agosto de 1984.

O álbum de estreia, Dreamtime, sai em 1984. Após esse lançamento, o baterista Preston é substituído por Mark Brzezicki. Durante as gravações do segundo álbum, Mark é substituído por Les Warner (ex-baterista de bandas como Sham 69 e Johnny Thunders) e é lançado o disco Love (1985). Este álbum é uma homenagem da banda a grupos e artistas da década de 1960 e 1970, como Led Zeppelin, The Doors, Jimi Hendrix, entre outros, que sempre os influenciaram. Além do título do álbum, os timbres, os efeitos de guitarra e as equalizações utilizadas em Love são baseadas nos discos dessa época (nos anos anteriores aos 1980).

O baixista Stewart passou a tocar guitarra base e o baixista Kid Chaos, de uma banda chamada Zodiac Mindwarp, entrou no grupo. Discussões entre Astbury e Duffy começaram a abalar o grupo. A dupla não estava se entendendo nas novas composições devido à direção que a banda queria tomar (indo para o hard rock tradicional e deixando o gótico) e a saída foi chamar o respeitado produtor Rick Rubin para rearranjar as músicas que já haviam sido gravadas (e que só foram lançadas no Rare Cult Box Set, anos depois). Tal produtor já havia trabalhado com o Slayer e Danzig. Dessa união, surgiu em 1987 o álbum Electric.

A banda entrou em turnê por um ano e meio e os problemas de Astbury com o álcool pioraram cada vez mais. Muitos shows, inclusive uma temporada no Japão, foram cancelados. Nessa época, Les Warner saiu do grupo.

Para a gravação do novo álbum, foi chamado o famoso produtor Bob Rock (Mötley Crüe e Bon Jovi e depois Metallica), Mickey Curry (Brian Adams) foi recrutado para as baquetas, Kid Chaos foi demitido e Jamie Stewart retornou ao baixo. Sonic Temple foi lançado em 1989 e teve a participação de Iggy Pop nos vocais de “New York City”. Após esse lançamento, Matt Sorum é recrutado para a tour, mas deixa a banda logo em seguida, indo para o Guns N’ Roses.

Contudo, as coisas não iam bem: Astbury havia chegado num nível em que o álcool trazia riscos graves para a sua saúde. A banda teve que se empenhar várias vezes com versões instrumentais nas músicas, para cobrir as constantes ausências de Astbury. No final da turnê do álbum Sonic Temple, em 1990, Stewart abandonou o grupo, cansado de ser mediador das constantes discussões entre Astbury e Duffy e da rotina das constantes turnês. Ele montou uma banda chama The Untouchables, com Adrian Smith, que havia saído do Iron Maiden na mesma época.

Com o novo baixista Charlie Drayton, a banda lança Ceremony, em 1991. Em 1993, mais mudanças: entram Craig Adams (ex-Sisters of Mercy e The Mission) no baixo e Scott Garrett na bateria. O produtor Bob Rock é chamado novamente e The Cult é lançado em 1994, e o grupo se dissolveu após um show no Brasil. Astbury e Duffy partiram em projetos solo, mas nenhum deles conseguiu muita repercussão separado.

Decidem, então, unir-se novamente e participam da trilha sonora do filme estrelado por Nicolas Cage, Gone in 60 Seconds com a faixa “Painted on My Heart”. Em junho de 2001, o Cult lança o novo álbum Beyond Good and Evil, novamente com produção do veterano Bob Rock. Na sequência, a banda entrou em mais um hiato. Astbury foi chamado para assumir os vocais de ‘The Doors of The 21st Century’. Oliver Stone havia pensado no cantor para estrelar o filme The Doors, em 1991, que Val Kilmer acabou por estrelar.

Em 2005, o Cult anunciou a volta as atividades e a turnê Return of the Wild, que resultou no último disco da banda, lançado em 2007, chamado Born Into This, sempre com Astbury e Billy Duffy como os membros principais.

