A Rede Cinemark realiza, toda última terça-feira do mês, uma sessão Clássicos Cinemark em algumas de suas salas, onde são exibidos consagrados filmes do passado. Neste mês de março de 2018, tivemos a exibição de “Indiana Jones e o Templo da Perdição”. Esse foi um filme que, curiosamente, não assisti quando passou no cinema e somente o fiz quando passou na TV. Como era uma oportunidade ímpar de ver esse agora clássico na telona, me despenquei para o Cinemark do Botafogo Praia Shopping para assisti-lo. Vamos dar algumas palavrinhas sobre um filme que já assistimos muito, mas que sempre tem pano para a manga numa boa conversa e análise.
Temos aqui a continuação das aventuras do renomado arqueólogo Dr. Henry Jones Jr., conhecido como Indiana Jones e um ladrão de tumbas segundo o seu intérprete Harrison Ford. Caçador de relíquias, ele as negocia com gângsters sempre pensando em compensações financeiras (acho que Ford estava certo em sua avaliação do personagem). Depois de tomar uma carreira de um desses gângsters, ele foge com a cantora Willie Scott (interpretada por Kate Capshaw) e com seu fiel escudeiro, o chinesinho Short Round (interpretado por Jonathan Ke Quan, que também trabalhou no filme “Os Goonies”, uma das pérolas da Sessão da Tarde) de avião, que pertencia à companhia do gângster em questão. Seus capangas abandonam o avião com para-quedas e nosso destemido arqueólogo se lança com seus amigos num bote (!) e chega ileso a um rio, depois de duas quedas abissais. Eles, então, encontram uma comunidade indiana que perdeu todas as suas crianças depois que uma pedra sagrada desapareceu. Caberá a Indiana pegar a tal pedra e salvar as crianças, embora ele inicialmente pensasse na fama e glória da conquista de mais um artefato arqueológico. Só que, miraculosamente, ele fica “bonzinho” com o tempo e pensa mais nas crianças da tribo. É claro que a coisa se dará com toda aquela pompa de aventura muito fora da realidade que marcam esses filmes. Mas quem está preocupado com isso?
A gente pode falar de outras coisinhas aqui. Em primeiro lugar, a ideia de se criar Indiana Jones partiu de George Lucas. Ele seria uma espécie de reedição dos antigos personagens de fitas em série do cinema, quando antes do filme principal, as crianças, lá das décadas de 30, 40, assistiam aos seriados (lembremos que a TV, onde hoje vemos seriados, ainda não existia). Lucas tentava fazer com esse estilo de personagem a mesma coisa que ele tinha feito com “Guerra nas Estrelas”, tomando Flash Gordon como inspiração. Já Spielberg pensava num personagem com uma pegada mais, digamos, James Bond. Lucas convenceu Spielberg a abraçar a ideia de Indiana e saíram os filmes. E, como o filme foi inspirado em heróis e séries antigas, a primeira coisa que chama a atenção é a floresta de estereótipos que a película contém. O herói americano, com um quê meio canalha, tanto nos hábitos quanto no trato com outras civilizações, que são vistas de forma totalmente supersticiosa e inferior, dentro de um ponto de vista muito maniqueísta e de uma ideologia imperialista.
Só devo alertar que esse ponto de vista extremamente ostensivo sobre outras culturas talvez não deva ser levado tão à sério assim, pois é nítida a intenção de se mostrar essa reedição das antigas fitas em série de uma forma um tanto galhofeira, onde se carrega muito nas tintas para se ter essa impressão. Como um exemplo disso, o herói, mais imaculado nas fitas antigas (vejam Flash Gordon, com Buster Crabbe, por exemplo), é aqui ridicularizado em algumas passagens do filme. Cansamos de rir vendo Indiana passando pelas situações mais escabrosas, onde até o seu medo de cobras é explorado. Aliás, poucas vezes pudemos presenciar como a combinação de filme de aventura com comédia foi tão bem sucedida. A sequência dos carrinhos nas minas, onde o inusitado é o condutor dos veículos naqueles trilhos com cara de montanha russa, é simplesmente deliciosa. As populares “mentiras” dos filmes desfilam apoteoticamente nos fotogramas e, pelo menos da minha parte, eu via os filmes de Indiana para me deliciar com suas coleções de absurdos. Esse, talvez seja o ingrediente que mais atrai nesses filmes.
Dessa forma, foi uma experiência muito legal poder ver na telona um filme que chama tanto a atenção por tantos fatores. E também uma viagem no tempo, pois pudemos presenciar um Harrison Ford jovial em toda a plenitude de sua atuação, recheada de carisma e cinismo (podemos dizer que Indiana é uma espécie de Han Solo light). Se você tiver um tempinho, volte a assistir essa película tão saborosa.