Batata Movies – Operação Red Sparrow. Uma Trama de Espionagem Como Antigamente.

                  Cartaz do Filme

Você se lembra daqueles filmes de espionagem mais antigos onde as cenas de ação e de explosão não eram a parte mais importante da coisa, mas sim a trama complexa, que exigia uma atenção desmedida do espectador? Pois é, esse é o ritmo de “Operação Red Sparrow”, um filme de espionagem que, podemos dizer, tem esse espírito “das antigas”, mas traz uma atriz que de antigo não tem nada, pelo contrário, estando muito na crista da onda, que é Jennifer Lawrence.

       Uma Jennifer Lawrence muito sensual…

Vemos aqui a história de Dominika Egorov (interpretada por Lawrence), uma bailarina russa do Bolshoi, que sofre um acidente numa apresentação e fica inutilizada para dançar. Ela vai receber a visita do tio, Vanya (interpretado por Mathias Schoenaerts), que trabalha no Serviço Secreto Russo. Ele lhe propõe fazer parte de uma emboscada para um criminoso em troca de ajudá-la nas despesas de sua casa e de sua mãe doente. A moça era considerada muito esperta pelo tio, além de ter uma propensão, digamos, um pouco violenta, requisitos suficientes para trabalhar na espionagem. Como a moça testemunhou o assassinato de seu alvo na missão, ela precisa ficar permanentemente ligada à espionagem e ao tio para não ser morta como queima de arquivo. Assim, Dominika iniciará seu treinamento como espiã e participará de missões onde ela vai percorrer os mais perigosos caminhos.

                                                 Se envolvendo com um espião americano…

E vai ser nestes caminhos perigosos que a trama irá se desenrolar, montando um quebra-cabeça na mente do espectador onde lhe faltam as peças e caberá a quem assiste ao filme a procurar as peças perdidas e encaixá-las da forma mais conveniente possível para a elucidação da trama. O problema é que isso fica tão tortuoso que devemos dispensar ao filme uma atenção maior do que a que estamos acostumados a dispensar com qualquer outra película um pouco mais convencional. Isso pode parecer um pouco enfadonho para uns, e instigante para outros. O problema é que a maioria dos filmes comerciais de hoje em dia não têm uma preocupação mais aprofundada com a reflexão e preferem a ação com direito a muita bomba, porrada e tiro, coisa que esse filme definitivamente não tem em abundância.

                                A cara do Putin…

É uma outra película que prima pelo elenco bem escolhido. Lawrence estava um poço de sensualidade, até com alguns toques de erotismo, não diminuindo, entretanto, a sua relevância como protagonista, nem a forma como ela conduziu sua personagem. Mas tivemos, também, atores de um quilate de um Jeremy Irons e de uma Charlote Rampling, que roubavam e muito a cena nos poucos momentos em que apareciam. Tivemos, também, Joel Edgerton, fazendo um espião americano que se envolve com Dominika, mas creio que ele não esteve muito à altura de Lawrence e dos outros atores citados aqui.

                  Boa presença de Jeremy Irons…

Não podemos nos esquecer da atuação do excelente Mathias Schoenaerts, que, ao interpretar o tio Vanya de Dominika, estava a cara do próprio Putin. Aliás, o cinema americano continua fazendo das suas estripulias, ao rotular os russos como nos tempos do comunismo; eles ainda matam os “traidores” que os desobedecem, fumam, são ardilosos e não medem esforços em ser úteis ao Estado, mesmo que precisem ser amantes de alvos totalmente repugnantes (afinal de contas, não se entregar a um homem que provoca inteira repugnância não é nada mais do que um capricho burguês que não se pode tolerar; a entrega ao estado deve suplantar todos esses sentimentos burgueses). E aí, o filme cai nos velhos clichês de produções de época da Guerra Fria, se bem que essa era mesmo a intenção, sobretudo quando a personagem de Rampling diz que a Guerra Fria ainda não havia acabado.

                                                                     … e de Charlote Rampling…

Assim, “Operação Red Sparrow” não é exatamente o filme de ação que você deseja, mas ainda assim é uma película que vale a pena ser vista, pois encena uma trama de espionagem “das antigas”, ou seja, com mais roteiro reflexivo e menos ação. Pelo contexto de hoje, até se torna uma coisa meio diferente, mas já vimos histórias de espionagem desse naipe em outros carnavais. Vale a pena dar uma conferida, até porque recordar é viver.

Batata Movies (Especial Oscar 2018) – A Grande Jogada. Infeliz No Jogo, Infeliz No Amor.

                            Cartaz do Filme

Um filme que concorreu ao Oscar de Roteiro Adaptado passa em nossas telonas. “A Grande Jogada” é inspirada numa curiosa história real de uma moça chamada Molly Bloom, que era atleta de esqui freestyle até se acidentar e dar outro rumo para a sua vida, onde ela vai ganhar muito dinheiro organizando jogos de… pôquer. O problema é que isso lhe rendeu um violento processo que a ameaçou colocar na cadeia por muito e muito tempo. Mas ela conseguiu contratar os serviços de um advogado muito eficiente para tirá-la dessa fria. Tudo isso por um honorário que era a bagatela de… 250 mil dólares. Parece outra fria? Você nem sabe de metade da história.