Em 2007-2008, a banda teve seu sucesso “She Sells Sanctuary” presente no jogo Guitar Hero Aerosmith. A mesma música já havia sido licenciada, em 2001, para o jogo Gran Turismo 3: A-Spec e, em 2002, para o jogo Grand Theft Auto: Vice City, podendo esta ser ouvida na rádio VROCK do jogo.

Em 25 de Setembro de 2009, iniciaram a digressão europeia Love Live Tour em Lisboa. Em 1 de agosto de 2010 lançaram um novo single “Every Man and Woman Is a Star” que está disponível no iTunes.

Em 2013 foi lançado o jogo Grand Theft Auto V, contendo a música “Rain” (1985), podendo ser ouvida na rádio Los Santos Rock Radio.

Vamos agora colocar aqui a letra de “Revolution”, do álbum “Love”, uma música que tocou muito por aqui na década de 80. E, a seguir, o vídeo clip!

“Revolution”
Pictures of never ending dreams
I can’t see what these images mean
Locked inside me
Can’t set the rainbows free
Like perishing flowers
They sag and twist and die

There’s a revolution
There’s a revolution, yeah
There’s a revolution
There’s a revolution

Sorrow
What does revolution mean to you?
To say today’s like wishing in the wind
All my beautiful friends have all gone away
Like the waves
They flow and ebb and die

There’s a revolution
There’s a revolution
There’s a, there’s a revolution
There’s a revolution

There’s a revolution
There’s a revolution
There’s a revolution
There’s a revolution, yeah

Joy or sorrow
What does revolution mean to you?
To say today’s like wishing in the wind
All my beautiful friends have all gone away
Like the waves
They flow and ebb and die

There’s a revolution
There’s a revolution
There’s a revolution
There’s a revolution

Revolution
Revolution
Revolution
Revolution

Revolution
Revolution
Revolution
Revolution, yeah

Batata Antiqualhas – Falcões Da Noite. Visões Do Terrorismo De Décadas Atrás.

Cartaz do Filme
Cartaz do Filme

Imagine um filme com Sylvester Stallone, Rutger Hauer, Billy Dee Williams (nosso Lando Calrissian), Lindsay Wagner (a lendária Mulher Biônica da década de 1970) e Persis Khambatta (a Ilia de “Jornada nas Estrelas, o Filme”). Pois é, caro leitor, isso aconteceu! Mais especificamente, no longínquo ano de 1981, no filme “Falcões da Noite” (“Nighthawks”), um delicioso thriller de ação policial. Vamos recordar aqui essa interessante história.

DaSilva e Fox. Policiais casca grossa
DaSilva e Fox. Policiais casca grossa

A trama fala de dupla de policiais Deke DaSilva (interpretado por Stallone) e Fox (interpretado por Williams). A atividade deles consistia em fazer tocaias para bandidos na rua. O plano, por sinal muito exótico, era o seguinte: DaSilva se disfarçava de pessoas acima de qualquer suspeita: um senhor respeitável de terno e gravata, uma senhora (?!?!), etc., e se metia nos piores buracos de Nova York, atraindo os bandidos. Mas Fox estava à espreita e DaSilva, obviamente, preparado para a tocaia. No início do filme, em sua versão legendada, chega a ser hilário o que DaSilva fala ao bandido depois de tirar seu disfarce de uma respeitável senhora: “Vem me atacar, He-Man!!!”. Bem antenado com o zeitgeist (“espírito da época”). E assim, entre muitas armadilhas, bocas de fumo estouradas e muita, muita porrada, nossos estimados policiais vão vivendo. Infelizmente, isso traz problemas para nosso DaSilva, pois sua antiga namorada, Irene (interpretada pela “biônica” Lindsay Wagner) quer que ele saia daquela vidinha complicada. Um belo dia, os dois são recrutados para participar de uma divisão antiterrorismo, pois um terrorista internacional muito perigoso, Heymar “Wulfgar” Reinhardt (interpretado por Hauer) chega à Nova York depois de se indispor com todos os grupos terroristas e revolucionários, já que suas técnicas eram extremamente violentas. Ou seja, nosso terrorista pirou na batatinha e decidiu agir por conta própria, de forma free-lancer. Na verdade, ele tinha a ajuda da perigosa Shakka Holand (interpretada por Khambatta). No início, DaSilva e Fox não aguentavam as exaustivas aulas. E DaSilva se desentendeu com o instrutor, pois não queria abrir fogo contra o terrorista em situações em que inocentes estivessem em perigo, já que DaSilva, assim como Fox, eram veteranos de guerra do Vietnã (um embrião do Rambo?), ficando implícitos os traumas de guerra no protagonista.

