Batata News – Marakanãdê. Defendendo As Tradições Indígenas Com Muito Preparo Físico.

A Escola Técnica Estadual de Teatro Martins Penna volta a atacar e apresenta a peça “Marakanãdê”, da turma da tarde da Escola. Como já temos feito aqui há algum tempo, vamos falar de mais esse espetáculo que os competentes alunos da Escola sempre apresentam com muita força e vigor, mesmo com todas as dificuldades pelas quais o Estado passa. Divulgar esse trabalho e tornar ao conhecimento do público a produção de novos talentos na arte de atuar é o mínimo que a gente pode fazer para apoiar a Escola.

Dessa vez, a peça é uma reflexão sobre as comunidades indígenas brasileiras, seus modos de vida e diversidade. Vários temas relacionados a questão indígena foram abordados. Em primeiro lugar, os atores fizeram uma espécie de explanação bem divertida sobre a viagem que fizeram de van até uma comunidade indígena que vive em Angra dos Reis, onde tiveram experiências bem peculiares e interessantes no contato com os membros da comunidade. A peça ainda mergulhou nas lendas e na cosmogonia dos indígenas, onde mitos sobre o surgimento do dia e da noite, do Sol, da Lua e das estrelas foram apresentados, assim como o surgimento de divindades quase sempre relacionadas a elementos da natureza, como os pássaros. A forma como os brancos tratam os indígenas desde a colonização até os dias atuais, sempre mencionando o genocídio e a violência também foi lembrada, sendo assustador como a prática sistemática de extermínio nunca deixou de ser aplicada nos últimos séculos.

Dá para perceber que a peça não teve um fio narrativo tal como estamos acostumados,ou seja, não havia uma história a ser contada da forma tradicional, com personagens que interpretavam papéis e com os quais a gente podia se identificar. A opção por trabalhar um tema principal (os indígenas) e os vários subtemas referentes ao tema principal fez com que o trabalho do elenco fosse muito mais coletivo, com nenhum ator se sobressaindo sobre o outro, e todos dependendo uns dos outros para que o espetáculo tivesse um bom andamento. Uma coisa que chamou a atenção foi o espírito um tanto circense da peça, com muitos números de tecido acrobático, subidas em escadas, pulos do palco para o chão, o que exige muito preparo físico do elenco que era formado por alunos bem jovens (e olha que eles ainda executavam todas as suas falas durante as acrobacias!). Foram muitos pulos, saltos e acrobacias durante a execução da peça, o que se constituiu num verdadeiro espetáculo à parte. Eu até tomei uma pezada de leve de uma atriz no meu peito, um acidente obviamente, que não me feriu mortalmente (ainda bem que a moça era muito pequenininha e magrinha, apesar de estar interpretando a Lua num encontro de amor no tecido acrobático – leia-se eclipse– com o Sol). O mais engraçado é que houve alguns improvisos e algumas risadas dos atores, quebrando um pouquinho o protocolo do ensaio. Uma das atrizes, ao rir de um improviso de sua colega, fez depois um sinal de “olha o tempo” para ela,o que trouxe um momento de descontração quase que despercebido no espetáculo.

Assim,“Marakanãdê” foi mais uma ótima peça produzida pelos intrépidos membros da Escola Técnica Estadual de Teatro Martins Penna, que seguem trabalhando e produzindo na área teatral e mantendo a tradição de mais de um século de ser um celeiro de novos talentos. Desta vez a peça foi um grito de alerta contra o genocídio indígena e a extinção da rica diversidade cultural que reside em nosso país, sendo necessário que a preservemos, ainda mais em tempos tão sombrios onde toda essa cultura sofre ainda mais riscos. Tal panorama só engrandece a iniciativa da peça, de seus alunos e da Escola. E também a gente sempre torce para que os formandos tenham um futuro muito frutífero e prolífico em suas carreiras, assim como a gente sempre deseja o mesmo para os demais formandos de turmas passadas. Como um bom trekker, desejo sempre vida longa e próspera para a Escola Técnica Estadual de Teatro Martins Penna. A peça ainda fica em cartaz essa semana, de quarta a sexta às 19 horas. A Escola Martins Penna fica no centro da cidade do Rio de Janeiro, na rua Vinte de Abril, perto do Campo de Santana. Prestigie!!!

