“Tempo de Nudez” foi outro episódio decisivo para a formação do vulcano. Um vírus infecta a Enterprise, revelando o “eu oculto” da tripulação. Como isso afetou Spock? Na cena original, um tripulante pintaria um bigodinho no rosto de Spock, que se debulharia em lágrimas em público. Nimoy não aceitou isso, pois para ele o personagem, na sua obstinação em esconder as emoções, se controlaria e procuraria um lugar mais reservado para extravasar seus sentimentos. Nimoy levou o problema a Roddenberry e a sequência foi reescrita com Spock chorando num ambiente reservado, arrependido de nunca ter dito à sua mãe que a amava. Faltavam poucos minutos para os fatídicos 18h18min que religiosamente encerravam as atividades diárias do estúdio e Nimoy fez a cena numa tomada só. Esse episódio hipermultiplicou as cartas que Nimoy recebia dos fãs. De uma dúzia de cartas no primeiro episódio, passando para umas quarenta ou cinquenta após duas semanas e chegando a centenas, colocadas em sacos de lavanderia após “Tempo de Nudez”.
O sucesso de Spock fez com que os executivos da emissora NBC, que já haviam rechaçado o vulcano em outras oportunidades, agora quisessem mais a presença dele nos episódios. Nimoy desenvolveu mais o personagem e ele idealizou que a cultura vulcana interagia através de toques com os dedos e as mãos. Daí veio o famoso “toque neural”, onde Spock fazia uma pessoa desmaiar com uma pressão dos dedos de sua mão em algum lugar entre o ombro e o pescoço. Isso aconteceu pela primeira vez no episódio “O Inimigo Interior”, onde o capitão Kirk foi dividido em sua parte “boa” e calma e sua parte impetuosa e má. Como o Kirk “mau” iria matar o Kirk “bom”, estava no roteiro que Spock deveria provocar um desmaio no Kirk mau, aplicando-lhe uma coronhada com a arma de phaser. Nimoy, abalado com a violência da sequência, sugeriu então o toque neural vulcano, que era igualmente eficiente sem ser violento, e convenceu o diretor Leo Penn a usá-lo, principalmente quando Nimoy ensaiou o toque em Shatner e esse desmaiou de forma muito convincente. Às vezes, esse toque era usado com um certo senso de humor. Spock, em determinado episódio, chegou perto de sua vítima e disse: “Senhor, há um artrópode (aranha) bem em cima de seu ombro”. E, antes que o coitado se desse conta, lá estava a mãozona de Spock (o artrópode em questão) fazendo o cara desmaiar. O fundo musical cheio de tensão do toque neural também é inesquecível, provocando muito mais graça do que suspense.
Já o elo mental vulcano surgiu no episódio “O Punhal Imaginário” e foi uma invenção de Roddenberry. Um foragido de uma colônia penal, aparentemente louco, seria interrogado lentamente para se saber o que acontecia na tal colônia. Ao invés de um longo e maçante interrogatório, se criou o elo mental, onde Spock unia sua mente à do foragido, tocando a face do mesmo com a ponta dos dedos, exercendo uma espécie de atividade telepática. Isso deu muito mais dramaticidade à cena. Outro episódio marcante onde o elo mental vulcano é usado foi “O Demônio da Escuridão”, onde um monstro de pedra matava os mineiros de um planeta. Mas o monstro fazia isso porque os mineiros destruíam seus ovos sem querer, sem saber o que estavam fazendo. Spock faz o elo mental com a criatura e salva o dia, pois o monstro passa inclusive a ajudar os mineiros. Nimoy muito se orgulha desse episódio, pois ele mostra um conflito intercultural e um posterior entendimento, ratificando a posição pacifista do vulcano, ao contrário do Spock de “Onde Nenhum Homem Jamais Esteve”, que propôs matar um tripulante tomado por uma força alienígena.
No próximo artigo, vamos falar de mais três episódios marcantes para a formação do personagem Spock. Até lá!