Batata Movies – Você Nunca Esteve Realmente Aqui. A Violenta Trajetória De Um Homem Atormentado.

Cartaz do Filme

Um filme perturbador premiado em Cannes pelo roteiro e pela atuação de Joaquin Phoenix. “Você Nunca Esteve Aqui” traz uma mescla confusa de flash-backs e alucinações, regadas a muito sangue e violência. Um filme que faz de tudo para que o espectador sempre saia de sua zona de conforto, se é que há alguma.

Um homem perturbado…

Vemos aqui a trajetória de Joe (magistralmente interpretado por Phoenix), um veterano da Guerra do Golfo de mente totalmente perturbada. Seus traumas vêm em lembranças que não são somente inspirados nas situações que ele passou na guerra, mas também com uma infância traumática onde supostamente seu pai é o resultado de seus terrores. Tudo isso faz com que Joe seja instável emocionalmente, com explosões de violência repentinas. E como o nosso tresloucado protagonista ganha a vida? Ele é um assassino de aluguel especialista em caçar pedófilos e criminosos que exploram sexualmente as crianças, sempre agindo com um… martelo (!!!), golpeando violentamente a cabeça de quem ele precisa matar por contrato. Somente esses pequenos detalhes já são suficientes para tornar o filme altamente perturbador. Mas, como dizia aquele lendário anúncio de TV, “e não é só isso!”. Joe é contratado por um senador que tem a sua filha sendo explorada sexualmente. Ele faz o serviço, mata todo mundo e resgata a menina. O problema é que o senador se suicida e Joe fica sem saber o que fazer, ao mesmo tempo em que todos aqueles que ele conhece ou ama são assassinados. Dois homens conseguem sequestrar a menina novamente. E Joe precisa entender o que aconteceu para resgatar a garota novamente e se vingar.

Alucinações…

Como essa é uma película onde o protagonista tem uma mente altamente perturbada, a gente não sabe o que é real, o que é alucinação, o que é onírico. Volta e meia, a narrativa fica altamente fragmentada e a gente precisa se dar ao trabalho de juntar as peças, pois o filme não se preocupa muito em explicar as coisas, sobretudo da vida pregressa de Joe, e a gente precisa deduzir muita coisa a partir dos cacos de sequência que aparecem soltos ao longo da exibição. Do jeito que é exposto aqui, parece ser essa uma tarefa muito difícil, mas até que não é tanto; dá para percebermos muitas coisas.

Vivendo com uma mãe doente…

Outra coisa que chama muito a atenção e que está intimamente ligada a esse clima ilusório do filme é que ele foge um pouco do desfecho tradicional dos filmes violentos de vingança. E aí não sabemos realmente como o antagonista teve o seu destino selado ou até se não tivemos mais uma alucinação de Joe em curso. Mais uma vez o espectador tem que colocar sua cabeça para funcionar e ele mesmo criar seu próprio desfecho, fazendo a sua leitura do filme. Por ter a narrativa muito fragmentada e cheia de alucinações e ambientes oníricos, podemos dizer que a película tem a capacidade de assumir múltiplas interpretações, sendo diferente na cabeça de cada espectador.

Seu trabalho é um pouco difícil…

E o que podemos falar de Joaquin Phoenix? Sua atuação foi simplesmente fantástica, mesmo que o personagem tenha a característica um tanto quanto plana de ser constantemente atormentado. O detalhe aqui é que Phoenix conseguiu dar nuances para isso, indo desde momentos de uma letárgica lucidez, chegando a paroxismos de tormento. Ou seja, ele conseguiu expressar com perfeição todas as matizes de seu personagem.

O que é real? O que é alucinação? O que é onírico???

Assim, “Você Nunca Realmente Esteve Aqui” (cujo título é a tradução literal do original, algo meio raro por aqui) já canta a pedra em seu título. Será que o que vemos é realidade ou uma leitura da realidade de uma mente perturbada? Fica a dúvida e a leitura de cada espectador. De sólido mesmo, somente a atuação de Joaquin Phoenix, que arrasa quarteirões. Vale a pena você se angustiar com essa película.