Os alunos da Escola Técnica de Teatro Martins Penna

Batata Séries – Jornada Nas Estrelas Voyager (Temporada 6, Episódio 14). Monumento. Lembrando O Que Todos Querem Esquecer.

Uma viagem estranha…

Mais um bom episódio da sexta temporada de “Jornada nas Estrelas Voyager”. “Monumento” é mais um episódio que tem uma abordagem histórica, uma das especialidades de “Jornada nas Estrelas”. Ainda, é um episódio que assinala a importância da preservação da memória, até em situações extremas.

Visões perturbadoras…

O plot é o seguinte. Paris, Chakotay, Kim e Neelix voltam de uma missão na Delta Flyer que pesquisava alguns planetas depois de vários dias afastados da Voyager. Os quatro tripulantes começam a ter comportamentos estranhos. Paris se lembra de uma batalha que aparentemente travou. Chakotay tem pesadelos. Kim e Neelix, alucinações. Todos eles ficam em pânico e desespero. O Doutor, que tinha pedido que os quatro fizessem um exame médico assim que chegaram da missão (como pede o protocolo), os examina e, à medida que os quatro vão conversando entre si, eles se recordam do que pode ter acontecido: estavam num planeta, ajudando militares locais a evacuar um grupo de civis e alguns deles resistem, o que provoca um massacre de 82 pessoas. A partir daí, fica a grande dúvida: os tripulantes da Voyager realmente participaram do massacre? Ou foi alguma espécie de implante de memória? Foi preciso investigar. Assim, a Voyager repassou os planetas pesquisados pela Delta Flyer. Ao chegar ao segundo planeta, Janeway balbucia seu nome – Tarakis – e também tem recordações de ver os militares pulverizando os corpos dos civis para apagar as provas do massacre e desmaia. Quando acorda na enfermaria, ela recebe a notícia do Doutor de que outros membros da tripulação também têm os mesmos sintomas de alucinações e pânico.

… começam a pôr em risco os tripulantes da nave…

Um grupo avançado desce à superfície do planeta e não vê qualquer sinal de guerra, exceto pelo fato de que encontraram restos mortais de alguns civis, mas que estavam mortos há cerca de 300 anos. Assim, Paris, Kim, Neelix e Chakotay, assim como Janeway, não poderiam ter tomado parte no massacre. Foi encontrado, também, uma espécie de monumento que emitia pulsos neurogênicos que tinham o objetivo de relembrar a batalha para quem passava pelas proximidades do planeta. As informações da batalha estavam fragmentadas nas mentes dos tripulantes, pois as células de energia do monumento estavam danificadas. Tuvok e Chakotay logo sugerem a desativação do monumento, pelo perigo que ele representava. Mas Neelix lembra que aquele monumento foi uma forma de se preservar a memória do massacre para que ele jamais acontecesse novamente. Janeway concorda com Neelix e ordena que as células de energia sejam substituídas por novas e uma boia de alerta seja colocada nas proximidades do planeta para que as naves que cheguem ali perto saibam que há problemas na região. Assim, o monumento continua a sua missão de preservar a memória.

Voltando ao planeta do massacre…

Esse episódio é a alegoria perfeita de uma frase do Historiador Peter Burke: “O Historiador é odiado pois ele lembra de tudo aquilo que todos fazem questão de esquecer”. Ou seja, os momentos negros do passado ás vezes são varridos para debaixo do tapete pelas gerações atuais. E, ao acontecer isso, os mesmos erros do passado acabam sendo repetidos. Estamos coalhados de exemplos disso por aí, infelizmente. O episódio mostra isso de forma nítida com os ataques de pânico e desespero da tripulação ao vivenciar o massacre em suas mentes. Ver essas alucinações como algo perigoso e nocivo são um forte argumento na direção de se desativar o monumento, ou seja, apagar a memória, pois não se consegue conviver com o peso da culpa. Mas aí, Neelix (sempre o cara sacaneado da série) e Janeway alertam para a importância da preservação da memória e, não somente deixam o monumento ativado, como ainda o consertam, renovando suas células de energia. Não se pode varrer a sujeira para debaixo do tapete, é necessário encarar a dor. Ou como dizia James T. Kirk em “Jornada nas Estrelas V”: “Eu preciso de minhas dores, elas fazem parte de mim”.