Wulfgar, o terrorista maluquinho...
Wulfgar, o terrorista maluquinho…

Wulfgar tinha por hábito se envolver com moças para transformar seus apartamentos em uma espécie de base para ele. Feito isso, ele as assassinava, sempre dizendo “você vai para um lugar melhor”. Assim, temos várias cenas onde Wulfgar procurava suas presas em discotecas, onde podemos atestar os ritmos musicais da época. Em alguns momentos, parece que estamos vendo “Os Embalos de Sábado à Noite” e John Travolta aparecerá do nada para dançar. Aliás, a trilha sonora do filme, composta por Keith Emerson, é show! Uma batida instrumental cheia de tensão, com o devido espírito da época! Algo que soa muito diferente do que se ouve por aí hoje em dia.

uma terrorista fria...
Shakka, uma terrorista fria…

Rutger Hauer conseguiu fazer um grande vilão, o primeiro de sua carreira, estourando em “Blade Runner” pouco tempo depois. O mais irônico de tudo é que ele era considerado um terrorista internacional muito perigoso e as supostas técnicas dos policiais de rua de Nova York não seriam suficientes para capturá-lo. Entretanto, foi com tais técnicas ultrapassadas que DaSilva pegou Wulfgar. E adivinhem qual foi? Isso mesmo, caro leitor, DaSilva se vestiu de mulher!!!! Wulfgar foi à casa de Irene, o amor de DaSilva, para matá-la. Ele via a moça de costas com um vestido rosa e sua longa cabeleira loura. Quando ele se aproximou com a faca para dar cabo de Irene, ela se vira e vemos um Stallone barbado com peruca loura e vestido rosa apontando a arma para ele (aaaarrrrrgghhhhh!!!!). Wulfgar ficou tão traumatizado que demorou uns dois minutos para processar aquela grotesca informação em seu cérebro. Quando ele decidiu atacar, foi prontamente fuzilado por DaSilva.

DaSilva e Irene. Relação complicada
DaSilva e Irene. Relação complicada

Apesar de ser um filme de ação trivial, não podemos deixar de perceber alguns lances interessantes. Os personagens de Stallone e de Fox conseguiam ser duas vacas bravas, mas, ao mesmo tempo, ter alguma serenidade, não sendo tão caricatos. Foi legal ver Stallone numa interpretação não tão exótica assim, como o foi em muitos de seus filmes. Ou seja, sua paralisia facial ainda não era a estética dominante de sua interpretação. E ele deu conta do recado. Billy Dee Williams mostrou que não é somente Lando Calrissian, fazendo o fiel escudeiro Fox, que se indignava profundamente com o traficante da boca de fumo que lhe oferecia dinheiro, mas ao mesmo tempo era uma voz de temperança para DaSilva, ao convencê-lo a não abandonar a unidade antiterrorista. Persis Khambatta poderia ter sido mais aproveitada, mas ainda sim sua participação foi maior que a de Lindsay Wagner. Essa sim apareceu muito pouco no filme, o que é de se lamentar bastante.

aaaaaaarrrrrrggggghhhhhh!!!!!
aaaaaaarrrrrrggggghhhhhh!!!!!

