Batata Séries – Jornada Nas Estrelas Voyager (Temporada 6, Episódio 13). Virtuoso. A Arte Em Seus Tempos De Reprodutibilidade Técnica.

Doutor novamente centro das atenções…

Continuando nossas análises de episódios da sexta temporada de “Jornada nas Estrelas Voyager”, falemos hoje de “Virtuoso”, o décimo-terceiro episódio. Esse é um episódio mediano (o menos visto da sexta temporada) e aborda mais uma vez o nosso Doutor e sua infinita vontade de cantar.

Interessados na cantoria

A Voyager encontra a espécie Qomar, que extremamente avançada e arrogante. Um incidente entre as naves da Federação e a alienígena provocou alguns feridos qomarianos sem gravidade. Eles são atendidos pelo Doutor e reclamam muito disso, pois ele se trata de um holograma. Mas, quando o Doutor começa a cantarolar, ficam intrigados, pois nunca haviam escutado música. Logo, logo, os qomarianos passam a nutrir todo um interesse especial pelo Doutor, o que infla seu ego enormemente. A espécie alienígena, inclusive, convida a Voyager para visitar o seu planeta e organiza uma transmissão para que todos possam ver o Doutor cantar, o que o transforma numa celebridade extremamente convencida, para o desespero da tripulação da Voyager.

Exibindo os dotes de cantor…

Ele é convidado para permanecer no planeta depois que a Voyager for embora, mas ele reluta num primeiro momento, aceitando o convite posteriormente, se esquecendo de seus amigos na Voyager, o que despertou fortes mágoas, principalmente de Sete de Nove. Ao voltar ao planeta, entretanto, o Doutor descobriu que uma cópia holográfica dele muito mais eficiente na cantoria foi desenvolvida e, assim, o problema estava resolvido, ele poderia ir com a Voyager. Inconformado com a carreira meteórica, o Doutor falou que a música não é somente uma série de critérios técnicos protocolares que deveriam ser seguidos, mas que também era emoção, algo que os qotarianos desconheciam totalmente.

Logo o Doutor se torna uma celebridade…

Com o rabo entre as pernas, o Doutor retorna à Voyager e pede sua reintegração, não sem antes ouvir uma bronca de Janeway. O Doutor diz que vai tirar suas funções de cantor de seu software mas Janeway se nega, dizendo para retomar a vida e os seus deveres normalmente. Na enfermaria, o Doutor recebe a visita de Sete de Nove, pronto para ouvir um sermão, quando a borg na verdade lê uma carta de fã endereçada a ele e escrita por ela, justamente a borg que não entendia o porquê de toda a idolatria ao indivíduo dos qotarianos.

Cantando num palco somente para ele…

Apesar de ser meia-bomba, o episódio tem algumas virtudes. A primeira é a gente rir um pouquinho com a marra do Doutor. Ele sempre fez suas apresentações de música para uma plateia pouco entusiasmada. Quando ele finalmente encontra um público e a idolatria entre os qotarianos, ele fica convencido de vez, o que é muito engraçado. Mas o episódio também faz o alerta de que você não pode subir num salto alto ou num pedestal de arrogância, até porque a fama é muito efêmera, como pudemos atestar no episódio. Ainda, o próprio povo qotariano tinha ficado maravilhado foi com as possibilidades matemáticas da execução da música do Doutor e não com a emoção que ela podia transmitir. Logo, para os alienígenas, é só reproduzir um holograma do Doutor mais aprimorado para resolver suas necessidades. Isso lembra muito o texto de Walter Benjamin “O Obra de Arte na Época de sua Reprodutibilidade Técnica”, onde, no capitalismo, ao se reproduzir em larga escala num livro ou numa foto uma obra de arte como uma pintura, ela perde o seu significado de obra prima, onde o sentimento e a emoção do autor se diluem, pois ela não é mais única. O Doutor acaba sentindo um pouco isso na pele, não somente pela fama efêmera, mas por se deparar com “um substituto” mais tecnicamente eficiente.

Até o “pagliaci”…

Dessa forma, se “Virtuoso” não é um dos melhores episódios de Jornada nas Estrelas Voyager, ainda assim ele é digno de atenção, pois mostra o perigo da arrogância perante a fama (o sucesso não pode subir à sua cabeça), como também faz uma menção um tanto velada a Walter Benjamin e seu texto sobre a alteração do sentido da arte em tempos de sua reprodução. Vale a pena assistir ao episódio e a leitura do texto.

Batata Literária – Micromenino

Puxa!