O monumento. Alegoria da necessidade da preservação da memória…

Dessa forma, “Monumento” é um grande episódio da sexta temporada de “Jornada nas Estrelas Voyager”. Um episódio que alerta para a necessidade da preservação da memória, por mais dolorosa que ela seja para nós. Ela serve para tirarmos lições com as dores e não repetir os erros trágicos do passado. Esse merece ser revisitado

Batata Literária – A Sapeca (Também Conhecida como Becka ou Poia)

Quando chego a casa

A danadinha logo pula em cima de mim

Seu pelo branco meu nariz arrasa

É uma festa sem fim

E tem as lambidas

Duradouras, incontidas

Além dos pedidos de ossinhos

E o rodopiar dos bifinhos

Seu nome é Rebeca

Que lhe foi dado desde moleca

Mas muita besteira ela tem cometido

Então, Poia é justamente seu apelido

Quando ela chegou a casa, parecia um ratinho

Andando para lá e para cá em rápido passinho

De noite, chorava como um neném

E, assim, não deixava dormir ninguém

Ela teve, também, uma fase destruidora

Celular, chinelo, lingerie, tudo entrava em sua zorra

Ela quase do lar foi expulsa

Mas eu bati o pé e dessa decisão fiz  repulsa

A Poia, em casa continuou

E, finalmente, ela direito se comportou

Embora, às vezes, tenha uma recaída

E, enquanto recebe bronca, atrás de mim fica escondida

Essa cadela é quase humana

Me pede guloseimas em linguagem insana

Abre a boca e emite sons agudos no ar

Por um momento, até parece que ela vai falar

Mas, divertido mesmo, é quando brincamos de brigar

Ela late, me morde de leve e fica a arfar

Mas, legal mesmo é a brincadeira de picolé

Quando ela me lambe da cabeça ao pé

Saudades da minha cachorrinha… ela se foi em abril…

Batata Movies – Aquaman. Melhor Filme De Personagem Secundário?

Cartaz do Filme. Ele também fala com os peixinhos…

E finalmente estreou “Aquaman”. Os rumores que estavam por aí diziam que o filme é muito bom, sendo uma grande película para um personagem secundário. E aí  a gente se pergunta: Aquaman é mesmo um personagem secundário? Pela forma que ele foi apresentado na “Liga da Justiça”, meio que um pau d’água (me desculpem o trocadilho infame), parecia secundário mesmo. Mas o presente filme resgata o herói que deve agora ser visto com outros olhos nas próximas películas do casamento Warner-DC. Nada como um bom filme solo para recuperar a autoestima.

Um Aquaman um tanto troglodita…

Como é o plot (vou lançar mão de alguns spoilers aqui, atenção por favor)? Tudo começa num farol, onde o faroleiro Tom Curry (interpretado pelo “Jango Fett” Temuera Morrison) encontra nas rochas a Rainha de Atlântida, Atlanna (interpretada por Nicole Kidman). Depois de Atlanna destruir a casa e comer o peixe do aquário, Tom se apaixona perdidamente (também pudera, é a Nicole Kidman) e eles têm um filho, Arthur. Mas ela precisa retornar a Atlântida, já que o povo dessa civilização a procurava insistentemente, pois ela era acusada de traição (não vou explicar aqui, veja o filme) e a rainha vai embora, deixando Tom e Arthur desolados.

Aquaman terá a companhia da bela Mera, que não vai muito com a cara dele…

Os anos se passam e Arthur se torna aquela figura cabeluda, barbuda, musculosa e um tanto troglodita que, na nossa cabeça parece mais o Rei Netuno que o Aquaman (embora Netuno não seja troglodita assim) que, volta e meia, faz uns lances em prol dos fracos e oprimidos, como salvar um submarino russo (não  tão fraco assim) de uns piratas com quê terrorista. Depois de uma noitada no bar,uma bela ruiva vestida de verde chamada Mera (interpretada por Amber Heard), alerta Arthur para a ambição de seu meio irmão Rei Orm (interpretado por Patrick Wilson, muito mais parecido com o Aquaman que nós conhecemos dos quadrinhos e dos desenhos dos Superamigos). Revoltado com os povos da superfície, que enchem o mar de lixo e poluentes, Orm vai empreender uma guerra, fazendo alianças forçadas com os outros reinos do mar. O único que pode impedir isso é Arthur,que também tem sangue real, mas que é um homem da superfície. E aí são as porradas, bombas e tiros de sempre. 