Outra virtude da película é atestarmos as visões de terrorismo da época, ainda muito vinculadas a movimentos revolucionários. Wulfgar se vangloriava de defender uma causa. Ele se acreditava um defensor e libertador dos oprimidos, numa visão um tanto romântica e tresloucada da coisa. Ao escutar isso, DaSilva só falava, em tom de questionamento e com sarcasmo: “Você acha, é?”, ao que Wulfgar retrucava: “Isso te fascina”. Se o policial questionava o terrorista em tom de pouco caso, até porque, na visão do policial, Wulfgar era um louco e era bom não contrariar, vemos um traço de romantismo e ideologia no terrorista, até porque, naquela época, os Estados Unidos ainda patrocinavam muitas ditaduras no mundo ocidental, sobretudo na América Latina. É inclusive citado que a América do Sul estava cheia de revolucionários. Logo, a existência de muitos grupos revolucionários no mundo ocidental era algo que fazia parte da realidade daquele tempo. Hoje em dia, os terroristas não têm rosto e vêm de mais longe, mais especificamente do Oriente Médio, não havendo nacionalidades definidas e sim grupos armados que são extremamente demonizados pela mídia. É um terrorismo mais violento, cruel e aparentemente sem romantismos, embora as ideologias ainda estejam lá escondidas. E o cinema, geralmente, auxilia no processo de demonização. Wulfgar tinha rosto, se reportava à mídia em telefones públicos próximos ao local dos atentados, ou seja, cometia erros que os terroristas de hoje jamais cometeriam. Podemos atestar, então, nas produções cinematográficas ao longo do tempo, um processo que vai de um terrorismo mais “romântico” e menos planejado no passado para um terrorismo de hoje mais frio e calculista.

Assim, “Falcões da Noite” é um interessante filme das antigas por mostrar a nós como determinados conceitos e formas de comportamento se alteram ao longo do tempo. E é um filme muito fácil de se obter em DVD. Dê uma garimpadinha por aí, que vale a pena. Por enquanto, veja a versão dublada e completa do filme abaixo

 

Batata Books – Darth Plagueis. Criando O Universo Sith.

 

Capa do Livro (Aleph)
Capa do Livro (Aleph)

A Editora Aleph realizou um grande lançamento literário do Universo Expandido de “Guerra nas Estrelas”. Rotulado como “Legends”, “Darth Plagueis”, do eficiente escritor James Luceno, é uma daquelas obras que nos fazem amar o Universo Expandido com todas as nossas forças. É uma história que busca compreender a lógica dos Sith e sua História pregressa. É um livro que preenche uma lacuna muito importante sentida durante a exibição de “A Ameaça Fantasma”, e que poderia muito bem ser considerado uma obra canônica.

Você conhece a lenda de Darth Plagueis???
Você conhece a lenda de Darth Plagueis???

O ponto de partida do livro está naquela conversa entre o Chanceler Palpatine e Anakin Skywalker durante o Episódio III sobre a tragédia de Darth Plagueis, o sábio, um mestre Sith que queria ter controle total sobre os midi-chlorians para poder não somente evitar a morte e viver eternamente, mas também poder gerar a própria vida. Plagueis foi morto por seu próprio aprendiz, ou seja, Palpatine em pessoa. Mas, como teria sido isso? Qual foi o contexto que teria levado ao encontro entre o mestre e o aprendiz? Por que Plagueis foi assassinado? Essas foram as questões que Luceno quis responder em seu livro. E, podemos dizer que o autor fez isso de forma magistral, criando todo um passado para os Sith. Luceno não se limitou a descrever apenas as trajetórias de Darth  Plagueis e Darth Sidious (ou seja, Palpatine), mas também menciona Siths pregressos como Darth Tenebrous, que foi o mestre de Darth Plagueis, e de Darth Bane, conhecido por ter criado a famosa “Regra de Dois”, onde somente podem existir dois Siths de cada vez, ou seja, o mestre e o aprendiz, com o aprendiz tomando o lugar do mestre quando ele se sente preparado para isso. E como o aprendiz toma o lugar do mestre? Muito simples: assassinando-o! Para poder criar todo esse Universo, Luceno dedica páginas e páginas de textos altamente densos e explicativos, mas que não são cansativos, muito pelo contrário, pois eles nos ajudam a contextualizar toda a situação anterior ao Episódio I, como o poder ascendente da Federação de Comércio sobre Naboo, o poder de conglomerados econômicos como o Clã Bancário Intergaláctico, do qual Darth Plagueis fazia parte sob o nome de Hego Damask, a influência de Plagueis e Palpatine na construção do exército de dróides por parte da Federação de Comércio e na montagem do exército de clones por Zaifo Vias, além das conversas de Palpatine com Dookan estimulando-o indiretamente a abandonar a ordem Jedi e a se tornar um Sith. A parte final do livro, inclusive, ocorre paralelamente aos eventos do Episódio I.