Como está quente hoje!

Vou ter que sair da minha toca

Embaixo da folha de flamboyant

E lavar minha roupa na gotona

Mais um passeio pela floresta

Só que tenho que evitar o pisão das formigas

E também os seus ferrões mortais

 

Nossa! Que barulho!

As abelhas estão pegando pólen hoje!

É bzzz pra cá

Bzz pra lá

Ainda bem que trouxe o protetor de ouvido

E que bom que os pólens são fofinhos

Não machucam quando caem na cabeça

Já imaginou se fossem essas pedras de grãos?

 

Opa!

Que droga!

Quase eu caí!!!

Esses ácaros estão cada vez mais arteiros!

Só passam em manadas, correndo!

Me deram uma banda!

Bichinhos inconvenientes…

Derrubam tudo com aquele bundão

 

Ah, que bom!

Cheguei!

Na gotona!

Vou começar a lavar a roupa

Só preciso tomar cuidado com a marola

Senão sou atraído para dentro

E não saio mais

Morro afogado.

 

Agora, sim!

Tudo lavado!

Vou para casa!

Vou correndo!

Antes que o céu fique escuro

E tudo seja esmagado

Acho um saco essa correria

Mas fazer o que, né?

 

Batata Movies – Infiltrado Na Klan. Uma Louca História Real.

Cartaz do Filme

Spike Lee está de volta num filme que chama muito a atenção. “Infiltrado na Klan” é o típico caso de vida imitando a arte, pois é baseado numa história real no mínimo inusitada. Coisas impressionantes que aconteceram e que tinham uma chance enorme de dar errado e que, no fim das contas deram certo.

Um policial em busca de afirmação

O plot é o seguinte. Ron Stallworth (interpretado por John David Washington) é um afro americano que quer entrar para a polícia do Colorado, sendo o primeiro policial negro da instituição, em plena década de 70, quando as lutas pelos direitos civis estão acirradíssimas. Depois de passar pelo crivo pesado do chefe de polícia e de um policial negro mais experiente, ele acaba conquistando a vaga, sendo enviado para o arquivo, onde é tripudiado pelos policiais brancos com bastante racismo. Cansado daquela situação, ele pede um posto para ir às ruas.

Uma equipe vai embarcar numa investigação insólita…

É designado, então, para a inteligência, tendo como primeira missão espionar um encontro de ativistas negros. Lá, ele descobre duas coisas: a presidente do grêmio estudantil negro, Patrice (interpretada por Laura Harrier), pela qual se apaixona, e se inteira mais da luta pelos direitos civis ao assistir uma palestra de uma liderança. De volta à polícia, ele lê um jornal e vê uma propaganda da Ku Klux Klan, assim como um telefone para contato. É aí que ele terá a genial ideia de ligar para a Klan e se passar por um branco racista. Feito o contato, ele consegue marcar um encontro pessoal com a “organização”. Só que, por motivos óbvios, ele não pode ir. Assim, um de seus colegas da polícia, Flip Zimmerman (interpretado pelo “Kylo Ren” Adam Driver), de origem judia, fará o papel do Stallworth “branco”, enquanto que o verdadeiro Stallworth continua a manter o contato por telefone com os membros da organização. Nem é preciso dizer que, à medida que os policiais mais e mais penetram nas entranhas do grupo, essa relação ficará mais e mais perigosa.

Entrando para uma causa…

O filme tem a mensagem óbvia de denunciar o racismo nos Estados Unidos. Mesmo a gente já estando careca de saber disso antes mesmo de entrar na sala de projeção, a gente ainda se surpreende com algumas coisas, como o casal racista que troca juras de amor na cama, regado a muitos termos e ideias altamente racistas.

Descobrindo uma paixão…

O filme, entretanto, tem seus momentos engraçados, principalmente quando vemos Stallworth (alerta de spoiler) conversando por telefone com um dos membros da Klan rodeado por policiais que riem demais da conversa, ao melhor estilo de um trote telefônico.

Contando um antigo caso de racismo e homicídio…

Mas Lee consegue também ser esteticamente muito eficiente, com destaque em dois momentos: no discurso do líder negro que um Stallworth infiltrado presencia, muitas faces negras com um fundo escuro escutavam atentamente o palestrante, onde ficava claro em seus semblantes que uma espécie de consciência de classe se desenvolvia ali; e no momento onde um antigo líder negro falava de um enforcamento para uma plateia comovida enquanto que, simultaneamente, os membros da klan faziam todos os seus rituais com uma espécie de fundo religioso macabro. Lee conseguiu alternar esses dois momentos de forma magistral, não dando destaque maior nem para um nem para outro.

