Batata Movies – Lady Macbeth. A Mulher Na Sociedade Conservadora.

                 Cartaz do Filme

Um intrigante filme passou em nossas telonas. “Lady Macbeth”, inspirado na obra de Nicolai Leskov, é uma daquelas películas que, apesar de contar uma história que muito entretém o espectador, traz novamente o convite à reflexão, sobretudo no que se refere ao papel da mulher na sociedade inglesa conservadora do século XIX. Esse é o tipo de história em que precisamos procurar o que está nas entrelinhas, onde tudo pode parecer uma coisa, mas acabar sendo outra.

                             Uma moça recatada

Qual é o enredo dessa intrigante trama? Katherine (interpretada Florence Pugh) é a esposa de um dono de mina. O homem comprou uma fazenda junto com a mulher dentro e a odiava mortalmente, a ponto de sequer querer encostar nela para ter um filho. E isso ainda deixava a moça malvista pelo sogro, que dizia que ela não cumpria as obrigações de esposa, não gerando uma criança. Um belo dia, o marido partiu para as minas e Katherine, que nem sair de casa podia, começou a andar pela propriedade. Nisso, ela se envolveu com um dos empregados da fazenda, Sebastian (interpretado por Cosmo Jarvis) tendo tórridas noites de sexo. Cansada de toda aquela opressão, Katherine passou a lutar contra tudo isso, usando métodos, digamos, pouco ortodoxos e, por que não, diabólicos até. Paremos aqui com os spoilers.

O que mais perturba nesse filme? É justamente a forma como Katherine se rebela contra o conservadorismo da sociedade em que vivia. Ela não teve qualquer tipo de escrúpulo, não diferenciando mais o certo do errado, no melhor estilo “os fins justificam os meios”. Inicialmente, suas ações atingiam em cheio seus algozes e víamos os atos como uma manifestação libertadora, achando até graça de alguns desfechos trágicos. Mas, com o tempo, a gente vai percebendo que Katherine ou pirou na batatinha de vez, ou é perversa e inescrupulosa demais e não mais passamos a apoiar seus movimentos. Fica então a questão: se a moça enlouqueceu, ela pode ser vítima da sociedade ultramachista e conservadora em que vivia; mas se Katherine fez tudo de forma fria, calculista e deliberada ela, além de não ser uma vítima, ainda foi demonizada a ponto de corroborar a visão ultramachista de perfídia feminina. Agora, qual direção a história deliberadamente toma? Prefiro deixar isso nas mãos do espectador, embora eu tenha a desconfortável sensação do uso da segunda opção por parte do autor, o que é uma pena.

                       Uma serviçal aniquilada

Uma personagem que muito chama a atenção é uma das serviçais da casa, interpretada por Naomi Ackie. Negra e totalmente submissa, ela se transformou numa espécie de joguete nas mãos de sua patroa. Se num primeiro momento, Katherine a usava para desafiar as rígidas convenções sociais da época, por exemplo, convidando sua serviçal para jantar à mesa junto com ela, a empregada também acabou sendo vítima de sua falta de escrúpulos. Ou seja, se o filme e a sua história pode fazer movimentos na direção de uma maior libertação da mulher, a película, por outro lado, não rompe com a hierarquia de classes. Katherine ainda é uma patroa que tem a vida de seus subalternos nas mãos, inclusive a de seu amante, um dos empregados da fazenda. O livro no qual se inspira o filme pode tomar ou um viés conservador ou um viés altamente crítico do conservadorismo, ao mostrar explicitamente todos os males que esse conservadorismo provoca, embora eu deva repetir que as atitudes de Lady Macbeth totalmente imorais do ponto de vista ético, ainda perturbem muito.

No mais, o filme tem boas virtudes técnicas, sobretudo a boa fotografia e boas tomadas externas (a paisagem é realmente muito bonita) e um lindo figurino de nossa protagonista que, quando não está nua (e eu não reclamo em nada das generosas formas da atriz!), veste um lindo vestido azul que é um álibi perfeito para o seu papel de esposa recatada.

                     A patroa e o empregado

Assim, “Lady Macbeth” (não é à toa que a referência a Shakespeare é altamente oportuna) é uma película muito intrigante que permite mais de uma interpretação. Desafia ou não desafia o machismo? Mas uma coisa parece ser certa: as classes sociais devem ficar em seu devido lugar. Vale a pena dar uma conferida em DVD.

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