A editora Mythos Books lançou uma edição em quadrinhos, capa dura, do que poderia ser considerada a sequência do filme “Jornada nas Estrelas, Além da Escuridão”. E aliás, essa sequência filmada, e com as devidas edições, seria muito melhor do que o filme “Jornada nas Estrelas, Sem Fronteiras”. Ambientada com o novo elenco dos longas de “Jornada nas Estrelas” da fase J. J. Abrams, “Nos Domínios da Escuridão” tem a feliz ideia de ainda aproveitar a Seção 31, a Divisão de Operações Secretas da Frota Estelar, que somente consegue enxergar segurança para a Federação se colocar seus dois inimigos – os klingons e os romulanos – em pé de guerra. O problema é que a tripulação da Enterprise se vê no meio desse turbilhão, mesmo que esteja em sua missão de cinco anos para explorar novos mundos. É uma senhora história de muita ação e trama política que daria um excelente filme, muito melhor do (na minha modesta opinião) fiasco que foi “Sem Fronteiras”.
Mas, no que consiste a história? Enquanto a Seção 31 organiza uma aliança secreta com os romulanos para que os alienígenas se voltem contra o Império Klingon em troca de tecnologia de armamentos da Federação, Spock sofre o Pon Farr e precisa ir a Vulcano para se acasalar. Mas nesta realidade alternativa Vulcano foi destruído e Spock não conseguiu aguentar a forte pressão emocional, tornando-se extremamente agressivo, assim como outros de sua espécie. Para salvar Spock da loucura e fúria certas, Kirk e sua tripulação precisarão encontrar uma cura para O Pon Farr. Essa história serviria como um ótimo enredo paralelo para um longa e seria uma referência e tanto à série clássica. Há uma segunda história envolvendo a espécie gorn, também proveniente da série clássica, mas ela poderia ser descartada por não ter muito a ver com a trama principal (embora a história de Spock e seu Pon Farr também não esteja muito ligada à trama principal, ainda assim seria interessante usá-la, pois foi colocada a questão de como ficaria o ritual agora que Vulcano não existe mais). A parte final dos quadrinhos seria o esqueleto principal da história, pois desenvolve mais a aliança entre a Seção 31 e os romulanos, o ataque dessa aliança ao Império Klingon e o que a destemida tripulação da Enterprise vai fazer para evitar um conflito de proporções galácticas.
Essa é uma história muito instigante que cairia como uma luva para um filme. Além de fazer referência à série clássica, vemos aqui também referências a coisas que apareceram nos longas anteriores. Por exemplo, a matéria vermelha que destruiu Vulcano está nas mãos dos romulanos, os klingons conseguiram a tecnologia da nave romulana de Nero, do primeiro filme, e implantaram-na nas aves de rapina, a Seção 31 não desapareceu com a morte do Almirante Marcus, etc. Assim, trata-se de uma história muito mais criativa que trabalha com elementos do Universo que os dois primeiros longas já criaram, e não é algo totalmente destacado dos outros filmes como foi “Jornada nas Estrelas, Sem Fronteiras”, declaradamente o filme mais fraco da Enterprise da era pós J. J. Abrams. Só é de se lamentar que essa história tenha dado mais espaço a personagens novos e menos espaço a personagens já consagrados. Vemos muito pouco McCoy, Scott, Chekov e Uhura, por exemplo. Mas isso poderia ser compensado reescrevendo o roteiro para o longa e fazendo uma substituição simples dos personagens novos pelos mais antigos.
Assim, “Jornada nas Estrelas, Nos Domínios da Escuridão”, é uma outra aposta certa da Mythos Books para conquistar o trekker de plantão (a primeira é o lançamento em quadrinhos do roteiro original de “Cidade à Beira da Eternidade”), pois dá uma história instigante e digna para a nova versão de “Jornada nas Estrelas”, que será vista pelos fãs com outros olhos. Uma obra que vale o dinheiro investido.