Rituais religiosos macabros…

Agora, o que mais choca em todo o filme é o seu desfecho. Lee nos acorda, pois ele traz para o presente algo que em nossas cabeças estaria adormecido lá no passado, nos tempos de Stallworth. Com um choque de realidade de imagens absolutamente contemporâneas (2017), Lee mostra que o ódio da Klan está mais vivo que nunca, e se sentindo encorajado com os desmandos do atual presidente Donald Trump. Dessa forma, o filme, que teve seus atrativos de inusitado e de humor, termina com um militante grito de denúncia, que nos faz sair da sala de projeção muito preocupados com a onda reacionária que assola o mundo hoje.

Spike Lee dirigindo Adam Driver

Assim, “Infiltrado na Klan” é um programa imperdível para quem gosta do bom cinema, magistralmente dirigido por Lee, e para quem se orgulha da arte cinematográfica como aquela que cumpre sua função social de denúncia. É mais um daqueles filmes para ver, ter e guardar.

Batata Movies (Especial Festival Do Rio 2018) – Carvana. A Trajetória De Um Grande Talento Brasileiro.

Cartaz do Filme

Dando continuidade às nossas análises de filmes do Festival do Rio 2018, falemos hoje do bom documentário brasileiro “Carvana”, sobre o ícone Hugo Carvana. Embora eu não tenha assistido esse filme durante o Festival, ele lá esteve e considerei a pré-estreia que assisti uma espécie de “Última Chance” do Festival. Exibida no Odeon, a pré-estreia de “Carvana” contou com muitas personalidades, dentre elas Othon Bastos, Betty Faria e Antônio Pedro. Os familiares de Carvana e a diretora Lulu Corrêa também se faziam presentes. Todos receberam bigodes postiços (uma marca registrada do ator homenageado) e os usaram durante a exibição. A sala de espera tinha cerveja e sacanagem (um salgadinho com presunto, queijo, tomate, azeitona, etc., espetados em palitos de dente). A equipe de produção esteve à frente da plateia antes da exibição do filme e Lulu Corrêa fez um pequeno discurso comemorando a ocasião. Uma homenagem para lá de justa.

Hugo Carvana. Uma homenagem muito justa.

E o documentário em si? Ele trouxe a fala de Carvana em várias etapas de sua vida, onde a gente podia ver o ator dialogando com ele mesmo ao longo do tempo. Pudemos ver Carvana no começo, fazendo pontas em chanchadas, depois sua participação no Cinema Novo (e suas ligações marcantes com Glauber Rocha), as participações na TV (lembram de Valdomiro Pena e “Plantão de Polícia”?) e, principalmente, sua prolífica produção cinematográfica, onde ele criou todo um estilo próprio de se contar histórias, sem querer inovar mas com muito humor, com falas totalmente descoladas e situações non sense que assaltavam o fio narrativo da história que era contada. É claro que seu grande sucesso (na opinião deste humilde articulista), “Bar Esperança”, também estava lá (esse merece uma resenha por aqui).

“Bar Esperança”, um de seus maiores filmes…

São preciosas as cenas de making of de suas produções cinematográficas mais recentes, onde Carvana se pronuncia para a equipe de filmagem, trazendo suas impressões sobre a vida, a arte a que se propõe fazer, a importância dos amigos (para Carvana, todo o trabalho era uma oportunidade para rever as pessoas e estreitar os laços de amizade). Mas Carvana também atenta para momentos difíceis, como os calotes que toma ao produzir filmes.

O non sense era presença marcante em suas películas…

Uma vez, ele ficou num beco sem saída, com 67 credores batendo à sua porta ao mesmo tempo! Ou então, nos períodos mais complicados da Ditadura Militar, onde o exílio o obrigava a viver longe de seu país, algo de que ele sentia muita falta, sem qualquer previsão de quando (e se) poderia retornar.

Com os amigos Othon Bastos e Andréa Beltrão…

É um documentário feito com extremo carinho e se mostra de forma muito otimista. Principalmente porque há uma preocupação de se dar voz ao próprio Carvana, o melhor narrador de si mesmo e de sua vida. E como o homem era um otimista e amante da vida, fica muito fácil o documentário enveredar por esse quê mais otimista.