                                                      Uma mulher decidida, como sempre…

De qualquer forma, o filme chama muito a atenção não somente pela trama inspirada pela incrível história real que presenciamos nos fotogramas, mas também pelo elenco. Puxando a fila, temos Jessica Chastain, uma atriz que se destaca por fazer esse papel de mulheres fortes e decididas. Só que, desta vez, foi lhe acrescentado um toque, digamos, de muita sensualidade, pois a moça se vestia de forma simultaneamente provocante e elegante para organizar seus jogos de pôquer em quartos de hotéis de luxo.

                                                           Um advogado firme e idealista…

E sua clientela era de respeito: atores de Hollywood, executivos, banqueiros, etc. Apesar de todo o sex appeal com generosos decotes (estava muito bom de se ver!), nossa protagonista teve a atitude correta de não se envolver com seus clientes, o que manteve a história numa linha que poderia desbancar para algo mais piegas ou cheio de clichês. Uma outra figura positiva do elenco foi Idris Elba, que interpretou Charlie Jaffey, o advogado de Bloom.

                                                                         A moça podia ser elegante…

Ele realmente esteve muito bem, fazendo um advogado de postura firme e que acreditava que sua cliente, apesar de sua culpabilidade ao desrespeitar certas leis, não era um diabo tão feio quanto pintavam. A forma firme como Elba conduziu seu personagem deu ao mesmo muita credibilidade e rendeu muita admiração. Foi realmente uma excelente atuação. Talvez até melhor do que a que ele teve em “Depois Daquela Montanha”, onde contracenou e fez par romântico com Kate Winslet. Outro ator que apareceu pouco mas que conseguiu roubar a cena em cada centímetro de fotograma (digital ou não)  foi o veterano Kevin Costner. A gente, que já é cinéfilo de longa data, admira os filmes de Costner lá da segunda metade da década de 80 e a primeira metade da década de 90. Ele é um outro ator que consegue dar credibilidade ao personagem que interpreta, mas de uma forma diferente da de Elba. Enquanto este primou pelo sarcasmo em alguns momentos e por um discurso um pouco mais inflamado em outros, Costner conseguiu trazer serenidade a um personagem que podia ser severo em alguns momentos, mas que também poderia ser um apoio para Bloom em momentos mais difíceis.

                                                                     … mas também provocante…

O filme também leva em consideração uma questão que está muito em voga hoje em dia, que é a delação premiada. Mas como isso vai me levar para o perigoso terreno dos spoilers, paro com minha menção por aqui. Só peço ao leitor que vai ver o filme, que preste atenção em como essa tal delação é encarada no filme, sempre lembrando que a história foi inspirada em eventos reais.

                       Um pai severo, mas próximo no momento certo…

Assim, “A Grande Jogada” pode até ter levado apenas uma indicação ao Oscar e ter perdido, mas é um filme com uma história real um tanto tortuosa (a vida imita a arte) e tem um elenco de três medalhões admiráveis, dois mais novos (Chastain e Elba) e outro um pouco mais antigo (Costner). Apesar de ser um filme relativamente longo (pouco mais de duas horas), vale a pena dar uma conferida.

Batata Movies (Especial Oscar 2018) – Projeto Flórida. Poor America.

                  Cartaz do Filme

Mais um filme que concorreu ao Oscar. “Projeto Flórida” concorreu à estatueta de Melhor Ator Coadjuvante para Willem Dafoe. Foi uma pena o veterano ator não ter levado o prêmio, até porque a concorrência com o vencedor, Sam Rockwell, era muito desigual. Mas o trabalho de Dafoe foi ótimo e isso deve ser digno de registro. Esse é um filme que também chama a atenção para uma reflexão, escondida meio que no pano de fundo das paisagens, mas também no cotidiano dos personagens.

                                                            Três crianças no olho do Furacão…

Vemos aqui a história de Moonee (interpretada pela pequenina Brooklynn Prince), uma menininha que vive com sua mãe numa espécie de hotel com a diária bem barata, o que dá ao lugar a aparência de um verdadeiro pombal, ou seja, um condomínio com muitos moradores cujo comportamento e condições de vida não são lá muito agradáveis. Moonee passa o dia andando para lá e para cá com seus amiguinhos fazendo o que a gente chamava antigamente de “arte” em todos os lugares para onde ia e sempre respondia as repreensões dos adultos de forma extremamente malcriada, principalmente as de Bobby (interpretado por Dafoe), o zelador do hotel. A vida das crianças parece um eterno mar de rosas, onde elas brincam muito, conseguem sorvete de graça e fazem das mais estapafúrdias travessuras. Mas a gente sente que o clima no entorno não é dos melhores, onde podemos presenciar uma pobreza contundente. E, para piorar o contraste, estamos em Orlando, praticamente ao lado da Disneylândia, a terra dos sonhos de muita gente. A dureza do mundo real passa despercebida pelas crianças, mas está à espreita e, lentamente se aproxima delas.

                                                                            Uma mãe debochada…

Esse é um filme de crianças brincando nos escombros de uma sociedade atingida pela crise econômica. Escombros que, hoje, não passam de remendos de uma época outrora próspera. Moonee e seus amigos andam pela rua sozinhos, sem qualquer presença materna, passando por lojas de beira de estrada com letreiros estilosos mas com pouco movimento. Ou então por supermercados que são o paraíso do consumo quando se entra uma graninha a mais. É curioso ver os quiosques de guloseimas no formato das mesmas, verdadeiros monumentos aos dias prósperos do American Way of Life, mas já num passado distante para quem amarga uma vida dura regada pelo desemprego e pela necessidade de prostituição, sempre com medo do que o Conselho Tutelar pode pensar disso e levar sua filha de casa.