Zaifo VIas
Zaifo Vias

É muito interessante notar como Luceno associa aos Sith as piores características do capitalismo selvagem e do fascismo.  Podemos perceber isso em vários pontos do livro. Todas as manobras do Clã Bancário Intergaláctico e da Federação de Comércio para aumentar sua área de atuação econômica através do ato de semear discórdias entre mundos fracos da Orla Exterior e o Senado em Coruscant, enfraquecendo a estabilidade política da República e estimulando os movimentos separatistas. Ou ainda, todos os assassinatos encomendados ou cometidos pelo próprio Sidious ou Plagueis para tirar do caminho seus adversários políticos, algo recorrente no fascismo italiano e no nazismo. Mas talvez o aspecto mais assustador foi todo um conjunto de experiências com midi-chlorians que Darth Plagueis fazia com seres vivos de várias espécies, algo que se assemelhava muito às experiências genéticas que Joseph Mengele fazia com prisioneiros de campos de concentração.

Palpatine. Tomando o lugar do mestre.
Palpatine. Tomando o lugar do mestre.

A forma como os Sith encaravam a Força em contraposição com a visão dos Jedi é algo também explorado no livro. Enquanto que os Jedi se deixam influenciar pela Força e atuam segundo os desígnios dela, os Sith, pelo contrário, pretendem dominar a Força e usá-la de acordo com seus interesses. Dessa forma, os Jedi seriam fracos e sua Ordem estaria irremediavelmente condenada à extinção, ao passo que os Sith, com seu poder e forte iniciativa, dominariam a Galáxia, o que era a essência do Grande Plano, mencionado ao longo de todo o livro.

É curioso notar como a maldição dos nomes de “Guerra nas Estrelas” para a língua portuguesa também aparece neste livro. Além do já conhecido chefe de segurança da Princesa Amidala (!), que atende pela alcunha de Panaka, temos personagens com o nome de Cabra e de Doriana. Das duas uma: ou isso acontece de propósito (tem algum brasileiro muito zoador por lá) ou é muito azar mesmo.

Dookan. Persuadido a passar para o lado sombrio da Força.
Dookan. Persuadido a passar para o lado sombrio da Força.

Após a história de Darth Plagueis, ainda há uma excelente entrevista com James Luceno onde o autor fala do processo de criação do livro, da pesquisa, das interações com a Lucas Licensing no processo criativo, do passado criado para Palpatine e das semelhanças entre Palpatine e Anakin Skywalker.

Assim, “Darth Plagueis” é mais uma obra-prima de James Luceno, que já tinha nos dado o excelente “Tarkin”, constituindo-se, na minha modesta opinião de iniciante do Universo Expandido, no melhor autor de “Guerra nas Estrelas” depois de Timothy Zahn. Se você gosta da trilogia “Prequel”, é uma leitura obrigatória. Se não, aí está uma boa chance para olhá-la com um pouco mais de carinho. Não deixe de ler.

Darth Plagueis. De dar medo!!!
Darth Plagueis. De dar medo!!!