Um amante do cinema, acima de tudo…

Dessa forma, “Carvana” é um documentário fundamental para quem gosta de cinema e quer ter uma boa noção da História Cultural recente do país, onde essa figura ímpar que foi Hugo Carvana teve uma participação bem prolífica. Um programa imperdível.

Batata Movies (Especial Festival Do Rio 2018) – Terra Firme. Uma Criança No Meio De Uma Relação.

Cartaz do Filme

Mais um filme que passou no Festival do Rio 2018 a ser analisado aqui. “Terra Firme” é dirigido por Carlos-Marques Marcét e tem a nobre presença de duas atrizes da linhagem de Charlie Chaplin: sua neta Oona e filha, Geraldine Chaplin (que é mãe de Oona). O simples fato de ver as duas contracenando juntas já é motivo de sobra para meter a mão no bolso e pagar o ingresso para ver esse filme. Mas existem mais outros atrativos nessa película: a história que é contada aqui.

Três amigos, uma família…

Temos um casal, Eva (interpretada por Oona Chaplin) e Kat (interpretada por Natalia Tena). As duas moram num barco que fica circulando pelos canais de Londres. Um belo dia, elas recebem a visita de Roger (interpretado por David Verdaguer), um espanhol descoladaço e muito louco, que vai chegar numa hora, digamos, inusitada: é que Eva quer ter um bebê, e Kat torce o nariz para essa ideia. Entretanto, as duas acabam concordando na vinda de um pimpolho e será Roger que doará o “peixe”.

A vida num barco…

Na primeira tentativa (onde Kat insemina Eva), o bebê não aparece. Mas aparece na segunda tentativa de inseminação. O problema é que Kat não faz muita questão de acompanhar todo o processo, ao contrário de Roger, que está animado com a ideia de ser “pai”, já que a família será Kat, Eva e a futura criança, com Roger tendo direito a visitas. Mesmo assim, Roger está muito animado com a gravidez e acaba ficando mais presente que Kat, que se afasta desse estranho triângulo amoroso, com direito a uma afeição filial.

Uma mãe que não entende os novos tempos…

Esse é o tipo de filme que mostra como os relacionamentos humanos estão sofrendo transformações e novas questões e situações de ordem afetiva têm surgido. Um casal homoafetivo que tem um filho, cujo doador de esperma não é um anônimo e sim um amigo da família. Isso trará algumas neuras, embora uma questão ancestral (o fato de um dos parceiros da relação não querer o filho) é o que mais dita as regras aqui. É claro que o desfecho para isso não vai ser fácil, embora ele tenha sido concebido em aberto e trazendo alguma esperança, depois de pesadas turbulências.

Eva. Frágil, mas sabe muito bem o que quer…

E os atores? Eles tiveram um certo trabalho, já que os personagens que interpretavam tinham um comportamento um tanto paradoxal. Oona Chaplin foi muito bem e impressiona com sua Eva altamente sensível mas que sabe muito bem o que quer, enquanto que Tena faz o lado mais “masculino” da relação e fica, entretanto, altamente vulnerável quando sente que pode perder sua amada, chegando a se humilhar perante Eva. Duas figuras humanas com as fragilidades expostas à flor da pele e comportamentos um tanto ambíguos. Essa ambiguidade também é vista em Verdaguer, que convence como o porra-louca inconsequente e, também numa virada paradoxal, assume uma profunda responsabilidade referente à paternidade. De qualquer forma, os três protagonistas mostram perfis da fragilidade humana e é impossível o espectador não nutrir uma empatia por eles. Já Geraldine Chaplin aparece pouco com sua personagem Germaine, mas mergulha também nesse comportamento mais paradoxal. Ao mesmo tempo que é uma budista e tinha uma mentalidade progressista no passado, ela não consegue se adaptar muito bem às vertentes frenéticas em que sua filha se envolve, achando que um relacionamento à dois já é muito complicado, imagine um relacionamento a três? E, por mais que ela tenha sido chamada de conservadora por Kat, ao fim das contas, tudo que Germaine temia acaba acontecendo.

O elenco com o diretor Carlos-Marques Marcét

Assim, “Terra Firme” é um filme de relacionamentos humanos, personagens paradoxais, duas atrizes da linhagem de Chaplin e, principalmente uma história em que como pode ser difícil um relacionamento, quando os pares (ou trios) não querem exatamente a mesma coisa. Vale a pena procurar, pois é mais um convite à reflexão.

Batata Séries – Jornada Nas Estrelas Voyager (Temporada 6, Episódio 12), Num Piscar De Olhos. Uma Civilização Em Alguns Minutos.