     Uma América decadente…

Outro cenário muito contundente são as coloridas casas de dois andares abandonadas e tomadas pelo mato onde as crianças brincam (e destroem), casas essas provavelmente vítimas da bolha do mercado imobiliário que arrasou a economia mundial. Terrenos baldios com bois e vacas e valas negras completam a paisagem desoladora onde as crianças, em sua inocência e total falta de noção do que ocorre em volta delas, brincam e brincam. Definitivamente, “Projeto Flórida” é um filme reflexivo e ácido, com os doces momentos infantis.

                                          Um zelador que precisa administrar um pardieiro…

E Dafoe? Seu personagem Bobby talvez seja o único que percebe o que ocorre em seu entorno. Sendo obrigado a administrar um hotel cujo dono zela pela rígida observação às regras, Bobby precisa ter muito jogo de cintura para manter os anseios de seu patrão e, ao mesmo tempo, lidar com todo um grupo de pessoas que se comporta de forma mais intransigente do que civilizada. Mas Bobby tem plena consciência do estado lastimável em que vivem os moradores do hotel e negocia com eles, precisando saber exatamente o momento de morder e de assoprar. A personalidade cativante e magnética de Dafoe ajuda muito a gente a comprar seu personagem e gostar dele logo de cara. Foi uma belíssima atuação digna de Oscar, não fosse a forte concorrência esse ano.

                                                                       Um momento difícil…

Assim, “Projeto Flórida” é um filme que consegue, simultaneamente, trabalhar o lúdico e uma situação assombrosa de crise. Dois pólos na película que lentamente se aproximam. Qual vai ser a consequência do encontro entre eles? Isso eu deixo para o espectador testemunhar na sala de cinema, pois essa película é digna de ser apreciada não na poltrona de casa, mas na poltrona de um bom cinema, até pela excelência que o filme contém.

https://www.youtube.com/watch?v=MnTm4w5ehlU

Batata News – Impressões Sobre O Oscar 2018

Foi a nonagésima edição!!!

Pois é. Tivemos mais uma cerimônia do Oscar. E o que podemos dizer do que vimos esse ano? Houve uma espécie de repetição de algumas atitudes dos anos passados. Ainda no clima de dar uma resposta às severas críticas que a Academia sofreu por não ter colocado negros entre os indicados por dois anos consecutivos, a Cerimônia abraçou mais uma vez a bandeira da diversidade. No ano passado, a indicação e premiação a negros já havia acontecido. Agora, em 2018, as indicações retornaram, com as premiações a negros numa menor intensidade, mas ficou bem claro que todos na Academia primam por abraçar o respeito às diferenças. Essa, talvez, também tenha sido uma espécie de resposta às estripulias altamente desrespeitosas e etnocêntricas do governo Trump, que não se nega a chutar o balde e o bom senso quando abre a boca (ou o twitter). Outra tendência, essa sim, uma espécie de constante nos últimos anos, foi a de distribuir a premiação, sem um filme que abiscoite muitas estatuetas.

Guillermo del Toro discursa após “A Forma da Água” receber o Oscar de Melhor Filme

Assim, “A Forma da Água”, a recordista de indicações sendo treze no total, ganhou quatro Oscars (filme, direção, design de produção e trilha sonora). “Dunkirk” foi uma grata surpresa, apesar de ter ganho mais prêmios técnicos, sendo três estatuetas (edição de som, mixagem de som e montagem). Houve, também, os prêmios óbvios, ou seja, aqueles que a gente já sabia quem ganharia. Foi o caso de Melhor Ator para Gary Oldman em “O Destino de Uma Nação”, Sam Rockwell para ator coadjuvante e Frances McDormand para atriz em “Três Anúncios Para Um Crime”, e Allison Janney  para atriz coadjuvante “Eu, Tonya”. Outra grata surpresa foram as duas estatuetas para “Blade Runner 2049” (Fotografia e Efeitos Visuais). Já nos roteiros, tivemos um prêmio merecido para Jordan Peele pelo inusitado “Corra!” de roteiro original (e bota original nisso!) e James Ivory por “Me Chame Pelo Seu Nome” de roteiro adaptado.

Melhores atores e atrizes todos juntos… prêmios óbvios!!!

Melhor Figurino para “Trama Fantasma” era algo óbvio, embora eu achasse que esse filme merecesse também a trilha sonora. Nas animações, nada de novo no horizonte. A Disney continua ganhando com “Viva” (mais uma vez merecido, diga-se de passagem), além de ganhar o Oscar de Melhor Canção. Somente lamentei duas coisas na premiação: eles poderiam variar e dar a estatueta de animação para “O Touro Ferdinando”, pois esse foi um excelente trabalho de nosso Carlos Saldanha. E numa categoria que eu gosto muito de acompanhar, a de Melhor Filme Estrangeiro, queria muito que o prêmio fosse para “O Insulto”, mas ganhou “Uma Mulher Fantástica”, pois esse filme rezava pela cartilha da diversidade, diga-se de passagem, também uma boa película que veio aqui da América Latina, já que se trata de uma produção chilena.