Dolph Lundgren aparece no elenco…

A primeira pergunta é aquela questão desesperadora: o filme da DC é bom? Chegou aos pés da Marvel? Vou me inclinar a dizer aqui que esse foi o melhor filme da DC feito até agora. Melhor que o da Mulher Maravilha? Eu creio que sim, pois o da Mulher Maravilha, apesar do bom roteiro, teve alguns problemas, como usar um personagem histórico real (o General Ludendorff) de forma estereotipada como vilão (embora isso não seja tão grave) e pelo fato de a história, em sua primeira metade, ter sido um tanto arrastada (esse sim um problema maior).

Willem Dafoe, uma bela aquisição ao elenco…

O que segurava o filme era realmente Gal Gadot e toda a celebração em volta do empoderamento feminino que a película gerou. “Aquaman”, por sua vez, teve uma história mais instigante e efeitos especiais mais bem realizados (as más línguas diriam que se colocou o colorido da Marvel e tirou-se o obscuro da DC, mas creio que isso é implicância pura e simples). Foi muito legal se levantar a questão da poluição do mar no filme. Eu já revelei aqui a minha atração pelos blockbusters feitos exclusivamente para entretenimento onde aparecem algumas questões contemporâneas mais ligadas ao nosso mundo real que merecem reflexão. Já tínhamos visto isso em “O Último Jedi”,com as denúncias dos senhores da guerra. Agora, a poluição do mar e a matança das baleias denunciadas em “Aquaman” colocam aquela pulga atrás da orelha do espectador que fica falando em nossos ouvidos que o Rei Orm, o grande vilão,tem lá a sua razão em promover a guerra que tanto quer. Outra virtude do filme foi a variedade de locações (mesmo que algumas em CGI), o que enriqueceram a história. As sequências no Saara e na Sicília foram muito boas e ajudaram, junto com a ação, a dar um viés mais humorístico para a história (nova influência da Marvel? Sem maldade, por favor).

Lembram-se dele nos Superamigos???

E os atores? Essa foi uma grande virtude da película. Se tivemos a boa presença da já citada Nicole Kidman, que não foi apenas uma coadjuvante de luxo e teve um papel importante na história, temos também Willem Dafoe na pele de Vulko, que treinou Arthur nos ofícios das profundezas, mas que também é conselheiro de Orm, o que coloca seu personagem numa tremenda saia justa. Amber Heard não foi somente uma cara bonitinha e fez uma personagem que, embora não fosse muito com a cara do protagonista, sabia que precisava ajudá-lo em nome de um bem maior. Além disso, as piadas entre os dois convenciam, o que mostra que rolou uma boa química entre os personagens. Já o Aquaman propriamente dito a princípio incomoda, pois o Aquaman que está na nossa cabeça é um sujeito muito mais zen, louro de olhos azuis, de calça verde, cueca preta (por cima da calça, é claro!) e camisa laranja que fala com os peixinhos. E aí aparece no filme aquela figura com tatuagens de povos da Oceania e que gosta de encher a cara nas biroscas, olhos de sith, sendo meio troglodita, meio burro… muito uga buga para a minha cabeça.Um Aquaman totalmente novo e reconstruído. Acho que até pela candura do mar, o Aquaman mais tradicional seria mais adequado, tendo mais a cara de seu irmão Orm, que parece fisicamente muito mais parecido com o Aquaman que estamos acostumados. Mas, já que é para inovar, a gente tem que dar o braço a torcer para Jason Momoa, que faz um excelente trabalho. Creio que ele deve ter ficado um tanto preocupado em ter a responsabilidade de apresentar um Aquaman totalmente repaginado. Mas ele não deixou a peteca cair e deu muito carisma ao personagem, que poderia facilmente cair no estereótipo.