Uma sociedade pré-histórica…

O décimo-segundo episódio da sexta temporada de “Jornada nas Estrelas Voyager” é o que podemos dizer que se trata de uma pequena obra-prima e talvez esteja no rol dos melhores de toda a franquia. “Num Piscar de Olhos” consegue unir aqui, de forma bem magistral, dois elementos das histórias de “Jornada nas Estrelas” que se completam muito bem: a Ciência Astronômica e Física (e a junção delas, a astrofísica) com o Processo Histórico. Já foram mencionados aqui outros episódios onde esse feliz casamento entre esses dois campos do conhecimento rendeu bons frutos. Mas, ao que parece, em “Num Piscar de Olhos”, tivemos o melhor resultado disso.

A Voyager se aproxima de um estranho planeta….

A história começa mostrando a Voyager se aproximando de um estranho planeta, com formato e características físicas muito peculiares. Quando se aproxima para analisá-lo, a Voyager é atraída por um gradiente gravimétrico e fica presa numa região do espaço. Análises mostram que o planeta tem um campo de táquions (táquions seriam partículas – teóricas para nós – que poderiam ter uma velocidade até maior do que a da luz), que provocariam um campo subespacial no planeta. Ao chegar às proximidades desse planeta, a Voyager interferiu no campo e criou um terceiro pólo, ficando presa nele. Com os motores de dobra incapacitados, eles precisam encontrar uma forma de sair de lá.

O tempo avança…

Ainda, a presença da nave causa abalos sísmicos no planeta. E o tempo, por causa do campo de táquions, atua de forma diferente no planeta e na nave: para cada um segundo na nave, passa-se quase um dia no planeta. Assim, enquanto a Voyager procura sair da armadilha que entrou, simultaneamente toda uma civilização se desenvolve no planeta, tendo em sua mitologia uma “estrela” que provoca terremotos desde a pré-história do planeta até o momento em que a civilização chega à tecnologia da reação matéria-antimatéria controlada e tenta bombardear a Voyager, que é a causa das atividades sísmicas.

Uma missão para estudar a estrela que provoca terremotos…

Esse é um episódio que traz muitos elementos interessantes. Em primeiro lugar, a tripulação da Voyager não é a única protagonista do episódio. A civilização do planeta também tem a sua importância e podemos reconhecer em sua História vários estágios de nossa própria civilização: uma pré-história altamente tribal, com a Voyager vista como uma divindade; uma mescla medieval-renascentista, com os primeiros questionamentos científicos surgindo; uma sociedade mais contemporânea, mas ainda sem tecnologia de propulsão espacial, que busca o contato com a Voyager por rádio; uma cápsula espacial finalmente em contato com a Voyager; e o bombardeio de armas de tecnologia matéria-antimatéria (é claro que esse último estágio não é ligado à nossa História, mas sim ao Universo Ficcional de “Jornada nas Estrelas”). A questão da Primeira Diretriz também é levantada: vale a pena a Voyager fazer contato com uma civilização pré-dobra, ainda mais quando a sua simples presença já provocou alterações profundas nos mitos, crenças e culturas daquela sociedade, além dos abalos sísmicos? De qualquer forma, enquanto os nobres oficiais sêniores debatiam, a própria civilização se incumbia de fazer esse contato.

Astronautas sentindo a violenta passagem do tempo…

Se a parte histórica enriquece em muito o episódio com todos esses elementos, a parte física e científica nada deixa a desejar. O mais marcante foi a interação entre a faixa temporal da nave (de acordo com a da galáxia) e a faixa temporal do planeta, seja nos três anos que o Doutor passou na superfície do planeta (enquanto que na Voyager se passaram apenas poucos minutos), seja na frequência altíssima das transmissões que a Voyager recebia da superfície do planeta (lembrando-se que a frequência é inversamente proporcional ao tempo), seja nos dois astronautas do planeta andando na Voyager e vendo toda a sua tripulação paradinha, ao mesmo tempo em que os astronautas envelheciam rapidamente. Uma interessante aula de Física com direito a sistemas de referência.

Finalmente o contato entre a Voyager e o nativo do planeta…

Assim, “Num Piscar de Olhos” é um grande episódio da sexta temporada de “Jornada nas Estrelas Voyager”, pois alia magistralmente História e Ciência, usando uma civilização planetária como o espelho de nossa própria, além de usar a lógica da Física para explorar alguns temas presentes no enredo. Vale a pena dar uma conferida.

https://www.youtube.com/watch?v=Oow8GBSu9ws