Jordan Peele, um prêmio merecido para roteiro original…

Pois é. Distribuídos os prêmios, resta a quem ainda não viu todas as produções dar uma conferida, além da gente torcer bastante para que cheguem mais filmes indicados por aqui, justamente para podermos apreciar nas telonas e não nas telinhas do PC ou do celular…

Segue, abaixo, a lista dos premiados, copiada da postagem da minha poderosa amiga, a Princesa Larissa Rezende Leia… Os vencedores estão em negrito…

Dessa vez, eles acertaram…

MELHOR FILME

– Me Chame Pelo Seu Nome
– O Destino de Uma Nação
– Dunkirk
– Corra!
– Lady Bird – É hora de voar
– Trama Fantasma
– The Post – A Guerra Secreta
– A Forma da Água
– Três Anúncios Para Um Crime

MELHOR DIRETOR

– Christopher Nolan (Dunkirk)
– Jordan Peele (Corra!)
– Greta Gerwig (Lady Bird: É hora de voar)
– Paul Thomas Anderson (Trama Fantasma)
– Guillermo del Toro (A Forma da Água)

MELHOR ATOR

– Timothée Chalamet (Me Chame Pelo Seu Nome)
– Daniel Day-Lewis (Trama Fantasma)
– Daniel Kaluuya (Corra!)
– Gary Oldman (O Destino de Uma Nação)
– Denzel Washington (Roman J. Israel, Esq.)

Gary Oldman arrebentou!!!

MELHOR ATRIZ

– Sally Hawkins (A Forma da Água)
– Frances McDormand (Três Anúncios Para Um Crime)
– Margot Robbie (Eu, Tonya)
– Saoirse Ronan (Lady Bird: É hora de voar)
– Meryl Streep (The Post – A Guerra Secreta)

Frances McDormand, outro prêmio esperado…

MELHOR ATOR COADJUVANTE

– Willem Dafoe (Projeto Flórida)
– Woody Harrelson (Três Anúncios Para Um Crime)
– Richard Jenkins (A Forma da Água)
– Christopher Plummer (Todo o Dinheiro do Mundo)
– Sam Rockwell (Três Anúncios Para Um Crime)

Sam Rockwell, prêmio merecido

MELHOR ATRIZ COADJUVANTE

– Mary J. Blige (Mudbound)
– Allison Janney (Eu, Tonya)
– Lesley Manville (Trama Fantasma)
– Laurie Metcalf (Lady Bird: É hora de voar)
– Octavia Spencer (A Forma da Água)

MELHOR ROTEIRO ADAPTADO

– Me Chame Pelo Seu Nome (James Ivory)
– Artista do Desastre (Scott Neustadter e Michael H. Weber)
– Logan (Scott Frank, James Mangold e Michael Green)
– A Grande Jogada (Aaron Sorkin)
– Mudbound (Virgil Williams and Dee Rees)

MELHOR ROTEIRO ORIGINAL

– Doentes de Amor (Emily V. Gordon e Kumail Nanjiani)
– Corra! (Jordan Peele)
– Lady Bird: É hora de voar (Greta Gerwig)
– A Forma da Água (Guillermo del Toro)
– Três Anúncios Para Um Crime (Martin McDonagh)

MELHOR DESIGN DE PRODUÇÃO

– A Bela e a Fera
– Blade Runner 2049
– O Destino de Uma Nação
– Dunkirk
– A Forma da Água

MELHOR FOTOGRAFIA

– Blade Runner 2049 (Roger Deakins)
– O Destino de Uma Nação (Bruno Delbonnel)
– Dunkirk (Hoyte van Hoytema)
– Mudbound (Rachel Morrison)
– A Forma da Água (Dan Laustsen)

MELHOR FIGURINO

– A Bela e a Fera
– O Destino de Uma Nação
– Trama Fantasma
– A Forma da Água
– Victória e Abdul

MELHOR EDIÇÃO DE SOM

– Em Ritmo de Fuga
– Blade Runner 2049
– Dunkirk
– A Forma da Água
– Star Wars: Os Últimos Jedi

MELHOR MIXAGEM DE SOM

– Em ritmo de fuga
– Blade Runner 2049
– Dunkirk
– A Forma da Água
– Star Wars: Os Últimos Jedi

MEHOR CURTA DE ANIMAÇÃO

– Dear Basketball
– Garden Park
– Lou
– Negative Space
– Revolting Rhymes

MELHOR CURTA-METRAGEM

– Dekalb Elementary
– The Eleven o’Clock
– My Nephew Emmett
– The Silent Child
– Waty Wote/All of Us

MELHOR TRILHA SONORA

– Dunkirk
– Trama Fantasma
– A Forma da Água
– Star Wars: Os Últimos Jedi
– Três Anúncios Para Um Crime

MELHORES EFEITOS VISUAIS

– Blade Runner 2049
– Guardiões da Galáxia Vol. 2
– Kong: A Ilha da Caveira
– Star Wars: Os Últimos Jedi
– Planeta dos Macacos: A Guerra

MELHOR EDIÇÃO

– Em Ritmo de Fuga
– Dunkirk
– Eu, Tonya
– A Forma da Água
– Três Anúncios Para Um Crime

MELHOR MAQUIAGEM E CABELO

– O Destino de Uma Nação
– Victoria e Abdul
– Extraordinário

MELHOR FILME EM LÍNGUA ESTRANGEIRA

– Uma Mulher Fantástica (Chile)
– O Insulto (Líbano)
– Sem amor (Rússia)
– Corpo e Alma (Hungria)
– The Square: A arte da discórdia (Suécia)