Mais outra mãezona. Pelo menos, ela não se chama Marta dessa vez…

Uma última coisa. O desfecho não foi tão óbvio e deu uma boa margem para continuação do filme solo. É muito bom ver tal opção de desfecho do que ver o lugar comum dos filmes de mocinho e de bandido, onde o antagonismo é excessivamente aflorado, só para dar uma dica do que estou falando sem lançar mão de spoilers.

Rei Orm ´é mais parecido com o Aquaman que conhecemos…

Dessa forma, podemos sim dizer que “Aquaman” foi um grande filme, motivado por um bom roteiro, por uma boa interpretação dos atores e por uma boa produção, tirando o herói de qualquer posição periférica em “Ligas da Justiça” futuras. A Warner e a DC parece que finalmente estão acertando a mão e oferecem produtos com cada vez mais qualidade. Vamos aguardar as próximas películas.

Batata Movies – Gauguin, Viagem Ao Taiti. Lançando-se De Cabeça A Um Novo Mundo.

Cartaz do Filme

Um filmaço francês. “Gauguin, Viagem ao Taiti”, não podia ter um título mais explicativo e sucinto. Quem tem um conhecimento mínimo em História da Arte sabe da saga do pintor Paul Gauguin em desbravar um Novo Mundo para encontrar inspiração para suas telas, que se tornaram ícones da Arte Universal e do Impressionismo. Pela força e pelo colorido de suas pinturas, sempre me pareceu que o pintor levava uma vida idílica e paradisíaca, cercado de belas mulheres, que alternavam com ele as telas de dia e a cama de noite. Só que o filme nos mostra que não foi bem assim.

Um pintor em desespero no paraíso

Em primeiro lugar, Vincent Cassel foi escolhido para o papel principal. Não podia ter essa sido escolha mais feliz. O ator conseguiu imprimir toda uma intensidade e desespero ao personagem, que fugia da França, pois não conseguia encontrar mais nada que fosse digno de se retratar e rumou em direção à Polinésia Francesa. A despedida não foi sem dor. Em dificuldades financeiras, o artista deixou para trás mulher e filhos completamente desguarnecidos. As telas que ele enviava não eram vendidas e logo a separação veio. O pintor também passava por dificuldades financeiras no Taiti, mas mesmo assim se casou com uma moça local, Tehura (interpretada pela bela Tuheï Adams), que serviu em toda a sua beleza para inspiração de seus quadros. O problema é que a “cabeça de artista” de Gauguin não se adequava às necessidades materiais e à estrutura do capitalismo, fazend0 com que nosso protagonista passasse junto com sua amada muitas dificuldades. Problemas graves de saúde com o coração e a diabetes, mais algumas aventuras extraconjugais de Tehura somente pioraram o quadro do artista.

Tehura, uma tentação em forma de mulher…

Na verdade, esse é um filme que desperta um duplo sentimento na gente. Em primeiro lugar, ficamos maravilhados com a força criativa do artista, que conseguia produzir lindas telas e esculturas. Mas, ao mesmo tempo, nos compadecemos muito das dificuldades pelas quais nosso protagonista passava, que vivia praticamente na mendicância, andando sempre mal vestido, sempre lutando com seus problemas de saúde, sempre se revirando contra a dor do adultério.

Uma relação conflituosa…

Tanta dor e sofrimento o levaram a tomar atitudes que podemos dizer que não eram muito éticas. Mas ficou a impressão que seus dias no Taiti foram mais de provação do que de alegria, onde essa última também aparece na película, mas em pouquíssimos momentos. Digamos, é um pouco trágico demais tudo aquilo que vemos. E Cassel consegue fazer com que a gente se identifique muito com o personagem, pois compartilhamos toda a dor e angústia de Gauguin, como se ela chicoteasse nossa própria pele.

O verdadeiro Gauguin

De qualquer forma, mesmo que esse filme nos desperte alguma dor e compadecimento, ainda assim é uma excelente película, pois dá a nós uma noção de como essas obras da Arte Universal foram forjadas e à qual cota de sacrifício do artista, o que nos deixa ainda mais admirado delas e que ainda nos faz lamentar mais que o reconhecimento dessas obras só venha depois da morte daqueles que a produziram. Como se a vida de provações fosse pré-requisito para que hoje elas tenham seu valor reconhecido em tão altas cifras. E, somente para concluir, sempre é bom ver Vincent Cassel em ação, um artista que melhora mais e mais a cada dia. Vale muito a pena dar uma conferida.