MELHOR DOCUMENTÁRIO EM CURTA-METRAGEM

– Edith and Eddie
– Heaven Is A Traffic Jam On The 405
– Heroin(e)
– Knife Skills
– Traffic Stop

MELHOR DOCUMENTÁRIO

– Abacus: Pequeno o Bastante Para Condenar
– Visages Villages
– Ícaro
– Últimos Homens em Aleppo
– Strong Island

MELHOR CANÇÃO

– Mighty River (Mudbound)
– Mystery of Love (Me Chame Pelo Seu Nome)
– Remember Me (Viva – A Vida é Uma Festa)
– Stand Up For Something (Marshall)
– This is Me (O Rei do Show)

MELHOR ANIMAÇÃO

– O Poderoso Chefinho
– The Breadwinner
– Viva: A Vida é Uma Festa
– O Touro Ferdinando
– Com Amor, Van Gogh

Batata Movies – Lucky. Um Sortudo Azarado?

                  Cartaz do Filme

Mais uma curiosa produção passou em nossas telonas. “Lucky” nos lembra muito daqueles casos de pessoas que têm uma vida longeva, apesar de alguns hábitos pouco salutares. Mas, será que problemas existenciais atingem esse tipo de pessoas? Pelo que o filme mostra, claro que sim.

O Lucky em questão (interpretado por Harry Dean Stanton) é um velhinho, veterano da Segunda Guerra Mundial, que vive numa cidadezinha de interior. Ele tem hábitos muito metódicos. Ao se levantar da cama, faz exercícios, se arruma, para numa lanchonete, depois vai para uma loja comprar cigarros, assiste a programas de TV e, depois, vai a um bar à noite. Ele tem a mania de fazer palavras cruzadas e de descobrir com precisão o significado de algumas palavras. Um belo dia, Lucky tem um mal estar e cai ao chão, o que vai forçar ele a ir ao médico. Qual não é a surpresa quando o médico diz a ele que tem uma saúde de ferro e que esse mal estar é apenas o sinal de uma velhice, que prenuncia uma morte inevitável? A partir daí, nosso Lucky fica bem incomodado com a situação, com sua cabeça fervilhando de problemas existenciais. Afinal de contas, ele percebe que já está numa idade muito avançada e que sua morte é questão de tempo. Mas, como encarar essa situação escabrosa com naturalidade, já que ela acontece para todo mundo e é inevitável?

                                   Lucky tem uma saúde de ferro…

O filme torna-se uma espécie de jornada pelo conhecimento de si mesmo, onde as descobertas se darão nas pequenas experiências do cotidiano, rotineiras ou não. O personagem protagonista vai passando por situações que ajudam a ele enxergar o verdadeiro sentido da vida aos poucos e ele acaba concluindo que, diante do inevitável, o melhor mesmo é curtir enquanto se está por aqui e sorrir. Embora a coisa tenha ficado meio artificial, pois Lucky era muito sisudo e mal humorado na maioria das vezes, o filme acaba entregando uma mensagem otimista. Agora, para aproveitar bem a película, é imperativo que o espectador entre no ritmo dela, demasiadamente lento. Por isso, mesmo que os grandes detalhes aqui estão nas pequenas e singelas coisas que podem tornar a vida mais divertida e com sentido.

                  O negócio é aproveitar a vida enquanto pode…

Nem é preciso dizer que esse é um filme de um ator só, com os demais sendo meros coadjuvantes. Harry Dean Stanton consegue trabalhar muito bem o seu personagem, um velho rabugento e mal humorado que passa pelo problema existencial. A gente conseguia sentir quando o cara estava deprimido, mesmo estando constantemente de mau humor. Foi bem legal ver a sua atuação e também lamentar a sua morte, ocorrida em 15 de setembro último, aos 91 anos. É a vida imitando a arte. Outra curiosidade aqui é a participação de David Lynch como ator no filme, um simpático idoso que está entristecido, pois perdeu seu… cágado (!).

                                 David Lynch trabalha como ator…

Assim, “Lucky” pode até ter um ritmo lento, exigindo uma certa paciência do espectador, mas é não deixa de ser uma película interessante, pois tem um personagem protagonista bem construído, com um problema existencial e buscando um sentido para o pouco de vida que lhe resta. Mais um filme com uma boa questão para se refletir.

Batata Movies – Extraordinário. O Melhor Filme Antibullying.

                 Cartaz do Filme

Toda vez que estreia um filme baseado em livros destinados ao público adolescente e que aborda a questão do bullying e do respeito à diferença, a tendência de muitas pessoas é a de torcer o nariz logo de cara. Filme chato, que cai na mesmice de outros filmes, etc., etc. O livro “Extraordinário”, de R. J. Palacio, já roda por aí nas livrarias há muito tempo. Eu sempre tive a curiosidade de comprar e ler, e oportunidades não faltaram, pois o livro foi até colocado em promoção. Mas eu sempre titubeava ao colocar a mão no bolso para comprá-lo, pois logo vinha à minha cabeça a pergunta: “E se sair um filme dele?”. Bom, o filme saiu e o livro ficou mais caro, obviamente. Pelo menos eu pude ter a oportunidade de ir ao cinema assisti-lo.

                                                                        Uma família presente

A película começa com o tal menininho, Auggie (interpretado por Jacob Tremblay) fazendo uma narração em primeira pessoa de seu parto, onde todas as suas deformações já o colocaram longe dos pais. O menino sofreu várias cirurgias para poder ver, ouvir, falar e ficar com uma aparência, digamos, menos deformada. Ele passou a infância dentro de casa, tendo aulas particulares e ficando totalmente isolado do mundo. Auggie adora ciências, viagens espaciais (tem um capacete de astronauta) e Guerra nas Estrelas. Seus pais (interpretados por Owen Wilson e Julia Roberts) são muito amorosos, assim como sua irmã Via (interpretada por Izabela Vidovic). Mas chegaria o dia em que ele iria para a 5ª série e, consequentemente, teria que frequentar uma escola e conviver com crianças. Foi nesse momento que o bicho pegou e nosso protagonista precisaria encarar a realidade de sair de sua redoma e enfrentar o mundo lá fora, com todos os seus preconceitos e perseguições.

                                                    Um menininho que precisa se enturmar…

Até aí, parece que a película é um rosário de clichês. Pais amorosos, filho com problemas de relacionamento e dificuldade de se adaptar a um mundo hostil, etc. Mas o filme apresentou algo que parece um diferencial. E o que foi esse tal de diferencial? É que o filme não orbitou apenas na figura de Auggie. Foram apresentadas, também, as vidas da Via, de uma amiga dela e de um amigo de Auggie, onde descaminhos na vida de todos esses personagens acabavam por explicar comportamentos que eles manifestavam ao longo do filme e que pareciam ser pouco éticos, mas que eram motivados por outras situações. Isso deu um enorme grau de humanidade ao filme, acabando com o mito de pessoas boas e más, mas apenas de personagens que são seres humanos, com seus desejos e angústias. Todos, por mais “perfeitos” que fossem, tinham seus problemas, inseguranças e medos. E o grande lance do filme foi como o relacionamento com Auggie ajudou as pessoas a enfrentarem suas carências, numa forma bem elaborada e inteligente de combater o bullying ao meu ver.

                                                                         Tentando se enturmar…

Como uma curiosidade, o filme também vai agradar aos fãs de Guerra nas Estrelas, pois sempre que Auggie se encontrava numa situação desagradável, ele usava a imaginação para se sentir mais confortável. E assim, volta e meia Chewbacca aparecia na escola em que estudava. Pode-se até dizer que a participação de Chewbacca em “Extraordinário” foi mais marcante que sua participação no “Episódio VIII, O Último Jedi”.

                                                       A mãe levando o filho para a escola…

E os atores? Foi legal ver Julia Roberts de volta, com uma mãe que tinha que se portar de jeito firme, mas que era bem fragilizada por dentro, em virtude da situação que passava com o filho. Owen Wilson fez o carinha legal e infantil de sempre, caindo como uma luva para esse papel (só faltou o Marley, que no filme foi substituído por uma cadelinha de nome Daisy). Jacob Tremblay conseguiu emocionar bastante. Também pudera. Ele era o menininho lá do filme “O Quarto de Jack”, onde teve boa atuação. A curiosidade ficou por conta de uma rápida participação de Sônia Braga, como a avó da família, aparecendo em flash-back. Aliás, o filme tem algumas alusões ao Brasil. A amiga de Via era chamada de Miranda e, num momento do filme, foi dito que a mãe de Auggie faria uma feijoada.

                                                                               Sônia Braga!!!

Assim, “Extraordinário” pode até ter alguns clichês, mas se diferenciou por não usar o protagonista como único objeto principal do filme e deu destaque a outros personagens, humanizando-os e valorizando a interação entre eles, pois o espectador se identificava com todo o contexto e torcia para que os mal-entendidos fossem esclarecidos. É o tipo do filme com um “happy end” bem meloso, para você sair levinho da sala.

https://www.youtube.com/watch?v=GdPrJCn428A

Batata Antiqualhas – Spock e Leonard. Dualidade que se Completa (Parte 17)

                  Nimoy dirigindo “Três Solteirões e um Bebê”

Quando a versão final de “Jornada nas Estrelas 4, A Volta Para Casa” foi exibida para um público-teste, houve muitas risadas nos momentos certos. Algumas pessoas, como críticos de cinema, acharam que o filme estava engraçado demais e os fãs não gostariam, pois eles queriam ser levados à sério. Nimoy sabia que isso não era verdade, já que a série clássica tinha bastante senso de humor. O público também descobriu que Nimoy poderia fazer comédia, pois ele sempre havia sido considerado uma pessoa muito séria por causa de Spock. Nimoy, entretanto, sempre fora um grande fã de Abbott e Costello, uma dupla de comediantes que fez muitos filmes décadas atrás. Assim, Nimoy foi chamado para dirigir “Três Solteirões e um Bebê”. Outros três diretores foram chamados, mas eles desistiram do projeto. Katzenberg, executivo da Paramount, decidiu deixar com Nimoy a direção ao invés de chamar mais diretores. Como o filme era um “remake” de um filme francês, o roteiro foi reescrito para ficar mais “americanizado”. Quem vivenciou a década de 1980 lembra dessa doce comédia estrelada por Tom Selleck (o inesquecível Magnum), Steve Gutenberg (que fez vários “Loucademia de Polícia”) e Ted Danson, que recebiam uma menina recém-nascida na porta de um apartamento para lá de irado, com as paredes todas pintadas com lindas figuras. O apartamento no filme original tinha decorações em estilo egípcio, muito “velho mundo” para Nimoy, que optou por algo mais moderno, mais “Nova York”, onde os personagens seriam retratados nas paredes com desenhos e ficariam lá expressas as características deles.