Batata Movies – Você Nunca Esteve Realmente Aqui. A Violenta Trajetória De Um Homem Atormentado.

Cartaz do Filme

Um filme perturbador premiado em Cannes pelo roteiro e pela atuação de Joaquin Phoenix. “Você Nunca Esteve Aqui” traz uma mescla confusa de flash-backs e alucinações, regadas a muito sangue e violência. Um filme que faz de tudo para que o espectador sempre saia de sua zona de conforto, se é que há alguma.

Um homem perturbado…

Vemos aqui a trajetória de Joe (magistralmente interpretado por Phoenix), um veterano da Guerra do Golfo de mente totalmente perturbada. Seus traumas vêm em lembranças que não são somente inspirados nas situações que ele passou na guerra, mas também com uma infância traumática onde supostamente seu pai é o resultado de seus terrores. Tudo isso faz com que Joe seja instável emocionalmente, com explosões de violência repentinas. E como o nosso tresloucado protagonista ganha a vida? Ele é um assassino de aluguel especialista em caçar pedófilos e criminosos que exploram sexualmente as crianças, sempre agindo com um… martelo (!!!), golpeando violentamente a cabeça de quem ele precisa matar por contrato. Somente esses pequenos detalhes já são suficientes para tornar o filme altamente perturbador. Mas, como dizia aquele lendário anúncio de TV, “e não é só isso!”. Joe é contratado por um senador que tem a sua filha sendo explorada sexualmente. Ele faz o serviço, mata todo mundo e resgata a menina. O problema é que o senador se suicida e Joe fica sem saber o que fazer, ao mesmo tempo em que todos aqueles que ele conhece ou ama são assassinados. Dois homens conseguem sequestrar a menina novamente. E Joe precisa entender o que aconteceu para resgatar a garota novamente e se vingar.

Alucinações…

Como essa é uma película onde o protagonista tem uma mente altamente perturbada, a gente não sabe o que é real, o que é alucinação, o que é onírico. Volta e meia, a narrativa fica altamente fragmentada e a gente precisa se dar ao trabalho de juntar as peças, pois o filme não se preocupa muito em explicar as coisas, sobretudo da vida pregressa de Joe, e a gente precisa deduzir muita coisa a partir dos cacos de sequência que aparecem soltos ao longo da exibição. Do jeito que é exposto aqui, parece ser essa uma tarefa muito difícil, mas até que não é tanto; dá para percebermos muitas coisas.

Vivendo com uma mãe doente…

Outra coisa que chama muito a atenção e que está intimamente ligada a esse clima ilusório do filme é que ele foge um pouco do desfecho tradicional dos filmes violentos de vingança. E aí não sabemos realmente como o antagonista teve o seu destino selado ou até se não tivemos mais uma alucinação de Joe em curso. Mais uma vez o espectador tem que colocar sua cabeça para funcionar e ele mesmo criar seu próprio desfecho, fazendo a sua leitura do filme. Por ter a narrativa muito fragmentada e cheia de alucinações e ambientes oníricos, podemos dizer que a película tem a capacidade de assumir múltiplas interpretações, sendo diferente na cabeça de cada espectador.

Seu trabalho é um pouco difícil…

E o que podemos falar de Joaquin Phoenix? Sua atuação foi simplesmente fantástica, mesmo que o personagem tenha a característica um tanto quanto plana de ser constantemente atormentado. O detalhe aqui é que Phoenix conseguiu dar nuances para isso, indo desde momentos de uma letárgica lucidez, chegando a paroxismos de tormento. Ou seja, ele conseguiu expressar com perfeição todas as matizes de seu personagem.

O que é real? O que é alucinação? O que é onírico???

Assim, “Você Nunca Realmente Esteve Aqui” (cujo título é a tradução literal do original, algo meio raro por aqui) já canta a pedra em seu título. Será que o que vemos é realidade ou uma leitura da realidade de uma mente perturbada? Fica a dúvida e a leitura de cada espectador. De sólido mesmo, somente a atuação de Joaquin Phoenix, que arrasa quarteirões. Vale a pena você se angustiar com essa película.