          Liam Neeson e Diane Keaton em “O Preço de uma Paixão”

As filmagens transcorreram sem muitos problemas, exceto por um dia em que foi necessário fazer uma tomada externa mais elaborada que demandava muito tempo e a posição do Sol influenciaria demais a cena. Isso sem falar das nuvens, que faziam sombra a toda hora, interrompendo ainda mais as filmagens. Para piorar a situação, pessoas que passavam pelas ruas reconheciam Tom Selleck e falavam com ele (“Oi, Magnum!”). Havia, na cena, um policial montado a cavalo que teria uma pequena participação. Mas o ator que fazia o policial nunca havia montado um cavalo e prendeu mal o bichinho antes de entrar no prédio com Tom Selleck, que mostraria a carteira de identidade que ele tinha esquecido no apartamento. O que aconteceu? O cavalo se soltou e seguiu o policial prédio adentro. A cena teve que ser cortada, pois, apesar de tentarem aproveitá-la, ela se revelou irrelevante para o filme, que foi bem aceito pelo público, arrecadando mais de 165 milhões de dólares de bilheteria.

           Nimoy dirigindo Keaton

Após as filmagens, Nimoy viajou para a Rússia, para uma exibição comemorativa de “A Volta Para Casa”, pois na ocasião aquele país havia proibido a caça da baleia. Nimoy aproveitou para visitar a cidade dos pais, Zaslav, na Ucrânia, onde ele ainda tinha parentes que nem conhecia. A visita foi um fiasco total, pois ninguém conhecia “Jornada nas Estrelas” na Rússia, os parentes de Nimoy não falavam inglês e ele não falava russo. Eles se comunicaram com um intérprete e com algumas palavras em ídiche. Houve, também, uma desconfiança, por parte dos parentes de Nimoy de que ele fosse um agente do governo soviético designado para vigiá-los. Nem precisa dizer que a visita foi um mal-estar geral. De volta aos Estados Unidos, Nimoy foi surpreendido pela notícia de que seu pai estava muito mal de saúde. Ele passou os últimos dias da vida de seu pai junto com ele, compartilhando fotos e pequenas filmagens que havia feito da terra natal da família durante a viagem. Para Nimoy, a ficha da morte do pai demorou a cair, e ele suspeita que a lógica vulcana tenha tido alguma interferência nisso. Ele ficou muito agradecido de Shatner ter comparecido ao enterro de seu pai.

Depois do sucesso de público e crítica de “Três Solteirões e um Bebê” e novos comentários surpresos de que o intérprete de Spock podia fazer comédia, Nimoy foi chamado para dirigir um projeto mais sério e polêmico: o filme “O Preço de Uma Paixão”, que seria estrelado por Diane Keaton, Liam Neeson e Jason Robards. O mais curioso é que Nimoy fora convidado mas não tinha garantias de que ia dirigir o filme já que, depois de “A Volta Para Casa” e “Três Solteirões e um Bebê”, agora ele era rotulado como especialista em comédias. A história falava de uma moça, Anna, que havia tido uma criação muito opressora dos pais e se casou com um marido igualmente opressor. Ela teve uma filha e não queria que a menina sofresse toda a repressão sexual que ela sofreu, educando-a de uma forma livre. Anna se separa de seu marido e começa um novo relacionamento com Leo, um jovem escultor. A forma livre com que Anna cria a filha, permitindo até que a menina veja a mãe e o novo namorado nus, choca o pai, que inicia uma batalha judicial pela custódia da filha. E Anna perde a filha e Leo em todo o processo. Nimoy ficou com muita vontade de dirigir o filme, já que a história, em sua opinião, não tinha vilões individuais em si, mas sim um sistema e uma sociedade cheia de valores altamente conservadores que destruíram a vida de Anna. Outro detalhe que atraía Nimoy é que a trama era shakespeariana e trágica, sem o famoso “happy end” dos filmes americanos. Ele conseguiu convencer o produtor do filme, pois disse que era de Boston, onde se passava a história, conhecendo bem o conservadorismo daquela sociedade, e que tinha uma experiência em teatro que se aproximava da temática do filme. Vários atores recusaram os papéis, pois tiveram medo do que isso poderia implicar na carreira deles (há uma cena em que a filha de Anna toca no pênis de Leo, ficando claro que é somente para satisfazer uma curiosidade e que não houve qualquer má intenção no ato). Por isso, Nimoy ficou admirado com o fato de Diane Keaton  aceitar fazer o papel de Anna e Liam Neeson aceitar fazer o papel de Leo. Jason Robards foi chamado para fazer o advogado de Anna, mas ele relutou em aceitar, pois o advogado era conservador e disse que Anna só teria alguma chance se reconhecesse que havia cometido um erro perante o juiz, que era muito puritano. Nimoy defendeu o personagem dizendo a Robards que o advogado queria ajudar a moça e lhe propôs essa saída já que ele conhecia bem o sistema judiciário e seu conservadorismo. Robards, que tinha uma amizade com Nimoy, acabou sendo convencido e pegou o papel.

Keaton teve uma postura muito profissional e refez toda uma cena muito difícil

Foi uma época em que Nimoy estava muito sensível e chorava toda a noite, em parte porque a história do filme tinha uma carga emocional muito forte, em parte porque ele havia perdido seu pai e, pouco tempo depois, sua mãe. As filmagens também tiveram contratempos, como a necessidade de Diane Keaton ter que filmar uma sequência com forte carga de emoção duas vezes, já que as duas câmaras usadas tinham filmes que não podiam ser editados juntos. Nimoy comprou até rosas para a atriz para lhe dar a má notícia (repetir uma cena longa e altamente emotiva é uma tarefa muito desgastante). Mas Keaton foi altamente profissional e repetiu tudo. As impressões sobre o sucesso de “O Preço de uma Paixão” foram as melhores possíveis na exibição teste. Mas as reações de público e crítica eram muito extremas. Ou o filme era excelente ou péssimo, não havendo meio termo, o que fez com que ele logo deixasse de ser exibido, para a decepção de Nimoy que, lá no fundo, já sabia que ia gerar muita controvérsia. Nimoy fala com desgosto de que talvez ele devesse ter feito algo mais comercial, com o “happy end”. Mas ele ainda mencionou que não era disso que o filme tratava.

No próximo artigo, vamos falar da produção de “Jornada nas Estrelas 5”. Até lá!

                 Diane Keaton e Jason Robards

Batata Movies – O Motorista De Táxi. Denunciando Uma Ditadura.

 

               Cartaz do Filme

Confesso a vocês que tenho um pouco de dificuldades com o cinema coreano. A maioria dos filmes que eu vi do cinema desse país eu achei um tanto enfadonho e com ritmo muito lento, salva uma ou outra exceção. Mas “O Motorista de Táxi” me impressionou muito e posso dizer que esse é o melhor filme da Coreia do Sul que eu vi até hoje. Mais um filme baseado numa história real. Mais um filme que nos faz pensar sobre as coisas (ruins) do mundo.

                                                    Um taxista engraçado, mas mesquinho…

A história é ambientada na Coreia do Sul de 1980, que estava em plena ditadura militar e era assolada por muitos protestos de estudantes contra arbitrariedades como o toque de recolher. No meio de toda essa confusão está Kim (interpretado por Kang-ho Song), um taxista um tanto egoísta e mesquinho que se preocupava mais com o seu carro (e ganha pão) do que com qualquer outra coisa. Ele criticava os protestos de estudantes contra o governo, pois achava que estudante deve estudar e não protestar. Kim sempre estava sem grana e devia a Deus e ao mundo. Mas, num belo dia, enquanto almoçava com um amigo (e senhorio) que lhe pagava o almoço, ele escutou de um outro taxista que ele tinha conseguido uma corrida até a cidade de Gwangju para um estrangeiro. Esperto como ele só, Kim saiu do restaurante e se apresentou ao cliente, um jornalista alemão de nome Peter (interpretado por Thomas Kretschmann) como o taxista que faria a corrida. Mal sabia Kim que aquela corrida mudaria sua vida e a visão que tinha do governo de seu país.

                                                                        Um repórter alemão

Podemos dizer que o diretor Hun Jang e o roteirista Yu-na Eom foram muito espertos e inteligentes na concepção do filme. O início da película tem um tom de comédia, onde o taxista Kim dita o tom cômico. Sua aparência mal humorada e mesquinha provocava situações engraçadas com uma pitada de drama, principalmente quando sabemos de sua situação familiar. O tom de comédia continua firme e forte quando ele faz a corrida do jornalista estrangeiro e a barreira linguística leva a mais situações inusitadas e cômicas. Mas, ao se chegar à cidade de Gwangju, o filme muda totalmente de figura e ele se torna uma denúncia nua e crua das atrocidades que os militares cometiam contra a população civil, que não entendia o porquê daquela violência toda. É um momento que a película fica muito pesada e até traumática, e a forma como o gênero do filme muda da água para o vinho, de algo leve e divertido para algo extremamente funesto e revoltante só aumenta o impacto em cima do espectador. A coisa atinge ainda mais o espectador principalmente quando sabemos que o que é mostrado na película é uma história real. O desfecho do filme (que eu não direi aqui) é bem comovente, pois foi criado um forte elo entre o passageiro e seu taxista em virtude de tudo o que passaram juntos. Mas nem sempre a vida consegue repetir a magia da arte.

         Os dois irão passar por maus bocados…

De qualquer forma, os atores estiveram muito bem, sobretudo Kang-ho Song, que precisou se desdobrar por causa da complexidade do seu personagem em virtude das diferentes situações pelas quais ele passava. Já Thomas Kretschmann não foi tão marcante quanto o seu colega coreano mas ele convenceu muito quando estava numa espécie de estado de choque depois de testemunhar tantos massacres.

                                                     … e descobrirão uma dura realidade

Assim, “O Motorista de Táxi” é o melhor filme da Coreia do Sul que eu vi, na minha modesta opinião, pois ele exerce com maestria a função social de denúncia do cinema e o diretor e o roteirista conseguem dar o seu recado, chocando o público violentamente com a repentina troca de gênero de uma comédia levinha para um violento filme que rasga as entranhas. Programa imperdível.